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DESAFIOS A UMA FÉ ENGAJADA
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O
DESAFIOS A UMA FÉ ENGAJADA
I I
" A Igreja não éo reino de Deus,
mas expressão, vanguarda,
antecipação esinal desse
mesmo reino. Nem todos os que
nela visivelmente estão, de fato
são; nem todos os que dela são,
visivelmente estão. Nela
encontramos diversos dons,
vocações e níveis de
maturidade.
O Brasil tem sido um país de
'donos'. O nosso legado é
religioso, mas de uma
religiosidade superficial ede
conteúdo ético débil. Os
cristãos, espalhados pelas várias
classes sociais, vamos
,
reproduzindo a ideologia, os
interesses eos discursos das A IGREJA O PAIS
nossas respectivas classes. Não
o 1
percebemos que o compromisso
E MUNDO
com o reino de Deus nos chama
para adenúncia, apronúncia, a
proposta eaação.
DESAFIOS A UMA FÉENGAJADA
Entre asnações edentro das
nações o conceito de justiça
social éconsiderado uma
aberração. A competitividade
pressupõe o individualismo ea
solidariedade éalgo
contraproducente. O mundo
'normal' requer a luta de todos
contra todos, com a
sobrevivência dos mais fortes.
O lema da nossa época parece
ser: 'Cada um por si e diabo
ó
por alguns'.
A ação iluminada pela adoração
e pela reflexão nos dará
melhores condições para ver,
julgar e agir, sem sacralizarmos
sistemas ou épocas, mas sendo
sal e luz, apartir de um
eterno que tenha sempre o
frescor da atualidade. "
Copyright © 2000 by Robínson Cavalcanti
Projeto Gráfico:
Editora Ultimato
P Edição:
julho de 2000
Revisão:
Antônio Carlos \17. C.Azeredo
Bernadete Ribetro Tadim.
Délnia M. C. Bastos
" O medo de ser julgado mata a
l,ícha catalográfica preparada pela Seção de Catalogação espontaneidade; impede os homens de se
cClassificação da Biblioteca Central da UFV manifestar e de se exprimir livremente, tal
Cavalcanti, Robinson, 1944- como são. Épreciso muita coragem para
C376i 1\ Igreja, o país e o mundo; desafios a uma fé engajada/ pintar um quadro, para escrever um livro,
2000 Robinson Cavalcanti. - Viçosa: Ultimato, 2000.
l(,Or· para construir um edifício com linha
ISBN S5-S6539-14-7 arquitetônica nova ou para formular uma
1.Cristianismo cpolítica. 2.Cristianismo ecultura. 3.Ética cristã. opinião independente, uma idéia original. "
4.Fé.5.Vidacristã. I.Título.
(DO. 19.ed. 261.7
con
20.ed. 261.7
Paul Tournier
2001
Publicado com autorização ecom todos os direitos reservados
EDITOR.-\ UI:W,IATO J.rr».
Caixa Postal 43 -36570-000 Viçosa -Me
Telefone: (31)3891-3149 -Fax (31)3891-1557
E-mail: [email protected]
Ao
Rev.[ohn Stott,
Estadista do Reino,
pelos 30 anos de inspiradora amizade
o
autor
Robínson Cavalcanti é casado. tem dois filhos e se identifica
como "um nordestino alabucano (nascido em Pernambuco e
criado em Alagoas). oriundo da classe média (com primos
pobres e primos ricos). filho de pai médium espírita e mãe
católica tradicional (que. posteriormente. se converteram ao
Evangelho)" .
Por causa de seu espírito interdenominacional.
trabalhou por mais de dez anos com aAliança Bíblica
Universitária do Brasil (ABUB)e participou da Fraternidade
Teológica Latino-americana (FTL).da Comissão de Lausanne
para a Evangelização Mundial (LCWE).da Aliança Evangélica
Mundial (WEF)e da Fraternidade Evangélica da Comunhão
Anglicana (EFAC).
Licenciado em ciências sociais. bacharel em direito e mestre
em ciência política. Robínson Cavalcanti é professor adjunto
da Universidade Federal de Pernambuco e da Universidade
Federal Rural de Pernambuco. Reside em Olínda e ébispo da
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil.
