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A PRoDUÇÃo
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ESPAÇo URBAN0
A produçáo do espaço constitui um elemento cennal da problemárica do mundo
contemporâneo, tanto do ponto de vista da realizaçáo do processo de acumulaçáo capi-
PRoDUÇA0
talista - e, Por consequência, de justificativa das ações do Estado em direçáo à criação
dos fundamentos da reprodução - quanro do ângulo da (re)produção da vida, que se
realiza em esPaços-tempos delimitados reais e concreros. As práticas de resisrência pre-
cisam ser pensadas com o recurso à construção de um olhar teórico visceral e dialetica-
mente articulado, precisamente, com a prrixis, em um movimento que revele o sentido
e o fundamento dos confitos que se estabelecem hoje, em torno do espaço, como luta
pelo "direito à cidade".
os capítulos aqui reunidos úazem e desenvolvem abordagens que se propõem a
URBANO
oferecer algum esclarecimento do tema. Correspondem a 11 olhares sobre a mesmâ
lemática, diversidade que emana tanto do fato de que seus recorres analíticos sáo múl-
riplos quanto da circunstância de que as perspectivas teórico-conceituais adotadas pelos [\, NTES E E DESAFIOS
lutores são diversas, ainda que não necessariamente divergentes.
Ana
Marcelo Lopes de Souza
Beltráo Sposito
(orgs.)
:
ISBN 978-85-7244-633-4
editora @!
contexto
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Pmmovendo a Circulação do Saber LrLl[ ll editoracohtexto
Ana l;ani Alessandri Carlos
Marcelo Lopes de Souza
Maria Encarnação Beltrão Sposito
(organizadores)
Consellto Editorial
Ataliba Têixeira de Casrilho
Felipe Pena
Jorge Grespan
José Luiz Fiorin
Magda Soares
Pedro Paulo Funari
Rosângela Doin de Almeida
A PRODUÇÁO DO ESPAÇO URBANO:
agentes e processos, escalas e de safios
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-â.-3tDE:.
Proibida a reprodução total ou parcial em qualquer mídia
sem a autorização escrita da editora.
Os infratores estáo sujeitos às penm da lei.
A Editora não é responsável pelo conteúdo da Obra,
c,m o qual não necessariamente concorda. os Autores conhecem os fatos narrados,
pclos quais são responsáveis, assim como se responsabilizam pelos juízos emitidos.
( }rnsulrc nosso catíogo completo e últimos lançanrcnros cm w.editoracontexto.conr.[rr. ed itoracontexto
(.it7.yriglt (r) 2()l I <los ()rgatrizrtlorcs
os dircitos dcsta ediçáo reservados à
Contexto (Editora Pinsky Ltda.)
\oolUr Foto e montagem dz Capa
Gustavo S. Vilas Boas
Diagramação
Julio Portellada
Preparação de textos
Maria Luisa Santos Abreu e Alvina Rotta
Co nfe rência dz P reP araç ão
Igor Cataláo e Maria Encarnação Beltráo Sposito
No rma lização b ib liográf ca
Igor Cataláo
Reuisão
Flávia Portellada
Dados Internacionais de Catalogaçáo na Publicaçáo (cIr')
(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brsil)
A Produçáo do espaço urbano : agentes e Processos, escalas e desafios /
Ana Fani Alessandri Carlos, Marcelo Lopes de Souza, Maria
Encarnação Beltrão Sposito (orgmizadores). -
1.ed., l" reimpressão. - Sáo Paulo : Contexto, 2012.
Vários autores.
rsBN 978-85-7244-633-4
l. Cidades 2, GeograÊa urbana 3. Pesquisa urbana 4. Planeiamento
urbano 5. Urbanismo 6. Urbanização I' Carlos, Ana Fani Alessandri.
II. Soua, Marcelo Lopes de. IIL Sposito, Maria Encarnação Beltráo'
r1-00929 cDD-910.91732
Índice para catálogo sistemático:
l. Espaço urbano: Cidade e urbanismo: GcograÊa urbant 910.91732
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Eorron-e. Courrxro
Diretor editorial: Jaime Pinshl
Rua Dr. José Elias, 520 - Alto da Lapa
05083-030 - São Paulo - sP
ntnx: (11) 38325838
[email protected] Aos nossos mestres que construíram a Geografa urbdnd brasileira.
www.editoracontexto.com.br
Com destaque, dedicamos este liuro a Fanny Dauidouich e Pedro Pinchas Geiger.
