Aspectos petrográficos e geoquímicos preliminares das suítes alcalinas sieníticas e traquíticas da porção setentrional do Complexo Vulcânico de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro

2006·16.5 MB·Portuguese

by  Michele C Arena

Arquivos do Museu Nacional, Rio de Janeiro, v.64, n.4, p.333-359, out./dez.2006
ISSN 0365-4508
ASPECTOS PETROGRÁFICOS E GEOQUÍMICOS PRELIMINARES DAS SUÍTES
ALCALINAS SIENÍTICAS E TRAQUÍTICAS DA PORÇÃO SETENTRIONAL DO
COMPLEXO VULCÂNICO DE NOVA IGUAÇU, RIO DE JANEIRO 1
(Com 11 figuras)
MICHELE CORREIA ARENA 2’3
SÉRGIO DE CASTRO VALENTE 4
LILIAN SOUZA DA SILVEIRA 2’5
THIAGO DUTRA 2’6
ARTUR CORVAL 2’7
CELIA DIANA RAGATKY 2’8
RESUMO: Diferentes tipos de sienitos, traquitos e, subordinadamente, brechas piroclásticas afloram na área de
lavra da Pedreira Vigné, localizada na porção setentrional do Complexo Vulcânico de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro.
Este trabalho apresenta dados de campo e petrográficos destas rochas, e resultados de análises litogeoquímicas
dos sienitos e traquitos. O mapeamento geológico detalhado discriminou a ocorrência de três fácies traquíticas,
sienitos indiferenciados e brechas polimíticas na área de lavra, além de intrusões tabulares de traquitos e
lamprófiros. Estudos petrográficos permitiram discriminar dois grupos faciológicos principais dentre os litotipos
mapeados na Unidade Sienitos Indiferenciados, a saber: inequigranular porfirítico, englobando três litotipos
(álcali-feldspato sienito porfirítico, pórfiro álcali-feldspato sienito e sienito porfirítico fino), e equigranular,
compreendendo os litotipos biotita sienito grosso, sienito médio e álcali-feldspato sienito grosso. As fácies traquíticas
mapeadas foram inseridas em três unidades distintas, todas representadas por traquitos porfiríticos: Unidade
Traquito Porfirítico Cinza-claro, Unidade Traquito Porfirítico Lilás e Unidade Pórfiro-traquito. Os dados
litogeoquímicos mostram que os sienitos e traquitos porfiríticos que afloram na Pedreira Vigné inserem-se numa
série alcalina miaskítica predominantemente sódica, muito embora traquitos ultrapotássicos também ocorram
de modo subordinado. Sienitos e traquitos são metaluminosos e peraluminosos, o que é corroborado pela ausência
de acmita na norma CIPW. Dados litogeoquimicos apontam que há suítes traquíticas e sieníticas com diferentes
graus de saturação em sílica na área. De um modo geral, estas suítes estão associadas a processos evolutivos de
cristalização fracionada ou AFC (Assimilation and Fractional Crystallisation), em contraponto a modelos
petrogenéticos envolvendo processos de mistura magmática em câmaras zonadas.
Palavras-chave: Rochas alcalinas. Sienitos. Traquitos. Suíte miaskítica.
ABSTRACT: Petrography and preliminary geochemical data of the syenitic and trachytic alkaline suites
northwards the Nova Iguaçu Volcanic Complex, Rio de Janeiro.
Distinctive syenites, trachytes and subordinately also pyroclastic breccia outcrop within the Vigné Quarry
mining area located northwards the Nova Iguaçu Volcanic Complex in the State of Rio de Janeiro. This paper
presents field and petrographic data for these rocks as well as the results of lithogeochemical analysis for the
syenites and trachytes only. The detailed geological mapping discriminated three trachytic fácies, undiferentiated
syenites and polimythic breccia in the study area, besides tabular intrusions of trachytes and lamprophyres.
