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Crítica
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UNIVERSIDADE DO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO
reitor Antonio Celso Alves Pereira
vice-reitora Nilcéa Freire
EDITORA DA UNIVERSIDADE DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CONSELHO EDITORIAL
Elon Lages Lima
Gerd Bornheim
Ivo Barbieri (Presidente)
Jorge Zahar (in memoriam)
Leandro Konder
Pedro Luiz Pereira de Souza
Reinhart Koselleck
CRÍTICA E CRISE
Uma contribuição à
patogênese do mundo burguês
TRADUÇÃO DO ORIGINAL ALEMÃO
Luciana Villas-Boas Castelo-Branco
conTRflPomo
Til iilo original: Kritik und Krise: Ein Beitrag zur Pathogenese der bürgerlichen Welt
** Verla® Karl Alber Gmbh Freiburg / München 1959
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Preparação de originais: César Benjamin
Revisão tipográfica: Tereza da Rocha
Projeto gráfico: Regina Ferraz
1‘ edição: setembro de 1999
Tiragem: 2.000 exemplares
2* reimpressão: julho de 2009
Tiragem: 2.000 exemplares
catalogaçAo na fonte
DO DEPARTAMENTO NACIONAL DO LIVRO
K86c Koselleck, Reinhart.
Crítica e crise : uma contribuição à patogênese do
mundo burguês / Reinhart Koselleck ; tradução do origi
nal alemão [de] Luclana Villas-Boas Castelo-Branco. - Rio
de Janeiro: EDUERJ: Contraponto, 1999.
256p.
ISBN 978-85-85910-25-9
Indui bibliografia e Índice.
1. Ciência política - História. 2. História - Filosofia.
3. Iluminismo. 4. Despotismo. I. Título.
CDD-320-01
SUMÁRIO
Introdução.................................................................................. 9
primeiro capitulo A estrutura política do Absolutismo
como pressuposto do Iluminismo.......................................... 19
I. A gênese do Estado absolutista a partir do contexto das
guerras (civis) religiosas / O desenvolvimento de um domí
nio de poder soberano pela redução da consciência religiosa
a um foro interior apolítico (Barclay, D’Aubigné) / A subor
dinação da moral à política e a legitimação temporal do Es
tado soberano....................................................................... 19
II. Hobbes: a resposta da razão à pluralização das confissões /
O conceito de soberania que decorre dos conflitos religiosos
e da razão / A divisão do homem em “homem” e “súdito”
como herança da guerra civil religiosa e como pressuposto
do conceito absolutista de lei e ordem estatal / O foro inte
rior apolítico, dentro do Estado, como o ponto de partida
do Iluminismo....................................................................... 26
III. Vattel: a separação entre a moral, fundada no direito natu
ral, e a política como princípio estrutural da ordem dentro
do Estado / O fim das guerras dvis e a restrição das guerras a
meras guerras entre Estados como condição política para o
progresso moral.................................................................... 40
segundo capItulo A compreensão que os iluministas
tinham de si mesmos e a resposta à sua situaçao dentro do
Estado absolutista..................................................................... 49
I. Locke: a jurisdição moral fora do Estado (The Law of Pri-
vate Censure), seu significado para a burguesia e sua ação
política indireta..................................................................... 49
II. A formação de poderes indiretos: a situação inicial da so
ciedade civil no Estado absolutista / Suas formas de orga-
nização (Club de 1’Entresol e as lojas da franco-maçonaria) /
A função protetora do segredo das lojas / O arcanum como
linha divisória entre moral e política e pressuposto da toma
da indireta do poder............................................................. 56
III. O desenvolvimento de poderes indiretos: a função integra
dora do segredo nas lojas / O estabelecimento de hierar
quias independentes / A ameaça indireta ao Estado / A ju
risdição moral e sua ampliação ao Estado / A separação
entre moral e política como expressão da tomada indireta
do poder................................................................................ 68
IV. A virada oculta contra o Estado: a função política do segre
do nas lojas (Lessing) / O planejamento secreto da tomada
do poder e o uso do dualismo da moral e da política para
encobrir seu significado político.......................................... 75
V. O processo da crítica: a separação entre moral e política
como pressuposto e via de execução da crítica burguesa
(Schiller) / As etapas da politização; a crítica da Bíblia
no Estado (Simón) / A liberdade absoluta da república das
letras apolítica dentro do Estado, um bellum omnium con
tra omnes (Bayle) / A extensão, ao Estado, da crítica aparen
temente apolítica (Voltaire) / A dialética da crítica ilumi-
nista (Enciclopédie, Diderot) / O ofuscamento da crítica em
hipocrisia / A submissão do Estado ao tribunal da razão
(Kant).................................................................................... 88
terceiro capitulo Criseefilosofiadahistòria.............. lli
I. Filosofia do progresso e prognóstico da revolução na Ale
manha pré-revolucionária: a formação de frentes políticas /
As ordens secretas e o Estado / A filosofia da história dos
maçons (iluminados) e a identificação entre planejamento e
história / A filosofia da história como poder político indire
to / O agravamento da crise pela sua dissimulação / A redu
ção da filosofia do progresso (dos iluminados) a seu núcleo
político (Gõchhausen) / O prognóstico da revolução......... 111
II. Turgot: o reconhecimento da situação crítica na França /
Prognósticos revolucionários / A tentativa de dirigir a crise /
O dualismo moral de Turgot / A função política do dua
lismo moral de Turgot: dissolução da soberania e oculta
mente do processo / O anonimato político / Á dialética do
homem e do príncipe / A totalidade moral como resposta ao
Absolutismo político / O fracasso de Turgot / A legitimação
indireta da guerra civil.......................................................... 121
III. Crise: a crise como conceito político e moral, não como
uma expressão da filosofia do progresso / O aparecimento
do conceito (Rousseau) / A expansão da república das le
tras ao Estado / Revolução permanente, Estado total, terror,
ideologia e ditadura como resultado involuntário do Ilumi-
nismo e de seu anonimato político / A determinação da cri
se pela consciência dualista (Diderot) / Prognósticos deter
ministas de caráter dualista / Encobrimento e agravamento
da crise / O caráter processual da filosofia burguesa da his
toria / As antíteses morais na construção da historia global /
A diferença atlântica / A guerra civil como tribunal moral /
The Crisis (Thomas Paine) / A historia como processo: uni
dade da crise e da filosofia da história.................................. 137
Notas........................................................................................... 163
Bibliografia - Fontes primárias............................................... 241
Bibliografía - Fontes secundárias............................................ 247
índice onomástico..................................................................... 253
INTRODUÇÃO
No calor de uma revolução, quando os ódios estão ferventes
e o soberano dividido, é difícil escrever a história.
