Table Of ContentA fMNfca da __a ção
pi ......
apresentar alguns dos enormes desafios e dificuldades
que marcam o debate em torno do trabalho e da
educação. E o faz através de algumas indagaç6es:
Quais foram as mudanças na organização do trabalho
e suas demandas à formação dos/as
trabalhadores/as durante o capitalismo
questões
do século XX? Por que elas estão sendo
da nossa
profundamente modificadas no presente?
,
epoca
Que interesses motivam estas mudanças
vOlume58 e que concepções elas representam?
E mais: A educação ainda pode oferecer
algum papel de relevo na emandpação
da humanidade?
Concebido especialmente para esta Coleção. ele
Interessa aos/às estudantes, professores/as e
pesqulsadoreslas do mundo do Trabalho e da
Educação. assim como a todos/as que estão
envolvidos/as no avanço e fortaledmento
da EdUcação Pública.
A nova coleção questões da
nossa época reformula e inova
os projetos da Cortez Editora.
Neste recomeço, seleciona A FÁBRICA DA EDUCAÇÃO
textos endossados pelo público,
da especialização taylorista
relacionados a temáticas
à flexibilização toyotista
permanentes das áreas de
Educação, Cultura Brasileira, Serviço
Social, Meio Ambiente, Filosofia,
Linguagem, entre outras. Os autores
reconhecidos pelo público discutem
conceitos, instauram polêmicas,
repropõem questões com novos
olhares.
A Cortez Editora, ciente do seu
dever e compromisso ante
a sociedade, estimula uma discussão
permanente, oferecendo volumes
curtos, de leitura rápida e agradável.
Ao voltar seu olhar retrospectivo,
constata um caminho percorrido
em que se fortaleceu a ordem da
consciência e da liberdade. Dirigindo
o olhar para o futuro, projeta o
desejo da reatualização dos temas
que caminham com a comunidade
e o mundo em mudança.
Em novo formato, a Coleção divulga
autores prestigiados e novos
autores. Mantém seu compromisso
com a cultura brasileira, bem como
para com os temas abordados
por importantes intelectuais
estrangeiros.
Ricardo Antunes é
professor titular de Sociologia no
IFCH/Unicamp. Autor, entre outros
livros, de Adeus ao trabalho?,
Cortez, publicado também na Itália,
Espanha, Argentina, Colômbia e
Venezuela; Os sentidos do trabalho,
Boitempo, publicado também na
Itália, Inglaterra/Holanda, EUA,
Portugal, 'ndia e Argentina; Riqueza
e miséria do trabalho no Brasil
(organizador), Boitempo, vol. I, 11 e
111. Atualmente coordena as coleçôes
Mundo do Trabalho, pela Boitempo,
e Trabalho e Emancipação, pela
Expressão Popular.
Geraldo Augusto
Pinto é professor de Sociologia
do Departamento Acadêmico de
Estudos Sociais e do Programa
de Pós-Graduação em Tecnologia
e Sociedade da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná.
Bacharel, mestre e doutor em
Sociologia pelo IFCH/Unicamp. Autor
dos livros A organização do trabalho
no século 20: taylorismo, fordismo e
toyotismo, pela Expressão Popular;
e A máquina automotiva em suas
partes: um estudo das estratégias
do capital na indústria de autopeças,
pela Boitempo.
GRÁFICA PATM
TeI. [111 4392·3344
[email protected]
Questões da Nossa Época Ricardo Antunes
VoluITIe 58
Geraldo Augusto Pinto
A FÁBRICA DA EDUCAÇÃO
da especialização taylorista
Dados Internacionais de Catalogação na Publjc.,ção (CIP)
(Câmard Brasileira do Livro, SP, Brasil) à flexibilização toyotista
Amunes, RicardQ
A fábrica da educação: da especializaç.io taylorista à flexibili
zação toyotista / Ricardo Antunes, Geraldo AugustO Pinto. - São
Paulo: Cortez, 2017. - (Coleção questões da nossa época; v. 58)
Bibliografia.
ISBN,978-85-249-2519-1
I. Capitalismo 2. Organização da produção 3. Produção (lCoria
econômica) 4. Relações de trabalho 5. Sociologia educacional
G. 1Tabalho e classes trabalhadoras - Educação L Pimo, Geraldo
AugustO. li. Título. lI!. Série.
