Table Of ContentCOLEÇÃO DAS OBRAS DE NELSON RODRIGUES
Coordenação de Ruy Castro
1. O casamento (romance)
2. A vida como ela é... O homem fiel e outros contos
3. O óbvio ululante: primeiras confissões (crônicas)
4. À sombra das chuteiras imortais (crônicas de futebol)
5. A coroa de orquídeas e outros contos de A vida como ela é
6. A menina sem estrela (memórias)
7. Asfalto selvagem (Engraçadinha, seus pecados e seus amores)
8. A pátria em chuteiras: novas crônicas de futebol
9. A cabra vadia: novas confissões
A edição das obras de Nelson Rodrigues
conta com o apoio da Unicamp
NELSON RODRIGUES
A CABRA VADIA
Novas confissões
Seleção:
RUY CASTRO
Copyright © 1995 by Espólio de Nelson Falcão Rodrigues
Copyright da “Apresentação” © 1995 by Ruy Castro
Capa:
João Baptista da Costa Aguiar
Foto da capa:
Folha imagem
Preparação:
Marcos Luiz Fernandes
Índice remissivo:
Caren Inoue
Revisão:
Beatriz de Cássia Mendes
Ana Maria Barbosa
Agradecemos a Christina Konder e a Maria Célia Fraga,
do Departamento de Pesquisa de O Globo,
e a Felipe Daudt de Oliveira por colaborarem
na reunião do material que resultou
neste livro
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Rodrigues, Nelson, 1912-1980.
A cabra vadia / Nelson Rodrigues ; seleção Ruy Castro. — São
Paulo ; Companhia das Letras, 1995.
ISBN 85-7164-444-6
1. Crônicas brasileiras — Século 20 I. Castro, Ruy, 1948- II.
Título.
95-0508 CDD-869.935
Índices para catálogo sistemático:
1. Crônicas : Século 20 : Literatura brasileira
869.935
2. Século 20 : Crônicas : Literatura brasileira
869.935
1995
Todos os direitos desta edição reservados à
EDITORA SCHWARCZ LTDA.
Rua Tupi, 522
01233-000 — São Paulo — SP
Telefone: (011) 826-1822
Fax: (011) 826-5523
CCCCCCCCOOOOOOOONNNNNNNNTTTTTTTTRRRRRRRRAAAAAAAA CCCCCCCCAAAAAAAAPPPPPPPPAAAAAAAA
Poucos anos neste século foram tão extraordinários quanto 1968
— e, no Brasil, nenhum escritor foi mais atento a ele do que Nelson
Rodrigues. Enquanto os jovens tomavam as ruas gritando “Muerte!” e
decapitando marias antonietas imaginárias, Nelson a tudo assistia dos
seus pontos de observação: as sacadas das avenidas, os bares dos
intelectuais, os saraus dos grã-finos. Depois, na redação, comentava o
que vira, em crônicas de implacável lucidez.
A cabra vadia é uma nova seleção das “Confissões” que Nelson
escreveu para o jornal O Globo naqueles meses fervilhantes. Em suas
oitenta crônicas, escritas enquanto o mundo parecia pegar fogo lá fora,
o ano de 1968 ressurge aos nossos olhos, vibrante e contraditório como
realmente foi.
O escritor brasileiro mais provocante de seu tempo está de volta
— para ficar. Para desgosto dos bem-pensantes e para metralhar
“certezas” tidas até então como inabaláveis.
Seleção de Ruy Castro
OOOOOOOORRRRRRRREEEEEEEELLLLLLLLHHHHHHHHAAAAAAAASSSSSSSS DDDDDDDDOOOOOOOO LLLLLLLLIIIIIIIIVVVVVVVVRRRRRRRROOOOOOOO
Nelson Rodrigues foi o nosso grande filósofo do cotidiano. É o
maior fazedor de frases que conheci. Quando releio Nelson, não me
canso de admirar sua capacidade de, com um mero adjetivo ou
expressão, chocar pelo paradoxo, ferir pela ironia, refutar pelo absurdo
ou desnudar secretas hipocrisias.
As “Confissões” de A cabra vadia foram escritas entre janeiro e
outubro de 1968. Eram marteladas datilográficas, um ganha-pão para
Nelson. Mas é extraordinário o que encerram como filosofia de vida.
Nelson investiu com a borduna da ironia contra os mitos e
modismos da época. A deificação dos jovens, por exemplo, após a
revolução estudantil de Paris. Falava-se no “poder jovem”, na “razão da
idade”. O slogan, que Sartre considerava encantador, rezava: “é proibido
proibir”... “O jovem”, chacoteava Nelson, “tem todos os defeitos de
qualquer um e mais este: a imaturidade.”
Demolia os mitos da esquerda ambivalente, que vociferava contra
a guerra do Vietnã e fechava os olhos ao estupro da Tcheco-Eslováquia
pelas tropas de Brezhnev. Com seu verbo ígneo, Nelson colocou as
esquerdas na defensiva, ridicularizando os “padres de passeata” e as
“grã-finas amantes espirituais de Guevara”. Sofreu, em troca, atroz
patrulhamento ideológico.
