Table Of ContentBicentenário de Allan Kardec
Organizado por Carlos Bernardo Loureiro
Bicentenário de Allan Kardec
Organizado por Carlos Bernardo Loureiro
Sumário
Apresentação ................................................................................................................................ 3
Introdução .................................................................................................................................... 3
Biografia de Allan Kardec ............................................................................................................. 8
Memória Histórica ...................................................................................................................... 58
I - Retrospecto ........................................................................................................................ 58
II - O Movimento Moderno .................................................................................................... 64
III – O Espiritismo no Brasil .................................................................................................... 79
Estatística .................................................................................................................................. 106
Portugal e Ilhas ..................................................................................................................... 106
Espanha ................................................................................................................................. 106
França .................................................................................................................................... 106
Itália ...................................................................................................................................... 107
Bélgica ................................................................................................................................... 107
Alemanha .............................................................................................................................. 108
Inglaterra .............................................................................................................................. 108
Áustria - Hungria ................................................................................................................... 108
Holanda ................................................................................................................................. 108
Suécia e Noruega .................................................................................................................. 108
Sérvia ..................................................................................................................................... 108
Rússia .................................................................................................................................... 108
Austrália ................................................................................................................................ 108
América do norte .................................................................................................................. 108
México ................................................................................................................................... 109
Antilhas ................................................................................................................................. 109
América do Sul ...................................................................................................................... 109
Brasil...................................................................................................................................... 109
Nomenclatura ........................................................................................................................... 110
Histórico do Espiritismo ........................................................................................................... 116
Resumo do Ensino dos Espíritos .............................................................................................. 131
Máximas Extraídas do Ensino dos Espíritos ............................................................................. 141
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Apresentação
O Teatro Espírita Leopoldo Machado – TELMA, replica-o em
homenagem aos duzentos anos do nascimento de Allan Kardec,
nobre e talentoso Codificador da Doutrina dos Espíritos. Esperamos
cativa, contribuir para o enriquecimento do acervo científico e
filosófico do Espiritismo nas terras do Cruzeiro do Sul.
Parabéns a Kardec pelo transcurso de sua efeméride.
Justiça e Paz!
Carlos Bernardo Loureiro
Salvador, 03 de outubro de 2004.
Introdução
Com a publicação do presente trabalho, destinado a
comemorar o centenário natalício de Allan Kardec, a Federação
Espírita Brasileira visa um duplo objetivo: fixar por essa forma
alguns esparsos apontamentos, que serão um dia utilizados,
quando se tenha de escrever a história do Espiritismo no mundo,
particularmente em nosso país, e dissipar as prevenções que
porventura subsistam no espírito de muitos, acerca do caráter e
dos intuitos desta Doutrina, que se tem rapidamente propagado
por toda a parte, aliciando as mais significativas simpatias e
adesões, mas ao mesmo tempo provocando as mais rudes
hostilidades e caluniosas investidas.
Dividimo-lo para isso em duas partes. Na primeira,
propriamente histórica, são passados em revista os
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antecedentes do atual movimento doutrinário e fenomenal,
desde a mais remota antigüidade até os nossos dias, e
mencionados, com auxílio dos dados que nos foi possível obter,
os trabalhos de organização recentemente empreendidos, os
quais, embora ainda embrionários, já permitem fazer uma idéia
da importância e do futuro desta consoladora Doutrina.
Constitui a segunda parte a sintética monografia intitulada
O Espiritismo em Sua Mais Simples Expressão, publicada por
Allan Kardec, mas entre nós quase inteiramente desconhecida,
na qual as linhas fundamentais da Doutrina Espírita são
esboçadas com uma sobriedade de estilo e uma clareza que
permitem uma instantânea visão do conjunto da sua estrutura
geral e dos seus elevados ensinos.
Julgamos, além disso, necessário precedê-las da biografia
do grande missionário, afim de tornar conhecida dos leitores
alheios às nossas cogitações essa austera e veneranda figura,
cuja missão no seio da humanidade só mais tarde poderá ser
devidamente reconhecida por todos, assinalando-se-lhe o
eminente lugar que lhe pertence na galeria dos seus
desinteressados benfeitores.
Por aí se ficará sabendo que o grande apóstolo do moderno
Espiritualismo, longe de ser um desses Espíritos crédulos ou
facilmente entusiastas, possuía uma organização física
admiravelmente equilibrada, que lhe assegurava um golpe de
vista seguro e penetrante de todas as coisas, podendo, graças
ao seu sólido preparo científico e ao bom senso de que era
excepcionalmente dotado, penetrar nesse domínio do
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desconhecido, para o explorar com a firmeza de um verdadeiro
predestinado.