17-01998 COO-306.43
índices para catálogo sistcmâtico:
1. Trabalho e educação: Sociologia 306.43
5
A FÁBRICA DA EDUCAÇÃO: da especialização taylorista à flexibilização toyotista
Ricardo Antunes e Geraldo Augusto Pinto ··'
Capa: acrocsludio e
..
Preparação de originais: Jaci Dantas de Oliveira
RctJlsão: Maria de Lourdes de Almeida •
Composição: Linea Editora Ltda.
Sumário
Coorde,wçiio eclitoria/: Danilo A. Q. Morales
In trod u ção .... . .. ... .. . ... ."."" .. "".".""."""."".""".".""". 7
1. Produção e trabalho alienado ................................. 9
2. O sistema taylorista de gestão do trabalho ............. 17
3. Ford e a produção industrial em larga escala ......... 35
4. O sistema taylorista-fordista e o novo mundo da
fábrica.................. ............................... .................... 49
Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou duplicada se.m
5. O toyotismo e sua empresa enxuta e flexível ........ 63
aUlori7.ação expressa dos autores e do editor.
6. A educação utílitária fordista e sua pragmática da
© 2017 by Autores
especialização........... ............................................. 77
Direitos para esta edição
COR'J'EZ EDITORA 7. A educação flexível e a pragmática da
Rua Mome Alegre, 1074 - Perdizes multi fu ncionalidade liofilizada .............................. 89
05014-001 - São Paulo - SP
'Tel.: +55 11 3864011 ; 3611 9616
8. Uma educação em outro modo de vida: uma
E-mail: [email protected]
www.cortezcditora.com.br breve nota conclusiva ....................................... .. 105
Referências ............................... , .................................... lU
Impresso no Brasil - maio de 2017
7
Introdução
Este pequeno livro nasceu de uma pergunta simples
que pode ser assim resumida: qual foi a escola (ou, mais
abrangentemente, a educação) que vigorou ao longo de todo
o século XX, o chamado "século do automóvel"? E por que,
nas últimas décadas, esse projeto está sendo profundamen
te alterado? Quais são os elementos estruturais que impul
sionam a mudança do experimento vivenciado no século
anterior? Que interesses, que valores, que concepções ela
representa? Será que essas mutações têm conexões e inter
-relações densas com as mudanças que atingem o mundo
do trabalho e da produção?
Essas indagações levaram-nos a outra: será que a edu
cação, dados os seus tantos constrangimentos - que reme
tem em alguma medida à "anatomia da sociedade civil"-,
ainda pode exercer algum papel de relevo na longa e difícil
história de emancipação da humanidade?
Seu roteiro será, então, o que segue: qual foi o trabalho
que se desenvolveu com a industrialização capitalista do
século XX? E que escola fora construída por esse mundo
produtivo? Que formação carecia, segundo alguns de seus
principais formuladores?
8 ANTUNES· PINTO 9
E o que vem se passando nas décadas desse tormento
so século XXI, nessa era financeira, digital e flexível que
conforma o capitalismo na feição mais destrutiva de que
sua história tem notícia?
Se os filhos das classes médias e da classe burguesa
encontravam nas escolas (e também na educação superior)
1
ancoragem nas engenharias, nas medicinas, nas profissões
liberais, nos ensinos técnicos e profissionalizantes, qual fora
a educação destinada para os filhos da classe trabalhadora? Produção e trabalho alienado
E, mais, em nossos dias, o que pretendem seus formu
ladores e gestores, com suas propostas que mal conseguem
disfarçar seus propósitos, em uma fase em que a desfaçatez
Por que a produção do mundo tem importância na
de classe é escancarada em seu utilitarismo, na imposição
história humana? O que é, afinal, o mundo da produção? E
de sua razão instrumental?
como se desenha o mundo do trabalho no interior do mun
• • • do produtivo?
