Table Of ContentUNIVERSIDAD POLITÉCNICA SALESIANA
SEDE QUITO
CARRERA: ANTROPOLOGÍA APLICADA
Tesis previa a la obtención del título de: Licenciado/a en Antropología
Aplicada
TEMA:
O significado identitário do reggae para a comunidade no bairro
popular de São Francisco de São Luís – Maranhão – Brasil
AUTORA:
Lucimar Ferreira Carvalho
DIRECTOR:
Luis Alberto Herrera Montero
Quito, octubre 2011
A Deus que me concedeu a graça da vida.
Aos guias de luz que me conduziram por todo este trabalho.
2
Agradecimentos
Ao meu filho, meu constante companheiro, atento observador e
‘cuidador’ nas diversas fases da nossa vida.
À minha compreensiva mãe, meu pai, meus irmãos, meus queridos
sobrinhos: Augusto e seus filhos Maria Eduarda, Maria Clara e Samuel, Danilo e
Breno; minhas sobrinhas: Elisa e seu lindo Arthur Guilherme, Poliana e seus filhos
Fábio Júnior e Lara Sofia, Bruna, por compreenderem minha forma de viver e que
me acompanham nas mais diversas experiências que inventamos fazer.
Aos diversos amigos que a vida me proporcionou conhecer nas suas mais
diversas fases e que ajudaram e ajudam a enriquecê-la. Aos companheiros da
preciosa Ilhinha que conheci através de Santo Antonio e São Francisco que me
conduziram a uma rica experiência de perseverança e esperança, conflitos e
solidariedade. À Rita e Marcelo por serem acima de tudo Amigos e Companheiros.
Aos grupos de colecionadores de reggae roots por terem acolhido e
compreendido este trabalho, por propiciarem a sua realização através dos diversos
eventos e conversas e principalmente pela confiança nele depositada.
Ao projeto de Antropologia Aplicada sede São Luís, que me
proporcionou conhecer pessoas, fazer amigos e viver experiências que somente um
mergulho nas profundezas da vida pode nos proporcionar. Rosimeire, graças pela sua
paciência e amizade. Maria José e Elismar, pela amizade construída e pelo
companheirismo nas inquietudes e atribulações para fazer e concluir este curso.
À Antropologia Aplicada sede Quito, seus professores que muito
contribuiram para o desenvolvimento do curso nestas terras através da amizade e
solidariedade conosco em cada etapa. Luis Herrera pela orientação e solidariedade
sempre e principalmente nesta etapa final. Patricio Guerrero, nossa inspiração e poeta
maior na Antropologia e que nos conduz no ‘corazonar’ pela vida.
3
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 8
1 CONFORMAÇÃO DA CIDADE DE SÃO LUIS, A ILHA DO AMOR E
JAMAICA BRASILEIRA ..................................................................................... 13
1.1 O Bairro do São Francisco – Conformação histórica e social .............................. 22
2 REFLEXÕES TEÓRICAS E METODOLÓGICAS SOBRE O REGGAE .... 35
i. Marco Teórico ..................................................................................................... 35
ii. Marco Metodológico............................................................................................ 42
3 O REGGAE – PROCESSOS DE IDENTIFICAÇÃO NA RELAÇÃO
JAMAICA–MARANHÃO – SINCRETISMO, MESTIÇAGEM E
HIBRIDAÇÃO ....................................................................................................... 47
3.1 O Reggae, o rastafarismo e Bob Marley ............................................................ 47
3.2 Trajetória histórica e consolidação cultural do reggae no Maranhão .................. 67
3.3 O reggae em São Luis: seus discursos, nuances e conflitos ................................ 72
3.3.1 Reggae, música para dançar ou construção simbólica e identitária? ............... 73
3.3.2 Usurpação simbólica, conflitos étnico-sociais e re-significação – a diversidade
de sentidos do reggae maranhense ............................................................................ 78
4 A MASSA REGUEIRA EM AÇÃO: O REGGAE COMO INSTRUMENTO
DE TRANSFORMAÇÃO HUMANA E SOCIAL ................................................ 89
4.1 O reggae e o conflito social – da discriminação para o reconhecimento social: a
re-construção da categoria ‘regueiro’ ....................................................................... 98
4.2 Símbolos e discursos na revitalização identitária e política no bairro do São
Francisco ................................................................................................................ 106
4.3 As potencialidades do reggae – implicações na e para a sociedade local ............. 114
4
4.4 Dançar e sentir: construindo outras percepções e sentidos a partir do reggae ...... 121
CONCLUSÕES ...................................................................................................... 126
REFERENCIAS ...................................................................................................... 130
ANEXO ................................................................................................................... 133
5
Abstract
Trabajo de investigación antropológica en la comunidad reguera
del barrio de San Francisco, de la ciudad de São Luis,
Maranhão, Brasil. Demuestra el potencial del reggae para la
revitalización de la identidad, la revitalización del compromiso
social y humano. A su vez demuestra que el gobierno no cumple
su función de generar políticas públicas y culturales más
eficazes pues "usurpa simbólicamente ' el reggae a favor de una
visión política estrecha, ya que pone el reggae sólo como
producto turístico. Se observa que el potencial económico es el
más notable y por lo tanto más buscado por aquellos que viven
del reggae y de los que consideran la oportunidad para vivir de
él.
