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COMEMORAÇÃO DO X ANIVERSÁRIO DA MORTE DO CAMARADA AMILCAR CABRAL
A acção armada
e os métodos
militares
Amílcar Cabral
I
DT
613.8 Proclamação da acção directa.
envolvimento da Luta de Libertação Nacional
C27
Guiné « Portuguesa», Cabo Verde, em 1963.
1988 atalha de Como e o Congresso de Cassacá.
V.17
Colecção "Cabral ka muri"
Edição do Departamento de Informação, Propaganda e Cultura do C.C. do PAIGC
SIVANDSUTOITPUrTeItONlaŞ
Amílcar Cabral
/
.
A Acção Armada
.
e os Métodos Militares
ARANJAMS
Proclamação da acção difecta.
Desenvolvimento da Luta de Libertação Nacional
na Guiné «Portuguesa», Cabo Verde, em 1963.
A batalha de Como e o Congresso de Cassacá.
«...Camaradas, eujurei a mim mesmo, nunca ninguém
me mobilizou, trabalhar para o meu povo, eujurei a mim
mesmo, que tenho que dar a minha vida, toda a minha
energia, toda a minha coragem, toda a capacidade que
posso ter como homem, até ao dia em que morrer, ao
serviço do meu povo, na Guiné e Cabo Verde. Ao serviço
da causa da humanidade, para dar a minha contribuição,
na medida do possível, para a vida do homem se tornar
melhor no mundo. Este é que é o ſeu trabalho.»
Colecção « Cabral ka muri»
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27 MFWD ITEMS
IT
Título:A AcçãoArmadaeosMétodosMilitares
Edição do Departamento de Informação, Propagandae Cultura do C.C. do PAIGC
Execução gráfica da Editorial «Avante!»,SARL, Portugal, 1988
Impressãoeacabamento: Guide - Artes Gráficas, Lda.
Tiragem: 3000 exemplares
PROCLAMAÇÃO
DA ACÇÃO DIRECTA
No dia 3 de Agosto de 1959, oscolonialistas portuguesesmassa
craram em Bissau 50 trabalhadores africanos em greve. Na época da
descolonização, foi a primeira repressão brutal praticada pelos colo
nialistas portugueses contra os patriotas dos nossos países.
No dia 3 de Agosto de 1960, um diade solidariedade paracom os
patriotas das colónias portuguesas, foi celebrado por todos os povos
amantes da paz e da liberdade. Foi uma condenação unânime do
colonialismo português e uma prova de solidariedade para com os
nossos povos em luta.
No dia 3 de Agosto de 1961, em face da posição ferozmente
negativa do governo português que se recusa a adoptar uma solu
ção pacífica para a liquidação da dominação colonial nos nossos
países:
CONSIDERANDO a firme vontade dos nossos povos de se liber
tarem do jugo colonial, quaisquer que sejam os meios necessários;
CONSIDERANDOqueesta libertaçãodeve ser realizada urgente
mente, e que os nossos povos estão prontos a realizá-la;
CONSIDERANDO as condições particularmente difíceis que
defrontam os nossos povos na luta contra o colonialismo português;
CONSIDERANDO a necessidade de evitar novas guerras colo
niais em África e de preservar a paz mundial;
O PARTIDO AFRICANO DA INDEPENDÊNCIA,
PROCLAMA o dia 3 de Agosto de 1961 dia da passagem da
nossa revolução nacional da fase da luta política à da insurreição
nacional, à acção directa contra as forças colonialistas;
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DECLARAquetodosos seus militantesequadrosestãomobiliza
dos para a acção directa na luta de libertação nacional;
CONVIDAtodas as organizações nacionalistasdosnossospaíses
a melhorar a sua organização, a reforçara sua preparação para a luta
de libertação da Guiné e de Cabo Verde e acoordenarasuaacção na
Frente Unida de Libertação da Guiné «portuguesa» e de Cabo Verde
(F.U.L.);
REAFIRMA a solidariedade activa dos nossos povos para com o
povo de Angola em luta;
REAFIRMA a vontade dos nossos povos de procurar a todo o
momento, por viade negociação, uma solução pacíficadoconflito que
os opõe ao governo português, de acordocomoseu direito inalienável
à autodeterminação e à independência nacional;
FAZ APELO atodos os povos amantes da paz e da liberdade, em
particular aos povos africanos e asiáticos para que dêem uma ajuda
concreta e imediata aos nossos povos em luta contra a dominação
estrangeira.
