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A Importância de um Nome
no Conhecimento sobre
os Trovadores Medievais
Galego-Portugueses
Ângela Correia
António Resende de Oliveira
prefaciou este livro.
Jessica Ferreira editou-o para
publicação na Bibliotrónica
Portuguesa
Lisboa
2016
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Para a Madalena e para a Constança,
em troca do tempo roubado para a Ama.
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Índice
Índice
Apresentação
Prefácio de António Resende de Oliveira
Introdução
As cantigas: letra e interpretação
Critérios, normas, método
Edição crítica
Interpretação
Pauta poética
A sequência
Identidade e formação
«Ama»: os sentidos da palavra
Strix nocturna
A criação de nobres
Enquadramento histórico
A crítica moderna
Conclusão
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Índice
Apresentação
Em 2016, cumprem-se 20 anos sobre a data de
publicação do primeiro estudo que dediquei ao
chamado «ciclo da ama», iniciado por Joam
Soares Coelho, trovador português do século XIII.
Creio ser, por isso, um bom ano para o lançamento
do presente livro, onde dou por concluída a tarefa
então iniciada. Aqui reúno, articulo e
complemento os estudos1 que dediquei às famosas
cantigas de amor dirigidas por Joam Soares
Coelho a uma mulher que o trovador refere
usando a palavra «ama».
O esclarecimento da questão impõe abordagens
diversas (história, linguística, crítica textual etc.),
razão pela qual é fácil perder o fio à meada, se a
1 Correia, «O outro nome…»; Correia, As Cantigas…;
Correia, «O Enquadramento…»; Correia, «Ser letrado…».
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cada passo se interromper o raciocínio com a
indispensável fundamentação. Optei, portanto,
por uma abordagem facetada. Na introdução, que
se segue imediatamente ao prefácio de António
Resende de Oliveira, apresentarei a história deste
caso, sem a interromper com a fundamentação das
conclusões expostas. As principais reflexões
sobre o que podemos deduzir acerca da poética
dos trovadores e acerca da consciência que estes
teriam dela encontram-se igualmente na
introdução.
Em cada uma das partes que se seguem,
apresentarei separadamente a fundamentação de
cada aspeto que dela carece, dedicando um
capítulo à fixação crítica e interpretação dos
textos; outro aos diversos sentidos da palavra
«ama»; um terceiro ao enquadramento histórico
das personalidades envolvidas, bem como do
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próprio ato poético. Debruçar-me-ei, num último
capítulo, sobre as diversas posições assumidas
pela crítica moderna relativamente ao assunto.
Não sendo possível optar por uma ordenação
estelar destes capítulos, com a introdução no
centro, como seria mais estruturalmente rigoroso,
hesitei sobre a sequência a dar aos capítulos, que,
na verdade, poderia ter sido qualquer uma. Por
fim, pareceu-me lógico optar por uma evolução
«de dentro para fora», do núcleo para a periferia
da questão. Ou seja, dos textos trovadorescos até
à crítica moderna. A opção por editar este livro em
formato eletrónico (em
www.bibliotronicaportuguesa.pt/originais)
permitiu usar hiperligações que recuperam, até
certa medida, o ideal da organização estelar. Fica
assim o leitor possibilitado de encontrar
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explicações e de regressar ao ponto de onde
partiu, sem perder o fio à meada.
Devo um sentido agradecimento a Elsa
Gonçalves, por tudo o que me ensinou sobre a
lírica galego-portuguesa e pela generosidade de
que tanto beneficiei.
A António Resende de Oliveira, agradeço a
preciosa orientação pela documentação histórica;
o apoio científico nunca negado, condicionado ou
imposto; e a disponibilidade intelectual para a
discussão livre e verdadeira.
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Prefácio, disse ela
Completam-se duas décadas desde que Ângela
Correia, na Colóquio Letras de finais de 1996,
publicava o seu primeiro estudo em que se
propunha identificar o nome da ama cantada pelo
trovador Joam Soares Coelho. Num número da
revista onde se anunciava, antes da identificação
dos autores dos diferentes ensaios, que mesmo o
passado / é sempre incerto. Era premonitório.
O ponto de partida da Ângela Correia era Atal vej’
eu aqui ama chamada, uma cantiga de amor em
que o trovador português, aparentemente, cometia
o sacrilégio de dirigir uma aristocrática cantiga de
amor a uma ‘senhor’ vilã. A grave anomalia
sempre chamara a atenção dos investigadores,
mas sem que tivessem surgido respostas credíveis
para a sua ultrapassagem ou justificação. O
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próprio incipit do cantar – não dizendo que era
uma ama, mas que se chamava Ama – não era,
desde logo, isento de ambiguidades. E foi
precisamente à procura desta Ama que partiu a
filóloga lisboeta, entrando pela História adentro,
até chegar a Urraca Guterres Mocha, pertencente
a uma linha secundária da importante linhagem
castelhana dos Meneses, mas filha da portuguesa
Elvira Anes de Sousa que nela casara com
Guterres Soares de Meneses, também conhecido
como Guterres Mocho. Como lembrou mais tarde
Yara Frateschi, a associação entre o mocho e
amma, a designação latina desta ave, não passara
despercebida a Carolina Michaëlis2, cujo
inquérito às cantigas tinha uma latitude que se
perderia posteriormente. Mas a investigadora
germânica teve de deixar de lado uma qualquer
2 Glosas…, p. 34, n. 5.
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hipótese de prosseguir esta pesquisa. Talvez, digo
eu, por falta da ‘Mocha’, o obrigatório terceiro
vértice do triângulo que acionou as associações
necessárias entre a alcunha familiar, proveniente
do pai, e amma, apesar de a investigadora se ter
referido a Urraca Guterres, mas sem a alcunha
familiar, entre as amas de alguns monarcas
peninsulares3. Urraca Guterres sê-lo-ia, de facto,
mas demasiado tarde para essa função poder ter
deixado qualquer eco na produção dos cantares do
trovador português. Para a Ângela Correia, feita a
associação, tratou-se de sair do conforto da
filologia e da literatura e verificar como se
conjugavam os dados biográficos disponíveis
sobre Urraca Guterres com os dos trovadores
envolvidos na polémica e, por outro lado, com as
questões da datação da composição e respetivo
3 Glosas…, p. 52.
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Description:Galego-Portugueses. Ângela Correia. António Resende de Oliveira prefaciou este livro. Jessica Ferreira editou-o para publicação na Bibliotrónica.