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AUTORES
Uwe Flick (coord.)
Professor de Pesquisa Qualitativa na Alice Salomon University of Applied Sciences, Berlim.
Graham Gibbs
Professor de Métodos de Pesquisa na University of Huddersfield.
,
ANALISE DE
DADOS
QUALITATIVOS
G442a Gibbs, Graham.
Análise de dados qualitativos/ Graham Gibbs ; tradução Roberto Tradução
Cataldo Costa ; consultoria, supervisão e revisão técnica desta edição Roberto Cataldo Costa
LoríViali. - Porto Alegre: Artmed, 2009.
Consultoria, supervisão e revisão técnica desta edição
l 98 p. ; 23 cm. - (Coleção Pesquisa qualitativa/ coordenada por
Lorí Viali
Uwe Flick)
Professor Titular da Faculdade de Matemática
ISBN 978-85-363-2055-7 na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do SuL
Professor Adjunto do Instituto de Matemática na
1. Pesquisa científica. 2. Pesquisa qualitativa - Análise de dados. Universidade Federal do Rio Grande do SuL
l. Título. II. Série.
CDU 001.891
Catalogação na publicação: Rena ta de Souz<1 Borges CRB-10/1922
2009
Obra originalmente publicada sob título ll1talyzi1tg Qualitutive Dai.a
ISBN 978-0-7619-4980-0
English language edition publíshed by SAGE Publications of London,New Delhi
and Síngapore
© Graham R. Gíbbs, 2008
© Portuguese language translatíon by Artmed Editora S.A., 2009
SUMÁRIO
Capa:
Paola Manica
Preparação de originais:
Lia Gabrie/e Regius dos Reis
Leitura final:
lnt rndução à Coleção Pesquisa Qualitativa (Uwe Flick) ..................... 7
Cristine Henderson Severo
',1Jb1e este livro (Uwe Flick) ..................................................... 13
Supervisão editorial:
Carla Rosa Araujo 1 Natureza da análise qualitativa ........................................... 15
Projeto e editoração:
2 Preparação dos dados .................................................. -.... 27
Santo Expedito Produção e Artefina/
Finalização: 3 Escrita ·············-···-···-···················································43
Armazém Digital® Editoração Eletrônica -Roberto Carlos Moreira Vieira 4 Codificação e categorização temáticas ............. --. -.... -............ 59
5 Análise de biografias e narrativas ........................................ .79
6 Análise comparativa ......................................................... 97
Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, à 7 Qualidade analítica e ética .............................................. 117
ARTMED'"' EDITORAS.A. 8 Comecando a trabalhar com análise qualitativa
Av. Jerônimo de Ornelas, 670 -Santana
de dados com uso de computador ...................................... 135
90040-340 -Porto Alegre -RS
Fone (51) 3027-7000 -Fax (51) 3027-7070 9 Buscas e outras atividades analíticas com o uso de softwares ..... 157
1O
É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quais Agrupando tudo ........................ ········ ............................ 179
quer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distri
buição na Web e outros), sem permissão expressa da Editora. Glossário .......................................................................... 183
Referências ....................................................................... 191
SÃO PAULO
Índice ............................................................................. 195
Av. Angélica, 1091 -Higienópolis
01227-100 -São Paulo -SP
Fane (11) 3665-1100 -Fax (11) 3667-1333
SAC 0800 703-3444
IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
INTRODUÇÃO À COLEÇÃO
PESQUISA QUALITATIVA
Uwe Flick
Nos últimos anos, a pesquisa qualitativa tem vivido um período de cres
irnento e diversificação inéditos ao se tornar uma proposta de pesquisa
c
onsolidada e respeitada em diversas disciplinas e contextos. Um número
e
.ada vez maior de estudantes, professores e profissionais se depara com per
e
ituntas e problemas relacionados a como fazer pesquisa qualitativa, seja em
1e rmos gerais, seja para seus propósitos individuais específicos. Responder
essas perguntas e tratar desses problemas práticos de maneira concreta
.i
sao os propósitos centrais da Coleção Pesquisa Qualitativa.
Os livros da Coleção Pesquisa Qualitativa tratam das principais questões
que surgem quando fazemos pesquisa qualitativa. Cada livro aborda mé
todos fundamentais (como grupos focais) ou materiais fundamentais (como
dados visuais) usados para estudar o mundo social em termos qualitativos.
