Table Of ContentAlgumas Notas Gramaticais
sobre Cinyungwe
Bernardino Manuel José, Borges Morais Mafigo,
Ilidio Benjamin João, Niniano N’tefula Reino,
Reonaldo M. Branco, Teresa de Jesus Domingos Reino
e Tomás Lucas Zaba
Sociedade Internacional de Linguística
Monográfias Linguísticas Moçambicanas:
Número nn
Revisado Julho de 2013
Composto e impresso pela
Sociedade Internacional de Linguística
C.P. 652
Nampula, Nampula
Moçambique
Website: lidemo.net
Comentários: [email protected]
Ficha Técnica
Título: Algumas Notas Gramaticais sobre Cinyungwe
Autores: Bernardino Manuel José, Borges Morais Mafigo, Ilidio Benjamin João, Niniano
N’tefula Reino, Reonaldo M. Branco, Teresa de Jesus Domingos Reino e Tomás Lucas Zaba
Segunda edição, Julho de 2013
© SIL
Nº de Registo:
Tiragem:
Índice
Prefácio…………………………………………………………………………….1
1 Introdução ............................................................................................................ 2
1.1 O alfabeto ...................................................................................................... 3
1.2 O sistema da concordância ........................................................................... 5
2 O nome ................................................................................................................. 6
2.1 As classes 1/2 munthu/wanthu pessoa(s) ....................................................... 6
2.2 As classes 3/4 mulambe/mirambe embondeiro(s) .......................................... 7
2.3 As classes 5/6 dipa/madipa zagaia(s) ............................................................ 7
2.4 As classes 7/8 cinthu/bzinthu coisa(s) ........................................................... 8
2.5 As classes 9/10 mbuzi cabrito(s) .................................................................... 9
2.6 A classe 12/13 ka-/tu- (katiyo/tutiyo) diminuitivo .......................................... 9
2.7 A classe 14 u- ufa farinha ............................................................................ 10
2.8 A classe 15 ku- kufa (morrer/morte) ............................................................ 10
2.9 As classes locativas ..................................................................................... 11
A classe 16: locativa pa- “perto”................................................................11
A classe 17: locativa ku- “em direção para”...............................................11
A classe 18: locativa mu- “dentro”............................................................ 11
3 O verbo ............................................................................................................... 12
3.1 O prefixo do sujeito ..................................................................................... 12
3.2 A marcação do tempo .................................................................................. 13
3.3 O prefixo do objecto .................................................................................... 14
3.4 A extensão verbal......................................................................................... 15
3.5 Negação ....................................................................................................... 17
4 Os determinantes ............................................................................................... 18
4.1 O adjectivo ................................................................................................... 18
4.2 O demonstrativo .......................................................................................... 20
4.3 O possessivo ................................................................................................ 21
4.4 A partícula de relação ................................................................................. 24
4.5 O adjectivo verbal ....................................................................................... 25
4.6 O numeral .................................................................................................... 25
4.6.1 Numerais cardinais..............................................................................26
4.6.2 Numerais ordinais................................................................................27
5 As palavras invariáveis ..................................................................................... 28
5.1 O advérbio ................................................................................................... 28
Advérbios de tempo.......................................................................................28
Advérbios de lugar........................................................................................28
Advérbios de modo........................................................................................28
5.2 A conjunção ................................................................................................. 29
5.3 A preposição ................................................................................................ 29
5.4 Os interrogativos ......................................................................................... 30
6 Um texto exemplar e a sua descrição gramatical ............................................ 31
O sol e o vento norte .......................................................................................... 32
7 Vista geral da concordância ............................................................................. 35
7.1 Tabela dos prefixos ...................................................................................... 35
7.2 Tabela de modificação de verbos em extenso .............................................. 37
7.3 Comparação com outras línguas banto ....................................................... 38
8 Bibliografia ........................................................................................................ 39
9 Leitura de transição de português para cinyungwe ....................................... 40
Prefácio
A Sociedade Internacional de Linguística (SIL) apresenta estas notas
gramaticais sobre Cinyungwe. Foi produzido num seminário que
decorreu de 11 a 22 de Maio de 2009 em Tete.
Encontra-se nesta modesta contribuição ao arquivo cultural e
patrimonial de Moçambique uma abordagem do sistema gramatical
de Cinyungwe. Queremos agradecer à Direção Provincial da
Educação e Cultura pelo seu apoio e encorajamento na investigação
das línguas nesta região do país. A versão actual foi editada em
cooperação com pessoal do sector de pedagogia.
Convidamos o leitor a mandar comentários e correções ao seguinte
endereço:
Jennifer Bister, a/c SIL, CP 6, Tete, Moçambique
e-mail: [email protected]
Jennifer Bister 20 de Maio de 2012
1
1 Introdução
A língua cinyungwe é falada na Província de Tete, mais
concretamente nos distritos de Changara, Cidade de Tete, Moatize,
Cabora Bassa e em partes de Mágoe, Maravia, Chiuta, Zumbu e no
norte da província de Manica. Calcula-se cerca de 350,000 falantes
desta língua. Cinyungwe é relacionada as línguas Dema, Phimbi,
Tonga, Cikunda e Sena, e menos com Nyanja, Tawara e Cikore-kore.
Não obstante algumas futuras modificações, existe um sistema
ortográfico provisório, que está em uso desde o ano 1991.