The petrography allowed the discrimination of two distinctive groups of syenites included in the undifferentiated
syenites unit as such: the inequigranular porphyritic group represented by porphyritic alkaline feldspar
syenite, porphyry alkaline feldspar syenite and fine-grained porphyritic syenite; and the equigranular group
represented by coarse-grained biotite syenite, medium-grained syenite and coarse-grained alkaline feldspar
syenite. The trachytic rocks by their side were grouped in three distinctive units all with porphyritic lithotypes:
1 Submetido em 06 de setembro de 2005. Aceito em 02 de outubro de 2006.
2 Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Geologia. Rua São Francisco Xavier 524, Maracanã, 20550-900, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3 E-mail: [email protected].
4 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Departamento de Geociências. BR 465, Km 7, 23890-000, Seropédica, RJ, Brasil. E-mail: [email protected].
5 E-mail: [email protected].
6 E-mail: [email protected]
7 E-mail: [email protected].
8 E-mail: [email protected].
334 M.C.ARENA et al.
the light-grey porphyritic trachyte unit, the purple porphyritic trachyte unit and the porphyry trachyte unit.
The lithogeochemical data showed that syenites and porphyritic trachytes that outcrop in the Vigné Quarry
area represent an alkaline miaskitic, predomiantly sodic series although ultrapotassic trachytes also occur
subordinately. Syenites and trachytes are metaluminous and peraluminous rocks as corroborated by the
absence of normative acmite. Syenitic and trachytic suites can be discriminated on the basis of silica saturation
degrees. In general, these suites are likely to have evolved by fractional crystallisation or AFC as opposed to
previously proposed petrogenetic models involving magma mixing in subvolcanic, zoned magma chambers.
Key words: Alkaline rocks. Syenites. Trachytes. Miaskitic suites.
INTRODUÇÃO na Plataforma Sul-Americana no Cretáceo
Superior e Terciário. Um dos modelos propõe que
O Complexo Vulcânico de Nova Iguaçu faz parte de o lineamento magmático é a expressão do traço
um dos mais jovens grupos de rochas da província da pluma de Trindade-Martins Vaz, admitindo
alcalina do sudeste [ca. 72 Ma; Sonoki & Garda, 1988; idades decrescentes das rochas alcalinas, de oeste
Ulbrich & Gomes, 1981) e integra o Lineamento para leste, entre 90 e 43 Ma (Herz, 1977; Cordani
Magmático Poços de Caldas-Cabo Frio (Almeida, & Teixeira, 1979; Gibson et al, 1997; Thompson et
1991) (Fig. 1). Duas estruturas vulcânicas inserem- al, 1998). Um outro modelo associa o magmatismo
se na área do Complexo Vulcânico de Nova Iguaçu alcalino à mudança de pólo de rotação de placas
(Klein, 1993), sendo uma a WSW, denominada litosféricas durante a abertura do Oceano
Chaminé do Lamego, e outra a ENE, denominada Atlântico-Sul, o que teria causado esforços em
de vulcão de Nova Iguaçu (Klein & Vieira, 1982). falhas transformantes e/ou em zonas de fraturas
A área de lavra da Pedreira Vigné está localizada oceânicas, que se propagariam em direção ao
na borda setentrional do Complexo Vulcânico de continente originando o lineamento de rochas
Nova Iguaçu (Fig.l). Diferentes tipos de sienitos alcalinas (Almeida, 1991). Finalmente, um outro
do Complexo Vulcânico de Nova Iguaçu, bem como modelo concilia a atividade da pluma e o processo
traquitos, intrusões tabulares e rochas de reativação de falhas fundamentais. Este modelo
piroclásticas afloram na área de lavra (Dutra et explica a atividade magmática relacionada ao
al, 2004) (Fig.2). Lineamento Magmático Poços de Caldas-Cabo Frio
como uma resposta a uma anomalia térmica
Este trabalho apresenta dados de campo e