Mais além, os livros incluídos na Coleção foram redigidos tendo em mente as
necessidades dos diferentes tipos de leitores, de forma que a Coleção como
um todo e cada livro em si serão úteis para uma ampla gama de usuários:
• Profissionais da pesquisa qualitativa nos estudos das ciências sociais,
na pesquisa médica, na pesquisa de mercado, na avaliação, nas ques
tões organizacionais, na administração de empresas, na ciência cog
nitiva, etc., que enfrentam o problema de planejar e realizar um
determinado estudo usando métodos qualitativos.
• Professores universitários que trabalham com métodos qualitativos
poderão usar esta série como base para suas aulas.
• Estudantes de graduação e pós-graduação em ciências sociais, enfer
magem, educação, psicologia e outros campos em que os métodos
qualitativos são uma parte (principal) da formação universitária, in
cluindo aplicações práticas (por exemplo, para escrever uma tese).
8 • 9
Cada livro da Coleção Pesquisa Qualitativa foi escrito por um autor des q111· pt•1111it.u11 <10 ll<'~.q11i~.<ulor dt•'..t'11volv(•1111odd os, l.ipoloeias, teorias (mais
tacado, com ampla experiência em seu campo e com prática nos métodos 11111 11(•110!, w~1H~1aliúiveis) corno lorrníls de descrever e explicar as questões
sobre os quais escreve. Ao ler a Coleção completa de livros, do início ao ·.11( i<1is (e psicológicas).
fim, você encontrará, repetidamente, algumas questões centrais a qualquer
tipo de pesquisa qualitativa, como ética, desenho de pesquisa ou avalia r·r
POR QUE SE FAZ PESQUISA QUALITATIVA?
ção de qualidade. Entretanto, em cada livro, essas questões são tratadas
do ponto de vista metodológico específico dos autores e das abordagens Levando-se em conta que existem diferentes enfoques teóricos, episte-
que descrevem. Portanto, você poderá encontrar diferentes enfoques às 111ológicos e metodológicos, e que as questões estudadas também são muito
questões de qualidade ou sugestões diferenciadas de como analisar dados diferentes, é possível identificar formas comuns de fazer pesquisa qualita-
qualitativos nos diferentes livros, que se combinarão para apresentar um 1 iva? Podem-se, pelo menos, identificar algumas características comuns na
quadro abrangente do campo como um todo.
orma como ela é feita.
1
Os pesquisadores qualitativos estão interessados em ter acesso a ex
~ O QUE É A PESQUISA QUALITATIVA? periências, interações e documentos em seu contexto natural, e de
uma forma que dê espaço às suas particularidades e aos materiais nos
É cada vez mais difícil encontrar uma definição comum de pesquisa qua quais são estudados.
litativa que seja aceita pela maioria das abordagens e dos pesquisadores do • A pesquisa qualitativa se abstém de estabelecer um conceito bem
campo. A pesquisa qualitativa não é mais apenas a "pesquisa não quanti definido daquilo que se estuda e de formular hipóteses no início para
tativa", tendo desenvolvido uma identidade própria (ou, talvez, várias iden depois testá-las. Em vez disso, os conceitos (ou as hipóteses, se forem
tidades). usadas) são desenvolvidos e refinados no processo de pesquisa.
• A pesquisa qualitativa parte da ideia de que os métodos e a teoria
Apesar dos muitos enfoques existentes à pesquisa qualitativa, é possível devem ser adequados àquilo que se estuda. Se os métodos existentes
identificar algumas características comuns. Esse tipo de pesquisa visa a
não se ajustam a uma determinada questão ou a um campo concreto,
abordar o mundo "lá fora" (e não em contextos especializados de pesquisa,
eles serão adaptados ou novos métodos e novas abordagens serão
como os laboratórios) e entender, descrever e, às vezes, explicar os fenô
desenvolvidos.
menos sociais "de dentro" de diversas maneiras diferentes:
• Os pesquisadores, em si, são uma parte importante do processo de
pesquisa, seja em termos de sua própria presença pessoal na condição
• Analisando experiências de indivíduos ou grupos. As experiências po
de pesquisadores, seja em termos de suas experiências no campo e
dem estar relacionadas a histórias biográficas ou a práticas (cotidianas
com a capacidade de reflexão que trazem ao todo, como membros do
ou profissionais), e podem ser tratadas analisando-se conhecimento,
campo que se está estudando.
relatos e histórias do dia a dia.