9
Sumário
Prefácio 13
A IGREJA
1.Os cristãos e o estado da igreja 17
2. O exótico protestantismo de Contra-reforma 21
3. Cristianismo: exc1usivismo vetsus inc1usivismo 25
Outros livros ôo autor: 4. O culto evangélico no Brasil 29
5. Evangelicalismo, cultura ejulgamento 39
> Cristo na universidade brasileira
> Uma bênção chamada sexo 6. Os caluniadores de Satanás 45
> O cristão, esse chato! 7. As potestades do mal e os poderes da terra 51
> Asorigens do coronelismo
o
> Cristianismo e política PAÍS
> Igreja - agência de transformação histórica 8. Os cristãos e o estado do país 57
> Igreja - comunidade da liberdade 9. Aprendendo com ahistória: 1964, nunca mais 61
> Libertação e sexualidade 10.Asituação sócio-econômica e política da A.Latina 67
> Autopia possível- em busca de um 11. O papel profético da Igreja nas relações lgreja-Estadrv 83
cristianismo íntegral
12. Os evangélicos e o projeto histórico 95
13.Ahora e avez do Brasil 99
10
11
o
MUNDO
14. Os cristãos e o estado do mundo
105
15.Aglobalização e os desafios do neoliberalismo
109
16. Civilização em transição
119
17. Construindo a era pós-secular
129
18.Aespiritualidade na pós-modernidade
133
APÊNDICE
Respostas honestas a perguntas honestas
137
Posfácio Prefácio
157
Notas
159
,
E bíblico e sabido que não só da fuga do inferno e da
esperança do céu, ou da Nova Jerusalém, vivem os cristãos, .
se estes pretendem realmente viver e não apenas existir.
Chamados e transformados pelo Deus da graça, eles são
enviados para a Igreja. o país e o mundo pelo Deus da
Providência e Senhor da história. para encarnarem. por
palavras e ações, o Evangelho. com as decorrentes alegrias e
dores. com os previsíveis martírios e glórias.
Neste trabalho. procuramos refletir sobre nossas crenças.
nossa identidade. nossos problemas e nossos desafios para a
vivência (engajamento) de uma fé madura. sadia e relevante.
Nele. há uma busca de uma mais adequada compreensão da
Igreja. do país e do mundo. com o propósito de uma melhor e
obediente inserção transformadora.
12 13
Reflexões sobre estes e outros desafios foram, também,
o propósito dos nossos nove livros anteriores, de um
sem-número de artigos e palestras, expressando posições,
tomando partido. levantando bandeiras, propondo soluções.
Este décimo livro, publicado nestes tempos de incertezas
globais, não foge àbiografia do autor, sua maneira de ser e de
pensar, afetada, mas não alterada, pelo exercício do
episcopado.
Um livro não engloba tudo o que pensa o autor, mas este é
uma boa síntese de nossas reflexões, cujo espaço de veículação
tem sido, nos últimos quatorze anos, principalmente a revista
Ultimato.
Esperamos, com humildade, contribuir para essa
tumultuada travessia de século e de milênio, na companhia do
povo da nova e eterna aliança.
Paripueira (AL). 26de maio de 2000
A IGREJA
Festa deAgostinho, primeiro arcebispo de Cantuária
Robinson Cavalcanti
Bispo da Diocese Anglicana do Recife
14
1.
Os cristãos e o
estado da Igreja
A Igreja, de origem divina ecomposição humana, éum mistério,
um povo eum pacto: una, santa, católica eapostólica. Elanão
éoreino de Deus, mas expressão, vanguarda, antecipação esinal
desse mesmo reino. Criada segundo o coração de Deus. dentro
da economia da salvação, ela é formada de gente, com suas
personalidades, temperamentos e histórias de vida, situada no
tempo e no espaço, na cultura e na conjuntura.
Nem todos os que nela visivelmente estão, de fato são, nem
todos os que são dela, visivelmente estão. Nela encontramos
diversos níveis de maturidade, de dons e de vocações.
