Table Of ContentRELATÓRIO DE PESQUISA
RP0802
Empresas familiares longevas:
Fatores que impactam sua continuidade
Elismar Álvares da Silva Campos
Janete Lara de Oliveira Bertucci
Thiago Duarte Pimentel
2008
Fundação Dom Cabral é um centro de
desenvolvimento de executivos e empresas que há
mais de 30 anos pratica o diálogo e a escuta
comprometida com as organizações, construindo
com elas soluções educacionais integradas. É
orientada para formar equipes que vão interagir crítica e
estrategicamente dentro das empresas.
Depois de formar milhares de executivos, em constante integração
com as empresas, a FDC tornou-se referência nacional em seu setor,
participando da melhoria do nível gerencial e do desenvolvimento
empresarial brasileiro. Circulam, anualmente, pelos seus programas
abertos e fechados perto de 20 mil executivos de empresas de médio
e grande portes.
A sinergia com as empresas é resultado da conexão que faz entre a
teoria e a prática de efetivas tecnologias de gestão. Essa prática é
reforçada pelo trabalho interativo de sua equipe técnica, que
combina formação acadêmica com experiência empresarial. Nos
Núcleos de Desenvolvimento do Conhecimento (Núcleo Andrade
Gutierrez de Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa,
Núcleo CCR de Governança Corporativa, Competitividade, Núcleo
de Desenvolvimento de Liderança, Núcleo de Empreendedorismo,
Núcleo de Gestão Empresarial, Núcleo de Negócios Internacionais e
Núcleo de Inovação) são produzidas pesquisas e outros trabalhos que
dão sustentação aos programas da FDC, traduzindo seus avanços
como instituição geradora de conhecimento.
Suas soluções educacionais combinam:
Desenvolvimento Empresarial
Soluções construídas na perspectiva do cliente, aliando conteúdo a
estratégia e necessidade das empresas. Atendem públicos dos
diversos níveis funcionais, possibilitando o aprendizado coletivo e a
formação de massa crítica na busca de resultados para a empresa. O
grande diferencial dos programas é valorizar e potencializar o
conhecimento existente na própria empresa.
Desenvolvimento do Gestor
Com foco no desenvolvimento do indivíduo e na sua atuação na
empresa, muitos programas são realizados em parceria com escolas
internacionais e abordam temas de gestão geral e específicos.
Propiciam a aplicação prática de conceitos, desenvolvendo no
indivíduo a capacidade de aprender fazendo.
Pós-Graduação
Fundamentam-se na perspectiva da educação continuada, centrada
na realidade empresarial e voltada para o crescimento do indivíduo
como pessoa e gestor. Contemplam níveis diversos de formação de
Especialização a Mestrado e se complementam de forma conveniente
aos participantes.
Parcerias Empresariais
A FDC estimula a troca de experiências entre e intra-empresas,
conciliando, de forma estratégica, conceitos e práticas que
possibilitam a aprendizagem coletiva e a busca compartilhada de
soluções.
Relatório de Pesquisa
Empresas familiares
longevas:
Fatores que impactam sua
continuidade
Elismar Álvares da Silva Campos
Coordenadora da Pesquisa e do Núcleo CCR de Governança
Corporativa da Fundação Dom Cabral (FDC)
Janete Lara de Oliveira Bertucci
Colaboradora - Profa. Adjunta da UFMG
Thiago Duarte Pimentel
Assistente de Pesquisa do Núcleo CCR de Governança
Corporativa da Fundação Dom Cabral (FDC)
RP0802
Projeto gráfico
Célula de Edição de Documentos
Revisão
Célula de Edição de Documentos
Assessoria editorial
Teresa Goulart
Supervisão de editoração
José Ricardo Ozólio
Impressão
Fundação Dom Cabral
2008
Reproduções integrais ou parciais deste relatório somente com a autorização expressa da FDC. É
permitida a citação de dados, tabelas, gráficos e conclusões, desde que indicada a fonte.
Para baixar a versão digital desta e de outras publicações de temas relacionados à Gestão
Empresarial, acesse a Sala do Conhecimento da Fundação Dom Cabral através do link http://
www.fdc.org.br/pt/sala_conhecimento
Copyright© 2007, Fundação Dom Cabral. Para cópias ou permissão para reprodução, contatos
pelo telefone 55 31 3589-7465 ou e-mail: [email protected]. Esta publicação não poderá ser
reproduzida sem a permissão da FDC.