• A pesquisa qualitativa leva a sério o contexto e os casos para entender
• Examinando interações e comunicações que estejam se desenvolven
uma questão em estudo. Uma grande quantidade de pesquisa quali·
do. Isso pode ser baseado na observação e no registro de práticas de tativa se baseia em estudos de caso ou em séries desses estudos, e,
interação e comunicação, bem como na análise desse material. com frequência, o caso (sua história e complexidade) é importante
• Investigando documentos (textos, imagens, filmes ou música) ou traços para entender o que está sendo estudado.
semelhantes de experiências ou interações. • Uma parte importante da pesquisa qualitativa está baseada em texto e
na escrita, desde notas de campo e transcrições até descrições e inter
Essas abordagens têm em comum o fato de buscarem esmiuçar a forma
pretações, e, finalmente, à interpretação dos resultados e da pesquisa
como as pessoas constroem o mundo à sua volta, o que estão fazendo ou o como um todo. Sendo assim, as questões relativas à transformação
que está lhes acontecendo em termos que tenham sentido e que ofereçam de situações sociais complexas (ou outros materiais, como imagens)
uma visão rica. As interações e os documentos são considerados como for em textos, ou seja, de transcrever e escrever em geral, preocupações
mas de constituir, de forma conjunta (ou conflituosa), processos e artefatos centrais da pesquisa qualitativa.
sociais. Todas essas abordagens representam formas de sentido, as quais
podem ser reconstruídas e analisadas com diferentes métodos qualitativos
10 •
• Mesmo que os métodos tenham de ser adequados ao que está em es .111.111· .. 11tli·.t111~.<1•, <Oltl <",~,1· lipo de· cl.1elo~; Silo <lbrnd<tdos 11csse liv10.
tudo, as abordagens de definição e avaliação da qualidade da pesquisa
<)11cllidwfe 110 pesquiso qtwlitulivu (Uwc Flick) trata da questão da quali·
qualitativa (ainda) devem ser discutidas de formas específicas, ade
quadas à pesquisa qualitativa e à abordagem específica dentro dela. 1l.11lj• d1•11lrn di1 pesquisa qualitativa. Nesse livro, a qualidade é examinada
p.11t11 do uso ou da reformulação de critérios existentes para a pesquisa
.1
1p1.ilildliva, ou da formulação de novos critérios. Esse livro examina os
~( A ABRANGÊNCIA DA COLEÇÃO PESQUISA QUALITATIVA ilj·l1.1tcs cm andamento sobre o que deve ser definido como "qualidade"
; · v.1lidade em metodologias qualitativas, e analisa as muitas estratégias
O livro Desenho da pesquisa qualitativa (Uwe Flick) apresenta uma breve
introdução à pesquisa qualitativa do ponto de vista de como desenhar e 1i .u" promover e administrar a qualidade na pesquisa qualitativa. Presta-se
planejar um estudo concreto usando esse tipo de pesquisa de uma forma ou .11 < ·11~ao especial à estratégia de triangulação na pesquisa qualitativa e ao
desse tipo de pesquisa no contexto da promoção da qualidade.
11 .. 11
de outra. Visa a estabelecer uma estrutura para os outros livros da Coleção,
enfocando problemas práticos e como resolvê-los no processo de pesquisa. /\ntes de continuar a descrever o foco deste livro e seu papel dentro da
O livro trata de questões de construção de desenho na pesquisa qualitativa, t 11/eção, gostaria de agradecer a algumas pessoas que foram importantes
aponta as dificuldades encontradas para fazer com que um projeto de pes p.11 <1 fazer com que essa Coleção se concretizasse. Michael Carmichael me
quisa funcione e discute problemas práticos, como os recursos na pesquisa p1<1pôs este projeto há algum tempo e ajudou muito no início, fazendo
qualitativa, e questões mais metodológicas, como a qualidade e ética em .. 111:cstões. Patrick Brindle assumiu e deu continuidade a esse apoio, assim
pesquisa qualitativa. , c11no Vanessa Harwood e Jeremy Toynbee, que fizeram livros a partir dos
111.iteriais que entregamos.