petrográficos inéditos das rochas alcalinas mantélica posicionada nas proximidades da cadeia
aflorantes na área de lavra da pedreira. Além disso, de Vitória-Trindade no Eoceno. A justaposição
desta zona de fraqueza, causada pela
análises litogeoquímicas para elementos maiores
reorganização global de placas, próxima a uma
feitas somente para os traquitos e sienitos foram
utilizadas na elaboração de modelos petrogenéticos anomalia térmica, pode ter resultado em centros
preliminares alternativos àqueles já propostos na vulcânicos que estão agora cobertos pelo Banco
literatura. de Abrolhos (Fainstein & Summerhayes, 1982). Mais
recentemente, trabalhos geofísicos de tomografia
sísmica do manto têm demonstrado a existência
Contexto geodinâmico
de anomalias de velocidades de propagação de
O Complexo Vulcânico de Nova Iguaçu integra o ondas P, que têm sido tentativamente associadas
assim denominado Lineamento Magmático Poços à presença de áreas anomalamente aquecidas no
de Caldas-Cabo Frio (Fig.l), prolongado por alguns manto litosférico subcontinental (Assumpção etal,
autores até a região de Poxoréu no Centro-Oeste 2004). Estas áreas coincidem com os maciços
do Brasil (Gibson et al, 1997). Esse lineamento, inseridos no Lineamento Magmático Poços de
de direção geral WNW-ESE, é constituído por Caldas-Cabo Frio e podem implicar a perpetuação
rochas alcalinas, predominantemente plutônicas do registro da anomalia térmica da pluma no
e félsicas, com idades que variam do Cenomaniano manto litosférico.
ao Eoceno, e corta estruturas tectônicas do As encaixantes do Complexo Vulcânico de Nova
segmento central da Faixa Ribeira de idade Iguaçu (Fig.l) são representadas por rochas
Neoproterozóica-Siluriana (Heilbron et al, 2004) intrusivas do Maciço do Gericinó, em forma de
na área do Rio de Janeiro. facólito, com aproximadamente 3km de largura,
Três modelos geodinâmicos principais têm sido na sua parte central, e cerca de 10km de
utilizados para explicar esta feição regional linear comprimento, e com mergulho para NW (Klein,
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1993). Estas rochas têm c.a. 72 Ma (K-Ar em e traquitóide nas bordas, com grandes quantidades
anfibólio e rocha total; Sonoki & Garda, 1988) e de feldspato modal, minerais máficos e
compreendem uma suíte predominantemente possivelmente nefelina (Klein & Montavano, 1985).
formada por sienitos insaturados, foiaítos, Veios de barita e, secundariamente, depósitos de
tinguaítos e nefelina sienitos freqüentemente bauxita não econômicos, estão associados ao
associados com traquitos e fonolitos (Ferreira et complexo (Menezes & Klein, 1973; Sigolo & Klein,
al, 1965; Helmbold, 1967, 1968). Este maciço 1987). Mais recentemente, os depósitos hidrotermais
alcalino é mineralogicamente e texturalmente do Complexo Vulcânico de Nova Iguaçu também têm
compartimentado, sendo grosso (foiaítico) no centro sido estudados (Pires & Miano, 1999).
Maciços alcalinos
1 Poços de Caldas 4 Morro Redondo 7 Itaúna 10 M.S.João 13 Trindade
2 Passa Quatro 5 Tinguá 8 Rio Bonito 11 Cabo Frio 14 Martin Vaz
3 Itatiaia 6 Tanguá 9 Soarinho 12 São Sebastião
Legenda
• Rochas magmáticas
S

Curvas bati métricas
Cidades
"H
14
O 400
4800 ^
(cid:9632) Aluvião
(cid:9633) Aglomerado gj Lineamentos
(cid:9633) Brecha gSg Pedreira de brita
Km 5 (cid:9633) Micro-sienito Chaminé do Lamego
(cid:9633) Sienito Pedreira Vigné
Fig. 1- (a) Mapa esquemático do Lineamento Magmático Poços de Caldas-Cabo Frio; (b) Mapa de localização do Complexo
Vulcânico de Nova Iguaçu (CVNI) e da área de lavra da Pedreira Vigné. (modificados de Klein & Vieira, 1982; Klein, 1993).
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Fig.2- Mapa geológico da área de estudo (modificado de Dutra et al, 2004).
