Table Of ContentCopyright © dos organizadores: Rafael Marquese e Ricardo
Salles, 2016
Capa : COPA | Rodrigo Moreira e Steffania Paola Diagramação
da versão impressa : Kátia Regina Silva | Babilonia Cultura
Editorial CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
E73
Escravidão e capitalismo histórico no século XIX: [recurso
eletrônico] : Cuba, Brasil e Estados Unidos / organização
Ricardo Salles e Rafael Marquese. - 1. ed. - Rio de Janeiro :
Civilização Brasileira, 2016.
recurso digital
Formato: epub
Requisitos do sistema: adobe digital editions Modo de acesso:
world wide web
ISBN 978-85-200-1310-6 (recurso eletrônico) 1. Escravidão -
América Latina - História. 2. Escravidão - Caribe - História. 3.
Livros eletrônicos. I. Salles, Ricardo, 1950-. II. Marquese,
Rafael.
16-34635
CDD: 326.098
CDU: 326.3
Todos os direitos reservados. É proibido reproduzir, armazenar ou
transmitir partes deste livro, através de quaisquer meios, sem
prévia autorização por escrito.
Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa.
Direitos desta edição adquiridos pela EDITORA CIVILIZAÇÃO
BRASILEIRA
Um selo da
EDITORA JOSÉ OLYMPIO LTDA.
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Produzido no Brasil
2016
Sumário
APRESENTAÇÃO
1. Por que segunda escravidão?
Robin Blackburn
2. A escravidão no capitalismo histórico: rumo a uma história teórica da segunda escravidão
Dale Tomich
3. A escravidão no Brasil oitocentista: história e historiografia
Rafael Marquese e Ricardo Salles
4. Escravidão histórica e capitalismo na historiografia cubana
José Antonio Piqueras
5. Seres humanos escravizados como sinédoque histórica: imaginando o futuro dos Estados Unidos a
partir de seu passado
Edward E. Baptist
SOBRE OS AUTORES
Apresentação
Este livro é parte de um conjunto de iniciativas individuais e coletivas de
diversos historiadores brasileiros, norte-americanos, cubanos e europeus que têm
se dedicado, a partir de uma perspectiva abrangente, ao estudo da escravidão
negra nas Américas no longo século XIX. Nessa perspectiva, sobressai o
conceito de segunda escravidão, originalmente proposto em 1988 por Dale
Tomich, autor do Capítulo 2 desta coletânea.
Na formulação pioneira do conceito, Tomich assinalou como um conjunto de
acontecimentos e tendências históricos, entre o fim do século XVIII e o início do
XIX – notadamente o advento da Revolução Industrial e a consolidação da
hegemonia britânica sobre a economia e o sistema interestatal mundial –,
ocasionou reconfigurações profundas no globo. O crescente desequilíbrio nos
preços internacionais entre produtos industrializados e agrícolas, o aumento do
consumo de commodities tropicais como o café e o açúcar (demandado pelo
crescimento da população de trabalhadores e da classe média nos núcleos
urbanos do Atlântico Norte) ou da procura por novas matérias-primas, como o
algodão, implicaram o declínio da escravidão em áreas coloniais antes centrais.
Essas modificações, por sua vez, adquiriram um sentido bem distinto em
outras zonas escravistas, como Cuba, Brasil e o Sul dos Estados Unidos. De
regiões relativamente marginais ou decadentes da economia atlântica do século
XVIII, esses espaços tornaram-se os polos dinâmicos de uma maciça expansão
da escravidão para atender à crescente demanda mundial de algodão, café e
açúcar. A escravidão negra americana foi refundida em uma configuração
política e econômica inédita, tendo seu caráter e sentido sistêmicos
profundamente alterados. Os centros escravistas emergentes viram-se cada vez
mais integrados e impelidos pela produção e o mercado industrial. Nos termos
de Tomich, “essa ‘segunda escravidão’ se desenvolveu não como uma premissa
histórica do capital produtivo, mas pressupondo sua existência como condição
para sua reprodução”. 1
O conceito veio ao encontro de esforços de investigação já em andamento,
tendo servido de estímulo adicional para um notável conjunto de pesquisas sobre
a escravidão oitocentista, publicadas nas últimas duas décadas. 2 Em seu
desenvolvimento, os autores realizaram um intenso intercâmbio de ideias e
experiências compartilhadas de análise histórica, fosse em pesquisas coletivas,
fosse em encontros acadêmicos.
