Table Of ContentLucien Lévy-Bruhl
A
MENTALIDADE
PRIMITIVA
Tradução: Souza Campos, E. L. de
teodoro
Lucien Lévy-Bruhl
A Mentalidade Primitiva
Tradução: Souza Campos, E. L. de
TEODORO
Niterói, 2015.
Original: Lucien Lévy-Bruhl. La Mentalité Primitive. Paris: Les Presses
Universitaires de France, 1922.
Edição desta tradução: 15e Édition, 1960.
© 2015 desta tradução: Teodoro Editor: Niterói, Rio de Janeiro, Brasil
PREÂMBULO
Lucien Lévy-Bruhl,
Setembro de 1921.
Índice
Quando Les Fonctions Mentales dans les Sociétés Inférieures foi lança-
do, há doze anos, ele já deveria ter se chamado La Mentalité Primitive. Mas,
como as expressões “mentalidade” e até mesmo “primitiva” ainda não haviam
entrado, como hoje, na linguagem corrente, eu desisti então deste título. Eu o reto-
mo para a presente obra. É preciso dizer que ele é uma continuação do anterior. Os
dois tratam do mesmo assunto, embora de um ponto de vista bem diferente. Les
Fonctions Mentales insistiu principalmente na lei da participação, considerada em
suas relações com o princípio da identidade. La Mentalité Primitive tem, antes de
tudo, o objetivo de mostrar o que é para eles a causalidade e as consequências que
decorrem da ideia que eles fazem dela.
Ele não pretende, bem como Les Fonctions Mentales, esgotar o estudo da
mentalidade primitiva, em todos os seus aspectos e em suas múltiplas expressões.
Trata-se aqui também apenas de uma introdução geral. Eu procurei simplesmente
determinar, da maneira mais exata possível, a orientação própria dessa mentalida-
de, de quais dados ela dispõe, como ela os adquire, que usos ela faz deles, enfim,
quais são os limites e o conteúdo de sua experiência. Fazendo isto, eu fui levado a
tentar destacar e descrever certos hábitos mentais característicos dos primitivos e
mostrar porque e como eles diferem dos nossos.
A fim de compreender, por assim dizer, de fato, os aspectos essenciais da
mentalidade primitiva, eu escolhi intencionalmente, para analisar, os fatos mais
simples e os menos ambíguos. Eu esperava assim ver diminuir as chances de erros,
tão numerosos em matéria tão complexa e fazer aparecer mais claramente, em
ação, os princípios constitutivos dessa mentalidade. Eu me fixei então em estudar o
que são, para os primitivos, as potências invisíveis das quais eles se sentem rodea-
dos por todas as partes; os sonhos; os presságios, que eles observam ou provocam;
as provações; a “má morte”; os objetos extraordinários trazidos pelos brancos; sua
medicina etc.
Não se deve esperar encontrar aqui, portanto, um estudo da mentalidade
primitiva em suas relações com as técnicas das sociedades inferiores (invenção e
aperfeiçoamento das ferramentas e das armas, domesticação dos animais, constru-
ção de edifícios, cultura do solo etc.), ou com suas instituições, por vezes tão com-
plexas, como a organização da família ou o totemismo.
Se a introdução geral que constitui o presente volume __ junto com o pre-
cedente __ atingiu seu objetivo, ele permitirá definir melhor alguns dos grandes
problemas levantados pelas instituições, as técnicas, as artes e as línguas dos primi-
tivos. O conhecimento de seus hábitos mentais, no quanto eles se distinguem dos
nossos, ajudará a colocar as questões em termos que tornem possível a solução. Ele
fornecerá um tipo de fio condutor. Ele tornará menos difícil, pelo menos em certo
Lucien Lévy-Bruhl – A Mentalidade Primitiva
número de casos, discernir os fins que os primitivos perseguem mais ou menos
conscientemente. Compreender-se-á melhor os meios __ por vezes infantis ou
absurdos, aos nossos olhos __ que eles são levados a empregar e se esclarecerá,
portanto, as razões profundas que explicam as formas ordinárias de sua atividade,
seja individual ou social. Vários capítulos da presente obra são tentativas de apli-
cação desse método a casos relativamente simples.
