Table Of ContentNOTA DA EDITORA: Foram feitos todos os esforços para dar crédito aos detentores dos
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coordenação editorial: Melissa Lopes Leite
revisão: Juliana Souza e Luis Américo Costa
revisão: diagramação: DTPhoenix Editorial
revisão: caderno de fotos: Ana Paula Daudt Brandão
imagens do caderno de fotos: Acervo pessoal, exceto: Memória da Polícia Civil de São Paulo; Folhapress;
Acervo da Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo, Seção de Pesquisa e Documentação; Marcio
Bruno; Lailson dos Santos
capa: Raul Fernandes
imagem de capa: Marcio Bruno
tratamento de imagens do caderno de fotos: Trio Studio
adaptação para e-book: Marcelo Morais
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
S697m
Sousa, Mauricio de
Mauricio [recurso eletrônico] / Mauricio de Sousa. Rio de Janeiro: Primeira Pessoa,
2017.
recurso digital
Formato: ePub
Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions
Modo de acesso: World Wide Web
ISBN: 978-85-68377-15-4 (recurso eletrônico)
1. Sousa, Mauricio de, 1935-. Biografia. 2. Cartunistas - Brasil - Biografia. 3.
Autobiografia. 4. Livros eletrônicos. I. Título.
CDD: 927.415
17-40667
CDU: 929:741.5
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“Tudo que está na minha biografia é verdade,
aconteceu mesmo, ou eu acho que aconteceu.”
M S
AURICIO DE OUSA
*AGRADECIMENTOS*
Este livro não seria possível sem a colaboração imprescindível dos meus
pais, Antonio Mauricio (o Tonico) e dona Petronilha. E sem a presença
próxima dos meus filhos – todos os 10 – com sua inteligência e suas tiradas
geniais. Também agradeço aos parentes que me ajudaram a entender a vida
social, os laços de família. Agradeço a um montão de amigos... inclusive a uns
tantos incrédulos; sem esquecer os meus patrões e chefes que, com broncas e
elogios, me indicaram caminhos.
A lista de agradecimentos é longa. Mas há um, em especial, sem
desmerecimento de outros, que lembro com carinho e respeito: ao empresário-
jornalista Otavio Frias de Oliveira, que dirigiu o jornal Folha de S.Paulo
durante os 30 e tantos anos em que trabalhei lá, expandindo minha carreira de
desenhista e empresário. No livro conto o porquê desta homenagem.
Capítulo 1
DESISTA, MENINO!
E
ra a chance da minha vida. Eu tinha feito a “lição de casa”, me
preparado, criado a oportunidade. No meu quarto, montei uma pasta
com a seleção dos meus melhores trabalhos. Eram ilustrações,
desenhos de pessoas, animais e paisagens, pôsteres, cartazes para o comércio,
até projeto industrial de cafeteira. Aos 19 anos, peguei o bonde na Penha,
bairro paulistano em que morava, desci na praça da Sé e fui a pé até a alameda
Barão de Limeira, endereço da redação dos jornais Folha da Manhã, Folha
da Tarde e Folha da Noite, que anos mais tarde seriam fundidos e dariam
origem à Folha de S.Paulo.
Chegando à recepção, anunciei, na cara e na coragem, que queria falar com
o chefe de arte da Folha da Manhã. Nem sabia que o homem era um dos
maiores ilustradores do país, uma estrela do mercado editorial. Na verdade,
eu era muito ingênuo, mal sabia como o mundo funcionava. Talvez por sorte de
principiante, me mandaram subir. Peguei o elevador, cheguei ao quarto andar e
me espantei com a redação do jornal. Nunca tinha visto um ambiente tão
estranho, um salão inteiro tomado por pessoas, mesas e cadeiras, barulho
incessante de vozes, telefones tocando, máquinas de escrever sendo utilizadas.
Eu estava confiante, meus desenhos caprichados mostravam que eu podia
fazer bem-feito o que me pedissem. Meu pai, minha mãe, meus irmãos, minha
avó, toda a família elogiava. Colegas e vizinhos apreciavam minhas
historinhas. As garotas da escola me enxergavam com outros olhos quando eu
lhes dedicava meus desenhos. Não podia dar errado.