SUMÁRIO
Ana Fani Alessandri Carlos
Marcelo Lopes de Souza
Maria Encarnação Bebrão Sposito
SOnnn A MEMóRIA DAS CIDADES ................................ I 9
Mauricio Abreu
Sonnr AGENTEs socIAIS, ESCAr-A E pRoDUÇÁo Do ESpAÇo:
uM TEXTO pARÁ DISCUSSÃO.................. .................41
Roberto Lobato Corrêa
IJA( (O RGANTZAçA- O, r\A ((PRODUÇAO DO ESPAçO NO MOVTMENTO
DO PENSÂMENTO GEOGúFrCO................ .....53
Ana Fani Alessandri Carlos
A urruzeçÁo Dos AcENTES socrArs Nos ESTUDos DE GEoGRAFTA uRBANA:
RECUO?...
AVANÇO OU ....................75
Pedro de Almeida Vasconcelos
Lucar. E cENTRALTDADE EM uM coNTExro METRopoLrrANo...........................................97
Angelo Serpa
A NrosrrrpeDE/rMoBrLrDADE NA pRoDUÇÃo Do ESpAÇo METRopoLrrANo.............. 109
Glória da Anunciação Alues
' Â t,touu<,:Ã() t)() list)^(;() t,Rt)^N(): r.s(t^t.As, t)tlit.tRl,tNÇ^s I,:
l ) t.ts t ( ; t,A l.t )A t) t,:s s()C I oE.s lácI4I S............ 123
M t rit l:lnutnutçiio Bcltriío Sposito
A cronor, A IALAvRA E o poDER: púTICAs, IMAGINÁRIoS E DISCURSos
r rETERôNoMos E AUTÔNoMos NA PRoDUÇÃo Do ESPAÇo uRBANo.. 147
Marcelo Lopes de Souza
Menc.Aoos púnrrcos: vgsTÍcros DE uM LUG4R............ . . ........ . ..167
Siluana Maria Pintaudi
INTRODUÇAO
Pnne coupnEENDER o "LEvrATÁ uRBANo" - A CIDADANIA coMo NExo
poLíTrco-TERRrroRIAL.....
..........I77
Márcio Pifron de Oliaeira
A uerruz DIscuRSIVÂ soBRE o "MEIo AMBIENTE":
PnoouçÃo Do EspAço uRBANo - AGENTES, EscAIÁs, coNFLITos................................207
Arlete Moysés Rodrigues
O livro que o leitor tem em máos é produto das refexóes de um conjunto de
autores que se dedica à pesquisa urbana no Brasil e que, há três anos, no Rio de Janei-
ro, decidiu se debruçar sobre o tema da "produçáo do espaço urbano". Foi o marco
inaugural de um período de debates realizados no âmbito do Grupo de Estudos
Urbanos (CnU), com o objetivo de colaborar para pensar o mundo contemporâneo
a partir do espaço e da Geografia.
Nascido em 2001, nos bastidores do encontro dafusociaçáo Nacional de Pós-gra-
dua@o e Pesquisa em Geogra6a (Anpege) - realizado no Departamento de Geografia da
Universidade de Sáo Paulo (usp) -, o cEU tem Por finalidade o aprofundamento do
debate sobre o fenômeno urbano brasileiro como momento necessário à constru-
çáo dacompreensáo da realidade, em seu movimento, como possibilidade de exercÍ-
cio constitutivo de uma Geografia Urbana. O grupo é composto por oito geógrafos
(Ana Fani Alessandri Carlos, Jan Bitoun, Marcelo Lopes de Souza, Maria Encarnação
Beltráo Sposito, Mauricio Abreu, Pedro de Almeida Vasconcelos, Roberto Lobato
Corrêa e Silvana Maria Pintaudi) que, durante as duas últimas décadas, têm estado
envolvidos com a realizaçáo dos Simpósios Nacionais de Geografia Urbana (Simpur-
bs), almejando colaborar para torná-los espaços de um debate denso sobre o modo
como a Geografia pode colaborar paÍa compreender a realidade brasileira a Partir
do recorte urbano.
Assim, a proposta de criação desse grupo de estudos surgiu da necessidade de
encontrar formas, sempre renovadas, de realizar o debate acadêmico consistente, cioso
do "tempo lento" da produção do conhecimento científico, o qual, em sua provisoric-
dade, nos propóe, sempre, novos desafios interpretativos, em funçáo do movimento
'l(()l)t,(. A() l)() llSllA(, () [,](llAN()
ittcxorÍvcl tllt rcalitlrrdc. (ill«rca-sc crn (lr,lcstalo, c()nr iss(), () srll)cr adcluiri{o, conro clas cstrrrtégias {c c<l«rpraçã«r prorrrovitlls llclls ittstittriçítcs tlttc rcllr«ltlttz,crtt (c sc
nr()nlcnto clc srra própria superaç,(). bc11eÍiciam) {a brrrocrirtiz.açã«l c «lrr rrrcrcrrtrtiliz.açã«l cl<ls })roccssos clc prtldtrçíttl tl«l
Flavi:r c hii quesróes que emergem dos resultados de nossas pesquisas, apresen- saber acadêmico. Essas estrarégias, quc não têm sido poucas, vôm, paulatinalnclltc,
tatlas enr eventos científicos, questóes essas que mereciam e merecem ser detalhadas degradando a universidade à condição de uma usina produtora de "saber técnico/
c aprofundadas por meio da reflexão, do debate e da crítica. E o cpu pareceu-nos o tecnológico", de preferência imediatamente útil para o capital e o Estado. Presa ao
caminho possível em direçáo à tentativa de construir, coletivamente, um modo de universo mercantil, a universidade vem, desse modo, cadaiezmais, produzindo um
pctr.sar e contribuir para o desvendamento da cidade e do urbano no Brasil (passado, saber que serve para municiar estratégias políticas e empresariais, ao mesmo temPo em
prcscnte e futuro), a partir da análise geográfrca. que se cria a aparência de um compromisso do Estado e dos ambientes empresariais
A banalizaçáo do conhecimento como imposição do "rempo rápido" tem com a sociedade como um todo, sob a camuflagem de um discurso da açáo voltada
produzido um novo comportamento acadêmico esterilizanre, e não raro também para o "bem comum".