RIVAROL
De um ponto de vista histórico, a atual crise mundial resulta da
história européia. A história européia expandiu-se em história
mundial e cumpriu-se nela, ao fazer com que o mundo inteiro
ingressasse em um estado de crise permanente. Assim como o
globo terrestre foi unificado pela primeira vez pela socieda
de burguesa, a crise atual também se desenrola no horizonte de
um auto-entendimento histórico-filosófico, predominantemen
te utópico. Este auto-entendimento é utópico porque destina o
homem moderno a estar em casa em toda parte e em parte algu
ma. A história transbordou as margens da tradição e submergiu
todas as fronteiras. A tecnologia de comunicação sobre a superfí
cie ilimitada do globo conduziu à onipresença de forças que sub
metem tudo a cada um e cada um a tudo. Ao mesmo tempo,
além dos espaços e dos tempos históricos, explora-se o espaço
planetário, ainda que seja apenas para fazer com que a humani
dade vá pelos ares no processo em que ela mesma se empenhou.
A crise política (que, uma vez deflagrada, exige uma decisão) e
as respectivas filosofias da história (em cujo nome tenta-se ante
cipar esta decisão, influenciá-la, orientá-la ou, em caso de catás
trofe, evitá-la) formam um único fenômeno histórico, cuja raiz
deve ser procurada no século XVIII.
A sociedade burguesa que se desenvolveu no século XVin en-
tendia-se como um mundo novo: reclamava intelectualmente o
mundo inteiro e negava o mundo antigo. Cresceu a partir do es
paço político europeu e, na medida em que se desligava dele, de
senvolveu uma filosofia do progresso que correspondia a esse
9
10 REINHART KOSELLECK
processo. O sujeito desta filosofia era a humanidade inteira que,
unificada e pacificada pelo centro europeu, deveria ser conduzida
em direção a um futuro melhor. Hoje, seu campo de ação, o glo
bo terrestre, é reivindicado ao mesmo tempo por grandes potên
cias, em nome de filosofias da história análogas. Esta concepção
da unidade do mundo, de caráter histórico-filosófico, revela-se
— e nisto aparece seu caráter fictício — como uma unidade po
lítica partida. Cada lado, tão comprometido com o progresso
quanto o outro, vive do pretenso retrocesso do outro. Cada lado
cria obstáculos ao caminho do outro; paradoxalmente, nisto re
side sua eertéza. Distinguem-se um do outro para criar a ilusão
de uma evidência que não existe, a não ser pelo medo e o terror.
A unidade utópica do mundo reproduz sua própria dicotomia.
No século XVIII, o planejamento utópico do futuro já tinha
uma função histórica específica. Em nome de uma humanidade
única, a burguesia européia abarcava externamente o mundo in
teiro e, ao mesmo tempo, em nome deste mesmo argumento,
minava internamente a ordem do sistema absolutista. A filosofia
da história forneceu os conceitos que justificaram a ascensão e
p papel da burguesia. O século XVIII é a antecâmara da época
atual, cuja tensão se acentuou progressivamente desde a Revolu
ção Francesa, que afetou o mundo inteiro, extensivamente, e to
dos os homens, intensivamente. Este trabalho pretende lançar
luz sobré essa antecâmara e, assim, trazer à tona a relação entre a
formação da moderna filosofia da história e o início da crise que
desde 1789 — a princípio, na Europa — tem determinado os.
eventos políticos.
A pergunta foi delimitada e definida historicamente da se
guinte maneira: não interrogamos o conteúdo e as metas utópi
cas das filosofias da história da época, e tampouco sua estrutura
ideológica, por exemplo, em relação à ascensão da burguesia;
procuramos entender a consciência histórico-filosófica dessa
época para elucidar a conexão, que se estabelece em sua origem,
com o início da crise política, a partir da situação da burguesia no
interior do Estado absolutista. Deixamos as filosofias da história,
enquanto tais, de lado — salvo exceções exemplares — e exami-