Há duas estruturas vulcânicas associadas ao Complexo cratera e a porção mais alta de sua borda. As diversas
Vulcânico de Nova Iguaçu. A chaminé do Lamego é camadas apresentam mergulho médio de 30° para o
caracterizada por um conduto relativamente pequeno centro do cone. Essa inclinação corresponderia ao
formado por tufos soldados de composição predominan ângulo de repouso das camadas após seu
temente traquítica, bem como brechas vulcânicas (Klein assentamento, mas há de se considerar a
et al, 1984). Diques brechados estão associados a esta possibilidade de uma estruturação tardia, derivada
estrutura vulcânica. Eles são traquíticos e têm fragmentos do abatimento da estrutura vulcânica. As rochas
angulares a subangulares centimétricos a métricos. A vulcânicas identificadas compreendem microsienitos
colocação das brechas foi descrita como rápida e explosiva, porfiríticos e rochas piroclásticas (brechas,
possivelmente controlada, por gases quentes ascendentes aglomerados e lapillitos), além de intrusões tabulares
com fragmentos em suspensão (fluidização), resultante de traquitos (Klein & Vieira, 1980). A colocação de
do acúmulo em câmaras magmáticas rasas (Klein & magmas em posições estruturais rasas é atribuída a
Valença, 1984). movimentos transtensivos dextrais, com
A outra estrutura vulcânica é conhecida como o desenvolvimento de estruturas pull-appart. Magmas
vulcão de Nova Iguaçu. A estrutura parece ser do máficos primitivos teriam ascendido e formado uma
tipo cone de tufo formado por piroclastos essen câmara magmática cujas porções mais apicais teriam
cialmente traquíticos. O cone vulcânico tem sua diferenciado magmas sódicos, dando origem aos
forma original relativamente bem preservada, com corpos intrusivos do Complexo Vulcânico de Nova
um diâmetro de 700 metros e apresenta a forma de Iguaçu, enquanto que os magmas potássicos na base
uma semi-elipse, com a abertura voltada para leste, dessa mesma câmara magmática podem ter
com um desnível de 250 metros entre o fundo da alimentado o Vulcão de Nova Iguaçu (Klein, 1993).
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Geologia de campo foi feita com base nas percentagens de volume dos
minerais constituintes da matriz, não tendo sido
Quatro unidades de mapeamento foram
computados os fenocristais, representados quase
discriminadas na área mapeada (Fig.2), quais
que exclusivamente por álcali-feldspato. A escala
sejam: Unidade Sienitos Indiferenciados, Unidade
granulométrica adotada foi a seguinte: fina
Traquitos Porfiríticos, Unidade Brechas Polimíticas
(<lmm), média (l-5mm) e grossa (>5mm)
e Unidade Intrusões Tabulares (Dutra et al, 2004). (MacKenzie etal, 1982).
A Unidade Sienitos Indiferenciados é formada por
As rochas da Unidade Sienitos Indiferenciados foram
sienitos de composições e texturas variadas, mas
inseridas em dois grupos faciológicos principais com
que não apresentam continuidade no campo de
base em critérios texturais, quais sejam:
modo a permitir uma discriminação no mapa
inequigranular porfirítico e equigranular. Grãos
geológico na escala detalhada (Fig.2). Os sienitos
euédricos poiquilíticos de álcali-feldspato com
são constituídos essencialmente de álcali-feldspato,
geminação simples representam o fenocristal
com apatita e biotita como minerais acessórios mais
predominante nas rochas do primeiro grupo, que têm
comuns. Os fenocristais são usualmente de álcali-
matriz desde fina a média, constituída de álcali-
feldspato e, mais subordinadamente, de plagioclásio feldspato, plagioclásio, biotita, minerais opacos e
e biotita (Dutra, 2004). apatita. A classificação modal permitiu a
A Unidade Traquitos Porfiríticos inclui três fácies discriminação de álcali-feldspato sienitos e sienitos
distintas: traquito porfirítico cinza-claro, traquito no grupo inequigranular porfirítico. Álcali-feldspato
porfirítico lilás e pórfiro-traquito. Todos estes sienitos com menores (20%/80%) e maiores (60%/
traquitos possuem matriz afanítica devitrificada e 40%) proporções matriz/fenocristal (em %vol.) foram
fenocristais finos a grossos, desde euédricos a denominados pórfiro álcali-feldspato sienitos e álcali-
anédricos, de álcali-feldspato. As proporções matriz/ feldspato sienitos porfiríticos, respectivamente. Ainda
fenocristais variam nas três fácies, desde 60%/40%, no grupo inequigranular porfirítico, sienitos com
nos traquitos porfiríticos cinza-claro e lilás, até 20%/ matriz fina a média envolvendo fenocristais médios
80% nos pórfiro-traquitos (Dutra, 2004). de álcali-feldspato foram denominados sienitos
As rochas piroclásticas mapeadas foram porfiríticos finos/médios.
