Table Of ContentUNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
Instituto de Estudos da Linguagem
BRUNA FERNANDA ABREU
A SEGUNDA FILÍPICA:
TRADUÇÃO E ESTUDO DO ETHOS SEGUNDO A
RETÓRICA DE CÍCERO
CAMPINAS
2017
BRUNA FERNANDA ABREU
A SEGUNDA FILÍPICA:
TRADUÇÃO E ESTUDO DO ETHOS SEGUNDO A RETÓRICA DE
CÍCERO
Dissertação apresentada ao Instituto de
Estudos da Linguagem da Universidade
Estadual de Campinas como parte dos
requisitos exigidos para a obtenção do título
de Mestra em Linguística.
Orientador: Prof. Dr. Paulo Sérgio de Vasconcellos
Este exemplar corresponde à versão
final da Dissertação defendida pela
aluna Bruna Fernanda Abreu e orientada
pelo Prof.Dr.Paulo Sérgio de Vasconcellos.
CAMPINAS
2017
Agência(s) de fomento e nº(s) de processo(s): CAPES
Ficha catalográfica
Universidade Estadual de Campinas
Biblioteca do Instituto de Estudos da Linguagem
Crisllene Queiroz Custódio - CRB 8/8624
Abreu, Bruna Fernanda, 1991-
Ab86s AbrA segunda Filípica : tradução e estudo do ethos segundo a retórica de
Cícero / Bruna Fernanda Abreu. – Campinas, SP : [s.n.], 2017.
AbrOrientador: Paulo Sérgio de Vasconcellos.
AbrDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de
Estudos da Linguagem.
Abr1. Cícero, Marco Túlio. Filípica. 2 - Traduções para o português - Crítica e
interpretação. 2. Aristóteles - Crítica e interpretação. 3. Tradução e
interpretação. 4. Retórica antiga. 5. Análise do discurso narrativo. 6. Roma -
Usos e costumes - História. I. Vasconcellos, Paulo Sérgio de,1959-. II.
Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Estudos da Linguagem. III.
Título.
Informações para Biblioteca Digital
Título em outro idioma: The second Philippic : translation and study of ethos according to
Cicero's rhetoric
Palavras-chave em inglês:
Cicero, Marcus Tullius. Philippicae. 2 - Translations into portuguese - Criticism and
interpretation
Aristotle - Criticism and interpretation
Translating and interpreting
Rhetoric, Ancient
Narrative discourse analysis
Rome - Manners and customs - History
Área de concentração: Linguística
Titulação: Mestra em Linguística
Banca examinadora:
Paulo Sérgio de Vasconcellos [Orientador]
Adriano Scatolin
Patricia Prata
Data de defesa: 28-03-2017
Programa de Pós-Graduação: Linguística
Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)
BANCA EXAMINADORA:
Paulo Sérgio de Vasconcellos
Adriano Scatolin
Patricia Prata
Elaine Cristine Sartorelli
Marcos Aurélio Pereira
IEL/UNICAMP
2017
Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de
vida acadêmica do aluno.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Márcia e João, por sempre me incentivarem a perseguir os
estudos, por aceitarem as minhas escolhas, por acreditarem em mim em todos os
momentos, pela intensa dedicação e, principalmente, pelo amor incondicional.
Ao meu companheiro, Yuri Meyer, pelo apoio, pelos conselhos, pela
paciência, por me incentivar e sempre acreditar em mim.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Paulo Sérgio de Vasconcellos, pela dedicação
em me orientar nesta dissertação. Agradeço-lhe pelas correções, pelos comentários,
pelos conselhos e por toda ajuda prestada durante todos esses anos.
Aos professores que aceitaram fazer parte da banca de qualificação desta
dissertação, Prof. Dr. Marcos Aurélio Pereira e Prof. Dr. Adriano Scatolin.
