Table Of ContentEscola de Sociologia e Políticas Públicas
O Recurso às Medicinas Complementares e Alternativas:
padrões sociais e trajetórias terapêuticas
Elsa Pegado
Tese especialmente elaborada para obtenção do grau de
Doutor em Sociologia
Orientador:
Doutor António Firmino da Costa, Professor Catedrático
ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa
Março, 2017
Escola de Sociologia e Políticas Públicas
O Recurso às Medicinas Complementares e Alternativas:
padrões sociais e trajetórias terapêuticas
Elsa Pegado
Tese especialmente elaborada para obtenção do grau de Doutor em Sociologia
Júri
Doutor Alan David Stoleroff, Professor Associado do ISCTE - Instituto Universitário de
Lisboa (Presidente)
Doutora Noémia da Glória Mendes Lopes, Professora Associada do Instituto Superior
de Ciências da Saúde Egas Moniz
Doutor David Miguel de Oliveira Cabral Tavares, Professor-Coordenador da Escola
Superior de Tecnologias da Saúde de Lisboa
Doutora Amélia Maria Cavaca Augusto, Professora Auxiliar do Departamento de
Sociologia da Universidade da Beira Interior
Doutora Graça Maria Gouveia da Silva Carapinheiro, Professora Catedrática do ISCTE
- Instituto Universitário de Lisboa
Doutor António Manuel Hipólito Firmino da Costa, Professor Catedrático do ISCTE -
Instituto Universitário de Lisboa (Orientador)
Março, 2017
Agradecimentos
Quero agradecer a um conjunto de pessoas que, não só ao longo dos anos de realização da
presente tese, mas também tantos anos antes, fizeram com que eu conseguisse cumprir
esta etapa rodeada de amizade, apoio e sabedoria.
Em termos institucionais, agradeço ao CIES - Centro de Investigação e Estudos de
Sociologia. Além das condições de acolhimento e de todo o apoio prestado durante a tese,
foi aí que iniciei o meu percurso de investigação e que participei, ao longo de mais de 20
anos, em muitos projetos de pesquisa que, uns de forma mais direta, outros mais indireta,
contribuíram para o trabalho que agora apresento. Agradeço ainda à FCT – Fundação para
a Ciência e Tecnologia, a bolsa de doutoramento que me foi concedida.
Boa parte dos dados empíricos que sustentam esta tese resulta do projeto
“Medicamentos e Pluralismo Terapêutico: consumos, lógicas e racionalidades sociais”, que
integrei como investigadora, em 2008. Agradeço à Noémia Lopes, coordenadora do projeto,
não só a possibilidade de utilização dos dados, mas sobretudo as reflexões e discussões
teóricas e metodológicas, que me permitiram explorar e consolidar um domínio de
investigação que tinha encetado uns anos atrás, a sociologia da saúde. O agradecimento é
extensível aos colegas dessa equipa de investigação, Telmo Clamote, Hélder Raposo e
Carla Rodrigues. Ao Telmo, em particular, agradeço a leitura e a discussão sobre conteúdos
parcelares da tese.
Ao meu orientador, colega e amigo António Firmino da Costa, agradeço o seu apoio
e incentivo constantes. Ao longo de muitos anos, tive o privilégio de com ele trabalhar e
aprender em vários projetos de investigação. Durante a realização desta tese, agradeço a
disponibilidade, o acompanhamento próximo, os comentários, as reflexões conjuntas, a
partilha de conhecimento. Um agradecimento especial pela confiança que depositou em
mim e os incentivos para continuar, mesmo nos meus momentos de encruzilhadas pessoais
e profissionais.
Agradeço aos meus dois amigos sociólogos mais antigos, com quem partilho alegrias
e tristezas, dentro e fora da academia. Sobretudo pela amizade diariamente manifestada,
mas também pelos seus contributos específicos para esta tese. À Sandra Palma Saleiro,
que se disponibilizou para ler integral e minuciosamente o texto, pela sua revisão atenta e
úteis sugestões. Ao Vítor Sérgio Ferreira, pelos seus conselhos sábios e pragmáticos.
A outras amigas e colegas do CIES – Sandra Mateus, Patrícia Amaral, Cristina
Conceição, Rosário Mauritti, Susana Martins e Patrícia Ávila - agradeço a amizade e o
encorajamento, tão importantes para mim.