Essencialmente missionária - enviada com um conteúdo e
um propósito -, ela expressa essa missão em: a) uma dimensão
koinônics. a comunhão dos santos, que se apóiam, se respeitam
e se identificam; b) uma dimensão didática: a aprendizagem
cognitiva existencial do conteúdo da revelação; c)uma dimensão
dieconsl. o amor concreto, asolidariedade, o serviço, as obras
A IGREJA, O PAís EO MUNDO A IGREJA
de misericórdia: d) uma dimensão kerigmetice. o anúncio. a Se quisermos ser honestos para com Deus e para conosco
proclamação do evangelho do reino: e) uma dimensão profética: mesmos. teremos de reconhecer adistância entre oideal eoreal
a defesa da vida e a denúncia dos sistemas de opressão. em nossos dias e a ausência de consciência e de desejo de
Alguns obstáculos são constantes ameaças à realização da mudanças. Sabemos que. sem compromisso com oreino. aIgreja
Igreja: o sectarísmo-denomínacíonalísmo. o ísolactonísmo- não é Igreja. que o reino caminha pela afirmação de valores. e
egocentrísmo-ínsensíbílídade. a compreensão parcializada ou que não há reino sem cruz.
equivocada da revelação. oIegalísmo-moralísmo, afalta de objeti-
o
vos. o medo dos riscos e do martírio. Brasil
Para sua saúde espiritual. a Igreja tem buscado um equilíbrio
Entre nós. o materialismo, o ateísmo e o agnosticismo. que
entre adoração e ação. razão e emoção. ações internas e ações
nunca foram fortes. praticamente desapareceram. O ocultismo
externas. individualidade ecoletividade. tradição einovação. pla-
e o esoterismo vivem um momento de perversa pujança. O
nejamento e espontaneidade. Tem procurado superar as
mercado religioso explode, com seitas, cultos eigrejas para todos
parcializações do seu conteúdo. sendo. ao mesmo tempo. porta-
os gostos.
dora de uma religião de salvação, uma religião de libertação e
Já tivemos uma religião oficial (acatólica romana. até 1889).
uma religião de resultados.
uma religião hegemônica ou "oficiosa" (a mesma romana). e
agora vivemos a tumultuada travessia para o multículturalismo
o
mundo
religioso e o pluralismo eclesiástico, sem que grande parte dos
A crise da modernidade tem feito a Igreja voltar à pré- nossos líderes pareçam preparados para tanto. O quadro se nos
modemídade. ao dogmatismo e ao misticismo, ao mundo mágí- afigura como caótico. desordenado. anárquico até, com a multi-
co-mítico medieval. com um "Cristo" débil. demônios fortes e plicação .de "microempresas religiosas" (Eu & Deus Ltda.). sob
anjos importantes. A teologia da prosperidade. a teologia do líderes autoproclamados, imaturos. pretensiosos. intolerantes e
dornínío (reconstrucíonísrno). a batalha espiritual. com seus vaidosos.
"demônios territoriais" (geopolítica infernal) e suas "maldições As novidades esdrúxulas de origem norte-americana são
hereditárias". nos enchem de justífícadas preocupações. acriticamente aceitas como válidas. Olegado da Reforma parece
Oaposentado bispo protestante Leslíe Newbegin (que foi mis- ter-se perdido.
sionário na Índia). analisando recentemente a situação mundial A Bíblia e a tradição viva dão lugar ao experimentalismo
da Igreja. afirmou que: 1) a Igreja está aprisionada pelo mundo individualista eaos espetáculos coletivos, com seus profissionais.
científico consumista e neo-líberal. 2) as únicas contestações a Oliberalismo/modernismo está morto. Ateologia dalibertação é
este mundo aprisionante estão vindo do Islã: 3) a Igreja está di- uma pálida memória para abraçadores de árvore. Roma. alegre e
ante dos desafios de se libertar desse aprisionamento. impactar perplexa com aderrocada do comunismo eaascensão do materi-
novamente ahistória eacivilização. edar uma resposta superior alismo hedonista, redescobre os pecados do "lado de cá" (capita-
às do Islã. lismo). Eoprotestantismo balança entre o ímobílísmo, oaprisio-
Não podemos reduzir a Igreja a um clube religioso de iguais. namento às fórmulas e formas do passado eo rompimento infe-
que se refugia do mundo. põe a fé em: um compartimento e liz com suas raízes. arrebentando com a sua identidade.
espera a morte e o além. enquanto promove entretenimento Temos funcionado como expressão ideológica de uma classe
e espetáculos alienantes, sem profundidade e sem visão. (aburguesia). uma civilização(oOCidente). uma raça (osbrancos).
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