Aos professores que aceitaram fazer parte da banca de defesa desta
dissertação, Profa. Dra. Patrícia Prata, que tem me acompanhado desde a graduação, em
2010, e Prof. Dr. Adriano Scatolin, cujo trabalho maravilhoso com o De oratore de
Cícero foi uma de minhas inspirações durante todo o trabalho do Mestrado. Agradeço
também aos professores suplentes desta defesa, Prof. Dr. Marcos Aurélio Pereira e
Profa. Dra. Elaine Sartorelli.
Aos excelentes professores de língua latina do Instituto de Estudos da
Linguagem, Prof. Dr. Paulo Sérgio de Vasconcellos, Profa. Dra. Patricia Prata, Profa.
Dra. Isabella Tardin Cardoso e Prof. Dr. Marcos Aurélio Pereira.
A minha amiga Shellen e ao meu amigo Octávio, que me acompanham
desde 2010, e aos meus amigos classicistas.
A Capes, que subvencionou esta pesquisa em sua totalidade.
RESUMO
A presente dissertação tem como objetivo a tradução e o estudo da segunda Filípica de
Marco Túlio Cícero. Pretende-se analisar como o autor constrói o seu ethos e o de
Marco Antônio ao longo de seu segundo discurso, ou seja, procura-se observar como o
caráter do autor e do interlocutor é apresentado tendo em vista o conceito de ethos
presente na retórica ciceroniana e o contexto político-histórico em que o texto se insere.
É importante enfatizar que a segunda Filípica foi escolhida para estudo e análise tendo
em vista a sua grande importância política e histórica e porque pretendia ser um
discurso proferido no senado em resposta de Cícero ao ataque verbal de Marco Antônio
após a divulgação da primeira Filípica. De fato, a segunda Filípica teve uma finalidade
claramente política, apresentava-se como uma defesa da República e uma autodefesa de
Cícero e denunciava qualquer tipo de comportamento e situação que fosse contra a
restauração da República. Para a análise de tal construção do ethos de ambas as figuras
políticas, o trabalho se divide em: breve contextualização da situação política e histórica
que envolve o discurso de Cícero contra Marco Antônio; teorização do conceito de
ethos na retórica antiga, partindo dos fundamentos de Aristóteles e dos elaborados pelo
próprio Cícero; análise de trechos significativos do discurso para que se possa
compreender como Cícero expõe o seu ethos e o de Marco Antônio, atentando-se,
também, para as semelhanças e diferenças entre os personagens; e tradução da segunda
Filípica.
Palavras-chave: Cícero; Aristóteles; Retórica; Ethos; Filípicas.
ABSTRACT
The objective of this dissertation is the translation and examination of Marco Tulio
Cicero’s second Philippic. An analysis is made of how the author interprets Cicero’s
and Mark Antony’s ethos during the second speech. In other words the dissertation will
look at how the character of the author and of the interlocutor is presented through
speech in relation to the political and historical positioning of the text and the ethos
concepts presented in the ancient rhetoric. It’s important to emphasize that the second
Philippic was selected for study and analysis because of its great political and historical
importance. In addition because the speech was planned for delivery in the senate as
Cicero’s response to Mark Antony’s verbal attack after the first Philippic had been
divulged. In fact the second Philippic clearly had a political purpose. It was given as a
defense of the Republic and as Cicero’s self-defense and it denounced any kind of
behavior or situation that was against the restoration of the Republic. Therefore, to
achieve an understading of how the ethos of both political characters was achieved the
work was divided into four main areas. Firstly, a brief background of the political and
historical basis related to Cicero’s speech to Antony is given. Secondly, a theorization
of the concept of ethos in the ancient rhetoric is made – starting from Aristotle’s
theories to those elaborated by Cicero himself. Thirdly, an analysis of some of the
significant passages in the speech is made, to give an understading of how Cicero and
Mark Antony project their ethos – and in addition observing the similarities and
differences between the characters. Fourtly, the translation of the second Philippic.