«r1'rortunista, que sabota a possibilidade de uma elucidação crítíca da realidade. De- A Geografia tem, nesses marcos, sofrido de modo especialmente angustiante'
c«lrre daí o preconceito em relação à reflexáo teórica (como se a boa teoria náo fosse, Experimenta-se, na Geografia brasileira de nossos dias - e diferentemente' Por
justamente, indissociável da pr:íxis!), em cuja esreira o pensamenro absrrato passa a exemplo, da década de 1980 -, um generalizado desinteresse pela atividade teórica, a
scr visto de maneira puramente pejorativa (como se pudesse existir ciência ou filosofia qual, muitas vezes, é tomada como sinônimo de algo distanciado da realidade (esque-
scrn diferentes graus de generalização e de dialética enrre o geral e o particular - vale cendo-se que a teoria, pelo contrário, deve derivar do contato com a realidade e nos
diz.cr, de abstração). Mas não se rrara apenas de empirismo, o qual constitui um des- permitir, dialeticamente, intervir criticamente sobre esta). Paralelamente a isso, e
virtuamento da nossa imprescindível relação com o empírico. o que se vê, cada vez à. -"r.ip entrelaçada com isso, vive-se, também e sobremaneira na Geografia, um
rrrais, é também uma crescente intolerância para com o "tempo lento" da produção reforço do empirismo.
do conhecimento. Na atual quadra da nossa história acadêmica, a "rotulaçáo" Êácil Nada disso, entretanto, dá-se fora de um contexto econômico e institucional
c aPressada ganha terreno, em detrimento da construção de argumentos capazes de mais amplo, o qual vai moldando e (de)formando a nossa cultura acadêmica. A
tlttc.stionar raciocínios e de problematizar o já estabelecido, desconfiando de nossas banalízaçáo (ou a negligência) de vários debates importantes anda de máos dadas,
1lróprias conclusóes. Como contratendência, o cru vem buscando se aÊrmar como como já salienramos, com o produtivismo e suas implicaçóes - ou seja, com a
rrrn modesto, porém decidido "rerrirório de resistência". substituiçáo paulatina da verdadeira críaçáo intelectual pela produçáo apressada;
Pensamos que o debate acadêmico reside na possibilidade derealizaçáo da crítica com o eclipse do estudo sério e da pesquisa bem construída em favor de trabalhos
sctn acusaçóes ou "rotulaçóes" simplistas e, fundamentalmente, sem intolerância e "impressionistas", mal embasados empiricamente e fracamente fundamentados
prcconceitos - posturas que dificultam ou impedem o debate e qualquer possibilidade conceitual e teoricamente; com a ignorância em relação à história ou trajetória de
dc troca frutífera. Ora, sem rroca e sem debate náo há produção de conhecimento. o um determinado tema ou debate, em que náo é raro encontrar textos que, simples-
dcsenvolvimento do pensamento geográGco envolve, constantemente, a sua crítica, mente, desconsideram (até mesmo Por Puro e simples desconhecimento) tudo o que
bcm como o quesrionamento da própria disciplina. Por isso mesmo, a construção do já foi publicado sobre tal ou qual assunto. Definitivamente, o "fastfood acadêmico"
conhecimento deve se basear numa atirude questionadora diante do mundo em que esrim;lado pelo produtivismo, no qual a produção acadêmica do passado náo é
vivcmos, como possibilidade de entendimento do que nos parece indecifrável, bem bem digeridâ e a do presente vai sendo mastigada de maneira constrangedora, pode
c«rmo de superação do presente, como perspectiva de um devir que contenha o novo. causar séria indigestáo intelectual.