Dois livros são dedicados à coleta e à produção de dados na pesquisa
qualitativa. Etnografia e observação participante (Michael Angrosino) é de
dicado ao enfoque relacionado à coleta e à produção de dados qualitativos.
Neste caso, as questões práticas (como a escolha de lugares, de métodos
de coleta de dados na etnografia, problemas especiais em sua análise)
são discutidas no contexto de questões mais gerais (ética, representações,
qualidade e adequação da etnografia como abordagem). Em Grupos focais,
Rosaline Barbour apresenta um dos mais importantes métodos de produção
de dados qualitativos. Mais uma vez, encontramos um foco intenso nas
questões práticas de amostragem, desenho e análise de dados, e em como
produzi-los em grupos focais.
Dois outros livros são dedicados a analisar tipos específicos de dados
qualitativos. Dados visuais para pesquisa qualitativa (Marcus Banks) amplia
o foco para o terceiro tipo de dado qualitativo (para além dos dados verbais
originários de entrevistas e grupos focais e de dados de observação). O uso
de dados visuais não apenas se tornou uma tendência importante na pes
quisa social em geral, mas também coloca os pesquisadores diante de novos
problemas práticos em seu uso e em sua análise, produzindo novas que,stões
éticas. Em Análise de dados qualitativos (Graham Gibbs), examinam-se
várias abordagens e questões práticas relacionadas ao entendimento dos
dados qualitativos. Presta-se atenção especial às práticas de codificação, à
comparação e ao uso da análise informatizada de dados qualitativos. Nesse
caso, o foco está nos dados verbais, como entrevistas, grupos focais ou
biografias. Questões práticas como gerar um arquivo, transcrever vídeos e
SOBRE ESTE LIVRO
Uwe Flick
Às vezes, a análise de dados qualitativos é considerada como o núcleo
'1•11tral da pesquisa qualitativa em geral, ao passo que a coleta de dados é
11111 passo preliminar para prepará-la. Há diferentes abordagens à análise
<11 ·dados na pesquisa qualitativa, algumas delas mais gerais e outras, mais
, ".pecíficas para determinados tipos de dados. Todas elas têm em comum o
f.1l.o de serem baseadas em análise textual, de modo que qualquer tipo de
111citerial na pesquisa qualitativa tem que ser preparado para ser analisado
e orno texto. Em alguns casos, a estrutura interna de um texto (por exemplo,
11111a entrevista) é mais importante para a sua análise do que em outros (ou
'·111 uma entrevista semiestruturada). Em algumas situações, o conteúdo está
110 centro da análise {às vezes, exclusivamente), em outras, a interação no
l(·xto também é irrelevante (como nos grupos focais) ou é o foco central da
.málise (como na análise de conversação).
Neste livro, as estratégias analíticas básicas para analisar dados qualita
tivos são desdobradas em mais detalhes. Seu primeiro foco está em codi
ficar e categorizar. O segundo, em narrativas e biografias. O terceiro foco
está no uso de computadores nesse contexto. Dá-se atenção considerável à
<1nálise comparativa e às questões de qualidade e ética que são específicas
da análise de dados.
Com esses focos, este livro, antes de mais nada, oferece uma base para
se analisarem todos os tipos de dados qualitativos que sejam de interesse
em termos de dados verbais, como declarações e histórias. No contexto da
Coleção Pesquisa Qualitativa, é complementado pelo livro de Banks (2007),
que trata da análise de materiais visuais. Também é complementado pelos
e
livros sobre etnografia, de Angrosino (2007), sobre grupos focais, de Bar
bour (2007), que tratam de problemas específicos da análise de dados que
resultam de cada método. Um acréscimo importante à sua abrangência é
--==-------------------------------------- ------ ------.. ·-·- -----
•
que cstl' livro ptcsl<l muita i1lcnc,:éio ao uso ele computadores na pesquisa
a
qualitativa e redação no contexto de elaboração dos dados (como escrever
notas ou memorandos e diários de pesquisa). Também dá sugestões úteis
para a transcrição de dados verbais. Suas sugestões relacionadas à ética e
à qualidade de análise são um acréscimo aos livros de Flick (2007a, 2007b)
sobre desenho e qualidade no processo de pesquisa dentro da Coleção Pes
quisa Qualitativa.