Ver-se-á ainda que a Doutrina, a que se acha
perpetuamente associado o seu nome não é uma obra pessoal,
nem o resultado de teorias formuladas à priori, mas, ao contrário,
o fruto de longas e pacientes investigações, a que ele não se
resolveu senão depois de uma legítima relutância diante da
singularidade dos fenômenos, a cuja aceitação se opusera ao
começo, em nome da própria disciplina científica do seu Espírito.
Uma vez, porém, colocado no caminho da Verdade, hesitou
não somente em adotá-la, mas em proclamar a sua
demonstração aos quatro ventos, votando-se denodadamente a
sua divulgação como o maior serviço que poderia prestar à
humanidade, muito embora devesse isso produzir-lhe os mais
cruéis e profundos dissabores, que são quase sempre a moeda
com que a ingratidão dos homens retribui os serviços dos que os
servem com desinteresse.
Fazendo-se o intermediário dos Espíritos, que foram as
vozes do céu, portadoras de uma nova revelação à Terra, Allan
Kardec reservou para si a função aparentemente modesta, mas
realmente importantíssima e difícil, de coordenador dos seus
ensinos, traçando o plano geral da Doutrina, em forma de um
vasto, complexo e minucioso questionário.
Que nos dizem esses ensinos? É o que o leitor encontrará
no fim deste trabalho. Por agora seja-nos lícito adiantar que,
fazendo uma nova e transcendente demonstração da existência
de Deus e da imortalidade da alma, enfeixando a concepção do
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universo e das suas leis, na ordem moral como na ordem física,
em uma larga e poderosa síntese, esses ensinos rasgam novos
e surpreendentes horizontes às aspirações do espírito humano,
recuando ao infinito a órbita dos conhecimentos que é chamado
a adquirir.
Mas, não é tudo. Científica em seus fundamentos e pelos
seus processos, filosófica em suas deduções, arrojadas mas
calcadas no mais puro racionalismo, a Doutrina Espírita vem,
sobretudo, operar uma profunda revolução na ordem moral ou
religiosa.
Ele retoma as tradições do Cristianismo primitivo, no ponto
em que as deixaram os seus infiéis depositários, que o foram
lentamente desfigurando com toda a sorte de adaptações
parasitárias, através dos séculos, e vem restabelecer os ensinos
do Evangelho em espírito e verdade, para confusão dos céticos,
edificação dos crentes, consolo dos aflitos e regeneração dos
transviados.
Na hora presente, em que um vertiginoso descalabro da
moralidade pública e privada ameaça a estabilidade social e
doméstica; quando, como entre nós, as noções do dever e da
virtude, a austeridade no homem e o recato na mulher, o
desinteresse, a abnegação, tudo o que pode fazer a grandeza do
povo e a dignidade da espécie, o sentimento religioso, o culto da
pátria e da família, é rebaixado e substituído pelo espírito do mais
grosseiro utilitarismo; que pode verdadeiramente haver de mais
oportuno e providencial que o aparecimento de uma Doutrina
como esta, que com toda a força da evidência, se impõe aos mais
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refratários Espíritos, dando às aspirações humanas um
enobrecedor e elevado rumo?
É o que efetivamente faz o Espiritismo. Ele não solicita,
demonstra. Ao lado dos erros e das calamidades que afligem as
sociedades contemporâneas, ele vem colocar o remédio que as
deve vigorar e redimir.
Aos sábios procura convencer pela comprovação científica
das verdades que afirma; aos indiferentes, pela eloqüência dos
seus testemunhos, que lhes há de sacudir o mórbido torpor. Aos
crentes de todas as religiões oferece um ideal mais adiantado e
mais perfeito, substituindo por esse culto espiritual de que falava
Jesus à Samaritana ao pé do poço de Jacob, as cerimonias
ritualísticas, de si mesmas insuficientes para a nutrição das
almas.
E assim, em meio das surdas inquietações que por toda a
parte perturbam os Espíritos, antes que o desmoronamento das
velhas instituições sociais e políticas lance as nações na
anarquia e na ruína moral, ele surge como uma nova aurora
alviçareira e redentora. O mundo dos preconceitos, das
injustiças, do egoísmo e da arrogância triunfante, vai ceder o
lugar à nova era da paz e da fraternidade, que surge no horizonte
do planeta. Como um frêmito de asas pelo azul, as vozes dos
Espíritos por toda a parte anunciam.
Sursum Corda!