Devemos iniciar dizendo que a produção só pode ser
. É preciso dizer que este livro, de feição introdutória, foi
compreendida mediante uma articulação complexa entre
escrito por dois sociólogos-professores que não são estudio
o mundo da objetividade e o mundo da subjetividade. Marx
sos da pedagogia. Isso, desde logo, faz aflorar suas tantas
conseguiu fugir de "duas armadilhas" na formulação de suas
limitações. Mas o nosso tempo obriga-nos a recusar o silêncio
teses: tanto a armadilha de um objetivismo naturalizado,
e correr certos riscos, exercitando a reflexão crítica e a de
núncia. Assim este texto foi concebido, especialmente para mecanicizado e determinista, quanto de um subjetivismo
a Coleção Questões da Nossa Época da Cortez Editora. isolado e fragmentado que desconsidera as ricas conexões
do mundo complexo das causalidades e das ações humanas.
No conjunto da obra marxiana, a categoria da totalida
de é central. Marx a retoma de Hegel, reelaborando-a de
maneira que os distintos momentos que a compõem - o
económico, o político, o ideológico, o valorativo - consti
tuam, simultaneamente, processos determinantes e determi
nados. Isso tolhe qualquer possibilidade, quando se toma a
10 ANTUNES· PINTO A FÁBRICA DA EDUCAÇÁO 11
obra de Marx em seu conjunto, de definirmos o seu pensa política. Essa é a ciência nova de que Marx foi o maior cons
mento como determinista (Antunes, 2009a). trutor. Porque a economia política é a negação da economia
isolada como dominante ou da política também isolada
É fácil, em uma obra desse porte, tomarem-se passagens
como prevalente. Porque elas são inter-relacionais. São
aqui e ali, fragmentadas e isoladas de seu contexto maior, e
determinantes e determinadas'. Não é dificil ver, na história,
atribuir-se ao pensamento de Marx não só um determinismo ,
tantos momentos em que a política se sobrepõe, determi
mas, como frequentemente se faz, uma conotação teleológi
nando a economia, e vice-versa.
ca. Só uma cabal desconsideração de sua obra pode permitir
imaginar-se no pensamento de Marx um telos, uma finalida Portanto, o conceito de modo de produção em Marx só
de da história (como há no caso de Hegel, por exemplo). pode ser pensado na perspectiva da totalidade. E, com isso,
Marx rompe com as leituras que seccionam o mundo da
Portanto, o mundo da produção para Marx não se re
objetividade e o mundo da subjetividade e suas dimensões
sume estritamente à produção, mas ao modo de p1'Odução e
inter-relacionais. A reciprocidade verdadeiramente dialéti
de rep1'Odução da vida. É profundamente relacional e é recí
ca desses polos faz que a construção marxiana seja, nesse
proco. As detenninantes são detenninadas. Isso não elide um
sentido, absolutamente fundamental enquanto tentativa de
problema fundamental, que é o da detenninação em última
compreender a totalidade da vida social, na busca do máxi
instáncia. Ao afirmar Marx que há determinações "em últi
mo de conhecimento possível, por intermédio da ciência,
ma instância", não está asseverando inexistirem não
OLl
acerca do modo de produção do ser social e da vida, num
serem efetivas outras determinações na processualidade
dado momento da história.
histórica. Esse "em última instância" é para mostrar que a
política, a ideologia, o mundo valorativo , o simbólico , não Por isso é tão verdade que a consciência é detenninada
"voam" livres pelo ar, não têm autonomia completa em pelo ser, tanto quanto o ser também é determinado pela
relação ao mundo concreto, material. c0l1sciéncia, "[ ... ] que as circunstâncias são modificadas pelos
Marx constatou, desde seus primeiros estudos de ju próprios homens e o próprio educador tem de ser educado"
ventude, como a Crítica da filosofia do Direito de Hegel (Marx, (Marx; Engels, 2007, p. 533). É assim que se deve compreen
2005), escritos na virada entre 1843-1844, em particular na der a noção de modo de produção em Marx, profundamen
Int1'Odução dessa obra, que a anatomia da sociedade civil se te inter-relacional, dialética, caracterizada pelas detennina
encontl'a na economia política. Marx usa aqui a expressão dos ções recíprocas.
filósofos iluministas até Hegel: a sociedade civil no sentido
da sociedade burguesa e de classe. A sua determinação, em
1. Em A Ideologia Alemã, no extrato "Fcuerbach e História-, afirmam Marx e
última instância, está no mundo material. Mas, atenção: Engels, a respeito: "a indústria e o comércio, a produção e o interc.,lmbio das
necessidades vitais condicionam, por seu lado, a distribuição, a estrutura das
não é no mundo estrito da economia. E não é também no
diferenles classes sociais e são, por sua vez, condicionadas por elas no modo de
mundo restrito da política. É no universo da economia seu funcionamento ( ... r (Marx; Engels, 2007, p.31).