AVANTE NA NOSSA LUTA DE LIBERTAÇÃO!
ABAIXO O COLONIALISMO PORTUGUÊS !
Conakry. 3 de Agosto de 1961.
O Secretario-Geral do PAIGC.
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O DESENVOLVIMENTO DA LUTA
DE LIBERTAÇÃO NACIONAL
NA GUINÉ «PORTUGUESA»
E CABO VERDE EM 1963
« O ano de 1963 ficará na história do nosso povo como o do
começo da nossa luta armada contra as forças colonialistasportugue
sas. Com efeito, foi emJaneirodesseanoque, estandopreenchidasas
condições essenciais a uma mudança radical da nossa luta, os nossos
combatentes, apoiados pelo nosso povo, desencadearam a acção
armada no Sul e no Centro -Sul do país.
«A acção directa, especialmente a sabotagem económica e das
vias de comunicação, decretado pelo nosso Partido em Agosto de
1961 , tinha dado os melhores frutos. Paralisámos, no essencial, a
exploração económica do nosso povo, criamos uma insegurança
permanenteàsdeslocaçõesdastropasinimigas,eliminámosoimposto
colonial em vastas extensões do país e castigamos com justiça os
africanos servidores dos colonialistas. Entretanto, reforçámos a nossa
organização e a influência do Partido no seio das massas populares,
melhorámos a preparação dos nossos combatentes e instalámos as
bases dos « guerrilha», necessárias aodesenvolvimento da nossa luta.
Além disso, por meio de acções audaciosas, os nossos combatentes
conseguiram apoderar-se de quantidades importantes de material de
guerra do inimigo.
Alarmadas perante a intensificação da nossa acção,as forças
portuguesas desencadearam então em todo o país, massobretudo no
Sul, a mais violenta repressão militarepolicial contraas nossas popu
- lações, principalmente contra todos os suspeitos de pertencerem ao
nosso Partido. Elesaprisionaram,torturaram eassassinarampatriotas,
massacraram populações sem defesa e incendiaram as tabancas.
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Tendo reforçado as suas tropas e satisfeitos dos resultados dos
seus crimes, os colonialistas portugueses acreditaram ter parado a
nossa luta. Para assegurar estes resultados que, apesar de tudo eles
sabiam muito precários, tentaram desenvolver a sua “ campanha
psico-social” e recorreram a todos os meios de propaganda e de
suborno, com vistas a desmobilizar o nosso povo.
« Vindos das florestas, das zonas pantanosas e das tabancas
distantes, surgiram então os combatentes do nosso Partido. Não
vinham mais com as mãos vazias. Vinham armados com material
eficiente, com uma coragem e uma disciplina a toda a prova, assim
como do conhecimento das condições concretas e dos objectivos da
nossa luta e, como sempre, com o apoio incondicional do nosso povo.
«Fizemos saltarpontes,jangadas ecomboiosdecarrosportugue
ses. Atacamos patrulhas, destacamentose casernas, pusemosforade
combate mais de um milhar de soldados e oficiais, mortos ou feridos.
Tendo derrotado o inimigo no decorrer de todos os encontros,
apoderámo-nos dos principais barcosa motordetransportedemerca
dorias, liquidando assim a exploração colonial sobre vastas extensões
do país. Apoderamo-nos do controlo das estradas e isolámos os cen
tros urbanos onde o inimigo tinha as suas casernas.
«As tropas portuguesas, surpreendidas e desorientadas pela efi
e
cácia da nossa acção, foram forçadas a bater em retirada, depois de
ter sofrido pesadas perdas, para se acantonarem em alguns centros
urbanos do Sul e do Centro -Suldo país. Aocabodecercade6anosde
luta armada, todas as regiões ao sul do Geba e do Corubal foram
libertadas. O próprio governo português foi forçado a reconhecer,pela
voz do seu ministro da Defesa Nacional, que os nossos combatentes
ocupavam e controlavam uma parte considerável do território nacional
que ele modestamente calculava em cerca de 15%.
«Esta declaração do ministro português foi feita pouco depois do
começo da nossa acção armada nas regiões Norte e Leste do país.
