Table Of ContentLeo Vinicius
Outros lançamentos de 2014
ANTES DE JUNHO:
1964: o golpe contra a democracia
REBELDIA, PODER E FAZER
e as reformas
DA JUVENTUDE AUTONOMISTA
Caio Navarro de Toledo (org.)
A cultura do trabalho em
Jaraguá do Sul:
um estudo sobre as trabalhadoras
O fenômeno de mobilização nas ruas visto em junho de 2013 foi
da indústria têxtil-vestuarista
um raio em céu azul? De onde vieram as significações imaginárias
Melissa Coimbra
de horizontalidade e apartidarismo presentes naquelas mobiliza-
Cartas de Paulo Leminski: ções? Partindo da rebeldia como categoria política, o autor
Sinais de Vida discorre sobre o fazer e o poder de uma juventude autonomista.
Joacy Ghizzi Neto Das gêneses e práticas do chamado “movimento antiglobaliza-
ção” – nas suas versões britânica e paulista nas duas décadas
Gramsci, transição social e
anteriores – à constituição do Movimento Passe Livre em Floria-
educação: notas para
nópolis e São Paulo, esse sujeito político é pesquisado e compre-
uma reflexão crítica
endido antes da dimensão midiática e espetacular que ganhou
Paulo Sergio Tumolo
em 2013. Mas qual é o sentido do poder e fazer desse sujeito polí- Leo Vinicius. Doutor em Sociologia
tico, dessa juventude autonomista? A possibilidade da emergên- Política pela UFSC, com pós-doutora-
Investidor responsável ou
cia de uma nova geração de direitos sociais aparece como senti- do no Departamento de Filosofia da
retorno sustentável?
Uma análise sobre o Índice de do histórico presente nesse poder constituinte. USP. Atualmente é tecnologista da
Fundacentro. Nas áreas das sociolo-
Sustentabilidade Empresarial
gias da Educação, da Juventude e do
André Schneider Dietzold
Trabalho, suas pesquisas são atraves-
sadas pela influência do pensamento
O assalto aos cofres públicos
Leo Vinicius ANTES DE JUNHO: autonomista, de matriz anarquista e
e a luta pela comunicação
marxista, e costumam enfocar as
democrática no Brasil
REBELDIA, PODER E FAZER
práticas autônomas de grupos e movi-
Itamar Aguiar
DA JUVENTUDE AUTONOMISTA mentos sociais. É autor de A guerra da
tarifa (Faísca, 2005) e organizador dos
Projeto e revolução:
livros Urgência das ruas (Conrad,
do fetichismo à gestão,
2002) e Apocalipse motorizado (Con-
uma crítica à teoria do design
rad, 2004), os dois últimos sob o pseu-
Iraldo Matias
dônimo de Ned Ludd.
E-mail: [email protected]
Leo Vinicius
antes de junho:
rebeldia, poder e
fazer da juventude
autonomista
UFSC
Florianópolis
2014
Copyright © 2014 Leo Vinicius
Capa
Tiago Roberto da Silva
Edição e editoração eletrônica
Carmen Garcez
Catalogação na fonte pela Biblioteca Universitária
da
Universidade Federal de Santa Catarina
V785a Vinicius, Leo
Antes de junho: rebeldia, poder e fazer da
juventude autonomista / Leo Vinicius. –
Florianópolis : Editoria Em Debate/UFSC, 2014.
364 p. : tabs.
Inclui bibliografia.
ISBN: 978-85-61682-62-0
1. Sociologia política. 2. Anarquismo.
3. Trabalhadores. 4. Movimentos sociais. I.
Vinicius, Leo. II. Título.