A lrrz. disso, é evidente que a imposiçáo de um caminho único, d.o ponto de vista da Toda essa situação é uma das marcas do empobrecimento de nossa sociedade'
tcoria, do método e da política, equivaleria a negar a própria história e o sentido cada vez mais definida nos limites estreitos da sociedade de consumo, em que o
rla produção do conhecimento. pesquisador é medido pela quantidade de informaçáo que registra relativamente
As atividades do grupo, por sua vez, com muita dificuldade têm-se mantido, aos congressos de que participa, ao número de artigos que produz (náo importa se
rto l«rngo dos anos, na direção contrária à tendência produtivista atual - que satura trabalhos que nem sequer redigiu, como tem acontecido no âmbito da
"rrin".rdo
rt ttttivcrsidade, em meio a exigências e pressóes burocratizantes, exercidas pelas exploração do trabalho de orientandos de graduação e pós-graduaçáo), e assim segue.
prríprias agências de fomento, que terminam por enquadrar os pesquisadores -, Obscurecida a necessidade de desvendar as contradiçóes do mundo contemporâneo,
visrtnclo à prcscrvação da academia como um lugar da refexáo e do debate diante vivemos, por isso e com isso, um momento de crise teórica e real (social', política e
llol l11l
A t,t(()t)t,(,4() t)() lisl,A(,() (,lrlr^N()
('( ()nônlica). Na rrnivcrsicladc, cssa clisc rcvcla a constituiçalo rle urna nova (anti)ética, scgttitrtcs. [)ccidiu-sc, natlttcllt rltltsiiirl' (ltlc lr()s trôs itllos stll)sc(ltlcllrcs tt rctlta gcral
n() c()ntcxt() cla proclução cle urn novo ser-no-mundo, constituído na sustentação do A produção d.o espaço urbano: agente§ e proce§§os, e§calas e desatios rlortcrtrit rts
i r rtl iviclual isrrro exacerbado e agonístico. arividades dos participantes cla rcdc dc pcscluisadores, os quais firranr, adcrrrais, ctrc«l-
[)o que foi exposto até aqui, podemos afirmar que este livro se insere numa rajados a preparar um pequeno rexro, elaborado a partir de um recorte especíÍico dc
l)crspcctiva bastante ampla, que é aquela da reuniáo e do debate de um grupo de sua escolha e com o qud gostariam de trabalhar, desde que vinculado ao tema geral.
1;crlgrafos brasileiros com objetivos e posturas que váo na contramão do movimento como se verá pelos capítulos, o entendimento de "produçáo" não se restringe
lrcgcmônico da universidade brasileira. Para além disso, porém, há uma série de preo- a um sentido estreito, econômico-material ou economicista. Muito embora, nos
cupaçóes e interesses temáticos, compartilhados pelos três organizadores e igualmente marcos do capitalismo, a produção do espaço se dê sob o signo de uma sobrevalori-
lx)r ()utros participantes dos eventos promovidos pelo cnu, os quais destacaremos em zaçáo do econômico no próprio imaginário, é fundamental resgatar a importância
scguida, e que contextualizam a opção pelo tema do presente livro. e ", e.p"cifi"idades do poder e do simbólico. E é ?recisãmente o fato de, na esteira
da .*pansáo do capitalismo, a verdadeira alteridade ser destruída ou acuada e a verda-
deira criação ,., ..b"i*"d" a uma produçáo serial de mercadorias, que sugere a rele-
aoaaa vância (ou mesmo a urgência) de se compre ender ffiticamente o poder e o simbólico
na contemporaneidade, no momento em que a "cultura" (inclusive na sua expressáo
espacial!), ela própria, çadavez mais é convertida em mercadoria'
Em sua existência até agora, o grupo reuniu-se periodicamente, objetivando Os debaies substantivos sobre o tema foram travados durante os três workshops
dcl'lirter as questóes que embasam a pesquisa urbana. Dessas ou de algumas dessas seguinres, realizados em sáo Paulo (usr,, julho de 2008), Presidente Prudente (unesp,
rcr.rnióes participaram vários colegas, além dos integrantes do cnu. Tâis colegas, que l.r"rrho d.2009) e, novamenre, em são Paulo (usr,, março de 2010). o presente livro
c<tntribuíram enormemente para enriquecer o debate, foram Amélia Luisa Damiani, rem em sua origem nesses debates que, para além do desejo de simbolizar e consolidar,
.fosé Borzachiello da Silva, Eustógio Dantas, Leila Christina Dias, Nelba Azevedo por meio d. ,rÃ" publicaçáo conjunra, o prazeÍ que sentimos na realizaçáo deles e na
l)cnna, Paulo Cesar da Costa Gomes e Sergio Manuel Merêncio Martins - aos quais companhia uns dos outros, envolve o desejo de traduzir no§sas ideias na Perspectiva