classificadas de acordo com os critérios O mesmo esquema de classificação modal
recomendados pela Subcomissão em Sistemática de (Streckeisen, 1976) foi utilizado para discriminar
Rochas ígneas do International Union of Geological os litotipos do grupo faciológico equigranular. As
Sciences (IUGS), sumarizados em LeMaitre (1989). rochas deste grupo são afíricas e têm granulometria
desde média a grossa. Sienitos de granulometria
As brechas polimíticas são de dois tipos: sustentada
média (4-5mm) contendo cerca de 15%vol. de
por matriz; e por blocos. Os blocos são geralmente
biotita foram denominados de biotita sienitos
angulosos, de tamanhos que podem chegar até
médios, enquanto que sienitos com pouca (<2%vol.)
3,5m, e constituídos de traquitos e sienitos,
biotita na moda e granulometria média (l-3mm)
principalmente, e, mais subordinadamente, de
foram denominados sienitos médios. Finalmente,
diabásio, anfibolito e gnaisse.
álcali-feldspato sienitos de granulometria grossa
Intrusões tabulares de poucos centímetros a até
(6-8mm) foram denominados álcali-feldspato
3m, desde retilíneas até bastante irregulares (p.ex.:
sienitos grossos. A tabela 1 apresenta um quadro
bifurcadas) cortam as rochas de todas as unidades
sinóptico das principais características
descritas anteriormente, caracterizando uma
petrográficas dos litotipos dos dois grupos
possível manisfestação tardia do magmatismo
faciológicos discriminados para a Unidade Sienitos
associado ao Complexo Vulcânico de Nova Iguaçu.
Indiferenciados.
As intrusões são comumente de traquitos de
Os traquitos da Unidade Traquitos Porfiríticos têm,
diferentes texturas, desde afaníticos afiricos até
em geral, matriz hipocristalina parcialmente
porfiríticos, e, subordinadamente, lamprófiros.
devitrificada envolvendo fenocristais, representados
quase que exclusivamente por álcali-feldspato e,
Petrografia
subordinadamente por plagioclásio. Os traquitos da
Estudos petrográficos ao microscópio foram Unidade Traquitos Porfiríticos podem ser
realizados somente para traquitos e sienitos, uma distinguidos, principalmente, em base textural. Os
vez que o estudo geoquímico foi centrado nestes traquitos porfiríticos cinza-claro têm fenocristais
litotipos. A classificação modal (Streckeisen, 1976) médios (l-3mm) euédricos a subédricos de álcali -
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TABELA 1. Principais características dos grupos faciológicos discriminados para a unidade sienitos indiferenciados.