O vento tinha que mudar e agora soprar a favor. Fazia mais de um ano que
nós – eu, minha mãe e meus irmãos – tínhamos nos mudado de Mogi das
Cruzes para tentar a sorte em São Paulo. As coisas não estavam dando certo
em Mogi. Meus pais tinham se separado, eu vinha tendo problemas sérios na
escola, as perspectivas não eram animadoras. Mesmo na capital as coisas
ainda não tinham melhorado muito.
Minha estreia no mercado de trabalho de São Paulo, em 1953, foi
bombástica. Aos 18 anos, fui contratado como datilógrafo numa empresa de
cobrança cujo dono aplicava golpes no mercado. A polícia descobriu a
malandragem, baixou no escritório num final de expediente e levou todo
mundo preso. Argumentei que eu não sabia de nada, mal tinha começado a
trabalhar ali, mas não teve jeito.
Passei a noite na carceragem da primeira delegacia, na praça do Colégio,
no centro de São Paulo, e só consegui ser solto no final do dia seguinte, após a
intervenção providencial de minha mãe. Ela fez um enorme escarcéu, dizendo
que não tinha cabimento prender um menino honesto e trabalhador. O discurso
indignado deu certo.
No meu segundo emprego, fiquei pouco menos de um ano fazendo contas,
calculando receitas e despesas no setor de faturamento da gravadora Odeon,
na época do disco de vinil. Não era a minha praia. Com frequência eu passava
a hora do almoço procurando outro emprego. Um dia me deu um estalo: poxa,
aquilo era uma fábrica de discos, todo disco tinha capa e capas podiam ter
ilustrações.
Pedi uma oportunidade ao responsável pela arte visual e ele concordou em
cedê-la, contanto que a própria chance já fosse pagamento suficiente. Fiz
então, de graça, ilustrações para algumas capas de disco. Pena que isso se
perdeu, inclusive porque não me lembro de quais artistas eram aqueles discos.
Como não assinei nem recebi crédito pelo trabalho, fica quase impossível de
resgatar. De qualquer forma, mesmo perdidas no tempo, as capas foram boas
para que eu treinasse a mão. Só que eu não ia sair do lugar com aquilo.
Precisava acertar o passo na direção correta.
Onde, em meados da década de 1950, haveria alguém interessado em
empregar um candidato a desenhista? Em jornal, agência de publicidade e olhe
lá. Meu pai lia a Folha da Manhã. Ele era bem informado, cheio de opiniões,
e, por essa lógica, eu achava que o jornal devia ter influência e prestígio.
Parecia um bom começo. Foi por isso que, naquela manhã de 1954, cheio de
esperança, peguei um bonde na Penha e fui parar na redação da Folha da
Manhã.
Andei pela redação barulhenta até a sala envidraçada do chefe de arte. Ele
estava sentado à mesa, de cabeça baixa. Parei à porta, pedi licença,
cumprimentei-o, disse meu nome, de onde vinha, expliquei que estava em
busca de uma oportunidade. Ele se levantou, sem fazer nenhuma menção de me
convidar a entrar. Andou até mim e parou na minha frente. Situação estranha.
Ali mesmo, debaixo do umbral da porta, mal me olhando, estendeu a mão e
pegou a pasta com meus trabalhos. Com ar displicente, deu uma folheada
rápida, passando os olhos em dois ou três desenhos. Em seguida me devolveu
a pasta e só aí pareceu ter realmente percebido a presença do rapaz de 19
anos, o moço do interior diante da pessoa influente da capital, o jovem tímido,
baixinho, meio atarracado, vestido com sua melhor roupa de domingo, sapatos
lustrados.
Achei que o chefe de arte ia fazer algum comentário sobre meu trabalho,
um elogio ou um reparo, uma observação, alguma crítica, mas nada, nem tocou
no assunto. A única coisa que disse, com ar meio professoral, meio
zombeteiro, foi isto:
– Desista, menino. Desenho não dá dinheiro nem futuro para ninguém. Vá
fazer outra coisa da vida.
Faz mais de 60 anos que ouvi isso. Na época, foi certamente a frase mais
desmotivadora que já tinha ouvido. Mas, com o passar do tempo, ela me
influenciaria de maneira positiva, funcionaria como a alavanca que me
impulsiona em momentos de dificuldade.
Desde muito cedo eu sonhava em ser desenhista de histórias em
quadrinhos, mas tudo jogava contra. O Brasil não tinha tradição nessa área, as
tiras de sucesso eram basicamente estrangeiras e não se tinha notícia de um
único ilustrador nacional que vivesse apenas de suas criações. Além disso,