Table Of ContentO CASTELO DE AXEL
Título do original
AXEL'S CASTLE
W].4qa P
Publicado nos EstadosU nidos da América por Charles
Scribner's Sons, Nova porque.
Copyright 1931 by Charles Scribner's Sons. ÍNDICE
Renewal Copyright 1959b y Edmund Wilson.
1 -- 0 Simbolismo 9
ll -- IV. B. yea/s 25
111 -- Paul ya7éry 53
IV -- T. S. EZíor 72
V -- Marcet Proust
/37
V\ -- games Jo?ce
Vll -- Gerrrude Sfein /Ó8
DEDALUS - Acervo - FFLCH-L=
Vl11 -- .4xeZ e Rimbaud /82
11111 1 111 11111 1 11 11111 \11l
Apêndice / 209
Apêndice ll 2/3
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l
MCMLXVll
Direitos . Reservados
EDITARA CULTRIX LTDA
Praça Almeida Jr., 100 -- São Paulo
Impresso nos Estados Unidos do Brasil
Pdnted {n the U7iited States of Brazit
Caro Christian Gauss
Você verá como êssese nt.saioms edraram de selasc onferên-
cias de há quinzea nos atrás. Mas não é apenasp or isso que
me sinto em débito para oom você, no referentea êles. Foi
principalmented e você que então adquiri minha concepçãod o
que deva ser a crítica !tterária -- uma 'história das idéias e ima-
ginaçõesd o Homem no quadro das condições que as moldaram.
E embora êste livro seja apenas u??mt entativa muito limitada e
muito incompletad e tat espécied e história, quis dedic&toa você
em reconhecimentod a bondadee instrução que, iniciada quando
eu estava na universidade, desde então prosseguiu, e como tri-
buto a um mestred a crítica qüe ensinoum uito, insistindo pouco.
Sempre seu
Edmand WÍZson
l
O SIMBOLISMO
/
lq Mnu PROpÓSnOn, este livro, tentar rastrear as origens de
certas tendências da literatura contemporânea e mostrar-lhes o
desenvolvimenton a obra de seis escritores contemporâneos. A
pessoas já familiarizadas com o assunto, minhas explicações
neste primeiro capítulo parecerão rudimentares ; acredito, porém.
seja ainda verdadeiro,d e modo genéricoe por razões que cui-
daremd e sugerir, que as fontes e princípios gerais de muitos dos
livros que provocaram maiores discussõesd urante o período pos-
terior à Guerra são singularmente mal compreendidos. Não se
reconhece,h abitualmente, que escritores como W. B. Yeats, James
Joyce,T . S. Eliot, Gertrude Stein, Marcel Proust e Paul Valéry
representam a culminação de um movimento literário autocons-
ciente e de grande importância; e mesmo quando nos damos
conta de que êssese scritores têm algo em comum, de que per'
tencem a uma escola comum, muito possivelmente nos mostra
remos assazv agos quanto a quais sejam os caracteres distinti-
vos desta.
Hoje, porém, temos, vía de regra, uma idéia bastante clara
das questões que foram suscitadas pelo Movimento Romântico
no início do séculoX IX. Ainda discutimos Classicismoe Rc-
mantismo, e quando tentamos lidar com problemas literários
contemparâneos, tendemos amiúde a discuti-los nesses têrmos.
Todavia, o movimento cujo maduxro desenvolvimento estamos
hoje testemunhando não é mera degenerescência ou prolongamen-
to do Romantismo, mas, antes, sua contraparte, uma segunda
cheia da mesma maré. E mesmo a metáfora da maré é engana-
dora: o que temos hoje é um movimento inteiramente distinto,
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teoremas dos físicos eram emparelhadosp elas peças geométricas
que surgiu de diferentesc ondiçõese que tem de ser tratado em
de Racíne e pelos dísticos equilibrados de Pape.
têrmos diferentes.
Todavia, essa concepção de uma ordem mecânica fixa veio a
O Romantismo, como todos já ouviram dizer, foi uma revol-
ser eventualmente sentida como um constrangimento : excluía
ta do indivíduo. O "Classicismo", contra o qual êle representava
grande parte da vida, ou antes, a descrição que propiciava não
uma reação,s ignificava,n o domínio da política e da moral, uma
correspondia à experiência real. Os românticos se haviam torna-
preocupaçãoc om a sociedadee m conjunto, e, em arte, um ideal
do agudamente cônscios de aspectos de sua própria experiência
de objetividade.E m l,e À4isanfropee,m Bérélzícee, m The Way
que de modo algum poderiams er analisadoso u explicadosp e-
o/ f;ze WorZd,e m GuZJiver'sT ravels, o artista se coloca fora do
la teoria de um mundo regido por mecanismod e relojoaria.O
quadro: consideraria de mau gôsto artístico identificar seu herói
universo não era uma máquina, afinal de contas, mas algo mais
consigo próprio e glorificar-se nêle, ou intrometer-se entre o lei- misterioso e menos racional.