Grupo Litotipo Matriz Fenocristais Proporção
faciolõgico Matriz / Fenocristal
Inequigranular Álcali- Granulometria: 2mm Granulometria: 4-10mm 60%/40%
feldspato Álcali-feldspato (78%); Álcali-feldspato (90%), biotita (5%; em grãos
porfirítico
sienito plagioclásio (5%); biotita isolados ou como inclusões em álcali-
porfirítico (10%); minerais opacos feldspato), plagioclásio (2%), minerais opacos
(5%); apatita (2%) (2%; como inclusões em álcali-feldspato) e
apatita (1%; como inclusões em álcali-
feldspato e biotita)
Inequigranular Pórfiro álcali- Granulometria: <2mm Granulometria: 3-10mm 20%/80%
feldspato Álcali-feldspato (90%); Álcali-feldspato (93%), biotita (2%),
porfirítico sienit0
plagioclásio (1%); biotita plagioclásio (2%), minerais opacos (2%; como
(2%); minerais opacos inclusões em álcali-feldspato, plagioclásio e
(5%); apatita (2%) biotita) e apatita (1%; como inclusões em
álcali-feldspato)
Inequigranular Sienito Granulometria: <2mm Granulometria: l-3mm 60%/40%
porfirítico Álcali-feldspato (80%); Álcali-feldspato (90%), biotita (5%),
porfirítico
fino/médio plagioclásio (1%); biotita plagioclásio (2%), minerais opacos (2%; como
(6%); minerais opacos inclusões em álcali-feldspato) e apatita (1%;
(10%); apatita (3%) como inclusões em álcali-feldspato e biotita)
Equigranular Biotita sienito Granulometria: 4-5mm
médio Álcali-feldspato (60%);
plagioclásio (20%); biotita
(15%); minerais opacos
(4%); apatita (1%)
Equigranular Sienito Granulometria: l-3mm
médio Álcali-feldspato (70%);
plagioclásio (15%); biotita
(1%); minerais opacos
(10%); apatita (4%)
Equigranular Álcali- Granulometria: 6-8mm
feldspato Álcali-feldspato (90%);
sienito grosso plagioclásio (2%); biotita
(2%); minerais opacos
(5%); apatita (1%)
Moda em % de volume.
feldspato envoltos por uma matriz hipocristalina feldspato e plagioclásio envoltos por uma matriz
parcialmente devitrificada. A proporção matriz/ hipocristalina a holocristalina fina (<lmm). A
fenocristais (em %vol.) dos traquitos porfiríticos cinza- proporção matriz/fenocristais (em %vol.) dos pórfiro-
claro é 60%/ 40%. Os traquitos porfiríticos lilás têm traquitos é 20%/80%. Deste modo, pórfiro-traquitos
fenocristais finos (< lmm) a médios/grossos (3- lOmm) podem ser distinguidos dos traquitos porfiríticos
subédricos a anédricos de álcali-feldspato, geralmente cinza-claro e lilás pelas suas diferentes proporções
zonados, envoltos por uma matriz hipocristalina matriz/fenocristais. Semelhantemente, os traquitos
devitrificada. Os traquitos porfiríticos lilás também porfiríticos cinza-claro e lilás podem ser distinguidos,
apresentam enclaves de sienitos e uma sutil respectivamente, pelas formas euédricas e anédricas
orientação de fluxo denotada pelo alinhamento de e granulometrias média e fina a grossa de seus
fenocristais de álcali-feldspato. A proporção matriz/ fenocristais, bem como pela ausência ou presença
fenocristais (em %vol.) dos traquitos porfiríticos lilás de enclaves. A tabela 2 apresenta um quadro
é 60%/40%. Os pórfiro-traquitos têm fenocristais sinóptico das principais características petrográficas
médios a grossos (2-15mm) euédricos de álcali- dos litotipos da unidade traquitos porfiríticos.
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ASPECTOS PETROGRÁFICOS E GEOQUÍMICOS DAS SUÍTES ALCALINAS SIENÍTICAS E TRAQUÍTICAS, NOVA IGUAÇU, RJ 339
TABELA 2. Principais características dos litotipos discriminados para a unidade traquitos porfiríticos.
Litotipo Matriz Fenocristais Proporção
Matriz / Fenocristal
Traquito porfirítico Hipocristalina (vítrea a Granulometria: l-3mm 60%/40%
cinza-claro devitrificada) Álcali-feldspato (98%) euédrico a subédrico com
inclusões de apatita (2%)
Traquito porfirítico Hipocristalina Granulometria: <1 a lOmm 60%/40%
lilás devitrificada Álcali-feldspato (95%) subédrico a anédrico com
inclusões de apatita (3%) e minerais opacos (2%)
Pórfiro-traquito Hipocristalina a Granulometria: 2- 15mm 20%/80%
holocristalina fina Álcali-feldspato (68%) euédrico com inclusões de
apatita (2%) e plagioclásio euédrico (30%)
Moda em % de volume.
