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Carlos Rodrigues Brandão (org.)
Repensando a
pesqtllsa
participante
editora brasiliense
Copyrigfu e dos aurore\
J{enhuma parte desta publicação potle ser g.ravada,
armazenada em sistemas eletrônico.s. .loÍrtcopiada,
reproduzida por meios mecanicos ou outt'os cluoisquer
sern autori:ação previct da editoru.
CaTtu: Joào Baptista da Costa .\guiar
Revisão.' Jose W. S. Moraes
Nobuka Rachi
3" edição, I 98 7
3" reimpressão, 2008
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
tCàmara Brasileira do Livro SP Brasil)
Repensando a pesquisa participante / Carlos Rodrigues
Brandão (org.).-- São Paulo: Brasiliense, 1999.
Vários autores
da 3. ed. de 1987.
ISBN 85-11-0t0tt-7
I. Ciências sociais - Trabalho de campo
2. Observação participante 3. Pesquisa social -
Brasil L Brandão, Carlos Rodrigues , 1940.
99-5210 cDD-300-72081
Índices para catálogo sistemático:
I. Brasil: Pesquisa participante: Pesquisa
social: Ciências ocultas 30A.12081
editora e livraria brasiliense
Rua Mourato Coelho, I I I - Pinheiros
CEP 05417-010 - São Paulo - SP
www. e dit o rab ra s ili e n s e. c om. b r
Índice
Participar-pesquisar
carlos Rodrigues Brandão..
Pesquisa participante: Propostas e projetos Marcela Ga-
j ardo
15
Pesquisa participante: Propostas e reflexões metodológicas
Gry Le Boterf .
. 51
\otas para o debate sobre pesquisa-ação - Michel Thioilent . . 82
Elementos metodológicos da pesquisa participante pedro
Demo
104
Causa popular, ciência popular: Uma metodologia do conheci-
mento científico através da ação - Victor D. Bonilla.
Gonzalo Castillo. Orlando Fals B orda e Augus to Libreros. I 3 1
Pesquisa participante em um contexto de economia campo-
Vera Gianotten e Ton de Wit l5g
E m busca de uma metodologia de ação institucional
Manuel Alberto Argumedo
l g9
-\ participação da pesquisa no trabalho popular
carros
RodriguesBrandão..
......
223
P articip ar-p esquis ar i
Ciência sem conhecimento e a ruína da alma.
Rabelais, Pantagruel, VIII
Ja que cada um dos autores desta segunda coletânea sobre o
assunto vai de algum modo discutir teorias e práticas de modali-
dades de pesquisa participante, quero reservar para estas poucas
páginas de introduÇão uma questão que, por ser possivelmente
menos científica e menos política, em aparência, não tem sido abor-
dada em publico até aqui. Ela parece fazer parte daquilo que, sendo
sentido por todos, não deve ser falado entre ninguém, muito menos
em um livro.
Há segredos que se ocultam de teorias; assuntos do humano
que há no oficio do pesquisador e que somente o pensar sobre a
práttca pessoal revela. Durante anos aprendemos que boa parte de
uma metodologia científica adequada serve para proteger o sujeito
de si próprio, de sua propria pessoa, ou seja: de sua subjetividade.
Que entre quem pesquisa e quem é pesquisado não exista senão
uma proximidade policiada entre o metodo (o sujeito dissolvido em
ciência) e o objeto (o outro sujeito dissolvido em dado). Fora do
F domínio de qualquer interesse que não o da propria ciência, tudo se
resolve com boa teoria no princípio, uma objetiva neutralidade no
nreio e uma rigorosa articulaçáo de ambas as coisas com os dados
obtidos, no final.
Mais tarde, tempos coletivos de militàncra que, €ffi sucessi\ os
§
momentos, tornaram humanos e próximos os "objetos de pesquisa"
.
trouxeram experiências e crenças que , actedito, temos compartido.