E tudo, agradeço tudo às minhas filhas, Teresa e Joana, ao meu pai, Rogério, à
minha mãe, Natividade, e à minha irmã, Graça. É também por eles que cheguei aqui.
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Resumo
O Recurso às Medicinas Complementares e Alternativas: padrões sociais e trajetórias
terapêuticas
Esta tese desenvolve-se em torno da temática das medicinas complementares e alternativas
(MCA) em Portugal, mais concretamente sobre o recurso dos indivíduos às respetivas
terapias. Por MCA entendemos um conjunto diversificado de terapias ou práticas
terapêuticas que têm em comum o facto de se demarcarem da chamada medicina
convencional e de proclamarem a posse de um corpo de saberes mais ou menos
sistematizado sobre a saúde e a doença orientador das práticas terapêuticas. Embora
tenham vindo a assumir, nas últimas décadas, uma visibilidade social crescente, em
Portugal o conhecimento sociológico sobre a matéria é escasso. Os resultados da pesquisa
contribuem para o avanço desse conhecimento em três níveis. Primeiro, a reconstituição do
contexto em que a procura das MCA ocorre, isto é, como se estrutura o campo no país, em
termos de regulamentação, oferta de cuidados terapêuticos, ensino e formação. Segundo, a
caracterização das regularidades sociais na utilização destas medicinas, através de uma
sociografia dos utilizadores e da exploração dos padrões sociais de recurso. Terceiro, a
demonstração da diversidade de práticas e lógicas sociais no envolvimento com as MCA,
através da construção de uma tipologia de quatro modos de relação com as MCA –
convicção, ecletismo, experimentalismo e complacência –, constituídos ao longo de
trajetórias terapêuticas também diversas. Adotámos uma estratégia de investigação
plurimetodológica, que combinou procedimentos de tipo extensivo-quantitativo com
procedimentos de tipo intensivo-qualitativo, designadamente: análise documental; inquéritos
por questionário e entrevistas semi-diretivas.
Palavras-chave: Medicinas Complementares e Alternativas; Saúde; Medicina; Trajetórias
terapêuticas
iii
Abstract
The use of Complementary and Alternative Medicine: social patterns and therapeutic
trajectories
This thesis is built upon the topic of complementary and alternative medicine (CAM) in
Portugal, more specifically about how individuals make use of these therapies. CAM means
a diverse set of therapies or therapeutic practices, sharing the fact they are distinct from
conventional medicine and claim the ownership of a knowledge more or less systematized
about health and disease which guides therapeutic practices. Although it has been gaining
growing social visibility in the last decades, in Portugal sociological knowledge about it is still
scarce. The research results help in the progress of that knowledge on three levels. In the
first place, reconstituting the context where the search for CAM occurs, in other words, how
the field is structured in our country in terms of regulation, therapeutic health care supply,
teaching and training. Secondly, characterizing social regularities when using CAM, through
a sociography of users and an analysis of social patterns of use. Third, putting in evidence
the diversity of social practices and logics that features the involvement with CAM, by
conceiving a typology which integrates four modes of relation to CAM – conviction,
eclecticism, experimentalism, and complacency –, made up throughout therapeutic
trajectories also diverse. We have adopted a mixed-method approach which has combined
quantitative and qualitative techniques, namely: documental analysis, questionnaire surveys
and in-depth interviews.
