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O CHORO
Por ALEXANDRE GONÇALVES PINTO
- -1936 --
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O Chôro
REMINISCENCIAS DOS CHORÕES ANTIGOS
POR
Alexandre Gonçalves Pinto
Contendo: O perfil de todos os chorões da velha guarda, e grande parte dos
chorões d’agora, factos e costumes dos antigos pagodes, este livro faz
reviver grandes artistas musicistas que estavam no esquecimento.
RIO DE JANEIRO
1936
RREÇO 4$000
Tiragem 1ª edição 10.000 Exemplares
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Carta do maior cantor e poeta de todos os tempos Catullo
Cearense, ao autor deste livro.
ALEXANDRE
O prefacio que me pediste para o teu livro, fica para outra
vez. Não te posso ser util nas correcções dos erros, porque só
uma revisão geral poderia melhoral-o, o que é impossivel,
depois de o teres quase prompto.
O leitor, porém, se deliciará com a sua leitura, fechando
os olhos aos desmantelos grammaticaes, revivendo comtigo a
historias desses chorões, que te ficarão devendo eternamente
o serviço que lhes prestas, arrancando-os do esquecimento.
Só mesmo tu, com o teu grande coração, serias capaz de uma
obra tão saudosa para os que, como eu, viveram naqueles
tempos de immarcesciveis recordações.
Se, como penso, este livro tiver o acolhimento que
merece, para fazeres uma segunda edição, prometto-te
corrigil-o com muito carinho, auxiliando-te no que puder,
para que a lista completa dos antigos e afamados chorões,
resuscitados por ti com boas gargalhadas e lagrimas sentidas,
pois é uma ineffavel satisfação percorrer todas as
“sepulturas” deste cemitério de vivos na nossa memória.
Pedes-me uma poesia para a abertura ?
Envio-te esta, "O Passado", que vem a calhar.
E, para terminar, recebe o abraço do amigo velho,
que não se cansará de felicitar-te pela lembrança feliz deste
formoso, carinhoso e saudoso breviario dos dias da nossa
festiva, alegre e rumorosa mocidade.
CATULLO CEARENSE.
Rio, 28/10/935.
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O PASSADO
(De CATULLO CEARENSE)
Quantas vezes eu não digo
ao meu Passado, esse amigo
que me alenta no soffrer :
- "Acorda, tem paciencia !
Anda conversar commigo,
e perdôa a impertinencia
de tanto te aborrecer!"
E o pobre velho, coitado,
Mal dormido e já cansado
de tanto e tanto o chamar,
levanta-se, bocejando,
e vem a mim, caminhando
passo a passo, a me fitar !
Ao meu convite assentindo,
penteando os cabellos brancos
e as barbas brancas... sorrindo;
jovialmente se vestindo
com as suas vestes de côres;
deitando o barco no rio,
cujas margens reverdecem
com seus antigos verdores;
accendendo as luminarias,
as multifarias lanternas
de luzes multicolores;
offerecendo-me a taça
de seus magicos licôres,
licôres que fez das lagrimas
de nossos velhos amôres;
e, por fim, saudando a lua,
que em seus mágicos fulgores
já tantas vezes saudou,
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- o meu Passado, embarcando,
soltando a vela e remando
para a nascente do rio,
que já tão longe ficou,
- cantando, e, ás vezes, chorando,
na viagem me vae mostrando,
no proprio espelho das aguas,
os meus prazeres e maguas,
tudo quanto já passou !
Mas basta um leve arrepio
no liso espelho do rio,
quebrando, instantaneamente,
todo o encanto da visão,
para eu vêr, desilludido,
que tudo é um sonho perdido,
um sonho só, reflectido,
não no espelho da corrente,
mas no crystal transparente
da minha imaginação !!
Pois só assim é que eu vejo
que o barqueiro, o velho amigo,
que vae cantando commigo,
revivendo o tempo antigo,
que o Tempo já devorou,
é um homem transfigurado,
é um morto resuscitado,
é o cadaver do Passado,
que inda depois de morrer,
ao menos, pela memoria,
concede-me a excelsa gloria,
- a gloria de reviver!
CATULLO CEARENSE.
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PERFIL DO ANIMAL
Alto, já bem grisalho e urucungado,
Physionomia alegre, e sempre brincalhão;
E' sincero e leal, e por todos estimado,
Governa a sua vida, com o proprio coração.
Bom chefe de familia, funccionario honrado
Tocador de Cavaquinho, e cuéra Violão:
Ser politico sempre foi seu maior predicado
E por varias vezes já tem sido pistolão.
Tendo o dom da palavra é intelligente,
Anda sempre sem dinheiro mas... contente...