Entre 2005 e 2009, por exemplo, historiadores norte-americanos, brasileiros e
cubanos, em projeto financiado pela Fundação Getty, estudaram a paisagem e a
arquitetura das plantations escravistas algodoeiras, cafeeiras e açucareiras dos
Estados Unidos, do Brasil e de Cuba. Em 2009, foi realizado, na Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro, o seminário internacional O Século XIX e
as Novas Fronteiras da Escravidão e da Liberdade; no ano seguinte, no Fernand
Braudel Center da SUNY-Binghamton, promoveu-se outro seminário
internacional para discutir a política da segunda escravidão. Desses dois
encontros, nasceu a rede internacional Second Slavery Research Network,
atualmente sediada no Fernand Braudel Center, acompanhada, no Brasil, pela
constituição do grupo interinstitucional O Império do Brasil e a Segunda
Escravidão.
O presente livro é fruto de um seminário internacional promovido pela rede
local da segunda escravidão em parceria com o Laboratório de Estudos sobre o
Brasil e o Sistema Mundial (Lab-Mundi/USP), realizado na Universidade de São
Paulo em 16 de setembro de 2013. O objetivo central do encontro foi o de
avaliar, a partir de um engajamento crítico com o conceito de segunda
escravidão, as múltiplas relações da escravidão oitocentista com o capitalismo
industrial. Como o leitor poderá perceber pela leitura dos capítulos que se
seguem, as formas de conceituação dessas conexões são distintas, quando não
divergentes no que diz respeito a algumas questões e temas. Quais são os nexos
entre a segunda escravidão e a reestruturação da economia-mundo capitalista
industrial no século XIX? Como defini-las? Quais os quadros temporais e
espaciais da segunda escravidão? Qual a pertinência do conceito para as
historiografias nacionais do Brasil, dos Estados Unidos e de Cuba? Para a
História Atlântica e para a História Global? Como explicar os processos tardios
de abolição da escravidão nesses três espaços? Como tais processos se
relacionaram com as forças capitalistas globais da segunda metade do século
XIX?
O livro não traz respostas acabadas para essas questões. Para enfrentá-las,
optamos por avaliar as diferentes trajetórias historiográficas nacionais sobre a
escravidão negra oitocentista. Tais perguntas retomam temas e discussões que
tiveram seu ápice nos anos de 1960 e 1970, época em que abordagens
totalizantes, com base em múltiplas filiações teóricas e metodológicas,
elaboraram alguns dos mais importantes paradigmas de interpretação da História
como Ciência Social. Não se trata aqui simplesmente de recuperar um passado
historiográfico congelado, mas, antes, de reabrir os debates cruciais – inclusive à
luz dos avanços historiográficos posteriores que tenderam, no mais das vezes, a
obscurecer tais discussões – sobre as relações entre capitalismo e escravidão,
sobre as formações sociais enquanto totalidades contraditórias, sobre a
complexidade dos sujeitos históricos sociais, coletivos e individuais. Engajar-se
criticamente com as tradições historiográficas é um passo imprescindível para a
elaboração de uma perspectiva analítica mais sólida para o conceito de segunda
escravidão e, assim, para o entendimento histórico do binômio capitalismo &
escravidão. A despeito de suas divergências analíticas, os autores desta coletânea
convergem na avaliação da potencialidade do constructo para dar conta das
aporias das historiografias recentes sobre a escravidão do século XIX. A ênfase
unidimensional na microanálise, na agência individualizada, nas identidades
culturais essencializadas mostrou-se incapaz de dar conta de processos sociais
mais amplos e complexos, e que justamente informam e condicionam os
aspectos do devir histórico. A atual crise global do capitalismo e o acirramento
das desigualdades sociais em escala planetária demonstram o imperativo de
perspectivas totalizantes para a compreensão do papel de processos e tendências
de mais longo prazo no curso das mudanças históricas. 3
O livro está dividido em cinco capítulos. O de abertura, escrito por Robin
Blackburn, traz uma síntese sobre a escravidão moderna e o lugar que o conceito
de segunda escravidão pode ocupar nessa história. No capítulo seguinte, Dale
Tomich critica os pressupostos teóricos e epistemológicos da New Economic
History em seu tratamento da escravidão negra oitocentista. Seu objetivo é o de
recuperar uma perspectiva substantiva de economia que permita articular de
forma estreita a história econômica à história social e política da segunda
escravidão. Os três capítulos seguintes, escritos por Rafael Marquese e Ricardo
Salles (Brasil), José Antonio Piqueras (Cuba) e Edward E. Baptist (Estados
Unidos) abordam as historiografias nacionais das regiões da segunda escravidão.
