Table Of ContentUm paradigma no céu
Platão político, de Aristóteles
ao século xx
Coleção
As origens do pensamento ocidental
Direção
Gabriele Cornelli
Conselho Editorial:
André Leonardo Chevitarese
Delfim Leão
Fernando Santoro
A coleção Archai é espelho do trabalho do grupo Archai: as origens do pensamen-
to ocidental. Há quase dez anos, desde 2001, o grupo Archai promove investiga-
ções, organiza seminários e publicações (entre eles a revista Archai) com o intuito
de estabelecer uma metodologia de trabalho e de constituir um espaço interdisci-
plinar de reflexão filosófica sobre as origens do pensamento ocidental. A presente
coleção¹ quer contribuir para a divulgação no Brasil de produções editoriais que
busquem compreender, a partir de uma perspectiva cultural mais ampla, nossas
origens. Nesse sentido, visando uma apreensão rigorosa do processo de formação
da filosofia, e, de modo mais amplo, do pensamento ocidental, as obras que aqui
são apresentadas procuram confrontar uma tradição excessivamente presentista
de contar a história do processo de formação da cultura ocidental. Notadamente
daquela que pensa a filosofia como um saber “estanque”, independente das condi-
ções de possibilidade históricas que permitiram a aparição desse tipo de discurso.
Enraizando o “nascimento da filosofia” na cultura antiga, contrapondo-se às lições
de uma historiografia filosófica racionalista que, anacronicamente, projeta sobre
o contexto grego valores e procedimentos de uma razão instrumental estranha
às múltiplas formas do logos antigo, a coleção Archai pretende contribuir para
o lançamento de um olhar novo sobre os primórdios do pensamento ocidental,
em busca de novos caminhos hermenêuticos de nossas identidades intelectuais,
éticas, artísticas e culturais.
Conheça os títulos desta coleção no final do livro.
Um paradigma no céu
Platão político, de Aristóteles
ao século xx
3
M V
ario egetti
Tradução de
Maria da Graça GoMes de Pina
Infothes Informação e Tesauro
V51 Vegetti, Mario.
Um paradigma no céu: Platão político, de Aristóteles ao século XX. /
Mario Vegetti. Tradução de Maria da Graça Gomes de Pina. Apresentação de
Mauricio Marsola. – São Paulo: Annablume, 2010. (Coleção Archai: as origens
do pensamento ocidental, 4).
300 p.; 14 x 21 cm
Tradução do Original : VEGETTI, Mario. “Un paradigma in cielo”: Platone politi-
co da Aristotele al Novecento. Roma: Carocci, 2009.
ISBN 978-85-391-0153-5
1. Filosofia. 2. História da Filosofia. 3. Filosofia Antiga. 4. Platão
(428 - 347 a.C.). 5. Platonismo. 6. Pensamento Platônico. I. Título. II. Série. III. Pina,
Maria da Graça Gomes de, Tradutora. IV. Marsola, Mauricio.
CDU 101
CDD 100
Catalogação elaborada por Wanda Lucia Schmidt – CRB-8-1922
UM PARADIGMA NO CÉU
Platão político, de Aristóteles ao século XX
Projeto, Produção e Capa: Coletivo Gráfico Annablume
Tradução: Maria da Graça Gomes de Pina
Revisão: Ivan Antunes
Annablume Clássica
Conselho editorial
Gabriele Cornelli
Luiz Armando Bagolin
Mário Henrique D´Agostino
Editor executivo
José Roberto Barreto Lins
A presente obra contou com o apoio do Grupo Archai: as origens do pensamento
ocidental - Universidade de Brasília (www.archai.unb.br) e da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
1ª edição: setembro de 2010
© Mario Vegetti
ANNABLUME editora . comunicação
Rua M.M.D.C., 217 . Butantã
05510-021 . São Paulo . SP . Brasil
Tel. e Fax. (011) 3539-0226 – Televendas 3539-0225
www.annablume.com.br
SUMÁRIO
aPresentação 09
PreMissa 21
1. Platão Político 25
os textos 25
a bioGrafia 27
o que siGnifica “Política” eM Platão? 32
nota biblioGráfica 41
2. nas oriGens da interPretação 43
aristóteles: o cânone da crítica Política 43
Proclo: a herMenêutica da desPolitização 56
idade Média e renasciMento:
da aleGoria à teoloGia 61
nota biblioGráfica 66
3. os ParadiGMas da Modernidade 67
Kant: os ideais da razão 67
heGel: o “esPírito do teMPo” 73
entre Kant e heGel: liberalisMo e
socialisMo 82
Os grandes histOriadOres: Zeller, grOte,