Keywords: Complementary and Alternative Medicine; Health; Medicine; Therapeutic
Trajectories
iv
Índice
Índice de Quadros e Figuras .................................................................................................................... vii
Introdução ..................................................................................................................................................... 1
Construindo um objeto de pesquisa .................................................................................................... 1
Dimensões de análise ......................................................................................................................... 6
Metodologia ......................................................................................................................................... 7
Estrutura da tese ............................................................................................................................... 13
Capítulo 1
Designações, definições e demarcações nas Medicinas Complementares e Alternativas:
simbologias e estratégias ........................................................................................................................ 17
1.1. O que cabe dentro das Medicinas Complementares e Alternativas? ........................................ 17
1.2. Designações e significados sociais ............................................................................................ 24
1.3. Fronteiras e demarcações .......................................................................................................... 33
Capítulo 2
Sistemas terapêuticos na modernidade: da hegemonia da biomedicina à (re)emergência das
Medicinas Complementares e Alternativas ........................................................................................... 39
2.1. A constituição da medicina moderna e a marginalização das Medicinas Complementares e
Alternativas ........................................................................................................................................ 39
2.2. A (re)emergência das Medicinas Complementares e Alternativas ............................................ 46
2.3. Medicina convencional e Medicinas Complementares e Alternativas: fronteiras, trocas e
confluências ....................................................................................................................................... 50
Capítulo 3
A saúde e a doença nas sociedades modernas: mudanças socioculturais ................................... 63
3.1. A saúde como valor .................................................................................................................... 63
3.2. Um novo padrão epidemiológico: a doença crónica .................................................................. 71
3.3. Fontes de informação em saúde ................................................................................................ 73
3.4. Lógicas leigas de relação com a saúde e a medicina: reflexividade, confiança e ceticismo ..... 75
3.5. A relação terapêutica: novas configurações .............................................................................. 81
3.6. O natural “renascido”: simbologias e perceções ........................................................................ 84
Capítulo 4
Experiências e razões do recurso às Medicinas Complementares e Alternativas: o estado da
arte ................................................................................................................................................................ 87
4.1. Razões do recurso às Medicinas Complementares e Alternativas ............................................ 87
4.2. Trajetórias terapêuticas: o predomínio do pluralismo ................................................................ 96
4.3. Experiências vividas: dos contactos iniciais à avaliação dos resultados ................................. 103
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Capítulo 5
O campo das Medicinas Complementares e Alternativas em Portugal: profissionalização,
regulação e conhecimento ..................................................................................................................... 109
5.1. Processos de profissionalização das Medicinas Complementares e Alternativas .................. 109
5.2. A regulação da prática terapêutica ........................................................................................... 119
5.3. O associativismo profissional ................................................................................................... 131
5.4. Sistemas de conhecimento e formação ................................................................................... 135
5.5. Aspetos económicos ................................................................................................................ 142
Capítulo 6
O recurso às Medicinas Complementares e Alternativas: retrato extensivo ................................ 145
6.1. Reflexões metodológicas sobre os estudos extensivos ........................................................... 146
6.2. A dimensão do fenómeno nas sociedades ocidentais ............................................................. 148
6.3. Para uma sociografia dos utilizadores ..................................................................................... 153
6.4. Padrões sociais de recurso ...................................................................................................... 158
Capítulo 7
O recurso às Medicinas Alternativas e Complementares: abordagem qualitativa de trajetórias
terapêuticas .............................................................................................................................................. 173
7.1. Reflexões metodológicas sobre a análise das trajetórias terapêuticas ................................... 174
7.2. Práticas e discursos de recurso às Medicinas Complementares e Alternativas: uma abordagem
panorâmica ...................................................................................................................................... 176
7.3. Modos de relação com as Medicinas Complementares e Alternativas: uma tipologia ............ 193
Capítulo 8
Modos de relação com as Medicinas Complementares e Alternativas: singularidades e
pluralidades das trajetórias terapêuticas ............................................................................................ 199
8.1. Convicção ................................................................................................................................. 199
8.2. Ecletismo .................................................................................................................................. 216
8.3. Experimentalismo ..................................................................................................................... 231
8.4. Complacência ........................................................................................................................... 241
8.5. Quatro narrativas sinópticas de trajetórias terapêuticas .......................................................... 249
Conclusão ................................................................................................................................................. 257
Primeiro, as medicinas complementares e alternativas… .............................................................. 257
Segundo, o recurso… ...................................................................................................................... 258
Terceiro, os padrões sociais… ........................................................................................................ 258
Quarto, as trajetórias terapêuticas… ............................................................................................... 262
Aplicabilidade dos resultados e explorações futuras ...................................................................... 266
Bibliografia ................................................................................................................................................ 269
ANEXOS .......................................................................................................................................................... I
ANEXO A. Inquérito por Questionário ................................................................................................ III
ANEXO B. Guião de Entrevista ..................................................................................................... XXIII
ANEXO C. Caracterização dos entrevistados .............................................................................. XXVII
vi
Description:científico, político, leigo –, como a nomeação das ideologias e práticas terapêuticas que se nos universos leigos, de cada vez mais informação sobre saúde e doença, são, pois, fatores 261-301. Barnes, Linda L. (2005), “American acupuncture and efficacy: meanings and their points of