s()lnilm-se outros que, além de participarem das discussóes, colaboraram com textos de explicitar os problemas e a complexidade das cidades e da urbanizaçáo, aPartir de
publicados neste livro: fulete Moysés Rodrigues, Angelo Serpa, Glória daAnunciaçáo distintos po.rao, de vista. Nenhum de nós se pretende um oráculo, um depositário
Alvcs e Márcio Piion de Oliveira. d. qr"lq*., "verdade objetiva" incontestável. Isso não seria apenas uma insuportável
Agora, um pouco de história. presunção: seria uma postura tola e absurda, incompatível com o espírito científico -
O cBu realizou, em outubro de 2006, na Universidade de Brasília (UnB), um ., -"i, ainda, com o espírito crítico. No entanto, pela seriedade das contribuiçóes
worhshop em que debatemos o tema da "diferenciação sócio-espacial". Foi uma experi- aqui reunidas, cremos que se trata, essa sequência de reunióes do Cnu (culminando
ência gratificante. Durante um dia, cerca de 15 pesquisadores discutiram questóes de .o- " elaboraçáo de um livro), de um exemplo de como as coisas podem ser feitas
nlltureza teórico-metodológica, alcançando um clima de debate franco e, amiúde, diferentemente, aPesar de todo o canto de sereia que emPurra as universidades mais
rlcrtso e aprofundado - o que cada vez menos é possível no âmbito de um even- e mais p"r, , b,rrá. Íatizaçío (e, náo raro, para a superficialidade). O simples fato de
to clc grande porte. Alguns participantes desse encontro (Ana Fani Alessandri Carlos, ser, est; livro, o resultado de um longo processo de debates e amadurecimento cole-
Mlrcelo Lopes de Souza, Roberto Lobato Corrêa, Arlete Moysés Rodrigues e José tivo já é um sinal de que, em tudo e por tudo, náo aceitamos a lógica do "fast food
l|«rrz.achiello da Silva) haviam preparado, previamente, textos para orientar os deba- acadêmico". É ,r- e*e-plo, igualmente, de que é possíuel recusá-la'
tcs.'lhis textos foram, posteriormente, revistos e publicados no número 6 da revista A "produçáo" e, consequentemente, a "reproduçáo do espaço"' atualmente'
(,'idtdes, em 2007. Consolidou-se, nesse momento, o desejo coletivo de promover repousa rro f"to de que o desempenho capitalista se expandiu. Ao se realizar, tomou
rctrnióes periódicas, envolvendo os integrantes do cnu e alguns colegas convidados. o *.mdo, e esse é o conteúdo do processo de globalizaçáo, bem como o fio condutor
O tema que orienta a elaboração do presente livro foi decidido, como já se adian- que nos possibilita compreender em que termos se efetua a redefiniçáo da cidade e da
t()u no primeiro parágrafo desta Introdução, no workshop do cEu que se realizou na urbanização, de sua.*plosáo, da extensáo das periferias; enfim, da construçáo de um
(Jnivcrsiclaclc Federal do Rio de Janeiro em setembro de2007. Foi, esse, um encontro novo espaço. Nessa direçáo, pode-se questionar o papel da intervençáo do Estado,
rlc organiz.açixr, com a 6nalidadc de preparar uma agenda de trabalho para os anos com seus interesses geralmente muito contraditórios com o§ interesses dos grupos
l12l I 131
Ittttrtlttt«rs rnrtittrirÍrio.s. A con.struçiro clc urrr projct«l para lr cidaclc - para a socie- Roberto l,obato Corrêa rcrrliz:r, no cupítukl scgrrirrtt', rrtrr csÍilrço bcnt-sttccrlirl<1,
rlltclc! - não podc nasccr das prancl.retas, mas passa e tem dc passar, isso sim, pela cle carátcr cxplorattlrio, visando u cstirbclcccr ulgunras rclaçírcs ctltt'c il(cill$ sttcirtit,
itttcrvctrção clos itrteressados, e não pela simples consulta, usualmenre travestida de escala e produção do espaço. Subjaccntcs a cssc csfbrço cstão duas tescs: a llrintcirrt
"participação popular". considera a produção do espaço como decorrente da ação de agentes sociais concfc-
Diante da complexidade da sociedade urbana, pode-se pressupor que a produçáo tos, com papéis não rigidamente definidos, portadores de interesses, contradiçócs c
do espaço constitui um elemento central daproblemática do mundo conremporâneo, práticas espaciais que ora sáo próprios acada um, ora são comuns. A segunda diz.
tanto do ponto de vista da realizaçáo do processo de acumulação capitalista * e, por respeito à escala enquanto dimensáo espacial na qual a açáo humana, seja ela qual
consequência, de justificativa das açóes do Estado em direção à criaçáo dos funda- for, efetivamente se realiza.