NATUREZA
DA ANÁLISE
QUALITATIVA
Objetivos do capitulo
Após a leitura deste capítulo, você deverá:
• perceber a existência de algumas características da análise quali
tativa que são próprias, mas que, ao mesmo tempo, muitas vezes
geram controvérsia entre os pesquisadores qualitativos;
• conhecer algumas visões diferentes sobre a pesquisa qualitativa;
• entender que elas influenciam a análise e delineiam os limites do
"território" qualitativo e alguns dos estilos próprios adotados pelos
analistas qualitativos.
16 • ( .1.11!.1111 ( dlili· . 1 '/
r:f
ANÁLISE rv-· [ DADOS QUALITATIVOS
A ideia de análise sugere algum tipo de transformação. Você começa com Como sugcr i aci111a, os dados qualitativos sao essencialmente significati
alguma coleta de dados qualitativos (muitas vezes, volumosa) e depois os v11~, mas, mais do que isso, mostram grande diversidade. Eles não incluem
processa por meio de procedimentos analíticos, até que se transformem em 1 <1 ntagens e medidas, mas sim praticamente qualquer forma de comunicação
uma análise clara, compreensível, criteriosa, confiável e até original. Há l111mana escrita, auditiva ou visual; por comportamento, simbolismos ou
controvérsias inclusive sobre essa transformação. Alguns pesquisadores se .irtefatos culturais. Isso inclui qualquer dos seguintes:
concentram nos processos "formais" nos quais estão envolvidos -a classifica
ção, recuperação, indexação e o manejo dos dados qualitativos, geralmente • entrevistas individuais ou gru • vários documentos, como li
com alguma discussão sobre como esses processos podem ser usados para pos focais e suas transcrições; vros e revistas;
gerar ideias analíticas (Miles e Huberman, 1994; Maykut e Morehouse, 2001; • observação participante etno- • diários;
Ritchie e Lewis, 2003). Os processos são elaborados para lidar com a grande gráfica; • conversas em grupos de bate
quantidade de dados criada com a pesquisa qualitativâ, em transcricões de • correio eletrônico; papo na internet;
entrevistas (ver Kvale, 2007), notas de campo (ver Angrosino, 2007)·, docu • páginas na internet; • arquivos de notícias na inter-
mentos coletados, gravações em áudio e vídeo (ver Rapley, 2007), entre ou • propaganda: impressa, filmada net;
tros. A seleção e busca em todos esses dados enquanto é criada uma análise ou televisionada; • fotografias;
coerente e perceptiva que se mantenha baseada nesses dados - ou seja, os · • gravações de vídeo de transmis • filmes;
dados proporcionam boas evidências de sustentação -é um grande desafio e · sões de TV; • vídeos caseiros;
requer boa organização e uma abordagem estruturada dos dados. Essa é uma • diários em vídeo; • gravações em vídeo de sessões
das razões pelas quais uma SADQ (software de análise de dados qualitativos) • vídeos ou entrevistas e grupos de laboratório.
passou a ser utilizado. Esse programa não pensa por você, mas ajuda muito focais;
nos processos "burocráticos".
O tipo mais comum de dado qualitativo usado em análise é o texto, que
Outros pesquisadores enfatizam a ideia de que a análise envolve inter
pode ser uma transcrição de entrevistas ou notas de campo de trabalho
pretação e recontagem, e que isso é imaginativo e especulativo (Mishler,
etnográfico ou outros tipos de documentos. A maior parte dos dados em
1986; Riessman, 1993; Denzin, 1997; Giorgi e Giorgi, 2003). Há várias abor
áudio e vídeo é transformada em texto para ser analisada. A razão para isso
dagens envolvidas aqui, incluindo a análise de discurso e conversação (ver
é que o texto é uma forma fácil de registro que se pode trabalhar com as
Rapley, 2007), algumas formas de fenomenologia, abordagens biográficas e
técnicas "de escritório" já mencionadas. Contudo, com o desenvolvimento
narrativas, além de métodos etnográficos recentes (ver Angrosino, 2007).