r
8
cARLos R'DRIG,ES BRANDÃo ro.g'.) . ,
com variações, vários e diferentes cientistas sociais. Uma delas: só se
conhece em profundidade alguma coisa da vid a da sociedade ou da
ucumlt ucoram, pqruoamnedtoim aetnratov é-s dpee susmoa el nevnotrlvei mo epnetosq -u isaedmo ra elg uanqsu icloas, oosu,
aquele, 9ue ele investiga. outra: não é p.opiiamente um método
objetivo de trabalho científico que determiru opriori u qruli'6;;;,
relação entre os pólos da pesquisa, mas, ao contrário; com freqüên-
cia e a intenção premeditada, ou a evidência real izada de uma re-
lação pessoal e/ou política estabelecida, ou a estabelecer, que sugere
pa eessqcuoilshaa' duoms am oúdltoims aco: necmre btoosa dmee rdeiadlaiz,a çaã loo gdioc atr, aab taélchnoi cdae ep ae nessatrra a-
tegia de uma pesquisa de campo dependem tanto de pressupostos
teóricos quanto da maneira coÍno o pesquisador se çoloca na pes-
quisa e através dela e, a partir d,aí, constitui simbolicamente o outro
que investiga.
Uma das difuculdades fundamentais em uma atividade cientí-
fica cujo "outro lado" é constituído também por pessoas, sujeitos
sociais quase sempre diferentes do pesquisador (índios, negros,
camponeses, "populações marginal izadas;, operários, migrant..)
a de como ttatar, pessoal e metodologicamente, uma relação ante-é
cedente de alteridade que se estabelecã e que, na maioria dos casos?
e aprópriacondição da pesquisa.
Algumas relações de proximidade entre a prática catequ etica
do passado, a do profestoi d. hoje e a do pesquisador de campo,
ajudam a compreender, ora por opor um ao outro , ora por apro-
ximá-los, a questão dificil da construção do outro que antecede
dirige o exercício d,a prática. e
A
missão do pregador catequista que um dia aportou da
Europa no país era a de fazet d,o outro um ,,como eu,,, desde que
subalterno' Através de idéias inculcadas, de hábitos mudados e de
ritos de mudança impostos, destruir aquilo que separa na vida, na
consciência e na cultura , o outro de mi* , desde Que, ao ingressar
aebmo mlir eau dmifuernednoç,a a e pnrtorex imnoidsa. doe íanddqiou icrirdisat iàpneizloa do,uoÍ reo on ãnoe gvreon bhaat i-a
zado, como resultado de um trabalho violento e seguro de re-signi-
ficação da cultura (a morad,a dos símbolso) e da identid ade (a mo-
tada dos significados culturais da diferen ça), para ser finalmente
um cristão como eu, desde que ainda índio ou negro, ou seja, desde
que nunca um outro eu. um ser agora humano, porque cristão, mas
ainda índio ou negro e, portanto, um subalterno legítimo a quem
proximidade adquirida à custa de perdas forçaãas permita a
ate
REPE}ISANDO A PESQUISA PARTICIPANTE
g
chamá-lo de "irmão", mas um próximo sobre quem a nova dife-
rença estabelecida autottza submeter, reduztr ou escrav izar.
outro sNuobsa lilvterornso d aep Hârise cteé trdiae dmoo Bdroa seixl eummpa lacro. nosstr usçuãjeoit oesq uniovamleidnated odso,
paotrdaevér so due o csu sjaesu sfa elamsi ses 1áeriõoess. flsuãi oo tfaiom abaé mrri,s taóqriuai, es ãaol io, su sme nrheodruezsi ddoo
qreupaenrdtóor ion ãdoe "smujeeitsosti çpoosp"u qlaue seí nddeisotasc, naemgr, osse jea bproanr ccousm pporbirreems,
exemplarmente
as ordens do senhor, seja por se rebelarem, também
exemplarmente,
a elas: Henrique Dias e um cas o; zumbi, um outro.