rncntos da reprodução - quanto do ângulo da (re)produçáo da vida, que se realiza em Partindo de uma abordagem de caráter também bastante amplo para situar o
csPaços-tempos delimitados reais e concretos. As práticas de resistência precisam ser tema, Ana Fani Alessandri Carlos aborda, em seu texto, o movimento teórico que,
pcnsadas com o recurso à construçáo de um olhar teórico visceral e dialeticamente no âmbito da constituição do pensamento geográfico brasileiro, permitiria pensar a
articulado, precisamente, com a práxis, em um movimento que revele o sentido e o passagem do conceito de "organizaçáo do espaço" àquele de "produçáo do espaço"
ftrndamento dos conflitos que se estabelecem hoje, em torno do espaço, como luta e, nessa perspectiva, apontar os fundamentos sociais da produçáo do espaço. Para
pclo "direito à cidade". ela, esse movimento abre a possibilidade de se refletir sobre as relaçóes sociais em
sua dimensáo espacial, momento em que a espacialidade pode ser tratada como
imanente à existência constitutiva da sociedade. Tal enfoque aponta para a ideia de
ooaoo
que a sociedade, ao se produzir, o faz num espaço determinado, como condiçáo
de sua existência e por meio dessa ação, ela também produzindo um espaço que lhe
é próprio. Esse raciocínio sugere a necessidade de considerar a reproduçáo da socie-
os capítulos aqui reunidos rrazem e desenvolvem abordagens que se propõem a dade, em sua totalidade, realizando-se através da produçáo/reproduçáo do espaço.
«rfbrecer algum esclarecimento do tema. Correspondem a onze olhares sobre a mesma No plano do debate conceitual, Pedro de Almeida Vasconcelos focaliza os
tcmática, diversidade que emana tanto do fato de que seus recorres analíticos sáo agentes da produção do espaço, apontando a insuficiência das grandes categorias
nrÚrltiplos quanto da circunstância de que as perspectivas teórico-conceituais adotadas analíticas utilizadas na Geografia Urbana como capitalisrno, capita/e mesmo de suas
pclos autores sáo diversas, ainda que não necessariarnente (ou nem sempre) divergentes. subdivisóes, como capital imobiliário, capitalfnanceirl etc., se queremos compreender
o primeiro capítulo, da autoria de Mauricio Abreu, foi originalmente a complexidade da atuaçáo dos inúmeros egentes na transformaçáo das cidades, par-
publicado no número 4 da revista Território, do Laboratório de Gestáo do Têr- ticularmente nas cidades dos países perifericos. Nestas, afirma o autor, os agentes não
ritório (Laget) da urny, em 1998. Decidimos republicá-lo, com a permissão capitalistas, como os proprietários fundiários e, sobretudo, os invasores e ocupantes
d<l autor, porque Mauricio Abreu, além de integrar o cEU, participou de vários de terrenos, têm uma participaçáo fundamental na conformação das cidades, o que
cncontros do grupo. Muito embora náo tenha podido preparar um texto especifica- relativizaria a centralidade explicativa do que chamou de "as grandes categorias".
mcnte para ser debatido, "Sobre a memória das cidades" represenra uma contribuição Angelo Serpa propõe uma refexão de cunho teórico-conceitual em que
(lue se coaduna bastante bem com o espírito deste livro e, em larga medida, do aprofunda a discussáo sobre os conceitos de lugar e centralidade, oferecendo uma
próprio cEU: resgarar a memória, manrer a perspectiva histórica e processual para contribuiçáo sobre esta temática. O autor desenvolve sua linha de raciocínio na pers-
l)cnsar o espaço (a produçáo do espaço) e o constante "refazimento" da Geografia pectiva de aproximar lugar e centralidade, no âmbito da produção do conhecimento
c das geografias. 'Apegada a uma lei castradora, que a impele na direção exclusiva geográfico. Parte da premissa de que esta articulaçáo viablliza a construçáo de novos
tla interpretaçáo do presenre dos lugares, e não no caminho da interpretação dos parâmetros teórico-metodológicos para a compreensão dos fenômenos urbano e
Iugares, a Geografia vem produzindo já há algum rempo valiosas análises sobre as metropolitano, lançando também as bases para o aprimoramento de uma aborda-
cid:rdes, que entretanto têm servido muito pouco para resgatar a sua memória", gem qualitativa. Para o autor, a aproximação dos conceitos de lugar e centralidade
cscrcvc o autor. É mais que relevante, portanto, refletir sobre a produçáo do espaço baseia-se em conteúdos de ordem qualitativa e simbólica, o que pode atribuir, sem
rrrbano - seus agentes e seus processos, suas escalas e seus desafios - tendo em mente dúvida, novos significados à análise dos lugares e de sua morfologia sócio-espacial
cssu.s palavras de advertência. nas metrópoles contemporâneas.
l14l lls
l
() capÍtulo clc Glória da Anunciaçáo Alves visa a cliscutir o corrccito dc mobi- trrbanizlrçíur, rcctrpcrancl«l () sclr scnti(lo rlligirral corl)o ncxo políticrl-tcrrittlriltl rttt
lidade, como p«rssibilidadc de csclarecirncnto do processo de produçáo do espaço. Ela gcograficiclaclc. Nessc corltcxt(), o ciclrrcl:i«r - arluclc scr político 11cnúric«r, itrriclicltrucntc
l)r'()crrrár dcsvcndar como a produçáo se estabelece enquanto movimento articulado ao formal, voltado para si mesrn() c scu interessc particular, dissociado cla conrtrniclaclc -.
