Table Of ContentPara bons entendedores, meias palavras não bastam. Ouvimos e F
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reouvimos, e jamais ouvimos a mesma coisa. Lemos e relemos, e sem-
pre relemos de outra forma. Nessa salutar espiral que tipifica nosso M
transgresso, é preciso arriscar. Instigar o pensamento e lançar dados e
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fazem parte do ouviver especulativo, opondo-nos à facilidade e superfi- e
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E estes ensaios reunidos são isso: esboçam, mas também provocam, s
insistem em ideias sobre as quais já falei antes, porém – como haveria
de ser – de outras formas, algumas delas ainda relutantes para quem as
lê e talvez para mim mesmo, provam hipóteses suspeitas e manifestam
firmes convicções, doam a quem doer. São análises de ideia e de obras
e, como toda análise, perfazem riscos no itinerário da mão sobre o
papel, quer seja do esboço teórico, quer seja de uma partitura, nossa
ou de outros.
Há ensaios bem-acabados, mas também os inacabados. Ideias que
relanço. E análises, bem acabadas ou em rabiscos. Erros e acertos muti-
lados pela caneta ou borrados pelo lápis. Flo Menezes
Flo Menezes é professor titular da Universidade Estadual Paulista (Unesp) na área da Composição Eletroacústica. Possui R Flo Menezes
graduação (1985) em Composição pela Universidade de São Paulo, mestrado (1989) em Elektronische Komposition i
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pela Musikhochschule-Köln, Alemanha, e doutorado (1992) em Arts et Sciences de la Musique pela Université de Liège,
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Bélgica. É professor no Departamento de Música do Instituto de Artes da Unesp e atua como compositor e professor
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visitante junto a diversas instituições europeias e norte-americanas.
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Ensaios – Repetições – Provas
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Riscos sobre música: ensaios – repetições – provas
Flo Menezes
SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros
MENEZES, F. Riscos sobre música: ensaios – repetições – provas [online]. São Paulo: Editora
UNESP, 2018, 417 p. ISBN: 978-85-95462-88-5. https://doi.org/10.7476/9788595462885.
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ISCOS SOBRE MÚSICA
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Anderson Nobara
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FLO MENEZES
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ISCOS SOBRE MÚSICA
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NSAIOS EPETIÇÕES ROVAS
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
de acordo com ISBD
M543r
Menezes, Flo
Riscos sobre música: ensaios – repetições – provas / Flo Menezes. –
São Paulo: Editora Unesp Digital, 2018.
Inclui índice e bibliografia
ISBN: 978-85-9546-288-5 (eBook)
1. Artes. 2. Música. 3 Musicologia. 4. Princípios e formas. I. Título.
2018-651 CDD: 780
CDU: 78
Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva – CRB-8/9410
Índice para catálogo sistemático:
1. Artes: Música 780
2. Artes: Música 78
Este livro é publicado pelo projeto Edição de Textos de Docentes e
Pós-Graduados da UNESP – Pró-Reitoria de Pós-Graduação
da UNESP (PROPG) / Fundação Editora da UNESP (FEU)
Editora afiliada:
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UMÁRIO
Apresentação 7
ENSAIOS
Dos ouvidos para cima 13
O blefe de Beethoven ((psic)análise da
Nona sinfonia) 39
Stockhausen permanece 53
Adorno e o paradoxo da música radical 73
Transgresso e intertensão: cinco fragmentos para o
entendimento de uma transmodernidade 97
senha e contrassenha 111
Arnold Schoenberg e a hegemonia do pensado 123
Suma teleológica da composição musical: por uma
breve sociologia da recomposição 151
A inversão das distâncias: do som do corpo ao
corpo do som 165
Gilberto, persona gratíssima 185
frasesdefeito 197
REPETIÇÕES
Odisseia eletroacústica (entrevista a Humberto
Pereira da Silva) 205
“Mistérios ainda não são milagres”: diálogo com
Ralph Paland 219
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PROVAS
Periodicidade e direcionalidade na micro e na
macroestrutura de Pulsares (1998-2000) 279
Espacialidade espectral e harmônica do Oratório: uma
análise de labORAtorio (1991; 1995; 2003) 343