Enquanto as primeiras obras sobre a gramática de Cinyungwe e
dicionários Nyungwe-Português foram publicadas pela Universidade
de Coimbra em 1899 e 1900 respectivamente, a literatura hoje
existente em Cinyungwe inclue Elementos da língua Cinyungwe,
Mwambo wa ntsembe mafala ya kucena (publicados pela Igreja
Católica). Também são traduzidos alguns textos Bíblicos em
cooperação com igrejas locais (Luka, Maliko, Jona, Tito e vários
folhetos de histórias bíblicas). A SIL tem feito um vocabulário
escolar trilíngue (com apoio de APETE) e material de alfabetização
de adultos (ainda não finalizada para distribuição). Nos anos 2000-
2005 foram feitos antologias de oratura escrita de Bzidapi,
Bzuthumbudzulo, Bzinzano e Mimwani. Pode se procurar estes
materiais na Biblioteca Provincial de Tete e no ARPAC-Tete ambos
localizados na Cidade de Tete.
2
1.1 O alfabeto
A escolha de grafemas segue o sistema descrito no Relatório do II
Seminário sobre a Padronização da Ortografia de Línguas
Moçambicanas.
Grafema Exemplo
a akazi mulheres
b baba pai
bh bhata bata
bv bvembe melancia
bz bzisu facas
c cisu faca
ch chete nome de ave pequeno
d dindi buraco
dh dhuku lenço
dy kudya comer
dz dzino dente
e mwezi lua
f figu banana
g gombe margem do rio
h kubohomola berar
i miti árvores
k kalinkhoo raposa
kh khoso rato
l lirime língua
m mulumbi cereal cor avermelhada
n nolo pedra de afiar
ng’ ng’ombe gado bovino
ny nyumba casa
o moto fogo
p pusi nome de macaco pequeno
pf pfupa osso
ph phaza enxada
ps psepse vassora
3
r mirambe embondeiros
s sulo coelho
sv svenje nome dum pasarinho
t taxu pote grande
th thawale lagoa
ts tsimbe carvão
u uci mel
v valimba instrumento musical
w wana crianças
x xikola escola
y yaso aço
z zuze nome dum passarinho
zv zvedemesa correr atrás até apanhar
4
1.2 O sistema da concordância
A particularidade das línguas banto chamada sistema de
concordância oferece-se como ideia chave desta descrição.
Concordância significa “uma relação formal entre os componentes de
uma determinada entoação de acordo com a qual a forma de uma
palavra requer uma outra correspondente.”1 Concretamente, um
determinado substantivo determina a forma do verbo seguinte. O
verbo concorda com o sujeito em número e género, o adjectivo
concorda com o substantivo também em número e género. Portanto,
os géneros em português sendo dois, nomeadamente masculino e
feminino, as línguas banto possuem outros géneros com diferentes
formas de singular e plural e mais outros géneros como o locativo,
abstracto e infinitivo nominal. Face a esta variação, preferimos
utilizar o termo classe nominal em vez de género para evitar uma
imposição das ideias europeias a uma expressão genuinamente
moçambicana.
Os verbos seguem a concordância na seguinte maneira:
Munthu agwa. A pessoa caiu.
Wanthu wagwa. As pessoas caíram.
Cikalango cagwa. O pote caiu.
Bzikalango bzagwa. Os potes caíram.
Portanto, as classes nominais 1 e 2, pessoa/pessoas, characterizada
pelos prefixos mu- ou m’- no singular e wa- ou a- no plural,
requerem que o verbo concorde com o nome através do prefixo
verbal a- ou wa- respectivamente. As classes 7 e 8 referindo a
objectos como pote/potes, por sua vez, identificam-se pelos prefixos
ci- e bzi- nos nomes e com ca- e bza- nos verbos.
1 Mateus & Xavier 1992: 99
5
2 O nome
O nome, também chamado substantivo, consiste dum radical ao qual
se junta o prefixo nominal, um elemento característico da classe
nominal a que pertence. Nas tabelas e nos seguintes exemplos,
indicamos os respectivos prefixos nominais por negrito. Os prefixos
verbais indicativos da classe nominal do sujeito são sublinhados.
Na discussão das várias classes nominais, usa-se o prefixo nominal
no título do parágrafo junto com uma palavra exemplar para chegar a
uma leitura mais compreensível. Quando duas classes se
relacionarem em termos do número, as duas classes são agrupadas
juntos. A classificação científica encontra-se no fim deste livrinho,
veja 7.2 Comparação com outras línguas banto.
2.1 As classes 1/2 munthu/wanthu pessoa(s)
Estas duas classes são constituídas pelos nomes que muitas vezes
referem a seres humanos ou profissões.
munthu / wanthu pessoa(s)
m’kazi / akazi mulher(s)
m’cikunda / acikunda soldado(s)
mulimi / alimi camponês(es)
Os nomes que formam as classes 1 e 2 têm o prefixo nominal mu-
ou m’- no singular, respectivamente wa- ou a- no plural.
Munthu wagwata m’sau. A pessoa cortou uma massaniqueira.
M’kazi wagula n’tsomba. A mulher comprou peixe.
Wanthu agwata m’sau. As pessoas cortaram uma massaniqueira.
Akazi agula n’tsomba. As mulheres compraram peixe.
6