Key words: Cicero; Aristotle; Rhetoric; Ethos; Philippics.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...............................................................................................................9
PRIMEIRA PARTE
1. Contexto histórico: Os idos de março e a segunda Filípica de Cícero..........14
2. O conceito de ethos............................................................................................30
2.1. O ethos na Retórica de Aristóteles...............................................................31
2.2. O ethos reformulado em Rhetorica ad Herennium e em De inuentione......38
2.3. O ethos em De oratore.................................................................................45
2.4. Considerações a respeito da reformulação do ethos por Cícero após o De
oratore...........................................................................................................54
3. A construção do ethos de Cícero e de Marco Antônio na segunda
Filípica................................................................................................................59
3.1. PARTE 1: Defesa de Cícero e refutação às acusações de Antônio
3.1.1. Justificativas de Cícero sobre o seu comportamento privado....................62
3.1.2. Justificativas de Cícero sobre a sua vida política......................................68
3.2. PARTE 2: Cícero ataca Antônio
3.2.1. Os vícios de Antônio.................................................................................74
3.2.2. Os crimes políticos de Antônio................................................................77
4. Conclusão...........................................................................................................97
5. Bibliografia.........................................................................................................99
SEGUNDA PARTE
Tradução da Segunda Filípica de Marco Túlio Cícero............................................108
ANEXO
Texto original da Oratio Philippica Secunda de Marco Túlio Cícero.....................147
9
INTRODUÇÃO
O momento político que se instaurou em Roma após o assassinato de Júlio César,
em 44 a.C., levou Marco Túlio Cícero a proferir suas quatorze Filípicas. Elas expõem as
tensões políticas do momento, além de evidenciarem o conflito entre dois personagens
relevantes da época: Cícero e Marco Antônio. De fato, conforme May (1988), “os quatorze
discursos contra Antônio, as Filípicas, são o legado literário e oratório que Cícero nos deixou
daquele período”.1
Em sua Oratio Philippica Prima, a primeira Filípica, Cícero defende a sua partida
de Roma e o seu retorno, que teriam sido motivados pelo caminho pelo qual seguia a
República; em sua defesa, cita alguns aspectos do comportamento de Antônio. Ele também
reflete sobre a situação da República e, ao mesmo tempo em que critica a política de Antônio
e o acusa de não ter respeitado as medidas e as leis de César, repreende o processo irregular
pelo qual se deu seu governo.
Contudo, a Oratio Philippica Secunda, sua segunda Filípica, é a refutação de
Cícero tendo em vista a resposta de Marco Antônio à primeira Filípica e, de fato, de acordo
com Hall (2002), “é uma espécie de anomalia dentro da coleção como um todo. Sua função
como invectiva significa que ela contém pouco do estilo deliberativo da oratória encontrada
nas outras Filípicas; e, com um total de 119 seções, é o dobro mais longa do qualquer um dos
outros discursos”.2
Segundo Dugan (2011), “embora o começo da primeira Filípica anuncie seu
retorno à vida pública, é no texto deste segundo discurso nunca proferido (...) que Cícero
oferece a mais clara expressão de sua campanha contra Antônio como retorno de seu caráter
consular”.3 Esse segundo discurso tinha uma finalidade claramente política, apresentando-se
como uma defesa da República e uma autodefesa de Cícero e denunciando qualquer tipo de
comportamento e situação que fosse contra a restauração da República. Pode-se dizer que
Cícero se coloca como um defensor da República, julgando as atitudes de todos que se
posicionaram contra ela, e ataca Marco Antônio diretamente como um inimigo da República.
1 “The fourteen speeches against Antony, the Philippics, are the oratorical and literary legacy that Cicero left to
us from this period” (May, 1988, p. 149).
2 “(…) the speech is in fact something of an anomaly within the collection as a whole. Its function as invective
means that it contains little of the deliberative style of oratory found elsewhere in the Philippics; and with a total
of 119 sections it is more than twice as long as any of the other speeches” (Hall, 2002, p. 275).