Pareceu-me que seus resultados confirmam a análise abstrata que foi expos-
ta em Les Fonctions Mentales. Os dois procedem de um mesmo esforço para
penetrar nos modos de pensar e nos princípios de ação dessas pessoas que chama-
mos __ bem inapropriadamente __ de primitivos e que estão, ao mesmo tempo, tão
longes e tão próximos de nós.1
Setembro de 1921.
1 Algumas partes deste livro foram objetos de aulas dadas no Lowell Institute, em Boston, em no-
vembro-dezembro de 1919.
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Lucien Lévy-Bruhl – A Mentalidade Primitiva
Introdução
§1. Aversão da mentalidade primitiva pelas operações discursivas do
pensamento. Suas ideias restritas a um pequeno número de objetos. Ausência
de reflexão.
Índice
Dentre as diferenças que separam a mentalidade das sociedades inferiores
da nossa, há uma que chamou a atenção de um grande número daqueles que as
observaram nas condições as mais favoráveis, ou seja, antes que elas fossem modi-
ficadas por um contato prolongado com os brancos. Eles constataram nos primiti-
vos uma tremenda aversão pelo raciocínio, por aquilo que os lógicos chamam de
operações discursivas do pensamento; eles destacaram, ao mesmo tempo, que essa
aversão não provinha de uma incapacidade radical, ou de uma impotência natural
de seu entendimento, mas que ela se explicava acima de tudo pelo conjunto de seus
hábitos mentais.
Por exemplo, os padres jesuítas, que foram os primeiros a contatar os nati-
vos do leste da América do Norte, não conseguiram deixar de fazer esta reflexão:
“É de se supor que os iroqueses são incapazes de raciocinar como fazem os chine-
ses e outros povos organizados aos quais se mostrou a fé e a verdade de um Deus...
O iroquês não se deixa levar, de maneira alguma, por razões. A primeira impressão
que ele tem das coisas é a chama que o ilumina. Os motivos de credibilidade cos-
tumeiramente usados pela teologia para convencer os mais fortes espíritos, aqui
não são, de maneira alguma, escutados, ou são qualificadas de mentiras as nossas
maiores verdades. Costumeiramente só se acredita no que se vê”2. O mesmo padre
acrescenta um pouco a frente: “As verdades do Evangelho não lhes parecerem
aceitáveis se forem apoiadas unicamente sobre o raciocínio e sobre o bom-senso.
Como o estudo e a polidez lhes faltam, seria preciso alguma coisa de mais grossei-
ro e de mais palpável para impressionar seus espíritos. Embora haja entre eles
mentes tão capazes de ciências quanto são os europeus, no entanto, sua educação e
a necessidade de buscar seu sustento os reduziu ao estado em que todos os seus
raciocínios não vão além daquilo que pertence à saúde de seus corpos, ao sucesso
feliz da caça, de sua pesca, do comércio e da guerra; e todas estas coisas são como
se fossem os princípios dos quais eles tiram todas as suas conclusões, não somente
para seus lares, suas ocupações e sua maneira de agir, mas até mesmo para suas
superstições e sua divindades”.
Aproximando esta passagem da precedente nós obtemos os elementos de
uma descrição bem precisa da mentalidade dos iroqueses sobre o assunto que nos
ocupa. A diferença mais essencial entre esses “selvagens” e os infiéis mais organi-
zados que eles não provêm de uma inferioridade intelectual que seria característica