Seus balanços empregam estratégias distintas para dar conta de uma volumosa,
porém desigual, produção historiográfica, e procuram explorar as
potencialidades do conceito para a escrita da história de cada um desses espaços.
Fica, por fim, o convite para que o leitor junte-se a nós nesta empreitada
coletiva.
Notas
1. Dale Tomich, Pelo prisma da escravidão: trabalho, capital e economia mundial . São Paulo: Edusp,
2011, p. 87.
2. Ver, entre outros, Christopher Schmidt-Nowara, Empire and Antislavery: Spain, Cuba and Puerto
Rico, 1833–1874 . Pittsburgh: University of Pittsburgh Press, 1999; Rafael Marquese, Feitores do
corpo, missionários da mente: senhores, letrados e o controle dos escravos nas Américas, 1660-
1860 . São Paulo: Companhia das Letras, 2004; Ricardo Salles, E o Vale era o escravo – Vassouras,
século XIX. Senhores e escravos no coração do Império: Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2008; Michael Zeuske, “Comparing or Interlinking? Economic Comparisons of Early Nineteenth-
Century Slave Systems in the Americas in Historical Perspective”, in: Enrico dal Lago e Constantina
Katsari (Orgs.), Slave Systems. Ancient and Modern. Cambridge: Cambridge University Press, 2008,
pp. 148-183; Dale Tomich e Michael Zeuske (Orgs.), The Second Slavery. Mass Slavery, World-
Economy, and Comparative Microhistories, in: Review – Fernand Braudel Center , parte I, v. 31, n.
2, 2008; parte II, v. 31, n. 3, 2008, José A. Piqueras (Org.), Trabajo libre y coactivo en sociedades de
plantación. Madri: Siglo XXI, 2009; Anthony Kaye, “The Second Slavery: Modernity in the
Nineteenth-Century South and the Atlantic World”, in : Journal of Southern History, v. 73, n. 3, ago.
2009, pp. 627-50; Rafael Marquese, Tâmis Parron e Márcia Berbel, Escravidão e política. Brasil e
Cuba, c. 1790-1850 . São Paulo: Hucitec, 2010; Tâmis Parron, A política da escravidão no Império
do Brasil, 1826-1865 . Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011; Robin Blackburn, The American
Crucible. Slavery, Emancipation and Human Rights . Londres: Verso 2011; Christopher Schmidt-
Nowara, Slavery, Freedom, and Abolition in Latin America and the Atlantic World. Albuquerque:
University of New Mexico Press, 2011; José Antonio Piqueras, La esclavitud en las Españas, un
lazo transatlántico. Madri: Catarata, 2011; Enrico Dal Lago, American Slavery, Atlantic Slavery, and
Beyond. The U.S. “Peculiar Institution” in International Perspective. Boulder: Paradigm Publishers,
2012; Josep M. Fradera e Christopher Schmidt-Nowara (Orgs.), Slavery and Antislavery in Spain’s
Atlantic Empire. Nova York: Bergham Books, 2013; Michael Zeuske e Javier Laviña (Orgs.), The
Second Slavery, Mass Slaveries and Modernity in the Americas and in the Atlantic Basin . Berlim:
Lit Verlag, 2014; Edward E. Baptist, The Half Has Never Been Told. Slavery and the Making of
American Capitalism. Nova York: Basic Books, 2014.
3. Este livro já se encontrava em processo de finalização quando eclodiu o debate mundial em torno da
obra do economista francês Thomas Piketty (Capital in the Twentieth-First Century ). A urgência da
retomada de perspectivas mais abrangentes para dar conta da historicidade do capitalismo global tem
sido destacada em distintos balanços. Ver, entre outros, William Sewell Jr., Logics of History. Social
Theory and Social Transformation , Chicago, Chicago University Press, 2005; Jürgen Kocka,
“Writing the History of Capitalism”, in: Bulletin of the GHI , outono de 2010, pp. 7-24; William
Sewell Jr., “Economic Crises and the Shape of Modern History”, in: Public Culture , v. 24, n. 2,
Description:Ensaios de historiadores brasileiros e estrangeiros sobre a escravidão negra nas Américas ao longo século XIX. Enquanto declinava ou era abolida em determinadas zonas do Novo Mundo, a escravidão reflorescia no Sul dos Estados Unidos, em Cuba e no Brasil. Áreas que se tornaram polos dinâmicos d