Mira acerca de la diáspora caribeña desde una perspectiva de
que la música reggae se ha establecido a través del incipiente
proceso de globalización en los años 70, en la ruta del Caribe -
Norte / Noreste de Brasil. El perjuicio al reguero ha denunciado
desde su creación aún se puede notar hoy en día no sólo en la
sociedad, pero sobretodo dentro de los organismos públicos,
especialmente a los responsables de la seguridad pública. El
descubrimiento de que el movimiento se auto-organiza, articula,
apunta a superar el estigma y realce periférico de la clase de
donde viene el movimiento reggae roots. El movimiento reguero
articulado, organizado, en última instancia, acaba por subvertir
la relación de dominación y subordinación histórica desde su
propia mitad, de su propia subjetividad, la llamada "subversión
cultural" a su manera de sentir, ser, y soñar.
6
Vou te confessar uma coisa: se eu não curtisse, gostasse de reggae, eu acho
que nem existiria mais. O reggae é foda, é muito forte, ele tem uma energia
positiva. Mas, se for ‘traíra’ dentro dele, ele mesmo te ‘derriba’, te dá uma
rasteira e é difícil de levantar.
Cabeça Roots
7
INTRODUÇÃO
O reggae na cidade de São Luís se tornou com o passar dos anos uma
questão bastante questionadora em diversos aspectos, no social, no econômico e
agora também no político. O crescimento do ‘movimento regueiro’ na cidade e sua
expansão justamente sobre a parte da população mais excluída da sociedade traz uma
reflexão sobre a influência de um estilo de música sobre o comportamento desta
população e sua conseqüente re-ação que derruba estigmas e preconceitos baseado
em novas posturas de ser, agir e pensar, re-ação que se insere num contexto de poder,
exploração e de dominação social e econômica e que se reflete nos ônibus
completamente lotados vindos dos bairros da periferia para os bairros ‘centrais’ ou
comerciais da cidade. Uma cidade que não foi projetada para receber a quantidade de
migrantes vindos do interior do Estado e nem tampouco atualmente conta com a
disposição do poder público para alterar essa realidade. Uma cidade que vê nos finais
de semana ‘regueiros guerreiros’ dançando, bebendo, sorrindo, se divertindo apesar
dos ‘aperreios’ do dia-a-dia. Regueiras, guerreiras que constantemente estão com
seus parceiros nos salões de reggae da cidade, curtindo suas ‘pedras’ e que às vezes
enciumadas demarcam seu território quando deparam com uma figura ‘diferente’ na
área.
Fazer um trabalho antropológico etnográfico dentro da sua própria urbe
inicialmente poderia ser visto como fácil, porém, apresentou-se um verdadeiro
desafio frente aos muitos obstáculos enfrentados no decorrer do trabalho que beirou
inclusive a oferecer situações constrangedoras, delicadas e porque não dizer sem
exageros... perigosas. Mas, o fazer antropológico estava palpitando para ser
completado, as emoções teimavam em querer ser visualizadas e analisadas, o igual
nunca pareceu ser tão diferente. A antropologia que no Brasil a partir dos anos 1970
inseriu as cidades ao campo da investigação com maior vigor, trazia na passagem dos
séculos XIX para o XX a análise centrada nos cultos afro-brasileiros, populações de
origem africana, estudos de comunidade, além das relações inter-étnicas e dos grupos
tradicionais. A inserção das favelas nos estudos antropológicos iniciou também outra
área de investigação: os ‘nossos’ próprios universos de origem com a ordem de
8
‘estranhar o familiar’1. Essa aproximação da análise antropológica de situações
próximas, conhecidas do antropólogo, por certa parte facilita a inserção do
investigador no seu campo proposto através das suas relações já existentes, porém,
não de todo ‘familiar’ já que a proposta de uma investigação antropológica seria
justamente nos aprofundarmos nas nossas inquietações ‘familiares’. Gilberto Velho
que já conduziu vários trabalhos dentro da perspectiva da sociedade urbana remete a
Simmel a análise das sociedades urbanas e sua multidimensionalidade. As
contradições e ambiguidades próprias de uma sociedade que apresenta indivíduos
com variados pertencimentos permitem termos um ‘estranhamento crítico diante do
próximo’, e que no meu caso específico não estar inserida em um grupo de
colecionador de reggae, mas, ser apenas uma freqüentadora de festas, possibilitou
uma análise suficientemente crítica do movimento, bem como o levantamento de
suas potencialidades e também... debilidades. O trabalho com pessoas da mesma
comunidade se por um lado se mostrou prático, por outro lado, também possibilitou o
surgimento de sentimentos bons e maus que no final da pesquisa culminou em certos
distanciamentos desnecessários. Mas, a antropologia por seu caráter interacionista já
poderia ter ampliado este trabalho para uma extensão para a psicologia social que
ajudaria na análise das relações e reações de determinadas figuras do movimento
reggae. No entanto, como disse o mesmo Gilberto Velho, cada pesquisador deve
buscar suas próprias trilhas e... desvios possíveis, sem receitas, mas sim, estratégias.