dos sistemas de gravação em áudio e vídeo e a disponibilidade de programas
Essas abordagens enfatizam a ideia de que os dados quantitativos têm sig
para seleção, indexação e acesso, a necessidade e o desejo de transcrever
nificado e precisam ser interpretados em análise não apenas para revelar
podem ser reduzidos no futuro. Além disso, o uso de dados em vídeo pre
a variedade de temas de que as pessoas estão falando, mas também para
reconhecer e analisar as formas como elas enquadram e modelam suas serva alguns dos aspectos visuais dos dados que muitas vezes são perdidos
comunicações. durante a transição de conversações.
A maioria dos autores que escrevem sobre dados qualitativos reconhece
'·-J
que isso envolve ambos os aspectos da análise -manipulação e interpretação ASPECTOS PRÁTICOS DA ANÁLISE QUALITATIVA
de dados (Coffey eAtkinson, 1996; Mason, 2002; Flick, 2006, 2007a). Às ve
A análise qualitativa envolve duas atividades: em 'primeiro lugar; de
zes, elas são usadas ao mesmo tempo, mas frequentemente são usadas em
senvolver uma consciência dos tipos de dados que podem ser examinado,s
sequência, a começar pelo uso dos procedimentos "de escritório", depois
e como eles podem ser descritos e explicados; em segundo, desenyolver
avançando para a redução dos dados em resumos ou apresentações, antes
uma série de atividades práticas adequadas aos tipos de dados e às grandes
de finalizar a anális~ interpretativa e tirar conclusões.
quantidades deles que devem ser examinadas. Essas atividades são o que
18 •
19
chamo de aspectos práticos da análise qualitativa, que discutirei de forma
, p 1, il 11. 1 I iv.i d .i 1'• t 1111.i 1u1111.1 el t · u1i..i.11111<11 t~ co11U ulL11 o'.i diHlos. fc>dos os clllclos
mais detalhada no resto do livro, mas duas delas diferenciam a análise
qualitativa de outras abordagens. , 11 1l:111.i i'.. '. .. 101> 1 <'st•r Vddo'.. . Os códigos (t~ os documentos analíticos associados)
·'' 11",( 1•11ld111 i11le1p1clé1c,ao e teoria <ios dados. Na verdade, geralmente o
"'do pode ser densamcn Lc codificado. A maioria dos textos não só terá um
UNIÃO ENTRE COLETA E ANÁLISE , 1~d1~:0 alribuido a si: grande parte deles terá mais de um.
Em alguns tipos de pesquisa social, estimula-se a coleta de todos os
dados antes do início de qualquer tipo de análise. A pesquisa qualitativa se ~-1 METODOLOGIA
diferencia nesse sentido porque não há separação entre conjunto de dados
e análise de dados. A análise pode e deve começar em campo. À medida qiie /1. segunda atividade que a análise qualitativa envolve é sua consciência
coleta seus dados, por meio de entrevistas, notas de campo, aquisição de .J11·, tipos de informações que podem ser encontradas nos dados qualitati
documentos e assim por diante, é possível iniciar sua análise. Analiso essas V<I', e· em como eles podem ser analisados. Há urna ampla variedade dessas
três questões mais detalhadamente no Capítulo 3, mas ações como gerar I• n 111as de olhar os dados, e a análise qualitativa adotou urna variedade de
notas de campo e ter um diário são formas de coletar dados e iniciar sua , ··.t ilos analíticos de base metodológica para isso. Consequentemente, ainda
análise. Você nem precisa esperar até sua primeira entrevista ou saída de l 1.i várias visões contestadas em relação à metodologia.
campo para começar. Com frequência, há dados em abundância que podem
ser examinados, em documentos existentes e em estudos anteriores.