Com efeito, tendovencidotanto algumasdificuldadesdetransporte de
material como a vigilância portuguesa ao longo do Geba, nós conse
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guimos reforçar os meios materiais de luta dos nossos combatentes
nestas regiões e desencadear uma acção vitoriosa, dando assim um
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passo decisivo para o desenvolvimento do nosso combate. Com as
experiências adquiridas na luta ao Sul do país e aplicando consequen
temente a estratégia definida pelo nosso Partido, os nossos combaten
tes derrotaram as tropas portuguesas infligindo-lhes baixas considerá
veis, libertaram todaazona daflorestade Oioe dominaram totalmente
o triângulo das estradas Mansoa-Mansabá-Bissorā, desorganizando,
assim, o sistema da comunicação entre Bissau e o interior do país.
« O desencadeamento da luta armada no norte do Geba e a
instalação da “ guerrilha” na região ocidental do país (zona do Binar
-Bula) asseguraram definitivamente o sucesso da marcha do nosso
combate e criaram ao inimigo, em todas as suas bases, mesmo em
Bissau, a capital, umasituaçãode insegurança permanente. A recente
decisão de cercar esta cidadecom arame farpado electrificado é uma
prova disso.
« Contudo, enquanto a nossa acção se estendia a todo o país,
reforçámos as nossas posições nas regiões libertadas, ondemelhora
mos a organização política e começamos o estabelecimento duma
nova estrutura económica. Apesar dos esforços empregados pelo ini
migo com vistas a aniquilar as nossas populações e a destruir os
nossos bens materiais por meio de bombardeamento aéreo destas
regiões, conseguimos mantero nívelda produção agrícola, oqual áliás
aumentou em certas zonas, sobretudo no que respeita às culturas
alimentares.
« No plano internacional e, em particular, no plano africano, a
realidade da nossa luta e do seu alto nível de eficácia impôs-se
definitivamente. O eco da nossa acção vitoriosa estendeu-se a todo o
mundo e anulou por toda a parte as manobras do inimigo do nosso
povo. O nosso Partido viu reforçada, tanto no seio da opinião mundial
como nos países africanos, a sua posição, a partir de então evidente,
como sendo a organização de unidade e de luta do nosso povo. Em
consequênciadas decisões tomadas peloschefes de Estado africanos
na histórica Conferência de Adis-Abeba e tendo em conta a reali
dade do nosso combate, alguns países irmãos da África, e as organi
zações anticolonialistas, reforçaram o seu apoio à nossa luta de
libertação.
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« O nosso país tornou-se,como o disse um jornalistado Times de
Londres, numa feliz expressão, " o calcanhar de Aquiles da política
colonial portuguesa",
«Desesperados perante as vitórias alcançadas pelo nosso povo
tanto no interior do país como no planoexterior, os colonialistas portu
gueses enviaram para a Guiné grandes reforçosde material deguerra
e de soldados, cujos efectivossãoactualmentedaordemdos 18000a
20 000 homens (cerca de 1000 em 1959, 5000 em 1961, 10 000 em
1962). Recorreram então intensivamente aos únicos meios ao seu
alcance para tentardetera nossa luta: os bombardeamentosmassivos
das nossas tabancas e das nossas populações, sobretudo com as
bombas napalm, e as tentativas de ataques às nossas posições, a
partir de unidades navais colocadas nos braços de mare nos rios das
regiões litoriais. Mais de uma centena de tabancas foram destruídas
(total ou parcialmente) pelos bombardeamentos aéreos que fizeram
vítimas inocentes, de que amaioria éconstituída por velhos,mulheres
e crianças.
« Em resposta a esta acção criminosa, danificámos diversos
aeródromos militares no interior do país, abatemos uma grande parte
da frota aérea inimiga. Fizemos fracassar as tentativas de desembar
que inimigo nas regiõeseilhaslibertadaseafundámosdiversosbarcos
e vedetas portuguesas.
« Contudo, a virilidade do nosso combate e a consciência política
do nosso povo, apoiada por umatomada de posiçãosem equivoco da
parte dos Estados africanos, reduziram a cinzas as manobras políticas
de diversão efectuadas pelo governo português. Nem a criação de
movimentos fantoches no exterior, nem a designação "reformista"
dum traidor africano para o posto de secretário-geral do nosso país,
nem ainda as “manifestações de boa vontade" naONU, conseguiram
desmobilizar o nosso povo ou diminuir a solidariedade africana e
internacional à nossa luta e ao nosso Partido.
« Acantonados em alguns centros importantes das regiões liberta
das, ou constantemente perturbadas pela acção dos nossos comba
tentes, as tropas portuguesas no seiodas quais são notóriasa desmo
ralização e o espírito de deserção defrontam conflitos internos cada
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