Tomando por base uma análise social a partir de outras re-leituras na área
da investigação, este trabalho busca relacionar a partir da própria ótica do ‘regueiro’
sua posição frente ao movimento que faz parte, agregando também opiniões de
pessoas que não necessariamente são ‘adeptas’ ao movimento, mas de uma forma ou
de outra estão inseridas no contexto em que se encontra o movimento. Tentei evitar
dentro do possível termos como informantes, objeto de investigação e entendi estar
mais dentro do perfil deste trabalho tratar as pessoas que foram passando por ele
como regueiros, regueiras, interlocutoras, ou mesmo o seu próprio nome. A
observação participante não se figura como o centro deste trabalho2, mas sim a fala,
as palavras, os odores, os sentimentos que percebi estarem contidos nas diversas
1 Cfr. VELHO, G, Gilberto e KUSCHNIR, Karina, (orgs.) Pesquisas urbanas: desafios do trabalho
antropológico, 1ª edicão, Jorge Zahar Ed, Rio de Janeiro-Rio de Janeiro, 200, p. 15
2 Porque o termo ‘observar’ acaba sendo por demais restrito às emoções que ‘rolam’ numa festa de
reggae.
9
expressões das pessoas com a qual mantive contato. Os depoimentos gravados são
importantes, porém, o compartilhar de uma música, de uma garrafa de cerveja, uma
parte3, conversas informais depois de várias rodadas, tudo isso colaborou e está
presente em cada página deste trabalho antropológico.
Desde cedo escutava da minha casa a música vinda do clube Espaço
Aberto que nos finais de semana se enchia de pessoas para dançar o reggae. Reggae
que para minha família um tanto tradicional não nos era permitido frequentar, fora
minha irmã mais velha que se aventurava a ir, mesmo contra a vontade dos meus
pais. O contato mais próximo com o reggae já era – observe-se isso – na época de
carnaval, durante os vesperais no Clube do Bento, próximo da minha casa e no qual
nos era permitido frequentar até as 19horas. Antes da festa estar ‘pegada’, os reggaes
tradicionais rolavam, foi então que tive os primeiros contatos com a dança, com o
ritmo, com a música reggae. Depois de muitos anos que tive a oportunidade de
freqüentar um salão de reggae, o Roots Bar, localizado no projeto Reviver, centro da
cidade, através de um amigo. Daí em diante o espírito inquieto e a observação de que
havia por trás do reggae muito mais do que simplesmente uma música que se
dançava, e que na verdade existia todo um complexo de relações e sentimentos,
surgiram os primeiros questionamentos: magnatas do reggae? Políticos do reggae?
Reggae é coisa de preto e de pobre? Polícia bate em regueiro preto e pobre por ele
fumar a maconha, mas não bate no de classe média que está nos bares mais
freqüentados pela elite e que utiliza não apenas a ‘erva’? Ou seja, muita inquietação e
uma monografia na área da antropologia que estava por vir ‘casou’ os interesses.
A análise social que superficialmente tento fazer não irá comportar todas
as vertentes deste movimento e a complexidade de sua abrangência, porém, já anima
por propiciar uma outra perspectiva de leitura do movimento, não apenas
antropológica, mas que busca a partir do próprio sujeito do movimento, se colocar
como sujeito também crítico e reflexivo deste movimento e suas implicações sociais.
Uma perspectiva de investigação antropológica dentro de marcos teóricos que
desafiam para uma construção real do ‘nós-outros’ de maneira dialógica e reflexiva,
crítica e dialética.
3 A expressão ‘uma parte’ significa dançar uma música com o parceiro.
10
Description:O significado identitário do reggae para a comunidade no bairro 23 Jah: Abreviação do nome bíblico "Jeovah", usada para designar Deus ou sua