Nomes, datas e bio-sraf-ias são um direito legítimo de senhores
cer imaemd'i aodso r"eosu, trooss p"r imeiros. pero que fazem, os últimos, pelo que
aparecem como geníes. como povos ..nativos,,
jasee iftmaoc sne o pmpleietonsra epmsoceraqn,ut eee ,ss tiuãmboej urtsogotasad lmpolsee.nn aNtemo esfo nlrtieva r odesma dhuiems.ta.óH rciiaus,ltt óudrreiaa ,q pduáee tqrsiuãaeo, , s sãuo-
ptinoisúd-mo see ro"atsas npnouamiçaõeses"s ' d Eionnsd qígfuaeamnnaigtsoe rsoaãsd odo a"sí mnddioninohasat"á ,g iineoraas ç mãdoee ltchivaoeprr iathamipn óiadtese sdheee,c ro.e.rtduaai--rs
qtáureia sn a' çõaetés ,h ovijeer aasm c roisa nnçoasss odsa ,s.n eesgcroosla se sncãraov ossa,b,.em de que po\ os. de
cdptfaiuaçozol retc sutsl a reaesaAr se 'hs ebmisEs rid axmtcónaco,rlc uli"eaoàígt ds;im ev ovapnasamrot zgesbieeoo"nrms cetd eis ade d la saaqe ã iu hsàpoueiees,a nts s oatsfãiardolioicaa,a, e ld dme sede ãep e ornep e st,plse ieluen ênndrãnootooec s si doo r ,ai.f.nr itrceíoionpii o,tdo" o ldisido,ro -esc ro .poup sn rla ótdesurepgutr irraHjcoieoiissiips t.,on at,o,mosr rm eiddaseoa,-,
dgeu nedteor na olosg cica nag daac eciuroltsu, rma uelsactaolsa,r cqauber,o chháa ms, uvitaoqsu eainrooss , dpoo vNooar doe sptaesíe,s-
gaúchos, capoeiras, seringueiros e cantadores de cordel.
ora' também pafa o pesquisador social, a existência do dife-
sgtrppvrmaêueuarrdnójneonleoicptnpddie tirtaorcao ieiaosdéso as l es eadsp ce tc elocics eiv raêmuorneonpeanesa clldsdcaçimic aaeoiç"çae snõ c"ã d nteoeaeosotssnãoe cnotds erho eopainubliu e astmcu rps"tceaois r çrs áréoereõuo itadauipn ecidomdsessao,.or ". t e A,srqós E osurooneimsscoauu itiam aanótmerot ld,aooar aoucrsg;f iir dio:oared qm i nstneeodá;eat e;, lign-çinsd sputoãteertaanvao o rdn obo,ap o o an oQao mldohaslU eíe oosteah iss uc ssni,a soe tutnpetrrma,óooeso srcnmpp p i.oaaorió.idelpsnssalé o oa ssopdigpd ua eaeuooris er l,sr,uacs se umiréusfad,eael, ea-ls-o--
aparece' a sua pessoa some no dado, ou se dissolve num discurso
l0 CARLOS RODRIGUES BRANDÃO
1org.;
QUe, de tanto pretender ser o da "classe" ou da "categoria,,, ameaça
não conter a fala nem o imaginário de ninguém. Não é que o outro
"popular" não partic ipe da pesquisa, ele nao participa ,.qu., ao ,r,
pes quis ado.
Para serem constituídos como a substância das ciências sociais:
"grupos sociais", "culturas". "mor-imentos,,,,,proc.rroil ü;;;,,
r-
ou "movimentos" populares, são igualmente reduzidos, seja a um
anonimato de seus sujeitos (aquilo mesmo que a ciência recusa com
horror quando fala de si própria), seja a um anonimato de suas
próprias identidades sociais. Não custa refletir a respeito d,a boa
intenção que levava cientistas sociais a ocultarem cuidadosamente o
nome da comunidade onde faziam os seus "estudos de comuni-
dade"' Não custa pensar a razão pela qual, durante muito tempo,
uma das características universalmente mais aceitas para definir
que é "cultura popular" era justamente o seu anonimato. Ou sejao,
3ntre outras coisas- o que a distingue da nossa é que, enquanto o
eruüiIr-r da cultura e a necessidade da identidade pessoal do autor,
t. '{ue torne iegitima a popular é que nela ele não exista, ou porque
toi esquecido no tempo. ou porque, não tendo atores de história, o
po\ o não deve ter tambem autores de sua própria cultura. Não custa
avaliar uma insistência do uso do questionário gue, mais do que
tornar as coisas faceis e objetivas, estabelece, também no momento
oda o puetsroq'u iEsan,t ruem eale m eá oxi mcaat edceissmiguoa hldáa, duem ana c ruerliaoçsãao seenmtreelh u amn çlaa:d uom e
possui todas as perguntas e, o outro, todas as respostas.