CCCCCaaaaammmmmpppppuuuuusssss AAAAAllllloooooyyyyysssssiiiiiooooo FFFFFaaaaarrrrriiiiiaaaaa ––––– CCCCCeeeeennnnntttttrrrrrooooo AAAAAlllllfffffaaaaa ––––– Av. Princesa Diana, 760 – Alphaville Lagoa dos
Ingleses 34000-000 Nova Lima, MG – Brasil Tel.: 55 31 3589-7465 Fax: 55 31 3589-7402
Sumário
Introdução....................................................................................................................7
Revisão da Literatura.................................................................................................11
Conceituando a Empresa Familiar ...................................................................11
O Modelo Tridimensional das Empresas Familiares ..........................................14
Metodologia ..............................................................................................................35
1ª Fase: Levantamento de informações para a construção da história
da empresa.........................................................................................................37
2ª Fase: Realização das entrevistas.................................................................37
Análise ......................................................................................................................43
Governança - Estruturas e Mecanismos ..........................................................43
Sucessão..........................................................................................................45
Regras, Acordos e Critérios..............................................................................49
Família e Valores...............................................................................................52
Considerações Finais.................................................................................................59
Referências................................................................................................................................67
Anexo 1......................................................................................................................73
Anexo 2......................................................................................................................82
Anexo 3......................................................................................................................83
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Introdução
O
desenvolvimento econômico e social das nações se dá principalmente com
base na iniciativa privada. Dentro do conjunto de possibilidades de constituição de
uma empresa privada, uma forma tradicional, talvez a mais antiga de todas, se destaca
pela sua historicidade e, sobretudo, pela sua expressividade em termos numéricos: a
empresa familiar.
Pesquisas de diversas partes do mundo têm apontado a relevância desse tipo de
empresa, não só pelos benefícios sociais advindos de sua vasta capilaridade, mas,
principalmente, devido à expressividade das empresas familiares no que tange à
composição do tecido empresarial mundial e a sua capacidade de gerar riqueza.
Jones e Rose (1993), por exemplo, afirmam que cerca de 80% a 90% das organizações,
em nível mundial, são de cunho familiar. Avelar (1998) corrobora essa estimativa,
apontando algo em torno de 90% das empresas do mundo que se encontram sob o
comando de famílias. No quadro seguinte, Campos (2006) sintetiza, a partir das
contribuições de várias pesquisas, a proporção das empresas familiares nos principais
países do mundo, a fim de ilustrar a sua relevância.
Países Percentual
Portugal 70%
Reino Unido 75%
Espanha 80%
Suíça 85-90%
EUA 96%
Itália 99%
Quadro 1: Estimativa da proporção de empresas
familiares no mundo
Fonte: CAMPOS, 2006. Adaptação.
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Além de sua proporção, é importante destacar a participação e relevância das empresas
familiares nas diversas economias ao redor do mundo, conforme pode ser observado
no QUADRO 2, a seguir.
AAAAAuuuuutttttooooorrrrreeeeesssss PPPPPaaaaaíííííssssseeeeesssss PPPPPeeeeesssssooooo
Reidel Alemanha 75% dos trabalhadores são funcionários de
(1994) empresas familiares; contribuem com cerca de
66% do PNB.
Owens Austrália 75% dos negócios australianos são familiares e
(1994) empregam 50% dos trabalhadores.
Martinez Chile 75% dos negócios são familiares, sendo 65% de
(1994) médias e grandes empresas.
Gallo e Estapé Espanha Das empresas que possuem faturamento anual
(1992; 1996) superior a 2 milhões de dólares, 71% são
familiares; das 100 primeiras empresas
espanholas, 17% são familiares.
Gluek e Meson Estados 90% das empresas são familiares. Elas
(1980); Unidos contribuem para realizar entre 30 e 60% do PIB
Ward (1987); e pagam a metade do total dos salários.
Ibrahim e Ellis
(1994);
Astrachan e
Kolenko (1994)
Allouche e Amann França Das 500 maiores empresas industriais de capital
(1995) francês, 58,86% são familiares.
Quadro 2: Participação e relevância das empresas familiares no mundo
Fonte: ALLOUCHE; AMANN, 1999. Adaptação.
No caso do Brasil, há uma estimativa de que 95% das empresas brasileiras são
controladas por famílias. Essas organizações contribuem com mais de 50% do Produto
Interno Bruto (PIB) e são responsáveis por mais de três quartos dos empregos gerados
(GARCIA, 2001). Outros autores, como Vidigal (1999), apontam que, no caso brasileiro,
esse número chegaria a 98% das empresas, se consideradas apenas as não estatais.
A forte dependência da economia brasileira em relação às empresas familiares pode
ser parcialmente explicada pela composição histórica do capitalismo brasileiro, que é
marcado pelo tripé: propriedade estatal, empresas estrangeiras e empresas familiares
nacionais (LETHBRIDGE, 2000).
