Table Of ContentBALDUINlA. n.39, p. 13-18, üS-IIl-2üI3
AFAMÍLIA ERICACEAE NO BIOMA PAMPA DO RIO GRANDE DO SUL.
l-AGARISTA CHLORANTHA (CHAM.) G.DONl
LEONARDO PAZ DEBLE2 JOSÉ NEWTON CARDOSO MARCHIORP
ANABELA SILVEIRA DE OLIVEIRA-DEBLE4
RESUMO
Agaristachlorantha(Cham.) G.Don (Ericaceae) éincluída no Bioma Pampa do Rio Grande do Sul com o
presente registro de sua ocorrência notopo do Cerro dos Munhoz, município de Santana do Livramento.
Palavras-chave: Agaristachlorantha,Ericaceae, Flora do Rio Grande do Sul.
ABSTRACT
[The family Ericaceae in the Pampa Biome of Rio Grande do Sul State, Brazil. 1 - Agarista
chlorantha (Cham.) G.Don].
Agarista chlorantha (Cham.) G.Don (Ericaceae) is included in the Pampas Biome of Rio Grande do Sul
State (Brazil) after collections made on the top of "Cerro dos Munhoz", in the munipality of Santana do
Livramento.
Key words: Agaristachlorantha,Ericaceae, Flora of Rio Grande do Sul.
INTRODUÇÃO Sobre este ponto, cabe destacar que aespé-
Vinculada à"antiga flora das montanhas", a cie foi anteriormente registrada por Grela &
farrulia Ericaceae apresenta no Rio Grande do Brussa (2005) em "cerras chatos" do Departa-
Sul cerca de 10 espécies na região dos Apara- mento de Rivera (Uruguai), suscitando uma in-
dos da Serra e apenas Agarista eucalyptoides vestigação detalhada naregião fronteiriça doRio
G.Don na metade sul do Estado, espécie cuja Grande do Sul.
distribuição geográfica se estende "até a fron- Na literatura botânica brasileira, Agarista
teira do Uruguai" (Rambo, 1949). Embora cor- chlorantha era reportada apenas para o sudeste
reta, em seus traços gerais, esta abordagem do Brasil, desde o Distrito Federal, sul de Mi-
merece reparo no tocante à representação da nas Gerais eSãoPaulo, atéosestados doParaná
família no Bioma Pampa, posto que coletas re- e Santa Catarina (Judd, 1995). Para o último
centes alteram significativamente o quadro ex- destes estados, Marques (1975) cita coletas pro-
posto. Éocaso deAgarista chlorantha (Cham.) cedentes dos municípios de Água Doce, Caça-
G.Don, que passa aintegrar aflora deste bioma dor, Ireneópolis e Praia Grande, todas elas na
no Rio Grande do Sul, com base em coletas re- região fitogeográfica dos Pinhais ou Planalto,
alizadas notopo doCerro dos Munhoz, municí- de acordo com Reitz et al. (1978). Nesta mes-
pio de Santana do Livramento. ma publicação, Roberto M. Klein informa, em
suas "considerações ecológicas", que o limite
austral da espécie se encontra na "Zona da
matinha nebular que vai desde o Campo dos
Recebido em 10-11-2012 e aceito para publicação em
I
05-12-2012. Padres", nomunicípio deBom Retiro, atéa"lo-
2 Df. Professor do Curso de Ciências da Natureza, calidade de Itaimbezinho", no "antigo municí-
UNIPAMPA (DomPedrito - RS)[email protected]
pio de São Francisco de Paula", Rio Grande do
3 Engenheiro Florestal, Df.Professor Titular do Departa-
mento de Ciências Florestais, Universidade Federal de Sul. Roland & Mondin (2009), mais recente-
Santa Maria. Bolsista de Produtividade em Pesquisa mente, referem cinco coletas de Agarista
(CNPq - Brasil).
chlorantha emherbários doEstado. É,justamen-
Dra. Professora do Curso de Tecnólogo em Gestão
4
Ambiental, URCAMP (Dom Pedrito - RS). te, pela notável disjunção verificada entre os
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registros de Grela &Brussa (2005), em territó- DESCRIÇÃO BOTÂNICA
rio uruguaio, e adistribuição geográfica referi- Agarista chlorantha (Cham.) G.Don, Gen.
da para aespécie na literatura brasileira, que se Hist. 3,p.38. 1934.
justifica arealização da presente pesquisa. Bas.:Andromeda chlorantha Cham., Linnaea
O trabalho de campo foi desenvolvido no 8: 508. 1833. Leucothoe chlorantha (Cham.)
município deSantana doLivramento, Rio Gran- DC., Prodr. 7: 604. 1839.
de do Sul, em quatro cerras chatos vinculados à =Andromeda serrulata Cham., Linnaea 8:
região geomorfológica da Depressão Periféri- 506. 1833. Agarista serrulata (Cham.) G.Don,
ca, situados a leste da cidade: Cerro Trindade Gen. Hist. 3: 838. 1834. Leucothoe serrulata
(30° 59' 11.81" S, 55° 25' 24.48" O), Cerro do (Cham.) DC., Prodr. 7: 604. 1839.