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Biografia de Allan Kardec
Minhas senhoras, meus senhores1:
Muitas pessoas que se interessam pelo Espiritismo
manifestam muitas vezes o pesar de não possuir senão um
conhecimento muito imperfeito da biografia de Allan Kardec, e de
não saber onde encontrar, sobre aquele que chamamos o
Mestre, as informações que desejariam conhecer. Pois que é
para honrar Allan Kardec e festejar sua memória que nos
achamos hoje reunidos; pois que um mesmo sentimento de
veneração e de reconhecimento faz vibrar todos os nossos
corações a respeito do fundadorda filosofia espírita, permite-me,
no intuito de tentar corresponder a tão legitimo desejo, que vos
entretenha alguns momentos com esse mestre amado, cujos
trabalhos são universalmente conhecidos e apreciados, e cuja
vida intima, cuja laboriosa existência são apenas conjeturadas.
Se fácil foi a todos os investigadores conscienciosos
inteirarem-se do alto valor e do grande alcance da obra de Allan
Kardec pela leitura atenta de suas produções, na ausência até
hoje de elementos para isso, bem poucos puderam penetrar na
vida do homem íntimo e segui-lo passo a passo no desempenho
de sua tarefa, tão grande, tão gloriosa e tão bem preenchida.
Não somente a biografia de Allan Kardec é pouco
conhecida, como ainda está por ser escrita. A inveja e o ciúme
1 Conservamos ao presente trabalho a forma de conferência que lhe deu o autor,
lendo-a por ocasião da solenidade com que os espíritas de Lyon celebraram, a
31 de março de 1896, o 27° aniversário da desencarnação de Allan Kardec. (N.
do T.)
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semearam sobre ela os mais evidentes erros, as mais grosseiras
e as mais impudentes calúnias.
Vou, portanto, esforçar-me por vos mostrar sob uma luz
mais verdadeira o grande iniciador de quem nos desvanecemos
de ser discípulos.
Todos sabeis que a nossacidade se pode honrar, por justo
título, de ter visto nascer entre seus muros esse pensador tão
arrojado quão metódico, esse Filósofo sábio, clarividente e
profundo, esse trabalhador obstinado, cujo labor sacudiu o
edifício religioso do velho mundo e preparou os novos
fundamentos que deviam servir de base à evolução e à
renovação da nossa sociedade caduca. Impelindo-a para um
ideal mais são, mais elevado, para um adiantamento intelectual
e moral seguros.
Foi, com efeito, em Lyon que a 03 de outubro de 1804
nasceu, de uma antiga família lionesa com o nome de Rivail,
aquele que devia mais tarde ilustrar o nome de Allan Kardec e
conquistar para ele tantos títulos à nossa profunda simpatia, ao
nosso filial reconhecimento.
Eis aqui a esse respeito um documento positivo e oficial:
“Aos 12 do vindimário do ano XIII, auto do nascimento de
Denizard Hippolyte Léon Rivail, nascido ontem às 7 horas da
noite, filho de Jean Baptiste- Antoine Rivail, magistrado e juiz, e
Jeanne Duhamel, sua esposa, residentes em Lyon, rua Sala, n°
76.
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“O sexo da criança foi reconhecido masculino.
“Testemunhas maiores:
“Syriaque-Frederic Dettmat, diretor do estabelecimento das
águas minerais da rua Sala. e Jean François Targe, mesma rua
Sala, à requisição do médico Pierre Radamel rua Saint
Dominique. n° 78.
“Feita a leitura, as testemunhas assinaram, assim como o
maire da região do Meio- dia.”
“O Presidente do tribunal, (Assinado): Mathiou”.
O futuro fundador do Espiritismo recebeu desde o berço um
nome querido e respeitado e todo um passado de virtudes de
honra, de probidade; grande número de seus antepassados se
tinha distinguido na advocacia e na magistratura, por seu talento,
saber e escrupulosa probidade. Parecia que o jovem Rivail devia
sonhar, também ele, com os louros e as glórias de sua família.
Assim, porém, não foi, porque desde o começo da sua juventude
ele sentiu-se atraído para as Ciências e a Filosofia.
Denizard Rivail fez em Lyon os seus primeiros estudos e
completou em seguida sua bagagem escolar em Yverdun (Suiça)
com o célebre professor Pestalozzi, de quem cedo tornou-se um
dos mais eminentes discípulos e um colaborador inteligente e
dedicado. Ele se tinha aplicado de todo o coração à propaganda
do sistema de educação que exerceu tão grande influência sobre
a reforma dos estudos na França e na Alemanha. Muitíssimas
vezes, quando Pestalozzi era chamado pelos governos, um
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Description:Bicentenário de Allan Kardec. Organizado por Carlos Bernardo Loureiro os quais por nossa vez devemos meditar. “Vindo dos Espíritos o ensino,