gOmperZ 82
platãO “sOcialista”: pöhlmann e natOrp 96
nota biblioGráfica 108
4. do terceiro huManisMo ao Platão “nazi” 111
“sob a bandeira de Platão”: WilaMoWitz,
JaeGer, stenzel 111
a usurPação nazi de Platão 124
nota biblioGráfica 139
5. Platão no ocidente entre as duas Guerras:
frança, itália, inGlaterra 143
Platão Político eM frança 143
católicos e liberais na itália fascista 148
eM terra liberal-deMocrata 160
e os bolcheviques? 170
nota biblioGráfica 172
6. historicisMo e enGenharia social:
o Platão de PoPPer 175
Por quê Platão? 175
diaGnósticos e teraPias 177
Platão e o historicisMo reGressivo 179
a enGenharia social utóPica 184
dePois de PoPPer 187
nota biblioGráfica 191
7. defender Platão de PoPPer
(ou de si MesMo?) 193
Platão liberal-deMocrata 195
Platão utóPico 205
Platão irônico 207
irOnia 216
erOs 220
FilOsOFia e pOlítica 222
nota biblioGráfica 227
8. Platão seM Política 231
Platão iMPolítico 231
KatOiKiZein 240
a questão da carta Vii 244
uMa réPlica aléM do Muro:
o streit um platOn na ddr 249
nota biblioGráfica 253
9. a questão da utoPia 257
utoPias de evasão 257
utoPia de reconstrução 259
da utoPia ProJetual à teoria norMativa 262
nota biblioGráfica 268
10. Platão Político, hoJe 271
a PolisseMia Platônica 271
o excesso herMenêutico 274
o que sobra? 276
nota biblioGráfica 283
índice dos noMes 285
APRESENTAÇÃO
1. Em República IX 592b1, após um longo desenvol-
vimento dialógico que visava construir a “bela cidade”
com a finalidade de definir a ideia de justiça, Sócrates
diz que tal cidade jamais existiu, mas que consiste em
um “paradigma no céu” a ser contemplado. A passagem
consiste em um dos pontos mais discutidos do diálogo
platônico, e Mario Vegetti emprega como motivo para
sua obra acerca da história das interpretações do pensa-
mento político de Platão, notadamente da República,
que compreende vinte e quatro séculos.
A obra nasce como um dos resultados que se acres-
centaram à empresa do monumental comentário da
República dirigido por Vegetti, publicada em 7 volu-
mes pela editora napolitana Bibliopolis entre os anos
de 1996 e 2007. Vegetti havia dedicado-se a outros
aspectos do pensamento platônico ao longo de diver-
sos estudos, podendo ainda ser destacados os volumes
L’etica degli antichi (Bari, Laterza, 1989), Quindici lezioni
su Platone (Torino, Einaudi, 2003), bem como o guia
esquemático à leitura da República (Guida alla lettura
della Repubblica di Platone. Bari, Laterza, 1999).
Basta uma primeira leitura da República para que
o leitor veja-se envolto no universo de uma plurali-
dade de teses, opiniões e questões que não permitem
uma síntese sem ocultar algum aspecto da obra. As
dynameis inscritas em cada página da obra platônica
serão mostradas pela multiplicidade de interpretações
de seu aspecto político. Sabemos que somente por
abstração podemos separar a reflexão platônica acerca
da política daquela acerca do conhecimento, da mo-
ral, da psicologia, da cosmologia, de modo que não
há uma obra que o filósofo dedica exclusivamente ao
que hoje denominamos política, sendo que o sentido
de “as coisas políticas” (tà politikà) possui um sentido
diverso daquele que hoje conferimos à política, ao di-
zermos “filosofia política”.
Após traçar alguns comentários acerca da vocação
política de Platão, tal como descrita na Carta VII, e de
apresentar as grandes linhas da República, Vegetti ad-
verte o leitor de que é precisamente o eixo da política,
sempre vinculada ao discurso sobre o ser e o conhecer,
que motivará sua plurissecular tradição interpretativa.
Tal unidade entre os diversos aspectos do pensamento
platônico será tratada por Vegetti nos termos do triân-
gulo ser, verdade, valor, cuja primeira grande disjunção
será operada por Aristóteles no livro II da Política. Na
crítica aristotélica podem ser notados os elementos
que constituirão os pontos mais polêmicos para toda a
tradição, particularmente os conteúdos dos livros IV
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