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18 crônicas
e mais algumas
Sobre 18 crônicas e mais algumas
Sobre 18 crônicas e mais algumas
Somos feitos de corpo e história
Imaginar uma separação clara e distinta entre sofrimento social e sintoma
psíquico é uma das fronteiras ideológicas mais tensas e controladas de nossa
época. Para essa travessia, é preciso a coragem continuada de Maria Rita Kehl,
que mostrou como clínica psicanalítica é crítica social feita por outros meios.
Nesta série de crônicas se encontra o hoje clássico “Dois pesos ...” sobre o valor
do voto dos pobres, que teve um papel raro para um ensaio jornalístico ao se
transformar, ele mesmo, em fato político. Ótimo exemplo, em carne viva, desse
efeito de real que Maria Rita vai buscar com música, literatura e poesia; e que
traz ao leitor como anatomia dos sintomas sociais de nossa época. Esse
diagnóstico do presente mostra, por exemplo, a continuidade sintomática entre
a tolerância para com a tortura militar de antes e seu retorno sob a forma de
violência e extermínio policial de agora. Esse passado que “nos poupa da
dimensão trágica da escolha” vem cobrar seu presente. Não é que sejamos mais
uma vítima que tem de “ser protegida de si mesma”, é que a vida passou a
valer pouco. Vida supérflua, deformação simbólica, pela qual nos reconhecemos
em um cachorro perdido entre escombros de uma enchente. Truque do
recalcamento, que nos faz pensar que é só na família dos outros que crianças
são mortas. Maneira precária de enfrentar a angústia pela fantasia de um
estado de segurança que nos pouparia o trabalho do medo: “No limits”, “Você
merece”. É por isso que as palavras que sobram para inocentar o “nobre colega”
de um conselho de ética faltam quando se trata de tirar a vida, “sua única vida”
ou tantas únicas vidas de passageiros de um desastre aéreo, esta vida de
caminhoneiro, esta insustentável vida sem água. Na falta de palavra e de
memória, “mostrem-se alguns cadáveres”, eventualmente em “hedionda
clonagem” ou ainda ao modo da fé em forma de vírus. Mas que sejam negros,
pobres ou pardos. Desde que se possa controlar o que deve ser visto e o que
deve permanecer por trás do insulfilm ou dos óculos escuros morais, “torres” de
habitação e fortalezas narcísicas. Fora disso, a turba fascista poderá dizer:
“mulher de minissaia só na universidade do outro”. Masculinidade sitiada?
Afinal, por que os homens querem casar de novo, antes das mulheres? O
complexo de insuficiência substituiu as antigas formações de culpabilidade? O
tédio seria um sinal do declínio do erotismo? Ou o contrário? A depressão é
efeito de nossa condição de sujeito “sem teto” ou ela está em incubação
encapsulada em nossa perda da experiência do tempo, do outro, da memória e
do corpo? Contra a ética do gozo, estes ensaios mostram como é possível outra
forma de entendimento do social, que não seja uma mistura obscena entre um
estado de festa permanente e a exigência normativa e reativa de ordem e
segurança. Para isso é preciso algum trabalho de lembrança e de crítica, de
reconhecimento pela palavra. A “existência metafísica do impedimento”
servindo de suporte para as lembranças das copas do mundo – pelas quais o
brasileiro mede sua história e seu próprio passado – e os festivais da canção são
exemplos dessas experiências que nos passam quase ao lado, e ainda assim tão
próximas, constituindo nossa antibiografia: “Sou fiel ao que fiquei devendo à
minha geração”. A música de Maria Gadú, talvez amada pelas razões erradas,
assim como o cinema de Sérgio Bianchi e a poesia xamânico-sensual de Roberto
Piva são fragmentos de tais lembranças formativas. Sem esse tipo de delicadeza
e de cuidado, com a palavra e com a história, temas como o aborto reduzir-se-
iam à matemática malthusiana da vida. Assim como o canto desnaturalizado do
sabiá paulista jamais contrastaria com a exclusão simbólica da periferia, em
nossas políticas culturais. Marx escreveu O 18 de brumário para mostrar como a
ideologia pode nos apresentar um mundo de cabeça pra baixo, invertido por
interesses, ocultado em sua forma e figura. Maria Rita escreveu estas 18
crônicas e mais algumas para acenar que aqui, em nossa distante periferia
psicanalítica, talvez tenhamos direito a alguma maioridade crítica.
Christian Ingo Lenz Dunker
Folha de Rosto
Maria Rita Kehl
18 crônicas
e mais algumas
Créditos
Copyright © Boitempo Editorial, 2011
Copyright © Maria Rita Kehl, 2011
Coordenação editorial
Ivana Jinkings
Editora-adjunta
Bibiana Leme
Assistência editorial
Caio Ribeiro
Preparação
Mariana Tavares
Diagramação
Livia Campos
Capa
Antonio Kehl
a partir da obra de Claudio Cretti – série Bombinhas
óleo e pó de grafite sobre pergaminho, 2011
Produção
Ana Lotufo Valverde
Versão eletrônica
Produção
Kim Doria
Diagramação
Xeriph
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
K35d
Kehl, Maria Rita
18 crônicas e mais algumas / Maria Rita Kehl. -
São Paulo : Boitempo, 2011.
ISBN 978-85-7559-185-7
1. Psicanálise - Crônicas. I. Título.
11-5510. CDD: 869.98
CDU: 821.134.3(81)-3
26.08.11 01.09.11 029223
É vedada, nos termos da lei, a reprodução de qualquer
parte deste livro sem a expressa autorização da editora.
Este livro atende às normas do acordo ortográfico em vigor desde janeiro de
2009.
1ª edição: outubro de 2011
BOITEMPO EDITORIAL
Jinkings Editores Associados Ltda.
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Sumário
Sumário
Introdução – Uma psicanalista na imprensa
PRIMEIRA PARTE
Meu tempo
Antibiografia
Os sem-cidade
O que os homens querem da mulher?
A morte do sentido
Os vira-latas do Bumba
Tortura, por que não?
Delicadeza
Eis que chega a roda-viva
A pátria em copas
Tristes trópicos
Há método em sua loucura
Estradas
Educação sentimental
Cultura pra quê?
Pra não dizer que não falei
Repulsa ao sexo
Dois pesos...
SEGUNDA PARTE
Deus é um vírus?
Exibidos e escondidos
Por uma vida menos banal
Propostas irrecusáveis