1I FSCRIÇÃO RICA
Na verdade, fazer análise e coleta de dados ao mesmo tempo não apenas
Uma grande preocupação da análise qualitativa é descrever a situ~ção em
é possível como pode ser uma boa prática. Você deve usar a análise de seus
1111cstão, para responder à pergunta "O q_ue está acontecendo aqui?". l~so
primeiros dados como forma de levantar novas questões e perguntas para
p!Jrque, muitas vezes, o que se descreve e novo ou, pelo menos, esque::1do
a pesquisa. Nesse sentido, a pesquisa qualitativa é flexível. As perguntas
, >11 ignorado. A descrição é detalhada e contribui para uma compreensao ~
de pesquisa podem ser decididas mais tarde no estudo, por exemplo, se as
11111a eventual análise do contexto estudado. Particularmente, o foco esta
perguntas originais tiverem pouco sentido à luz das perspectivas das pessoas
, ·111 fornecer urna descricão "densa", um termo popularizado por Geertz
estudadas.
{ 1975; ver Mason, 2002),' ou seja, uma descrição que demonstre a riqueza
, to que está acontecendo e enfatize a forma como isso envolve as intenções
AMPLIAÇÃO DO VOLUME DE DADOS EM VEZ DE REDUÇÃÔ , · cstratégias das pessoas. A partir dessa descrição "densa", pode-se dar um
p.1sso adiante e oferecer uma explicação para o que está acontecendo.
Uma outra diferença fundamental entre os procedimentos de análise
qualitativa e quantitativa é que a primeira não busca reduzir ou condensar
os dados, por exemplo, em resumos ou estatísticas. A análise de dados
INDUÇÃO E DEDUÇÃO
qualitativos costuma demandar que se lide com grandes volumes de dados
(transcrições, gravações, notas, etc.). A maior parte da análise simplesmen Urna das funcões da análise qualitativa é encontrar padrões e reproduzir
Há
te aumenta esse volume, ainda que, na etapa final do relatório da pesquisa, 1•xplicações. duas lógicas contrastantes de explicação, a indução e a
o analista possa ter que selecionar resumos e exemplos dos dados. dedução, e a pesquisa qualitativa, na verdade, usa ambas.
Dessa forma, a análise qualitativa geralmente busca melhorar os dados
• A inducão é a produção e a justificação de urna explicação geral com
e aumentar seu volume, sua densidade e sua complexidade. Em particular,
base n~ acúmulo de grandes quantidades de circunstâncias específicas,
muitas das abordagens analíticas envolvem a criação de mais textos na forma
mas semelhantes. Dessa forma, observações específicas e repetidas de
de itens como resumos, sumários, memorandos, notas e esboços. Muitas das
que os torcedores de tirnes de futebol que estão em urna boa fase ou
técnicas de análise qualitativa tratam de formas para lidar com esse grande
em uma fase muito ruim são mais envolvidos com a torcida do que os de
volume de dados. Esse é o caso, particularmente, da codificação. Embora
times que se mantêm na faixa intermediária do campeonato sustentam
a codificação na análise quantitativa tenha o propósito explícito de reduzir
a afirmação geral de que o apoio dos torcedores é maior quando seus
os dados a alguns "tipos'', para que possam ser contabilizados, na análise
times estão em extremos.
20 • 21
• A explicação dedutiva vai na direçao oposta, no sentido de que uma deter e c111c 11•lii11w11tc• prn cli11•11·1H,.t'. c·11l11· \'11·~ .. Sendo l\ssi111, dois casais hetc
minada situação se explica pela dedução a partir de um enunciado sobre r1>'.',<'Xtrcli'> pod1•1n 1t•1 1rn1Ho c~lll collHllll: 111cs111a idade, mesma cultura,
as circunstâncias. Por exemplo, sabemos que à medida que as pessoas 11u ·s1110 11t'um~rn de tilhos e residências semelhantes, no mesmo local.
envelhecem, seus tempos de reação ficam mais longos, de forma que l 11trct<mt:o, também há diferenças. Eles podem ter trabalhos distintos,
podemos deduzir que os reflexos de Jennifer são mais lentos porque ela ei ri~ens sociais diferenciadas, interesses diferentes e filhos com dife re~tes
tem mais de 80 anos. Grande parte da pesquisa quantitativa é dedutiva pc~rsonalidades e diferentes relações com seus pais. Um estudo qual~ta-
em sua abordagem. Uma hipótese é deduzida a partir de uma lei geral, e 1 ivo dos casais teria que reconhecer que seus aspectos comuns seriam
isso é testado em relação à realidade, procurando-se circunstâncias que 111oldados de forma crucial por suas diferenças, de forma que cada casal
a confirmem ou refutem. poderia ser considerado único.