Litogeoquímica dos sienitos e traquitos previamente calcinadas para medidas de perda ao
fogo (PF), conforme procedimento a ser detalhado
Os dados litogeoquímicos utilizados neste trabalho
mais adiante. Os vidros produzidos foram
foram fornecidos pela diretoria técnica da Pedreira
analisados para o conjunto de elementos maiores
Vigné Ltda. As amostras foram coletadas em perfis
(Si02, Ti02, A1203, Fe203(t), MnO, MgO, CaO, Na20,
longitudinais nas sete bancadas da lavra, em
K20) e as concentrações foram obtidas a partir de
intervalos de 20 metros, e analisadas apenas para
uma linha de calibração construída com base em
elementos maiores. O mapeamento geológico
um grupo de padrões internacionais. Medidas de
detalhado e a petrografia feitos a posteriori precisão e acurácia não puderam ser calculadas,
permitiram associar as amostras coletadas para
haja vista o laboratório não ter fornecido as
as análises litogeoquímicas com alguns dos
concentrações dos padrões, obtidas à época,
litotipos discriminados. Assim, pode-se observar
nem tampouco de amostras repetidas. O
que foram coletadas apenas amostras de traquitos
elemento enxofre foi analisado separadamente,
porfiríticos cinza-claro e sienitos indiferenciados.
mas o laboratório não forneceu informações
Não foi possível associar as amostras analisadas
sobre a metodologia utilizada. O elemento fósforo
com os seis litotipos sieníticos descritos
não foi analisado.
anteriormente, uma vez que os mesmos não foram
Os valores da soma dos óxidos e PF dos sienitos
diferenciados em campo na escala de
variam entre 98,71 a 100,16% peso (média 99,47
mapeamento, só tendo sido possível discriminá-
± 0,37), enquanto que os valores da soma dos óxidos
los em base petrográfica. A amostragem realizada
para as amostras de traquitos variam de 98,62 a
pela equipe técnica da Pedreira Vigné Ltda.
100,15% peso (média 99,50 ± 0,33).
resultou na coleta de um maior número de
Os traquitos e sienitos da área de estudo
amostras de traquitos porfiríticos cinza-claro que
constituem uma série alcalina (Fig.3) de caráter
sienitos indiferenciados, uma vez que obedeceu
miaskítico (0,65 < (Na20 + K20)/A1203 < 0,99;
simplesmente a orientação dos perfis nas
bancadas existentes à época de coleta. Em SORENSEN, 1974).
resumo, a base de dados litogeoquímicos utilizada Os sienitos e traquitos são classificados como
restringe-se à análises de elementos maiores para metaluminosos e peraluminosos de acordo com o
oitenta e quatro amostras, sendo quarenta e nove diagrama de Maniar & Piccoli (1989) (Fig.4).
de traquitos porfiríticos cinza-claro (Tab.3) e trinta Com base em sua composição química, as rochas
e cinco de sienitos indiferenciados (Tab.4). são classificadas como traquitos alcalinos (Fig.5) e
As amostras selecionadas foram analisadas no álcali-feldspato sienitos e álcali-feldspato quartzo
Laboratório GEOSOL por fluorescência de raios-X. sienitos (Fig.6).
Pequenas alíquotas (cerca de lg) de amostras Os traquitos da área de estudo se dividem em tipos
pulverizadas misturadas a um solvente sólido predominantemente sódicos, potássicos e, mais
(tetraborato de lítio) foram fundidas por cerca de raramente, ultrapotássicos (Fig.7a). Diferentemente,
vinte minutos sob temperaturas em torno de não há tipos ultrapotássicos dentre os sienitos da
1200°C em forno mufla. Alíquotas separadas foram área, sendo os mesmos sódicos e potássicos (Fig.7b).
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ASPECTOS PETROGRAFICOS E GEOQUIMICOS DAS SUITES ALCALINAS SIENITICAS E TRAQUITICAS, NOVA IGUAÇU, RJ 341
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