12 ANTUNES· PINTO A FABRICA DA EDUCAçAO 13
Outra contribuição decisiva de Marx é a constatação modo de produção capitalista, no qual o produto do trabalho,
de que o trabalho, no modo de produção capitalista, acaba que resulta de sua exteriorização, não pertence ao seu cria
por assumir a forma de trabalho alienado. E a esse respeito, dor, o ser social que trabalha. Essa é, para Marx, a primeira
cabe aqui uma nota explicativa. Neste livro denominaremos expressão da alienação nesse modo de produção.
como alienação o complexo social que compreende dois Num segundo momento (uma vez que são quatro os
fenômenos muito aproximados, mas não idênticos: o estra momentos constitutivos do processo de alienação), o/a
nhamento (no original em alemão: entfremdung) e a exte trabalhador/a que não se reconhece no produto do seu
riorização (entausserung). trabalho e dele não se apropria é um/a trabalhador/a que
não se reconhece no próprio processo laborativo que realiza.
Nós não aprofundaremos aqui o difícil debate acerca das
Ele/anão se realiza, mas se aliena, se estranha e se fetichi
suas sirnilitudes e diferenças. Essas categOlias são formuladas
za no próprio processo de trabalho. Isso leva ao terceiro
por Marx e, em nosso entendimento, integram o fenômeno
momento, em que o ser social que trabalha não se reconhe
social da alienação do seguinte modo: o estranhamento é uti
ce enquanto uma individualidade nesse ato produtivo cen
lizado por Marx quando pretende enfatizar a dimensão de
tral da sua vida: é ''[. .. ]um ser estranho a ele, um meio da
negatividade que caracteriza o trabalho assalariado no capi
sua existência individual" (Marx, 2004, p. 85). Fato que nos
talismo. Por outro lado, a exteriorização está presente em toda
leva ao quarto momento: por não se reconhecer como i.n
a atividade humana que cria e produz. Com a generalização
divíduo, o/a trabalhador/a também não se reconhece como
da fO/ma-mercadoria e do trabalho abstrato, dada sua clara
parte constitutiva do gênero humano: ''[. .. ] é o estranhamen
negatividade, na análise de Marx, ter-se-ia a constituição de to do homem pelo [próprio] homem" (Id. lbid., loco cit.).
um momento histórico em que ocorre uma forte aproximação
São muito esclarecedoras as seguintes palavras de Marx
entre o estranhamen/o e a exteriorização'.
(2004, p. 84-85) a respeito, nos Manuscritos Econômico-Filo
Ainda segu ndo nossa i.nterpretação, esses fenômenos sóficos, redigidos no ano de 1844, em Paris:
integram o complexo social da alie/1ação. O trabalho é alie
o
nado para Marx na medida em que expressa a dimensão de animal é imediatamente um com a sua atividade vital.
Não se distingue dela. É ela. O homem faz da sua atividade
uma negatividade (estranhamento) sempre presente no
vital mesma um objeto da sua vontade e da sua consciência.
Ele tem atividade vital consciente. Esta não é uma determi
2. Sobre isso, remetemos o/a leitor/a ao Posfácio de História e ConsciêncIa de nidade (Bestimmtheit) com a qual ele coincide imediatamen
Classe de Lukács (2004) e à sua obra de maturidade, Para Uma Omologia do Ser
te. A atividade vital consciente distingue o homem imedia
Social, especialmente o quano capítulo do segundo volume (Lukács, 2013). E aos
tamente da atividade vital animal. Justamente, [el só por
excelentes esrudos (ainda que com abordagens diferenciadas) de Més7.âroS (2006)
e de Ranieri (2001). isso ele é um ser genérico. Ou ele somente é um ser cons-
j