Grande parte da pesquisa qualitativa tenta explicitamente gerar novas Na pesquisa qualitativa, há uma forte ênfase na exploração da natureza
teorias e novas explicações. Nesse sentido, a lógica. subjacente a ela é 1 lc • um determinado fenômeno. A preocupação com o idiográfico costuma
indutiva. Em vez de começar com algumas teorias e conceitos que devem - .,, . manifestar no exame de estudos de caso. Essa _ab_9r_9agem enfatiza não
ser testados ou examinados, essa pesquisa privilegia uma abordagem na .1p1•nas a singularidade de.cada caso, mas também a natureza holística da·
qual eles são desenvolvidos junto com a coleta de dados, para produzir e , , ·,1lidade social. Ou seja, fatores e características só podem ser entendidos
justificar novas generalizações e, assim, criar novos conhecimentos e visões. .ulequadamente quando inseridos no contexto mais amplo de outros fatores
Alguns autores rejeitam a imposição de qualquer quadro teórico a priori no , · características.
início. Entretanto, é muito difícil que os analistas eliminem completamente
Tanto a abordagem nomotética quanto a idiográfica são comuns na pes
todos os quadros anteriores. A análise qualitativa inevitavelmente é guiada_ _
q11isa qualitativa. A idiográfica costuma ser considerada um ponto forte
e enquadrada por ideias e conceitos preexistentes. Muitas vezes, o que os
....p ecífico da pesquisa qualitativa, sendo associada particularmen~e a ~er-
pesquisadores estão fazendo é verificar pistas, ou seja, estão deduzindo
1.1:> técnicas, como a biografia e a narrativa. Entretanto, a combmaçao e
explicações particulares a partir de teorias gerais e observando se as cir
,, comparação de vários casos muitas vezes proporcionam ao analista uma
cunstâncias que observam realmente são consistentes.
111stificativa para gerar afirmações nomotéticas.
NOMOTÉTICA E IDIOGRÁFICA
UEALISMO E CONSTRUTIVISMO
Tanto as abordagens indutivas quanto as dedutivas estão preocupadas com Os pesquisadores qualitativos também discordam em relaçã~ à realid~de
afirmações gerais, mas muito da pesquisa qualitativa examina o particular,
, lo mundo que estão tentando analisar, principalmente em relaçao as~ existe
o característico ou mesmo o singular.
111n mundo material que tenha características que independam de nos e que
11mcione como referência maior para a validade de nossa análise.
• A abordagem nomotética se interessa pelas dimensões gerais nas quais to
dos os indivíduos e situações variam. Ela pressupõe que o comportamento • Realismo. Este é, provavelmente, o pressuposto cotidiano das pessoas ao
de uma determinada pessoa é o resultado de leis aplicáveis a todos. Em cuidar de suas vidas. Os realistas acreditam que, em certo sentido, há
termos menos formais, a abordagem tenta mostrar o que as pessoas, even um mundo com caráter e estrutura que existe à parte de nós e de nossas
tos e contextos têm em comum e explicá-los em termos dessas caracterís vidas. No nível mais básico e provavelmente menos polêmico, essa é a
ticas comuns. Na pesquisa qualitativa, isso se faz procurando variações e visão de que há um mundo material de coisas que existiam antes de nós e
diferenças e tentando relacioná-las ou mesmo correlacioná-las com outras continuariam existindo mesmo que perecêssemos. É o mundo dos objetos
características observadas, como comportamentos, ações e resultados. físicos, da paisagem, de animais e plantas, planetas e estrelas, e de todas
• A abordagem idiográfica estuda o indivíduo (pessoa, lugar, evento, con as coisas que podem ser vistas, tocadas, ouvidas, degustadas e aspira~as.
texto, etc.) como um caso único. O foco está na interação de fatores A visão realista fica mais polêmica quando começamos a pensar em c01sas
que podem ser muito específicos do indivíduo. Mesmo que dois indivíduos que são mais teóricas e não podem ser sentidas d.ir.etamente, com~, por
possam compartilhar alguns aspectos, é inevitável que sejam afetados exemplo, algumas das ideias mais abstratas da f1sica e da matemat1ca,