Entre os primeiros homens que constituíram os ,,tempos mo-
dernos" de nossas ciências, a pesquisa do outro mais simples,
mais distante, menos matreiro e resistente - servia a explicar-nos,
ou'a explicar totalidades: "o homem", " a religião,,, ,,os estágios da
humanidade" (onde irredutivelmente as formas primitivas eram
sempre as do ooúro e, as exemplares, as d,o nós).A Hist oria e épica
e, por isso, não só o senhor cabe nela como deve ser, mesmo quando
inimigo, o sujeito dos solos mais importantes Ín-oior,^^;;*ros, sujei-
tos de mundo sem classes, ou sujeitos das de baixo em nosso mundo,
faziam momentos breves de um coral escondido, mesmo quando
entoavam o hino do aliado. Mas a Sociologia e a Antropologia
perguntam sobre relações que, cotidianas, podem ser ate cômicas.
Então é melhor perguntar sobre nós atravás do outro. Nada mais
simples: tomar para cad,a instituição ou fenômeno cultural a sua
"forma mais simples" e pesquisar como funcio na ali,- depois, com-
plicar a conclusão e tornar nobre a retórica, para explicar como
REPENSANDO A PESQUISA PARTICIPANTE
1l
earqau óiltoim fau npcaioran ais t"oem. geral, ou, em "nossa'f sociedade. A aus traria
,
- I tr' -'
stddoPaaope"eecruuFor avio istddnoressodaeeecr icusi orinalioie idzuan ts"deiia adtuaao( ttrodpcapjou- err esmmrdoaesmre d uitubao n eddpiurértoãnieiaefzdmgoet sriaáu rrLa' adea- evndl enefo:evtozostte'ixen 's-,e poS só.js. ql.ú'tgiiq rrcuirqrnag,uaa.,ua,u u r.foe s oe;ne.c ;sss s.da,ot,r,ep o mimsJeesT- oriooolrpauhyci dsnoee ieueot-ç .ez qdqcJa,.i uaoo rgp,Tdedenuj,rl ere. t. faoe u ir.,qss,opmon urtniscsaeuce uitrmeeo da eaesrgemrs,ml- a,rn spaaasos teep ne a rsr su r.dldeua ooneeea3f, il zs ce mrncgiaeaamtão4in uqr_ oneavãi3uatog t,gooeúre l5ev áà n)xpimeo.drii oscsriê oad ftancaoim;er ot rbiiraats cmoarema ins gt s dooea.aoer
Houve avanços importantes.
apMppperraeesonlqedianunusoissz wãauiro sm d ekao ixm m pdoélpeuictlstoaared oçmdo õee beq masqur u cetpeão rio,uiam ausseinenoirirdzv oraiene rlhiqusnoaugv ieanes r anoH qsst aoor euidrbjrevhnojee at eotspimv apdor oe adds iT,seaaír vx oceepibêrxl,irni iscacntánieaa- dr ouvs,. moe necradãuiaa aorcd n oseedemr oajaa-
mais reconstruir ari; era uma atitude. \ào
vvaiitdvraae;vr épcseo nmdse a ofrr aoagutrmtarvoeéan s nte oodxs eps ldesiceuua a rmç erãóluaognt iodcdsaao ; ,d s seoae cp'niiraetedijrana ndcdoteeemr s e a eed rse am.u caisu Isírnitou gnruaáar di:o osr .i, r, Ioeru.r-r orsoun,a.-
dmspqom"eaeuesLne se uovtacsn agiecpodavooiaaa 'a nsal dd smtlnfeedeea oapecicmooii iesma diris m;irtoez ai-aauqan q futtruiooma,nee srcaae m mo-nli dmaohr-epdis,i zp ge aian oclirea s.ort r to tcma.aanam lnlo,odde a ta eies urd ie seame p m,'asao" apeopr unrtonroee himrfs dneoãnesihala naatiarp v rtavoo a,a kisdbrd a soap,a es uandra armvaaa ac( o aarIodl ldhndoniqeaatsae u sitícqaii nvriuTmit,orie mr .eao u.sn.obb metusDro is m asucdin nareetaddrte a naar)qre.pth u sepreacse esioeo-s--
apalrogesup msaeraaussti vtianortsee fraepssa srmeas ao, n oduuiraa gúdrreue pitroraassb .da elh hoo, mu,e nps.âr reso maresufe lshiçaeõrineessd ;o op cpouadpraiaaad tovesen rde emosr
Disputas, piuaur,
cenas familiares,
;::i,T:,:il:#;;§ jffi::r::"T,.' dramaiicos, mas sempre signi_
deres
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