Table Of ContentMARIA SIMONE MARINHO NOGUEIRA
Amor, caritas e dilectio – Elementos para uma Hermenêutica do
Amor no Pensamento de Nicolau de Cusa
FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
2008
MARIA SIMONE MARINHO NOGUEIRA
Amor, caritas e dilectio – Elementos para uma Hermenêutica do
Amor no Pensamento de Nicolau de Cusa
Dissertação de Doutoramento em Filosofia,
especialidade Filosofia Medieval, apresentada à
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, sob a
orientação do Professor Doutor João Maria Bernardo
Ascenso André.
FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
2008
À minha mãe (in memoriam).
AGRADECIMENTOS
À Universidade Estadual da Paraíba, pelos apoios intitucional e
financeiro.
À Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, pelas
condições de um ambiente propício para a realização desta pesquisa.
Ao Institut für Cusanus-Forschung, pelo apoio incondicional.
Ao Professor Doutor João Maria André, que se dignou a orientar a
nossa investigação, lendo e corrigindo, pacientemente, as várias versões que este
trabalho teve até a sua versão final. Os nossos mais sinceros agradecimentos ao
orientador que se tornou Mestre, no sentido pleno da palavra, e que aprendemos a
respeitar e a admirar.
À Professora Doutora France Murachco (Universidade Federal de
Campina Grande) e ao Professor Doutor Antonio Rebelo (Universidade de
Coimbra), pelos primeiros passos na leitura do latim.
À Professora Doutora Ângela Jeunou (Universidade Federal de
Campina Grande) e à Professora Doutora Adelaide Chichorro (Universidade de
Coimbra), pelos primeiros passos na leitura do alemão.
Ao Professor Doutor Klaus Reinhardt (Institut für Cusanus-
Forschung), pelo o incentivo, o apoio e a revisão das traduções do latim e do
alemão.
Ao Professor Doutor Mário Santiago de Carvalho (Universidade de
Coimbra), pelo estímulo e a ajuda com a transliteração dos termos gregos.
Ao meu pai, meus irmãos e meus sobrinhos, pela demonstração
diária de afecto, mesmo à distância.
A Antonio, pela presença constante do amor.
Aos amigos, o meu agradecimento através do meu abraço amoroso.
«Nam sublato amore et concordia
omnia ruunt. Sublato amore et
delectatione omnis vita sensibilis est
in tristitia et morte et deficit».
Nicolau de Cusa
Sermão CCXLI
RESUMO
A presente investigação procura evidenciar a existência de uma
hermenêutica do amor no pensamento de Nicolau de Cusa. Para a consecução deste
objectivo, analisa as ocorrências e os significados das palavras amor, caritas e
dilectio nos textos cusanos e estabelece relações entre o amor e outros temas
presentes na sua filosofia. Busca, ainda, explicitar a importância do amor no
contexto da relação entre affectus e intellectus, bem como no cruzamento da
unidade com a multiplicidade e no horizonte onde o finito deseja alcançar o infinito.
Deixa como reflexão a possibilidade de se pensar uma ética do amor, que tem como
rasto a categoria da coincidentia oppositorum e pode ser expressa, em última
instância, numa espécie de (est)ética da existência.
ABSTRACT
This investigation seeks to emphasize the existence of a
hermeneutics of love in the think of Nicholas of Cusa. To achieve this goal, it
analyzes the occurrences and the meanings of the words amor, caritas and dilectio
in the Cusan texts and establishes relationships among love and other themes
present in his philosophy. Yet, it attempts to explain the importance of love in the
context of the relationship between affectus and intellectus, as well as at the
intersection of unity with the multiplicity and the horizon where the finite wants to
reach the infinite. It leaves as a reflection the possibility to think of an ethics of
love, which tracks as the category of coincidentia oppositorum and can be
expressed, ultimately, as a kind of aesthetics (and/or ethics) of existence.
SUMÁRIO
Pg.
INTRODUÇÃO.............................................................................................. 9
I PARTE – UMA HERMENÊUTICA DO AMOR
Pg.
Capítulo I – Um percurso genético-semântico dos termos amor, caritas e
dilectio........................................................................................ 21
1. Significados e usos dos termos ao longo da história.................................... 22
2. Pequena apresentação das teorias clássicas sobre o amor na Idade Média.. 29
3. A ausência do Cusano nas obras sobre o amor na Idade Média.................. 41
Capítulo II – Nicolau de Cusa e o amor: uma primeira aproximação...... 53
1. Uma pequena incursão nos Sermões............................................................ 55
2. Uma pequena incursão em alguns escritos filosóficos................................ 67
II PARTE – AS RELAÇÕES ENTRE AMOR E CONHECIMENTO
Pg.
Capítulo III – Ausência e presença do amor em De docta ignorantia....... 77
1. A ausência do amor nos livros I e II............................................................ 77
2. As relações entre ratio, intellectus e amor................................................... 86
3. Viver, compreender e amar.......................................................................... 96
Capítulo IV – Amar e conhecer na Correspondência aos Irmãos
de.Tegernsee...................................................................... 110
1. A relevância das Cartas aos Irmãos de Tegernsee no conjunto da obra
cusana........................................................................................................... 110
2. «Videre Deum» – via afectiva ou via intelectiva? Os pressupostos da
questão.......................................................................................................... 114
a) O contexto das Cartas: o século XV......................................................... 121
3. «Cognoscere sit amare et amare cognoscere»: a interpretação de Nicolau
de Cusa.......................................................................................................... 126
Capítulo V – O De visione dei como uma poiética do amor....................... 149
1. A experiência e o olhar: uma primeira aproximação ao tema do amor........ 154
a) «Et quoniam ibi oculus ubi amor…»: a metáfora do olhar como
expressão dos sentidos e do amor............................................................ 174
b) Os sentidos da visão e a visão dos sentidos.............................................. 178
2. Olhar, não abandonar, cuidar e amar........................................................... 184
Pg.