Chapéu (30°57'9.74" S,55°28'20.79" O),Cerro = Amechania subcanescens De. Prodr. 7:
dos Munhoz (30°56' 11.06" S,55°23' 38.53" O) 579. 1839. Leucothoe subcanescens (DC.)
e Cerro Florentina (30° 54' 18.61" S, 55° 24' Meissn., FI. Brasil. (Martius) 7: 163. t. 62, figo
26.16" O). 1.1863.Leucothoe chlorantha (Cham.) De. varo
Embora variáveis, no tocante a dimensões, subcanescens (De.) Sleumer, Bot. lahrb. Syst.
estes quatro cerras assemelham-se pela compo- 78: 454. 1959.
sição geológica, apresentando escarpas verticais
areníticas e topo aplanado com rochas muito Arbustos de 1-2 m,ramificados desde abase,
silicificadas, resistentes ao processo erosivo. com ramos ascendentes ou patentes, os mais
Em todos os quatro cerras foram encontra- novos pubescentes. Folhas alterno-espiraladas,
dosindivíduos deAgarista eucalyptoides G.Don brevemente pecioladas, comlâminas suavemen-
no alto das cornijas; Agarista chlorantha, no te discolores, aproximadamente orbiculares,
entanto, foi observada apenas no Cerro dos ovadas, oblongas ou elípticas, 1-3 x 0.5-2 cm,
Munhoz. de margens serreadas e revolutas, levemente
Além destas duas Ericáceas, no mesmo am- agudas até rotundas no ápice, rotundas a
biente também seencontram indivíduos esparsos cordadas nabase. Folhas apicais frequentemente
de llex dumosa Reissek, Ocotea pulchella avermelhadas e densamente pubescentes,
(Nees) Mez e Ocotea puberula (Rich.) Nees, pubescência constituída de tricomas simples e
bem como algumas mirtáceas anãs. glandulosos entremeados, folhas mais velhas
Dos quatro cerras investigados, oCerro dos glabrescentes. Inflorescência em racemos ter-
Munhoz é o de vegetação melhor preservada, minais ou axilares de 3-12 flores, concentra-
sobretudo pela dificuldade de acesso, inclusive dos na parte distaI dos ramos. Raque da
para o gado. Os indivíduos de Agaristha chlo- inflorescência densamente pubescente, provida
rantha se encontram muito espaçadamente ao de brácteas triangulares. Flores perfeitas, de 8-
longo de toda aborda da cornija mas chegam a 14mm. Sépalas 5,livres, triangulares, 10-15 x
ser abundantes em alguns pontos, não faltando, 1.5-2 mm, pubescentes, com tricomas glandu-
inclusive, no interior do platô, em meio a ro- lares e não glandulares. Corola urceolada, pro-
chas e em associação com o capim-limão vida de cinco pétalas concrescidas, 8-14 mm x
(Elionurus sp.).Como importante novidade para 4-5 mm, branco-creme ou branco-esverdeada
aflora do Rio Grande do Sul, éapresentada, na em quase toda a extensão, amarelada ou
seqüência, uma descrição botânica eilustrações avermelhada em sua parte distaI. Estames 10,
desta Ericácea pouco conhecida no Estado. livres, com filamentos em forma de fita, com
•
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FIGURA 1- Agarista chlorantha. A, B- Hábito. C- Inflorescência. D- Infrutescência.
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tricomas simples concentrados nametade basal. (Ericaceae). Acta Bot. Bras., v.19,n.3,p.511-
Fruto do tipo cápsula, esférico, 4-5 x 5-7 mm, 514,2005.
abrindo-se por lóculos apicais. Sementes angu- JUDD, W.S. Agarista. In: LUTEYN, J.L. (ed.).
Ericaceae - Part 11.The Superior-Ovaried
losas, avermelhadas. Sépalas persistentes.
Genera (Monotropoideae, Pyroloideae, Rho-
dodendroideae, and Vaccinioideae p. p.). New
Material examinado: BRAZIL. Rio Grande
York:New YorkBotanical Garden, 1984.p.295-
do Sul, Santana do Livramento, Cerro dos
344. (Flora Neotropica; monograph 66).
Munhoz, no topo do cerro, em campo rupestre
MARQUES, M.doC.M.Ericáceas. In:REITZ, P.R.
e entre rochas, fi., 30° 56' 16.43" S, 55° 23'
Flora Ilustrada Catarinense. Itajaí: Herbário
37.21" 0, ll-X-2012, L.P.Deble, A. S.de Oli-
Barbosa Rodrigues, 1975. p. 30-32.
veira-Deble & J. N. C. Marchiori 14393 RAMBO, B.Aflora deCambará. Itajaí: Anais Botâ-
(PACA,SI); idem, no topo do cerro, em campo nicos do Herbário "Barbosa Rodrigues", 1949.
rupestre, fi.,fr.,30° 56' 14.89" S,55° 23' 37.12" p.117.
0, 9-XI-2012, L. P. Deble, A. S. de Oliveira- REITZ, R.; KLEIN, R.M.; REIS, A. Projeto Madei-
Deble &J.N. C.Marchiori 14437 (PACA, SI). ra de Santa Catarina. Sellowia, Itajaí, n. 28-30,
p. 20,1978.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ROLAND, R. L.;MONDIN, C.A. Sinopse prelimi-
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GRELA, LA.; BRUSSA, C.A. Novedades para la do Sul. In: X Salão de Iniciação Científica
flora deI Uruguay: nuevo registro de Agarista PUCRS, Porto Alegre, p. 208-210,2009.
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