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Entretanto, apesar da expressividade e relevância das empresas familiares no Brasil
e no mundo, foi só a partir de meados do século passado que pesquisadores tiveram
a sua atenção despertada para a temática das empresas familiares. Apesar de estudos
isolados e embrionários sobre o assunto - como a dissertação de Christensen (1959)
sobre os problemas enfrentados pelas empresas familiares nos Estados Unidos, e o
artigo seminal de Donnelley (1964), que trata especialmente do estabelecimento de
parâmetros para definir o que seria uma empresa familiar -, foi somente a partir da
década de 1980 que estudos sistemáticos começaram a ser produzidos por institutos
de pesquisa criados para tratar especificamente dessa questão (FISCHER; SILVA;
DAVEL, 2000).
Embora a criação desses institutos de pesquisa tenha ajudado a diminuir a lacuna
existente sobre o assunto, um grande volume dos trabalhos produzidos limita-se a
mensurar as empresas familiares para estabelecer correlações estatísticas no âmbito
da economia ou a explorar as vantagens e desvantagens das empresas familiares,
como bem observou Rossatto Netto (2003).
Dessa forma, além de recentes, os estudos sobre empresas familiares carecem ainda
de abordagens que aliem tanto os aspectos teóricos quanto as questões práticas sobre
as empresas familiares e abordem problemas atuais, como a manutenção do controle
familiar frente à dispersão ou à pulverização das ações dessas empresas nos mercados
de capitais. É justamente no sentido de contribuir para o preenchimento dessa lacuna
que se insere esta pesquisa, que gira em torno das seguintes questões:
Quais são os fatores mais marcantes relativos à empresa, à família e à
propriedade que marcam os processos de transição do controle acionário
de geração para geração em empresas familiares brasileiras?
É possível identificar padrões de regularidade nos processos de transição
intergeracional das empresas estudadas associando-os à longevidade da
empresa familiar?
Com o intuito de responder a essas questões, definiu-se o seguinte objetivo geral para
a pesquisa proposta:
Identificar e analisar os fatores presentes na transferência de poder e
controle das empresas familiares brasileiras entre gerações, buscando
identificar a existência de padrões de regularidade que contribuam para
explicar a longevidade de empresas familiares de médio e grande porte no
Brasil, para além da segunda geração.
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O objetivo geral pode ser detalhado em vários objetivos específicos, mas
complementares, que permitiram a execução da pesquisa e a consecução do seu
objetivo final, quais sejam:
• identificar os fatores tangíveis e intangíveis - relacionados à propriedade, à
família e à empresa - que estão presentes durante a transferência de poder
de uma geração a outra e que, de alguma forma, contribuem para a
longevidade da empresa familiar;
• identificar e analisar os mecanismos utilizados para transferência de
controle na propriedade e na gestão das empresas familiares pesquisadas,
bem como as políticas de governança que vêm sendo implementadas
nessas empresas, particularmente nos momentos de transição de uma
geração a outra.
A definição desses objetivos aponta o estabelecimento de alguns pontos que norteiam
a condução deste trabalho, como: a) a transferência de controle e poder de uma
geração para a outra deve ter permitido que a família fundadora ou proprietária
continuasse no comando da empresa; b) o processo sucessório é inexorável e, por
conseqüência, precisa ser planejado e c) espera-se que padrões de comportamentos
semelhantes entre as empresas possam ser identificados com um grau de similaridade
e regularidade tal que possibilite a identificação de elementos que auxiliem na
compreensão da longevidade dessas empresas.
Ainda como premissa deste trabalho estabeleceu-se que a longevidade das empresas
familiares está relacionada à sua capacidade de harmonizar os três círculos do modelo
de empresa familiar proposto por Tagiuri e Davis (1985), Gersick et al. (1997) e Davis
(2003), quais sejam: propriedade, empresa e família. Esse modelo, sobre o qual
discorreremos na revisão de literatura realizada pela pesquisa, tem-se mostrado
potencialmente útil para a compreensão da dinâmica das empresas familiares, pois
prioriza a visão da articulação entre propriedade, empresa e família.
Esta pesquisa adota uma abordagem a partir dos estudos de governança e de sucessão
empresarial, considerando fatores tangíveis, como alterações na estrutura de
propriedade, e intangíveis, como alterações na dinâmica de relações de poder e da
esfera de influência dos membros da família empresária. Segundo Arruda et al. (2007),
a identificação de fatores tangíveis e intangíveis, sobretudo na dimensão da
governança, tem contribuído para a longevidade das empresas, pois permite que
essas se aprimorem continuamente tendo em vista um modelo de sucesso. Essa
abordagem teórica visa contribuir para o desenvolvimento e a consolidação das teorias
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Description:Elismar Álvares da Silva Campos. Janete Lara de Administração ativos, bem estruturados e altamente profissionalizados são órgãos existentes