Table Of ContentApós ser palco de massivas mobiliza- T
ções populares e indígenas que culmi- a
Tadeu Breda d
naram na eleição do presidente Rafael 
e
Correa, em 2006, o Equador passa por  u
uma das fases mais importantes de sua   B
história: um período de transição social,  r
política e econômica que guarda estreita    e
d
o
relação com os maiores desafios atual- a
mente vividos pela humanidade.  
  As sociedades ocidentais elevaram   
o
a degradação ambiental a níveis críti- equador
 
cos e, agora, devem decidir se trans- e
formam radicalmente seus padrões de  q
 
u
desenvolvimento ou assistem à natu-
é verde a
reza agonizar. O Equador, dono de uma 
d
invejável biodiversidade, está no olho 
o
desse furacão: o país vive da explo-
r
ração petrolífera e da exportação de  Rafael Correa e os paradigmas  
é
produtos  primários  –  uma  vocação 
do desenvolvimento  
comercial que, sim, tem gerado divi- v
e
sas, mas até agora não trouxe bem- 
r
-estar ao conjunto da população. d
  Rafael Correa se encontra no meio  e
do caminho entre uma mudança pro-
funda e radical, que obrigatoriamente 
supõe a adoção de novos paradigmas 
econômicos, e a continuação de polí-
ticas capitalistas que, apesar de terem 
rompido com o neoliberalismo, ainda 
não resolveram o problema central do 
desenvolvimento: o redimensionamento 
das relações homem-natureza.
tadeu breda é jornalista e colabora 
com publicações do Brasil e do exte- 
rior. Mantém desde fevereiro de 2009 
o blogue Latitude Sul, com análises 
e reportagens sobre a América Latina. 
Também  já  trabalhou  com  rádio  e 
televisão. O Equador é verde é seu 
primeiro livro.
capa_final.indd   1 11/04/2011   23:01:35
Tadeu Breda
O
EQUADOR
É VERDE
Rafael Correa e os paradigmas
do desenvolvimento
prefácio 
Gilberto Maringoni
apresentação
Maria Helena Capelato
fotos
Raoni Maddalena
projeto gráfico
Bianca Oliveira
10 mapa do equador
12 prefácio Viagem Irresistível, por Gilberto Maringoni
18 apresentação História plena de desafios, 
por Maria Helena Capelato
24 introdução
34 Ser como eles
52 Para acabar com a luta de classes
70 A Revolução Cidadã
102 Sopão ideológico do século xxi
132 A Constituição pós-materialista
188 O movimento que não é mais
228 A busca política pela comunidade
248 A linha que divide o Equador
278 epílogo Do golpe à autocrítica
309 entrevistados
310 siglas
311 bibliografia
mapa do equador
COLÔMBIA
ILHAS GALÁPAGOS
Oceano Esmeraldas
Pacífico ESMERALDAS
Lago Agrio
Shushufindi
Linha do Equador Quito
SUCUMBÍOS
PICHINCHA
MANABÍ
NAPO Orellana
Manta COTOPAXI
ORELLANA
Montecristi Tena
Latacunga
Puyo
PASTAZA
GUAYAS
Floresta
Guayaquil
             Amazônica
Macas
MORONA SANTIAGO
Cuenca
Ilha Puná AZUAY
ZAMORA
Loja CHINCHIPE
LOJA
Zamora
PERU
Cordilheira dos Andes S
prefácio
Viagem irresistível
por Gilberto Maringoni
Com este O Equador é verde, Tadeu Breda nos convida para 
uma viagem irresistível: percorrer os marcos visíveis e os 
subterrâneos de uma sociedade em turbulência há mais de 
uma década. Embora seu roteiro seja pautado pelos anos ini-
ciais do governo de Rafael Correa, o autor realiza com rara 
competência um exame deste que é um dos pontos lumino-
sos do processo de reação continental à aventura ultraliberal 
que varre a América Latina desde o final dos anos oitenta.
Talvez nenhum outro país da região tenha ido tão longe 
na aplicação dos processos de ajuste estrutural. O Equador 
abriu mão de sua moeda nacional em 2000, no bojo de uma 
abissal crise política e econômica que dissolveu a credibilidade 
das instituições e empobreceu sua população. Ao valer-se 
desse instrumento extremo, não há como o Estado ter uma 
política monetária ou mesmo dirigir a economia. Uma das 
prerrogativas centrais do poder público é manter o controle 
da  taxa  de  câmbio.  Através  dela  se  definem  preços  de 
exportações, de importações, de salários, de ativos internos, 
de mercadorias e se podem evitar problemas recorrentes nos 
países da periferia, como rombos nas contas externas.