CDU: 316.334.3
Todos os direitos reservados a
Editoria Em Debate
Campus Universitário da UFSC – Trindade
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Bloco anexo, sala 301
Telefone: (48) 3338-8357
Florianópolis – SC
www.editoriaemdebate.ufsc.br
www.lastro.ufsc.br
SUMÁRIO
prefácio ............................................................................................7
apresentação ..............................................................................11
introdução ..............................................................................19
1. da rebeldia à autonomia .....................................29
1.1 A rebeldia ........................................................................................29
1.2 Bem-vindos à terra zapatista, que quer dizer “terra digna e
rebelde” .................................................................................................35
1.3 Insubordinação e teoria rebelde .....................................................38
1.4 A autonomia ....................................................................................51
1.5 A autovalorização ...........................................................................57
1.6 O poder constituinte .......................................................................67
1.7 Sobre alguns conceitos da economia política ...............................68
2. a rebeldia do movimento operário como
anarquismo ..........................................................................75
2.1 Definições de anarquismo e suas ideias gerais .............................76
2.2 Proudhon: teórico da autonomia operária .....................................80
2.3 Bakunin e o anarquismo como movimento ..................................90
2.4 O anarquismo: revolta cultural e política ......................................94
2.5 Movimento operário libertário no Brasil ...................................101
2.6 Movimento operário, anarquismo e subcultura .........................114
3. rebeldia juvenil e consumo rebelde .................119
3.1 A forma-juventude .......................................................................124
3.2 Revolta e juventude .....................................................................127
3.3 A revolta como consumo e o consumo da revolta .....................133
3.4 O social e o estilo de vida ...........................................................141
3.5 Punk, autovalorização e anarquismo ..........................................144
3.6 Indústria cultural difusa e a produção da marca ........................151
3.7 Do consumo à política ................................................................158
4. a rebeldia da juventude global ...........................163
4.1 O Movimento da Ação Direta Britânico ....................................180
4.1.1 A década de 1980 e a contracultura anarcopunk ............182
4.1.2 Surgimento e primeiros anos do Earth First! ..................187
4.1.3 A disputa da M11: ação direta e questão social ..............189
4.1.4 De Reclaim The Streets aos Dias de Ação Global ...........194
4.1.5 Prefil dos ativistas..............................................................205
4.1.6 O limite geracional e o limite subcultural........................210
4.2 A AGP e o Movimento Antiglobalização no Brasil ...................220
4.2.1 Origens ...............................................................................220
4.2.2 Construindo manifestações, construindo
esfera pública ....................................................................231
4.2.3 Divergências: estratégia ou identidade ............................243
4.2.4 Refluxo e continuidade ......................................................256
4.2.5 Da identidade global à conexão com o local ...................262
4.2.6 Construindo espaços libertários .......................................274
4.2.7 Construindo a organização: a vertente “classista” ........277
4.2.8 Da AGP ao FAO e MPL: o fim do ponto de partida .......286
5. sob outra bandeira: o passe livre .......................291
limites e perspectivas desse poder e fazer .........317
O empreendimento político da juventude ........................................317
Em busca do contrapoder ..................................................................323
A valorização do fazer que está por vir ............................................328
referências .............................................................................337
lista de siglas .......................................................................357
prefácio
O livro de Leo Vinicius Liberato sobre as expressões contestatóri-
as da juventude contemporânea chega tarde para a divulgação
ampliada além do ambiente acadêmico, que reconheceu a importân-
cia da pesquisa inédita realizada para sua tese de doutorado em So-
ciologia Política.
Observador atento e militante reflexivo, o autor soube identificar
significados e relevância histórica nos movimentos de uma parcela
de jovens, num momento em que para as Ciências Sociais da ordem
o tema era considerado pouco nítido, de conteúdos dispersos e visi-
bilidade organizativa questionável. Seu mérito foi tornar inegável a
constatação de que estava se constituindo um pensamento crítico he-
terodoxo entre a juventude contestadora que influenciou em forma e
conteúdo as suas manifestações há décadas.
A investigação realizada em meados dos anos 2000 apresenta a
origem e a constituição, nas últimas décadas, da rebeldia anticapitalis-
ta entre jovens com práticas afastadas da adesão às relações político-
-institucionais. Mostra como a ação direta, as decisões via democracia
direta e princípios autonomistas e o ideário anarquista se conjugam
num campo de luta de confronto com o poder do Estado e orientam
ações políticas de uma agenda que não se limita a acompanhar a lógi-
ca da realpolitik que estabelece política, social e juridicamente como
deve ser uma oposição política.
Liberato traduziu o recado que pulsava das ruas desde o chamado
zapatista de 1994, as manifestações de Seattle em 1996 e seus desdo-
bramentos inúmeros pela América Latina, Europa e Oriente Médio: há
jovens que sabem que o mundo democrático não é realmente demo-
crático e isso vai mudar tudo!
A juventude foi seu o ponto de partida, condição material e sim-
bólica de vida em que a autonomia, quando cultivada em coletivos
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organizados, pode conduzir a luta social pela liberdade e pela revo-
lução social, possibilidade que pode identificar jovens com a indeter-
minação histórica, assumindo princípios mais radicais. Exatamente o
contrário do que fazem os adultos que incorporam a cristalização das
instituições. O processo e os desdobramentos das relações políticas
prevalecem como interesses centrais de suas ações coletivas e se so-
brepõem ao resultado em si.