tor e a história para dar vazãoà s suas emoçõesp essoais. Mas
em Rena.e m Razia,e m C/ziZdel aroZd,e m The Prezadao, escri-
The atoms of Democdtus
tor, ou é seu próprio herói ou com êle se identifica inconfun-
And Newton's partictes o+ tight
divelmente, e a personalidadee as emoçõesd o escritor são apre-
sentadasc omo principal tema de interêsse. Racine,M oliêre, Are sande upon f/ze Red Sea s/zore,
Where lsrael's tenta do shine se bright!+
Congrevee Swift pedem-noqs ue nos interessemosp elo que fi-
zeram ; Chateaubriand, Musset, Byron e Wordsworth, entretanto,
Blake já havia desdenhosamentceo ntraditado a teoria física do
pedem-nos que nos interessemos por êles próprios. E pedem
que nos interessemosp or êles próprios em virtude do valor in- século XVIII. E para Wordsworth, a paisagem campestre de
trínseco do indivíduo : defendem os direitos do indivíduo contra sua meninice não significava nem agricultura nem idílios neo-
clássicos, mas um fulgor jamais visto em terra ou mar. Quan-
as pretensões da sociedade em conjunto -.contra govêrno, mó"
do o poeta olhava para a sua própria alma, contemplavaa lgo
raridade,c onvençõesa,c ademiao u igreja. O romântico é quase
que não Ihe parecia redutível a um conjunto de princípios da
sempre um rebelde.
natureza humana, como, por exemplo, as Àcíáximczdse La Roche-
Neste particular, é elucidativo considerar a interpretação do foucauld:v ia nela fantasia.c onflito. confusão. E. então.o u se
Movimento Românticod ada por A. N. Whiteheadn o seu livro dispunha, como Wordsworth e Blake, a afirmar a superior ver-
Science and fhe À odern WorZd. O Movimento Romântica, diz dade de sua visão comparativamente ao universo mecânico do
Whitehead,l :oi de fato uma reação contra as idéias científicas, físico; ou, aceitando tal universo mecânico, a exemplo de By-
ou nlçlhor, contra as idéias mecanicistas a que certas descobertas ron ou Alfred de Vigny, como externo e indiferente ao Hc»
científicas deram origem. Os séculos XVll e XVlll foram, na mem, opunha-lhe,d esafiadoramente,s ua própria alma turbulenta
Europa, UJ.l período de grande desenvolvimento da Matemática e e insubordinada.
da teoria física; na literatura do período chamadoc lássico,D es-
De qualquer modo, é sempre,c omo em Wordsworth, a sen-
carnes e Newton constituíram influência tão importante quanto
sibilidade individual ou, como em Byron, a vontade individual, que
a dos própHos clássicos. Os poetas, a exemplo dos astrónomos
preocupamo poeta romântico; êle inventou uma nova lingua-
e dos matemáticos, haviam chegado a encarar o universo como
gemp arae xprimir-lheos mistério,o conflitoe a confusão.A
uma máquina obediente às leis da Lógica e suscetível de explica- arena da Literatura transferiu-se do universo concebidoc omo
ção racional ; Deus figurava meramente como o fabricante de re-
máquina, da sociedade concebida como organização, para a al-
lógios que deveria ter existido para manufaturar o relógio. As
ma individual.
pessoas aplicavam tal concepção também à sociedade, que, tanto
do ponto de vista de Luís XIV como da Constituição Norte-Ame-
ricana,t inha o caráterd e um sistemap lanetáüoo u de uma má-
+ Os átomos de Demócrito / E as partículas luminosas de New-
quina bem regulada; e examinavam a natureza humana desapak
xonadamente,c om o mesmo espírito lúcido e racional, para des ton / São areias na praia do Mar Vermelho / Onde as tendas de
lsrael brilham com tal resplendor!
cobrir os princípios que Ihe regiam o funcionamento. Dessarte,o s
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cessosa utomáticos, tanta quanto álcalis e ácidos,.e que buscava
O que realmente ocorreu, afirma Whitehead, foi uma revo-
explicar as obras-primas com estudar as condiçõesg eográficas e
lução filosófica. O cientista do século XVlll, que apresentava o
climáticas dos países onde haviam sido produzidas.
universo como um mecanismo. havia feito com que as pessoas
tirassem a conclusãod e que o Houiem era algo à parte da Natu- Isso não quer dizer, porém, que o movimento conhecido ccF
reza, algo exterior introduzido no universo e que permanecia mo Naturalismo derivasse diretamente de rhe Orígín of Species.