O Equador foi, durante parte do século xx, ironizado 
pelas vozes conservadoras como uma República das bana-
nas. Economia primário-exportadora, cujas relações comer-
ciais com o exterior estavam concentradas em commodities, 
como banana, café, petróleo, camarão e atum, o país foi 
seguidamente vítima das oscilações do mercado mundial 
e assolado por crises cambiais recorrentes. Trata-se de uma 
situação comum à região, com suas enormes diferenças de 
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. prefácio . . prefácio .
renda e de riqueza. Na escala do Índice de Desenvolvimento  abrupta contração monetária com consequências devasta-
Humano (idh) da onu, o país ocupava em 2010 a 77ª. posi- doras. O Banco Central perdeu sua função. O meio circu-
ção, três pontos abaixo do Brasil. Com algumas particulari- lante passou a vir de fora. 
dades importantes: coabitam em seu território 13 naciona- A rigidez da base monetária começou a estrangular 
lidades e 14 povos indígenas que perfazem 40 por cento de  setores importantes da economia, gerando quebradeira de 
seus quase 14 milhões de habitantes. bancos e empresas e aumentando as tensões sociais. Uma 
Até o início dos anos oitenta, sucessivos governos bus- rebelião popular majoritariamente indígena forçou a queda 
caram timidamente implantar um processo de substituição  do presidente semanas depois. 
de importações, centrado em bens de consumo leves, como  A dolarização, contraditoriamente, adquiriu legitimida-
têxteis e produtos agrícolas. A exemplo da quase totalidade  de em uma população exaurida por anos de hiperinflação. A 
da América Latina, o Equador teve sua economia profun- estabilidade de preços tornou-se um valor para toda a socie-
damente debilitada a partir da crise das dívidas externas da  dade, ao mesmo tempo em que encarecia a exportação de pro-
periferia, na primeira metade dos anos oitenta. Submetido  dutos industrializados e tendia a reprimarizar a economia.
aos  ditames  do  Fundo  Monetário  Internacional,  o  país  O novo presidente e ex-vice de Mahuad, Gustavo Noboa 
enfrentou as consequências de um ajuste estrutural infin- (2000-2002), manteve a dolarização, mas viu-se diante do 
dável, o que resultou em agravamento das tensões sociais e  agravamento das tensões sociais.
empobrecimento de uma parcela considerável da população.  Nas eleições presidenciais de 2002, uma aliança de 
O projeto de desenvolvimento então em curso foi abortado. jovens militares com o movimento indígena levou ao poder 
A degringolada adentrou a década de noventa, com  o coronel Lucio Gutiérrez, ancorado em uma plataforma 
sucessivas crises no balanço de pagamentos, fugas de capi- nitidamente antipolítica, com alguns aspectos anti-imperia-
tais e uma verdadeira overdose de medidas ortodoxas, como  listas. No entanto, após eleito, Gutiérrez lançou mão de uma 
elevação da taxa de juros doméstica, privatizações e desre- política econômica ortodoxa e de perseguições ao movimen-
gulamentações. Uma contínua queda dos preços do petróleo  to popular. A instabilidade política voltou a se acentuar e, 
completaria a espiral descendente.  desgastado, o presidente foi destituído em 2005.
No início de 1999, a crise manifestou-se no setor bancá- Entre 1996 e 2007, o Equador teve sete presidentes da 
rio. A sucessão de desarranjos atingiu a própria legitimidade  República. Neste ano, elege-se o economista Rafael Correa 
do sistema político. A dolarização realizada no início do ano  como chefe do Executivo. Com um mandato de corte nacio-
seguinte pelo governo do presidente Jamil Mahuad (1998- nalista, Correa busca reverter uma série de políticas neo-
2000) representou uma medida desesperada para conter a  liberais praticadas nos anos anteriores. Realiza uma audi-
hiperinflação e colocar a casa em ordem. Ela foi acompa- toria da dívida externa, visando sua renegociação, tenta 
nhada por uma nova rodada do receituário liberal: corte de  nacionalizar ativos e empresas privatizadas e convoca uma 
gastos, aumento de combustíveis e redução de orçamentos  nova Assembleia Constituinte. Uma Carta Magna é aprova-
sociais. Apesar de estabilizar os preços, a iniciativa implicou  da em 2008, a vigésima da história equatoriana. No âmbito 
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. prefácio .
diplomático, choca-se com interesses estadunidenses ao não 
renovar o acordo para a manutenção da base militar de Manta. 
Apesar de se colocar contra a dolarização, Correa não conse-
gue enfrentar a sólida base social desfrutada pela medida.
O Equador representa hoje uma das tentativas latino-
americanas de superar o ciclo neoliberal com políticas de 
fortalecimento do papel do Estado e de afirmação da sobe-
rania nacional. Apesar das diferenças de cada país e de cada 
governo, Correa é a manifestação local de uma onda que 
varre o continente desde o final dos anos noventa, quando 
Hugo Chávez elegeu-se presidente da Venezuela. Nos últi-
mos tempos, governos de centro-esquerda firmaram-se na 
Argentina, no Brasil, na Bolívia, no Uruguai, no Paraguai e 
em El Salvador. Com graus e limitações variadas, são expres-
sões de descontentamentos populares e busca de rotas alter-
nativas ao poder das velhas e novas oligarquias. As estraté-
gias estão em aberto e o jogo em cada um desses lugares está 
longe de terminar.
Com o conhecimento de quem pesquisou e conheceu 
ao vivo essa realidade e com a sensibilidade de um jornalis-
ta refinado, Tadeu Breda nos ajuda a entender muito desse 
intrincado roteiro.
GILBERTO MARINGONI é doutor em História Social pela Faculdade de Filosofia, 
Letras e Ciências Humanas (fflch) da usp, pesquisador do Instituto de 
Pesquisas Econômicas Aplicadas (ipea), professor da Faculdade Cásper 
Líbero e autor de A Venezuela que se inventa (Editora Fundação Perseu 
Abramo, 2004) e de A revolução venezuelana (Editora Unesp, 2009).
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