deles: é um estado de coisas, cuja explicação, segundo os padres, estaria em seu
2 Relations des Jésuités. Ed. Thwaites, t. LVII, p. 126, 1672-1673.
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Lucien Lévy-Bruhl – A Mentalidade Primitiva
estado social e em seus costumes. A mesma coisa diz o missionário Grantz sobre
os groenlandeses: “Sua reflexão ou sua invenção são empregadas nas ocupações
necessárias à sua subsistência e o que não estiver inseparavelmente ligado a isso
não atrai jamais seu pensamento. Também se pode atribuir-lhes uma simplicidade
sem tolice e um bom-senso sem a arte de raciocinar”3. Entendamos: sem a arte de
seguir um raciocínio um pouco que seja abstrato. Pois não há dúvida que, desem-
penhando as ocupações necessárias à sua subsistência, os groenlandeses não só
raciocinam como adaptam recursos, às vezes complicados, aos fins que eles bus-
cam. Mas essas operações mentais limitam-se aos objetos materiais que as provo-
cam e logo cessam, assim que seus objetivos são atingidos. Elas jamais são prati-
cadas por elas mesmas e, por isso, não nos parecem se elevar até à dignidade do
que chamamos propriamente “pensamento”. É o que traz à luz um observador
moderno que viveu com os Esquimós polares. Diz ele: “Todas as suas ideias giram
ao redor da pesca da baleia, da caça e da comida. Fora disso, pensamento para eles
é, em geral, sinônimo de chatice ou de tristeza”. “O que você está pensando?”
perguntei um dia, numa caçada, a um Esquimó que parecia mergulhado em suas
reflexões. Minha pergunta o fez rir. “Vocês, brancos, que se ocupam com tantos
pensamentos! Nós, Esquimós, só pensamos em nossos estoques de carne: teremos
o suficiente ou não para a longa noite do inverno? Se temos carne em quantidade
suficiente, então não precisamos mais pensar. Eu, eu tenho carne mais do que sufi-
ciente!” Eu compreendi que o havia magoado ao lhe atribuir “pensamentos”.4
Os primeiros observadores que estudaram os nativos da África austral nos
deixaram registros todos semelhantes aos precedentes. Aqui também os missioná-
rios constatam que “só se acredita no que se vê”. “Em meio a explosões de risos e
aplausos do populacho, ouvir-se-ia dizer ao interlocutor pagão: ‘O Deus dos ho-
mens brancos podem ser vistos por nossos olhos?... Que se Morimo (Deus) é abso-
lutamente invisível, como um homem razoável adoraria uma coisa escondida?’”5
A mesma coisa com os Bassutos. Disse orgulhosamente um pobre Mossouto: “Eu
quero primeiro subir até o céu para ver se há realmente um Deus e quando eu o
tivesse visto eu acreditaria nele”.6 Um outro missionário insiste na “falta de serie-
dade e ausência de reflexão que geralmente se encontra nesse povo (os Béchua-
nas). Nessa gente, o pensamento está, por assim dizer, morto, ou pelo menos ele
quase nunca consegue se erguer acima da terra... pessoas grosseiras que fazem de
seu ventre um deus”7. Burchell escreve a mesma coisa com relação aos Bosquíma-
nos: “As pessoas cuja mente foi aberta por uma educação europeia têm dificuldade
para entender o que elas chamariam de estupidez dos selvagens, para tudo o que
ultrapassa as ideias mais simples e as noções mais elementares, seja sob o ponto de
vista físico, seja moral. Mas o fato é este: sua vida transcorre com tão poucos inci-