3 “Although the beginning of the first Philippic announces his return to public life, it is in the text of this never-
delivered second speech (...) that Cicero offers his clarest expression of his campaign against Antony as the
return of his consular self” (Dugan, 2011, p. 337-338).
10
Enquanto no primeiro discurso Cícero tenta aconselhar e alertar Marco Antônio,
visando à restauração da República, no segundo há ataques à vida pessoal e política de Marco
Antônio, ironias e acusações. Então, Hall (2002) afirma que “Antônio é retratado através
dessa retórica da crise como um homem violento, perigoso, que deve ser vigorosamente
detido. Em outras ocasiões, no entanto, Cicero pretende minar a autoridade moral e política de
Antônio através de zombaria”.4 Além disso, de acordo com o mesmo autor, “Cicero se
apodera de várias características duvidosas do caráter de Antônio e constrói, a partir delas, um
retrato ridículo memorável dele como um bufão tolo e imoderado”.5
Podemos afirmar que a terceira Filípica tenta “persuadir o senado a dar a sua
aprovação oficial às ações de Otávio e D. Bruto na resistência a Antônio”6 (Hall, 2002, p.
276), assim como a quinta Filípica difama Antônio e proclama novamente apoio a Otávio, D.
Bruto e M. Lépido. Já a quarta e a sexta Filípicas, além de serem as únicas a terem sido
proferidas em contio e resumirem os argumentos de Cícero nos recentes debates senatoriais,
“são notáveis pela sua brevidade (16 e 19 longas seções respectivamente)”7 (ibid.).
A sétima, oitava e nona Filípicas abordam as questões decorrentes da decisão do
senado em enviar uma embaixada para negociar com Antônio em Mútina. Já na décima e na
décima primeira Filípicas, o foco do debate senatorial muda para as províncias orientais.
Através da décima segunda Filípica, Cícero expõe que estava enganado em concordar em
participar de uma segunda embaixada para encontrar Antônio perto de Mútina devido à
relevância da situação e seu envolvimento pessoal com ele, mas, no fim, a embaixada nunca
foi enviada. A respeito da décima terceira Filípica, Hall (2002, p. 279) afirma que,
primeiramente, “ele argumenta veemente contra a visão de Lépido de que a paz com Antônio
é possível [...]. Na segunda parte, lê ao senado o conteúdo da carta de Antônio e o submete a
um grande ridículo, esperando revelar a traição de Antônio e evitar qualquer onda de apoio à
causa de punir os assassinos”, sendo que “esta segunda parte em particular é um tour de force
da mordaz inteligência oratória de Cícero”.8
4 “Antony is portrayed through this rhetoric of crisis as a violent, dangerous man who must be vigorously
resisted. On other occasions, however, Cicero sets out to undermine Antony‟s moral and political authority
through mockery” (Hall, 2002, p. 288).
5 “Cicero seizes upon several dubious features of Antony‟s character, and constructs from them a memorably
ridiculous portrait of him as a foolish and intemperate buffoon” (ibid.).
6 “Philippic 3, delivered towards the end of December, thus urges the Senate to give its official approval to the
actions of Octavian and D. Brutus in resisting Antony”.
7 “These two speeches are the only contiones in the Philippics and both are remarkable for their brevity (16 and
19 sections long respectively)”.
8 “In the first part he argues vehemently against Lepidus‟ view that peace with Antony is possible (he makes no
mention of Plancus‟ letter in the published version of the speech). In the second part he reads to the Senate the
contents of Antony‟s letter and subjects it to extended ridicule, hoping to reveal Antony‟s treachery and forestall
Description:alguns, provavelmente teria salvo.202. 200 70. At quam crebro usurpat: “Et consul et Antonius”! Hoc est dicere: et consul et impudicissimus, et consul.