J)r()cesso de circulação, estabelecendo os nexos capazes de nos levar a compreender pode ser identiÊcado na realidade concreta do mundo, e analisado com basc nulrt
o cstabelecimento dos meios e das açóes que envolvem o sentido da mobilidade como conjunto de dimensóes que inclui a dos direitos (civis, políticos e sociais) e vai além
clemento fundamental na compreensáo dos conteúdos da produção do espaço. deles, chegando à dimensão do espaço. O autor enfoca a categoria "território", quc
Maria Encarnaçáo Beltráo Sposito, por sua vez, aborda o tema a partir da se impóe como uma "condiçáo continente" ao conteúdo político da cidadania e à
rcflexáo sobre a diferenciação socioespacial, procurando distingui-la das desigualdades organizaçáosocial, cultural e econômica existente em cada espaço-temPo, demarcando
socioespaciais. As escalas geográficas são tomadas como referência e recurso analítico, o nexo político-territorial da cidadania nas diferentes escalas de sua realizaçáo.
para enfocar como diferenças e desigualdades são produzidas no período atual. O Arlete Moysés Rodrigues enfatizaa importância de se considerar o meio am-
tratamento das formas de reestruturação urbana e das cidades é feito considerando-se biente na Geografia lJrbana, chamando a atençáo para a mudança da matriz discursiva
a redeÊnição da centralidade urbana e a tendência de complexificaçáo das formas sem alteração do paradigma dominante. Sua reflexão aponta PaÍa a necessidade de
de segmentaçáo da sociedade e do espaço, que compóem a vida urbana e a cidade, um novo arcabouço teórico-metodológico, com instrumentais analíticos adequados,
cnquanto fragmentação socioespacial. na direçáo de uma Geografia crítica radical. Ela permitiria avançar para compreender
Marcelo Lopes de Souza, em seu capítulo, chama a atenção para o fato de náo a complexidade dos processos e as relaçóes societárias (as alteraçóes do mundo do
reÍletirmos o suficiente sobre o que estamos dizendo ou querendo dizer quando nos trabalho, a financeirizaçáo da economia, a acumulação flexível), mostrando que os
utilizamos, no próprio discurso científico, de determinadas palavras. Agimos, muito deslocamentos discursivos da produçáo e reprodução do espaço Para o "consumo"
fiequentemente, como se o nosso vocabulário técnico, tão profundamente articulado e deste para o "meio ambiente" obscurecem as causas dos chamados problemas am-
(c até quase amalgamado) com o vocabulário do senso comum, náo demandasse bientais e as contradiçóes expressas nas cidades e na vida urbana.
rnaiores cautelas. Fica patente a dificuldade de se enxergar a complexidade de interes-
scs cnvolvida na disputa simbólica em torno de determinadas palavras, notadamente
aoooa
claquelas que se apresentam carregadas de forte significado político e ideológico, tais
como "favela", "ocupação" ,"revítalização" e muitas outras. Essa complexidade, como
alerta o autor, simplesmente náo admite ser adequadamente apreendida por meio
cle uma "visão de sobrevoo", que consiste em considerar as sociedades e seus espaços Por ultimo, uma breve nota sobre a grafia do termo "sócio-espacial"/'tocioespacial".
cxclusiva ou predominantemente "do alto" e "à distância", como é táo comum na Têm sido comum, entre revisores de língua portuguesa, uma interpretaçáo estreita
(ieografia (e no planejamento urbano). e automática das normas ortográficas em vigor quanto ao uso do hífen, segundo
Silvana Maria Pintaudi afirma que, em sociedades tão complexas como as as quais, a exemplo de palavras como "socioeconômico" e "sociopolítico", também
clue vivemos, alguns aspectos nos auxiliam a compreender a urbanizaçáo engendrada "socioespacial" deveria ser grafada sem hífen. Ocorre que os vocábulos "socioeconô-
pelo capital. Refere-se, aqui, especificamente, à produçáo e consumo de espaços co- mico" e "sociopolítico", de uso mais ou menos corrente fora de um âmbito técnico
merciais no atual momento histórico, o que em sua perspectiva analítica pressupóe especializado, se acham dicionarizados; o mesmo não ocorre com "socioespacial" (ou
cntender o movimento de formas comerciais que se chocam com outras que náo "sócio-espacial"). A comparaçáo, geralmente feita pelos revisores, é a de "socioespa-
tôm o mesmo movimento, porque pertencem â outro momento histórico - caso cial" (ou "sócio-espacial") com aquelas outras duas palavras, negligenciando-se outra
cspecíÊco dos mercados públicos. Para a autora, o espaço que se constrói, no mo- possibilidade, conceitualmente relevante: a da comparação não necessariamente com
rl)cnto atual, poderia ser interpretado como tênue, opaco, expressóes que apontam "socioeconômico" e "sociopolítico", em que se perdeu a noção dc composição (o "socio",
a irnportância de compreendê-lo no movimento da urbanizaçáo que transforma, simplesmente, qualifica o "econômico" e o "político"), mas também, dependendo
corrstantemente. O espaço, antes produzido como "obra", agoraé "produto" e, nesta das circunstâncias, com palavras como "austro-húngaro" e "dólico-louro", nas quais
condição, é repetido infinitas vezes, controlado, indicando um consumo induzido. se mantém a noção de composição.