dentes, suas ocupações, seus pensamentos e suas atividades são limitadas a um
3 CRANTZ, D. The History of Greenland. I, p. 135. 1767.
4 RASMUSSEN, Kn. Neue Menschen. Pp. 140-141.
5 SCHRUMPF. Missions Évangéliques. XXIII, p. 82, 1848.
6 ARBOUSSET. Ibidem, XIV, p. 57, 1839.
7 FRÉDOUX. Ibidem, XXVII, p. 250, 1852.
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número tão pequeno de objetos que, necessariamente, suas ideias são também
muito pouco numerosas e muito limitadas. Eu às vezes era obrigado a devolver à
Machunka sua liberdade, quando ele mal me havia ensinado uma dúzia de pala-
vras, porque era evidente que o esforço de atenção ou o trabalho ininterrupto da
faculdade de pensar esgotava rapidamente sua capacidade de reflexão e o tornava
realmente incapaz de se prender por muito mais tempo ao assunto. Nessas ocasi-
ões, sua desatenção e seu ar ausente mostravam que questões abstratas, mesmo as
mais simples, o reduziam rapidamente ao estado de uma criança cuja razão ainda
não havia despertado. Ele se queixava então de dor de cabeça...”8 Mas o mesmo
viajante nos diz em outro lugar, falando desses Bosquímanos: “Eles não são nem
lerdos nem estúpidos; pelo contrário, eles são muito espertos e, sobre os assuntos
que sua maneira de viver coloca no limite de sua observação e de sua compreen-
são, eles mostram geralmente penetração e sagacidade”.9
Entre eles, portanto, como entre os iroqueses, a aversão pelas operações dis-
cursivas do pensamento não provinha de uma incapacidade constitucional, mas de
um conjunto de hábitos que regiam a forma e o objeto de sua atividade mental. O
missionário Moffat, que passou longos anos na África austral e que falava corren-
temente a língua dos nativos, nos diz a mesma coisa dos hotentotes. “É extrema-
mente difícil imaginar de uma maneira exata até onde vai a ignorância, até mesmo
entre os mais esclarecidos dentre eles, sobre assuntos que são familiares aqui às
criançinhas. E, no entanto, não se pode negar, apesar das aparências gerais, que
eles raciocinam com penetração e que eles sabem observar as pessoas e os caracte-
res”.10
Outro missionário diz dos mesmos hotentotes: “Nossos amigos da Europa
achariam certamente incríveis os exemplos que poderíamos dar da lentidão mental
dessas pessoas quando se trata de pensar, de compreender e de reter. Eu mesmo,
que os conheço há tanto tempo, não consigo deixar de me surpreender quando vejo
que enorme dificuldade eles encontram para compreender as verdades mais sim-
ples e, principalmente, fazer eles mesmos um raciocínio. E como eles esquecem
rapidamente o que compreenderam”11.
O que lhes falta é concentrar sua mente sobre outros objetos além daqueles
percebidos pelos sentidos, ou de perseguir outros fins que não sejam aqueles per-
cebidos como de utilidade imediata. O Sr. Campbell, em seu pequeno tratado sobre
a vida do africano, relata o seguinte: quando lhe foi perguntado que ideia ele tinha
de Deus antes de ter recebido uma educação cristã, ele respondeu que naquela
época ele não tinha nenhuma ideia sobre este tipo de assunto, que ele não pensava
8 BURCHELL, W. J. Travels into Interior of Southern Africa. II, p. 295. A mesma coisa: “Mal co-
meçava a lhe colocar as questões sobre sua língua e ele perdia a paciência, se queixava de dor de cabeça
e mostrava que era impossível prolongar tal esforço”. SPIX und MARTIUS. Reise in Brasilien. I, p.
384.
9 Ibidem. II, pp. 54-55.
10 MOFFAT, R. Missionary Labors and Scenes in South Africa. P. 237, 1842.
11 Bertchte der Rheinischen Missiongesellschaft. 1865, p. 363.
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Lucien Lévy-Bruhl – A Mentalidade Primitiva
em nada além de seus animais. O Sr. Moffat recolheu a mesma confissão da boca
de um africano, que era um chefe nativo temido e muito inteligente.
Ao entrarem em relações com os europeus e obrigados assim a esforços de
abstração novos para eles, é natural que esses nativos da África austral tenham
procurado, instintivamente, reduzir esses esforços ao mínimo. Todas as vezes que
sua memória __ que é excelente __ pode dispensá-los de refletir e de raciocinar,
eles não deixam de empregá-la. Eis aqui um exemplo instrutivo: “O missionário
Nezel diz para Upungwane: ‘Você ouviu o sermão do último domingo. Conte-me o
que se lembra dele.’ Upungwane hesitou inicialmente, como sempre fazem os
Cafres, mas em seguida ele reproduziu palavra por palavra todas as principais
ideias. Algumas semanas depois o missionário o observou durante o sermão, apa-
rentemente totalmente desatento, ocupado em entalhar um pedaço de madeira.
Após o sermão, ele lhe perguntou: ‘O que você se lembra hoje?’ O pagão tirou
então seu pedaço de madeira e reproduziu uma ideia após outra, guiando-se pelos
entalhes”12.