3. O aperfeiçoamento de si no olhar do outro: liberdade, reciprocidade e
amor............................................................................................................. 198
Capítulo VI – «Cognoscat amorem, quem non nisi amando cognoscere
potest»: a Carta a Nicolau Albergati................................. 215
III PARTE – A SIMBOLOGIA DO AMOR
Pg.
CAPÍTULO VII – O Amor e suas expressões............................................. 228
1. «Sic amor est de essentia trium»: a Trindade enquanto expressão do
amor.............................................................................................................. 228
2. «Nihil enim ex desiderio petitur, nisi quod amatur»: a profunda relação
entre desejar e amar...................................................................................... 260
3. «Sed pulchritudo de se amabilis caritas est…»: a beleza como fulguração
do amor......................................................................................................... 280
4. «Sic Deus est complicatio virtutis omnis amoris»: O amor como a maior
das virtudes e o seu poder difusivo.............................................................. 292
Capítulo VIII – Algumas metáforas dos discursos sobre o amor.............. 318
1. «Et convertamus nos ad fontem amoris et boni indeficientis…»: o
discurso sobre a fonte e sobre a terra como discurso sobre o amor.............. 324
2. «Et quia ignis ob calorem et lucem habet similitudinem amoris»: o fogo e
a luz como metáforas do amor...................................................................... 338
CONCLUSÃO................................................................................................ 355
BIBLIOGRAFIA............................................................................................ 381
INTRODUÇÃO
O que Nicolau de Cusa entende por amor? O que a sua
interpretação permite-nos pensar acerca deste tema? É possível falarmos de uma
«teoria do amor» ou de uma «hermeneutica amoris» na obra do filósofo alemão?
Se sim, em que sentido e por quais termos esta teoria foi construída? Se não, como
podemos justificar a importância do tema expresso, de alguma forma, pelo elevado
número de vezes em que o termo ou os termos aparecem na sua obra? A título de
ilustração, percorramos ainda que brevemente (apenas para se ter uma visão de
conjunto) alguns títulos do filósofo de Cusa. Chama-nos atenção a recorrência do
tema do amor nos seus textos. Ele atravessa a obra cusana desde o seu primeiro
livro1, De docta ignorantia, até a fase final da sua produção filosófica, onde
escreve, dentre outros, De venatione sapientiae. Em De docta ignorantia a
apreensão da verdade é comparada a um amplexo amoroso2; em De conecturis é-
1 Referimos-nos ao seu livro mais importante do ponto de vista filosófico, aliás, um livro que marcou
o lugar de Nicolau de Cusa como um dos grandes pensadores na História da Filosofia. Antes de
escrever o De docta ignorantia, ele compôs em 1433 a obra De concordantia catholica que, segundo
Reinhardt e Schwaetzer, é uma obra que contém, apesar das diversas paráfrases e citações, um ponto
de vista próprio. Logo, esclarecem-nos: «On se tromperait si on voulait interpréter cette œuvre
exclusivement comme un opuscule de politique ecclésiale et donc interpréter le De docta ignorantia
comme le premier chef-d’œuvre philosophique. Que le De docta ignorantia soit cependant de loin
l’œuvre la plus importante, cela reste incontesté». K. REINHARDT e H. SCHWAETZER,
«Mystique et réforme de l’Église chez Nicolas de Cues», in: M.-A. VANNIER (dir.), La prédication
et l’Église chez Eckhart et Nicolas de Cues, Paris, CERF, 2008, p. 270, pp. 255-276. Todos os títulos
citados nesta tese serão referenciados, integralmente, apenas uma única vez, posto que todas as obras
serão retomadas no capítulo dedicado à bibliografia, no final deste trabalho.
2 «Quam ob rem sanum liberum intellectum verum, quod insatiabiliter indito discursu cuncta
perlustrando attingere cupit, apprehensum amoroso amplexu cognoscere dicimus non dubitantes
verissimum illud esse, cui omnis sana mens nequit dissentire». NICOLAU DE CUSA, De docta
ignorantia, Liber primus, Cap. I, 2: 11-15, p. 6, in: H. G. SENGER (Hrsg.), Philosophisch-
theologische Werke, Hamburg, Felix Meiner Verlag, 2000, Band I. A partir de agora o De docta
ignorantia será citado da seguinta forma: título, ed. minor (forma como estamos identificando a
Edição Philosophisch-theologische Werke), livro, capítulo, parágrafo(s), linha(s) e página(s) (De
docta ignorantia, ed. minor, Liber primus, Cap. I, 2: 11-15, p. 6). Para a versão em língua
portuguesa dos passos do De docta ignorantia optamos por usar a tradução de André: NICOLAU
DE CUSA, A douta ignorância, trad., int. e notas de J. M. André, Lisboa, Fundação Calouste
Gulbenkian, 2003. Além de ser uma excelente e recente tradução e de o autor não deixar de levar
9
Description:A. Ciria, Pamplona, Eunsa, 2005, p. 66, pp. 44-66. temporaliter sed supra omne tempus et omnem mundanum motum profundatur». De docta.