Percebeu, mais cedo do que muitos, a fundamental parecença
entre o nazismo e o stalinismo que, partindo de dogmas diferentes, se
aliaram na violência contra o ser humano: “Se eu apoiasse qualquer ato
de violência, da direita ou da esquerda, seria um canalha”. “Só os
profetas enxergam o óbvio”, costumava repetir Nelson. E certamente foi
um profeta. Em 1968, quando o comunismo parecia fadado a enterrar o
capitalismo decadente, Nelson proclamava, alto e bom som: “O
socialismo está apodrecendo. Isso é hoje um óbvio ululante”. Naquele
tempo, parecia um desvario alucinatório.
Aprendi com Nelson a acreditar que o Brasil jamais se salvará
pelo silogismo. Mas pode bem ser salvo pela anedota.
Roberto Campos
Nelson Rodrigues nasceu no Recife,
PE, em 1912, e morreu no Rio, em
1980. Sua obra teatral já está
consagrada, mas a maior parte de sua
produção, publicada originalmente em
jornais, é do mesmo nível. A
Companhia das Letras está editando a
obra completa de Nelson. Próximo
lançamento: O reacionário. A editora
lançou também O anjo pornográfico: a
vida de Nelson Rodrigues, por Ruy
Castro.
À memória de
Mario Filho
ÍNDICE
A “CABRA” DE VOLTA — E PARA FICAR — Ruy Castro...................11
O EX-COVARDE..............................................................................13
A FEIA NUDEZ................................................................................17
A VACA PREMIADA ........................................................................21
CAMBALHOTAS DO OTTO..............................................................25
O PALAVRÃO HUMILHADO.............................................................29
A DOENÇA INFANTIL DO PALAVRÃO..............................................33
OS FALSOS CANALHAS..................................................................37
O ANIVERSARIANTE NATO.............................................................41
VELHOS ESPARTILHOS..................................................................45
OS IDIOTAS DA OBJETIVIDADE......................................................49
TERRENO BALDIO..........................................................................53
AS BOLACHAS...............................................................................57
A FOTOGRAFIA DO ÓDIO ...............................................................61
O MENINO KENNEDY.....................................................................65
FLOR DE OBSESSÃO......................................................................69
OS DRÁCULAS...............................................................................73
ASSASSINAR O GESTO DE AMOR...................................................77
O GUARDA-CHUVA NO MUNICIPAL ................................................81
O "VELHO”.....................................................................................85
BRAVOS, BRAVÍSSIMO!..................................................................89
ALIENAÇÃO ...................................................................................93
O CACHORRO ATROPELADO..........................................................97
AOS BEIJOS E SOLUÇOS..............................................................101
FESTA DE CABEÇAS CORTADAS..................................................105
A BOFETADA ...............................................................................108
AS DUAS CABEÇAS......................................................................112
O ESQUECIDO..............................................................................116
EDUCAÇÃO SEXUAL....................................................................120
A MESSALINA GAGA ....................................................................124
OS ASSASSINADOS......................................................................128
CAÇA-NÍQUEIS.............................................................................132
DA LINHA CHINESA .....................................................................136
OS ABNEGADOS ..........................................................................140
CONTRA A VIOLÊNCIA .................................................................144
O IRMÃO ADQUIRIDO...................................................................148
VELHO MITO................................................................................152
O NEGRO AZUL............................................................................155
O BOM PADRE..............................................................................159
A MULTIDÃO AFRODISÍACA .........................................................163
A MORTE DO TEATRO..................................................................167
OS NOIVOS ..................................................................................171
A LEITORA DE MARCUSE.............................................................175
O BRASIL NAZI-STALINISTA .........................................................179
O ANTITEATRO ............................................................................183
AS CABEÇAS ROLANTES .............................................................187
A ATRIZ INTELIGENTE..................................................................191
ÓRFÃOS DE ROSAS......................................................................195
O FURIOSO NELSINHO MOTTA.....................................................199
MÃE.............................................................................................203
SOBRE VAIDADE..........................................................................207
O PAULISTA .................................................................................211
WERTHER....................................................................................215
TELEFONEMA COM SOTAQUE......................................................219
A GRATIFICAÇÃO.........................................................................223
OS DEFUNTOS LITERÁRIOS .........................................................227
O ÓPIO DAS ELITES .....................................................................231
MADRUGADA DE 13 DE JANEIRO ................................................235
OS IDIOTAS CONFESSOS .............................................................239
O APLAUSO DO ESTUPRO ............................................................243
É TRISTE SER NERUDA................................................................247
O CAFAJESTE NÃO VIAJA............................................................251
OS DOIS NAMORADOS.................................................................255
ADMIRÁVEL DEFUNTO.................................................................259
O ESPANTOSO SILÊNCIO .............................................................263
“EL ARZOBISPO DE LA REVOLUCIÓN”..........................................268
OS CENTAUROS...........................................................................272
O ÚNICO DE GAULLE ...................................................................276
HERÓI E MÁRTIR .........................................................................280