Essa tendência em substituir o raciocínio pela lembrança, todas as vezes em
que isso é possível, já se manifesta nas crianças, cujos hábitos mentais se modelam
naturalmente segundo os de seus pais. Sabe-se que as crianças nativas, em todo
lugar onde os missionários conseguiram fazer com que elas vivessem em escolas,
aprendem quase tão bem e tão rapidamente quanto as crianças de nossos países,
pelo menos até certa idade, quando seu desenvolvimento se torna mais lento e
depois se interrompe.
O pastor Junod, entre os Tongas da África austral, fez o seguinte registro:
As crianças são mais eficientes quando se trata de um esforço de
memória e isso explica porque elas ficam muito mais à vontade quando
aprendem os pesos e medidas ingleses, com suas operações complica-
das de redução, do que com o sistema métrico, que parece tão mais
simples e mais racional. O sistema inglês exige que a memória conserve
muito exatamente as relações entre as diferentes medidas __ jardas,
pés, polegadas, galões, quartilhos etc. __ mas, uma vez compreendido, o
trabalho se torna puramente mecânico. É do que precisa o nativo; en-
quanto que no sistema métrico há uma ideia única que anima o todo e
seja indispensável um mínimo de raciocínio para utilizá-lo.
É precisamente a necessidade desse mínimo que explica a impo-
pularidade do sistema métrico entre os alunos nativos e a dificuldade é
decuplicada para eles quando chegam aos problemas, que devem ser
resolvidos sem que se lhes diga se é uma adição que é preciso fazer ou
uma subtração. Em seguida, a aritmética, quando é um caso de memó-
12 MOFFAT, R. Ibidem, p. 124.
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ria, lhes parece um estudo fácil e agradável. Se for preciso raciocinar, é
um trabalho penoso. 13
Um registro totalmente semelhante foi feito entre os Barotses.
É a aritmética que apaixona nossos jovens zambezianos, como os
Bassutos e, em geral, os sul-africanos. Eles não conhecem nada acima
dos números; é a ciência das ciências, o critério indiscutível de uma boa
educação. Conheceis o labirinto da aritmética inglesa, com seu sistema
arcaico, mas tão venerado, de pesos e medidas? Nossos zambezianos se
deleitam com ele. Fale-lhes de libras, centavos, pennys, onças, dracmas
etc. e seus olhos brilham, seus rostos se iluminam e num instante a ope-
ração é feita, se se tratar apenas de uma operação... É curioso como a
mais positiva das ciências pode se tornar uma mecânica admirável. So-
mente dê-lhes um problema dos mais simples, mas que demande um
pouco de raciocínio e os verá diante de um muro. “Estou derrotado!”
Dizem eles, se acreditando dispensados de todo esforço intelectual. Eu
destaco que este fato não é, de maneira alguma, característico dos zam-
bezianos.14
Entre os Namaquas, quando se trata de calcular, é extremamente
difícil fazer as crianças compreenderem qualquer coisa, enquanto que
eles se mostram ótimos para tudo o que se pode aprender mecanicamen-
te e que não exija pensar e refletir.15
Paralelamente, no Níger,
o Mossi não sabe procurar o porquê das coisas e, enquanto nos-
sas crianças são pensadoras e nos embaraçam às vezes com suas per-
guntas, um Mossi jamais se pergunta: “como isto é feito? Porque é as-
sim e não de outra forma?” A primeira resposta lhe basta.
Essa falta de reflexão é causa de seu atraso civilizatório... Donde
também sua falta de ideias. As conversas quase que só acontecem sobre
as mulheres, a alimentação e, na estação das chuvas, sobre as culturas.
Seu círculo de ideias é muito restrito, mas é suscetível de crescer, pois o
Mossi pode ser considerado como inteligente.16
13 JUNOD, H. A. The Life of a South African Tribe. II, p. 152.
14 Missions Evangéliques. LXXVI, 1, pp. 402-403, 1901. Cf. BÉGUIN. Ibidem LXXVI, p. 346,
1897
15 Berichte der Rheinischen Missiongesellschaft. P. 230, 1880. (SCHÖDER, Missionär. Reise Nach
dem Ngami-See)
16 MANGIN, Pe. Eugène P. B. Les mossi in Anthropos, X-XI, p. 325.
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