t
alheio a tudo quanto se Ihe deparava. Mas um poeta romântico Já se estabelecera, pelos meados do século, com total independên-
como Wordswortha cabou por sentir a falsidade de tal pressu' cia da teoria da Evolução, uma reação contra a sentimentalidade
posto: percebeuq ue o mundoé um organismo;q ue a Natureza e imprecisão do Romantismo, visando novamente à objetividade
abrange, igualmente, planêtas, montanhas, vegetação e gente ; que e severidaded a Classicismo. Tal reação já se havia caracterizado
o ques omose o quev emosa, queo uvimoso, ques entimoes por uma espécied e observaçãoc ientífica que correspondiae stri-
o que olfateamos estão inextricàvQlmenter elacionados; que tudo tamente à da ciência biológica. Essa reação é vista com maior
se inclui na mesma grande entidade. Os que zombam dos rc» clarezae m trança. O grupo parnasianod e poetasq ue fêz .sua
mânticos equivocam-sea o supor nãó exista íntima conexãoe ntre primeira apariçãon a décadad e 1850- - Gautier,L econted e Lisle,
a paisageme as emoçõesd o poeta.' Não há dualismor eal, diz Héredia -- parecia ter tomado como desígnio a mera pintura
Whitehead,e ntre lagos e colinas exteriores,d e um lado, e senti-
cle episódiosh istóricos e fenâmendsn aturais, tão objetivo e acu-
mentos pessoais, de outro; os sentimentos humanos e os objetos radamente quanto possível, em versos perfeitos e impassíveis.
inanimados são interdependentes e se' desenvolvem conjuntamente, Os elefantes de Leconte de Lisle a cruzarem o deserto são um
de alguma maneira que nossasn oções tradicionais de leis de exemplo célebre: aparecem e desaparecemc om certa imponência e
causa e efeito, de dualidades de mente e matéria, corpo e alma,
dignidade clássicas, e o poeta contenta-se com isso.
não nos podem dar idéia veraz. O poeta romântico, portanto,
com a sua linguagemt úrbida ou opalescentec,o m suass impatias É menos fácil, na poesia inglêsa, oferecer exemplos nítidos da
e paixões, que o levam a acreditar-se transfundido no seu meio reação em prol do Naturalismo : após o Movimento Romântico, os
ambiente,é o profeta de um novo vislumbre da Natureza: êle inglêses não demonstraram muito .iüterêsse por '"'4todos literá-
descreve as coisas como realmente são, e uma revolução na ima- rios até os fins do século XIX. Entretanto :: nata
gética da poesia constitui, em realidade, uma revolução na Me- aquilo que denominamos de realísmó. se firma: :: .nd, em'
tafísica. boro não tivesse.c laro está, nada da forma clabüiçad os parna-
.b Whitehead interrompe o argumento neste ponto; propicia, sianos, afeiçoava-seà reconstrução histórica, de espécie mais
contudo, uma chavep ara o que se segue. Nos meadosd o sé- pedante e menos florida que a dos verdadeiros românticos,
culo XIX. a Ciência fêz novos progressose as idéias mecanicistas e quando se ocupava da vida contemporânea,f aziao pelo me"
voltaram a estar na moda. Dessav ez, porém, vinham de outra nos tão realisticamente quanto qualquer dos romancistas vito-
parte -- não d=tF ísica ou da Matemáticam, as da Biologia. A rianos -- êles próprios se encaminhandon a direção de Zola
teoria da Evolução teve o efeito de reduzir o Homem, da estatura sem estarem bem cônscios disso. E podemos ver muito clara-
heróica a que os românticos haviam procurado exalta-lo, ao mente em Tennyson, que se preocupava bastante com as doutrinas
aspectod e um animal indefesa, mais uma vez minúsculo dentro da Evolução, algo daquela mesma precisão descritiva, aliada a
do universoe à mercêd asf orçasq ueo circundavamA. Hu-
um pouco da mesma severidade no versejar -- embora com me-
manidade era o produto acidental da hereditariedade e do meio nos dureza e mais graça --, que encontramos nos poetas fran
ambiente, em cujos têrmos se tomava explicável. Esta doutrina ceses
chamou-see.m Literatura, Naturalismo,e foi posta em prática
por romancistas como Zona,q ue acreditava serem idênticas a Nor wití thou share him {n the whife favine,
composição de um romance e a realização de um experimento Nor find him draft apor the firttis af ice,
de laboratório : bastava apenas fornecer às personagens um meio
That hüddling slant in ftlrrmv-clo\?en telas
ambiente e uma hereditariedade específicos e depois acompanhar- To ror the torrento ut at du.sk)d oors:
Ihes as reações automáticas. E por historiadores e críticos como But fotlow;l et the terreald ancet heed own
Taine que asseveravas erem a virtude e o vício produtos de pro-
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To final him {n the va!!ey; let the wild Entretanto. ambos,F laubert e lbsen, se haviam deitado de Ru
l,ean-headed eagtes yelp Clone I' mantismo. Flaubert começara por escrever um Sainf-Anfoine FCF
mântico, que depois escoimoue reduziu à versão mais sóbria que
E é interessante comparar Tennyson, neste particular, com Pope, publicou; e lbsen escreverae m verso seusf áusticos Brand e Peer
nas raras ocasiões( conquanto não tão raras quanto, às vêzes, se Gynf antesd e chegarà prosa realista de suasp eçase m prosa.