Márcio Piíon de Oliveira tem por objetivo desenvolver uma refexáo crítica Ao menos para alguns geógrafos - náoháconsenso a respeito -, deve ser consi-
solrrc o conceito de cidadania, a partir da sua relação concreta com a cidade e a derada a possibilidade, por razóes teórico-conceituais, de dupla grafi a. " Socioespaciat' ,
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I(()l)tl(, A() lr() lrSl'A(, () t,l(ll^N(,
scr)r hÍíi.n, sc rcfl.rilil sofit(nt( lto csprtço social (por cxcnrplo, c()rlsi(lcrxtrdtl-o cltl ângulo
cl«r rcstrltatlo clc stra produçíro cn'l unl detcrrninado monrcnto); cn1 contraste,'\ócio'
opacial" diria respeiro às relaçóes sociais e ao espaço, simultaneamente (levando em
conra a articulaçáo dialética de ambos no contexto da totalidade social, mas preser-
vando a individualidade de cada um). À luz disso, por exemplo, a representação de
um cstádio de futebol, por meio de uma planta, seria uma representação gráfrca
clc uma estrutura socioespacial- por mais que, evidentemente, essa estrutura reflita e
sirva como uma chave para interpretar determinadas relaçóes sociais -, ao passo
que os processos e práticas ali concretizados, do jogo em si ao confronte entre torcidas SOBRE A MEMÓruN DAS CIDADES
organizadas, seriam, em sentido forte, processos e práticas sócio-espaciais. Distinguir
enrre as duas gra6as, com isso diferenciando uma da outra duas perspectivas (comple-
Mauricio Abreu
mentares, e não excludentes), só seria algo supérfluo se Partíssemos do pressuposto de
Universidade Federal do Rio de Janeiro
que a caregoria espaço socia/engloba inteiramente ou se confunde completamente com
a caregoria relações sociais - o que corresponderia a um reducionismo assaz danoso.
Por essa razão, optou-se por se preservar a grafra escolhida pelo próprio autor
de cada capítulo, na expecrativa de que a escolha tenha sido feita com consciência
das premissas e implicaçóes envolvidas.
Avalorizaçáo do passado das cidades é uma característica comum às sociedades
desta virada de milênio.t No que diz respeito a "países novos", como o Brasil, essa
Ana Fani Alessandri Carlos tendência é inédita e refete uma mudança signiÊcativa nos valores e atitudes sociais
Marcelo Lopes de Souza aÍé agoÍapredominantes. Depois de um longo período em que só se cultuava o que
Maria Encarnação Beltráo Sposito era novo, período que resultou num ataque constante e sistemático às heranças vindas
de tempos anrigos, eis que atualmente o cotidiano urbano brasileiro vê-se invadido
por discursos e projetos que pregam a restauração, a preservaçáo ou a revalorização
dos mais diversos vestígios do passado. A justificativa apresentada é invariavelmente
a necessidade de preservar a "memória urbana".
Para compreender melhor essa tendência recente de busca de memória, de busca
de raízes, este capítulo pretende discutiJa a partir de três grandes eixos de análise.
O primeiro, de natureza geral, procura entender o que está por trás da valorizaçáo
atual do passado. O segundo busca conceituar melhor o que se entende por memória
das cidades. Finalmente, o terceiro eixo objetiva discutir o papel desempenhado pela
Geografia no resgate dessa memória.
A valorizaçáo atual do passado
Avalorízaçáo do passado, ou do que sobrou dele na paisagem ou nas "instituiçóes
de memória" (museus, arquivos, bibliotecas etc.) (None, 1984), dá-se hoje de forma
generalízadano mundo, refetindo a emergência de uma nova relaçáo identitária entre
os homens e as mulheres do final do século )o( e os conjuntos espaciais que lhes dáo
ancoragem no planeta, sejam eles os Estados-naçóes, as regióes ou os lugares.
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