As três paixões dos três tempos: ensaio sobre Retrato
falado das paixões (2007-2008) 393
Referências 401
Índice onomástico 409
Índice remissivo 415
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PRESENTAÇÃO
Para bons entendedores, meias palavras não bastam. Ouvimos e reouvi-
mos, e jamais ouvimos a mesma coisa. Lemos e relemos, e sempre relemos
de outra forma. Nessa salutar espiral que tipifica nosso transgresso, é preciso
arriscar. Na pasmaceira costumeira que assola a música brasileira, dominada
por crossovers, mentalidades nacionalistas e por um assédio avassalador da
cada vez mais rasa música popular mercadológica, instigar o pensamento e
lançar dados fazem parte do ouviver especulativo, opondo-nos à facilidade e
superficialidade reinante. Sintomaticamente, e na contramão do que deseja
nossas sociedades tardo-capitalistas, a música radical, mesmo aquela pré-
-composta em estúdio, necessita de ser ensaiada, repetida, provada, em uma
palavra: refletida. Assim como um texto. E também aqui se manifestam sin-
tomas: ensaios musicais, em outras línguas, requerem outros substantivos
que, vertidos para o português, nos sugerem interessantes conotações:
• em português mesmo: confundem-se com peças literárias ou teóricas
em prosa;
• em francês: evocam a iteratividade das ideias e fatos – répétitions –, em
insistência e revolução permanentes;
• em alemão: colocam na parede qualquer presumível assunção – Pro-
ben –, pondo-a a toda prova.
Sintomático era também o sentimento, por exemplo, de um Stravinsky,
que preferia os extensos momentos da concepção ao efêmero da perfor-
mance. Nos tempos atuais, dominados pela fragmentação da internet que,
a despeito de todas as suas qualidades, desprestigia a extensão reflexiva
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imprescindível a todo saber, Stravinsky não seria o músico moderno que foi:
seria mais um militante de nossa resistência. Já o músico intérprete, este
nunca sabe o que é mais necessário ou mesmo prazeroso: se os ensaios que
precedem a execução de uma obra, ou se a própria performance. Nesta, a
interlocução é mais completa, pois que diante de um público; naqueles, a
interlocução é mais profunda, questionadora, porque investigativa, com-
partilhada nos ínfimos detalhes com os companheiros de viagem ou com
o legado em que consiste a partitura. Mas de toda forma, concebendo-se,
pondo-se em xeque cada gesto interpretativo, ou à prova o resultado de
todos os gestos, arrisca-se o tempo todo.
E estes ensaios reunidos são isso: esboçam, mas também provocam, insis-
tem em ideias sobre as quais já falei antes, porém – como haveria de ser – de
outras formas, algumas delas ainda relutantes para quem as lê e talvez para
mim mesmo, provam hipóteses suspeitas e manifestam firmes convicções,
doam a quem doer. São análises de ideias e de obras e, como toda análise,
perfazem riscos no itinerário da mão sobre o papel, quer seja do esboço teó-
rico, quer seja de uma partitura, nossa ou de outros.1
De uns tempos para cá, a musicologia internacional tem conferido cada
vez maior peso aos esboços que deram origem às obras, e isto a ponto de ser
batizada de “musicologia genética”. Mas os riscos e rabiscos em que consis-
tem os esboços não se restringem à composição. O gene do pensamento e da
investigação é a rasura – mistura de curiosidade e admiração.
Assim é que, em meio aos ensaios, há também análises-esboço. E nesse
sentido, há aqui muito de inacabado, possivelmente daqueles inacabados
que não precisam encontrar um fim preciso, aos moldes – com perdão da
comparação – da Oitava de Schubert, ou da Décima de Mahler, ou mesmo
do Requiem de Mozart, de Jakobsleiter de Schoenberg... Liturgias que itera-
mos, como todo mito, rito ou assunto, sem jamais pôr neles uma pedra final.
Mas de tudo que está aqui assino embaixo. Ensaiar, insistir ou mesmo
provar é da responsabilidade de quem lança as ideias, como se fossem dados,
criando-as ou as interpretando, dando a cara a tapa. Os resultados não per-
tencerão só a mim: colhem-nos aqueles que assim o desejem. Aos que os
1 Para download dos exemplos sonoros indicados ao longo deste livro, acesse <http://www.
flomenezes.mus.br/flomenezes/index_flomenezes.html>, depois acesse “Books and articles”,
e lá, a referência a esta publicação.
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