P'ra comer e beber é grande General,
Conhecedor de toda gyria da cidade
E' o prototypo extremo da bondade:
Eis aqui traçado o perfil do "ANIMAL".
MAX-MAR
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[IMAGEM: FOTOGRAFIA DO AUTOR]
ALEXANDRE GONÇALVES PINTO, autor
destas reminiscencias do Chôro Antigo
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PERFIL DOS CHORÕES
Conjuncto de flautas maviosas,
Chorões de cavaquinhos e violões !
Tereis neste livro as vossas rosas
E do antigo tempo: as tradições.
Pistonistas soberbos; Clarinetistas
Ides todos ter aqui vossas acções;
Descreverei com amor os bons artistas
E tudo o mais que nos traz recordações.
Grandes astros fulgentes se sumiram,
Rebrilharam nos antigos ambientes,
E as alegrias comnosco repartiram
Evocando melodias refulgentes.
Em cada chorão, findou-se um baluarte,
Que deixou em nosso peito uma saudade,
Que a germinar, corróe por toda a parte
Desde o momento que subiram a eternidade.
Musica, costumes, emfim todo o prazer
Que floresceu na passada geração,
Nas paginas deste livro hão de ter
Toda a altivez da grande inspiração.
Vou tentar reviver celebridades,
Fazer dos bons artistas allusões,
Distinguindo em cada um a qualidade
E demonstrando o perfil dos bons chorões.
MAX-MAR
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O C H Ô R O
PREFACIO
Ao dar publicidade a um tempo do João Minhoca, da
livro encontramo-nos sempre Lanterna Magica do Chafariz
na duvida de um facto do Lagarto, dos Guardas
auspicioso para os leitores, Urbanos, dos pédrestes até
emfim cada um escreve o que hoje, com as policias mais
póde ou o que sabe. Estas adeantadas actualmente, o
linhas não tem a pretenção de autor só teve por fito
mostrar erudição nem é recordar, que é um novo
commercial nem expositiva; é sentir e tornar a viver
tão simplesmente em lin- conforme a phrase do poeta,
guagem dispretenciosa, ao al- trazendo ao scenario do
cance de todas as intelligen- ambiente actual a compara-
cias, assim como da pessôa ção do que foi e do que é
que escreveu que communga actualmente, a Maria Cachu-
no mesmo credo, escrevendo cha, Moquécas Bahianas e os
de bôa fé, se sentindo num Trinta Botões do theatro
ambiente agradavel, exponta- antigo até a Cidade Maravi-
neo, não tendo ao menos a lhosa de hoje, assim como
intenção de instruir, quer seja são comparadas as religiões,
para o bem ou para o mal. as sciencias e o credo
Factos occoridos de 1870 politico; são comparados os
para cá. São chronicas do que costumes na vida dos pobres
se respirava no Rio de de accôrdo com a evolução,
Janeiro neste periodo desde o tivemos por tradição os
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costumes bahianos que foram festas simples onde impera-
trazidos da Africa pelos vam a sinceridade, a alegria
nossos queridos antepassados expontanea, a hospitalidade,
e firmaram os costumes no a communhão de idéas e a
Brasil, naquilo que é nosso e uniformidade de vida !
que aqui guardamos com a As noites estrelladas e
maior veneração dentro de frias de Santo Antonio, São
nossos corações. Contam João, São Pedro e Sant'Anna,
numa lenda que em uma embora com os explendores
região onde haviam da actualidade, não tem a
innumeras Igrejas, onde os graça natural da simplicidade
sinos plangentes annun- daquellas reuniões onde os
ciavam as grandes matinas e chorões da velha guarda
as festas religiosas com expandiam-se em inspirações
rituaes ou profanas, uma musicaes, dando e trecalando
igreja foi soterrada, destruida o perfume da recordação dos
por um terremoto. apaixonados daquelles tem-
E as pessôas que sobrevi- pos e que faço reviver nos
veram áquelle cataclysma corações dos leitores deste
ainda tinham a impressão nos livro.
ouvidos das notas plangentes E assim agradecendo a
dos sinos daquella cidade. aceitação dos apreciadores de
Assim agora as pessôas musica, entôo um hymno em
daquelles tempos no Rio de louvor e reminiscencia dos
Janeiro recordam-se e sente chorões da velha guarda.
n'alma a vibração das
musicas daquella época: os
chorões do luar, os bailes das
casas de familias, aquellas
Description:cinco chaves, mesmo assim sabia dizer o seu segredo pois . porque era de um genio estourado, mettia-se em farras, noite e noites perdidas, não se.