Crítico, o autor considera que há um poder constituinte da juven-
tude, que denomina “forma-juventude”, capacidade potencializadora
da sua condição transitória que ao mesmo tempo é a fonte de sua auto-
nomia, mas que no capitalismo o que se transforma em revolta política
e rebeldia também se dilui em consumo.
Este texto que a Em Debate oferece ao público mais amplo tor-
nou-se referência no ambiente virtual criado pelos grupos políticos,
home pages de coletivos insurgentes, e germinou outros estudos so-
bre a contestação política de uma juventude insurgente contra a or-
dem, em linhas de investigação dos espaços universitários que vêm
acompanhando a prática de uma segunda geração de organizações
novas que se fortaleceram após os anos 1990. Sua base empírica
foram os eventos, manifestações, a forma e o conteúdo em suas con-
tradições, motivações, desenvolvimento das práticas, discursos dos
grupos e perfil dos ativistas.
O leitor poderá perceber a pertinência e contribuição desta in-
vestigação sobre a sociabilidade política de uma geração influenciada
pelos protestos internacionais, mas autêntica na sua experiência nacio-
nal. O livro nos leva a entender a tendência das ações coletivas desses
contestadores heterodoxos, bem como o significado e influência do
seu envolvimento nesses processos de massa, onde deixam impressas
suas experiências políticas. Cabe lembrar que nos acontecimentos e
manifestações políticas que eclodiram nas ruas das cidades brasileiras
a partir de junho de 2013, a pauta de um dos movimentos foco da
investigação – o Movimento Passe Livre (MPL) – foi o estopim da
revolta que se alastrou pelo país e colocou em evidência diversas or-
ganizações juvenis que até então eram desconhecidas do conjunto da
população, e mesmo da academia.
9
A mobilização de massa nos protestos de rua em todo o Brasil
naquele junho foi imprevista pelas autoridades governamentais e de
poder econômico, mas não pelos movimentos sociais organizados.
Com sua atenção voltada para as entranhas do poder institucional, por
onde circula a vitalidade da sua manutenção, os analistas, assessores,
governantes e afins devem ter se lamentado por não prever a insatis-
fação da população, que vive um quadro social cotidiano carregado
de problemas, sintetizado no questionamento profundo do modelo das
cidades em que vivem.
Na condição de um país situado no âmbito do capitalismo depen-
dente, com intensas mudanças políticas, culturais, e direcionamento da
sua economia via crédito e endividamento da população e do próprio
Estado, o território brasileiro passa por dinâmicas que vão deixando
mais nítida a relação do desenvolvimento das cidades brasileiras com
setores da elite econômica. Uma certa juventude já percebia isso e
tem dado sua contribuição histórica para que esse quadro se altere. Os
jovens brasileiros investigados nesta pesquisa estiveram nas ruas em
2013. As manifestações contra o aumento da passagem de ônibus e a
favor da Tarifa Zero no transporte coletivo, organizadas e articuladas
pelo Movimento Passe Livre, desde São Paulo, foram responsáveis
pelo desencadeamento da revolta popular que se instaurou em inúme-
ras cidades brasileiras.
A conjuntura que levou aos protestos de junho de 2013 desen-
cadeou uma cultura de aceitação da ocupação das ruas, mas também
de rejeição, colocando a população frente à necessidade de um po-
sicionamento diante do que as ruas estavam demandando. O Estado
mobilizou um verdadeiro aparato militar para controlar a multidão e
deixou claro que manifestações são aceitas, porém nos limites de um
enquadramento, cuja medida é dada pela corporação policial que se
declara protetora do restante dos cidadãos, mas age com o objetivo de
proteger o status quo.
Acontecimentos ainda em curso, os fatos e suas muitas explica-
ções estão ainda na agenda da reflexão especialista e seus desdobra-
mentos evidenciam que os jovens que estiveram nas ruas em junho de
2013 instalaram um cenário de protestos, revolta e indignação, que
mesmo longe de uma unanimidade, deixaram o questionamento do
modelo de desenvolvimento e o descrédito no modelo de representa-
ção política. Mas, frise-se, nem todos os jovens, mas aqueles que se
organizam na contestação. Boa leitura!
Janice Tirelli