costuma supor) em que descreveo bjetos naturais: Um e outro, começandon o Romantismo, criaram para si próprios
uma nova disciplina e chegaram a um novo ponto de vista. Pois
The silvar eet, {n shinig volumes ror'd. À4adanBzeo varyn ão é apenasü m livro ordenadeo escritod e
Fhe yellow caro, in scales bedronpp'd with gold..ü+ modo diferente do de um romance de Vector Hugo: constitui-se
também numa crítica objetiva de um caso de personalidade rc-
Estas linhas têm a perfeição técnica e a observação precisa de mântica : e durante toda a sua vida lbsen ocupou-sed e situações
Tennyson, mas são mais densase metálicas. Em verdade, Pope
produzidas pelo conflito entre a concepção essencialmente ro-
se aproxima amiúde, e bastante, dos parnasianos franceses.E s- mântica do dever de cada qual para com sua própria personali-
tes representam, na realidade, um segundo movimento clássico- dade e a concepção do dever de cada qual para com a sociedade.
científico, a contraparte daquele representado por Pape.
Nas peças em prosa ulteriores, porém, os froZ/s+ e espectros
Mas as principais manifeslÍaçõesd o Naturalismo ocorreram
dos primeiros poemasd ramáticos de lbsen haviam começadoa
na prosa,n ão na poesia. As peças de lbsen e os romancesd e insinuar-se nas' salas de visita burguesas: o naturalista foi fi-
Flaubert são as obras-primasd êsse segundop eríodo do classicis-
nalmente compelido a fazer grêtas em seu próprio molde. Todo
mo moderno, como o foram, no primeiro, as obras de Racine e
aquêle mundo vaporoso, confuso e magnífico do Romantismo ha-
Swift. A'arte de Flauberte lbsené novamentec,o moa arte
via sido resolutamente ordenado e reduzido; mas, então, o ponto
dos escritores do século XVll, escrupulosamente impessoal e ob- de vista objetivo do Naturalismo e ã técnica mecâttl«:Ltl uç li:c .'ra
jetiva, e insisten a precisãod a linguageme na economiad a for-
própria principiaram a tolher a imaginação do ;
ma. Comparem-as elu cideza, lógicae o limitadon úmerod e
monstrar inadequados para expressar o que êle s
personagens de uma tragédia de lbsen, como Rosmers/zoom,c om
começa a se agastar com o esforço excessivo, e o artista.con-cçü
as rigorosas convenções de Racine; ou compare-se GuZZiver's a dá-loa perceber. Huysmansd escreviaL econted e Lisle como
TraveZs com Poupará ef Pécuc;zef ou Z,'Educariam SenfimenfaZe.
o "sonoroso homem das ferragens" : lembramos as censuras de
Todavia, conquanto estas obras se assemelhem àquelas, de mui-
Wordswortha Pape. A Literáturzí desloca-seo utra vez da baliza
tas e óbvias maneiras, delas diferem nisto: enquanto um mora-
lista do séculoX Vll como La Rochefoucaulbdu scavad escobrir clássico-científica para a romântico-poética. E esta segunda rea-
ção, no final do século, esta conta'aparte da reação romântica em
e formular os princípios univérsais da conduta humana. um es- fins do séculoa nterior, ficou coúhecídae m França por Simbolis-
critor do século XIX como lbsen ou Flaubert começava a estu- mo
dar o Homem em relação ao seu iiieio ambiente e à sua época
r' Todavia.a o intentar escreverh istória literária, devemosc ui-
particulares. O métodod e abordageme, m amboso s casos,c on-
dar-nosd e não dar a impressãod e que tais movimentose rea-
tudo. pode ser descrito como "científico" e tende a levar-nos a
conclusões mecanicistas. ções seguem-sen ecessàriamenteu ns aos outros, de maneira pre-
cisa e bem ordenada- - como se a razão do século XVlll tivesse
l sido completamente desbaratada pelo Romantismo do século XIX,
e Não hás de apanha-lo na alva ravina,/ Nem o encontrarás que então permanecein victo até ser encarceradop elo Natu-
tombado sabre esteiros glaciais./ O sulcado e confuso declive se { ralismo: e como se Mallarmé e Rimbaud houvessem,e ntão, dina-
despenha/ Para levar a torrente além dos sombriosp ortais: / M.as mitado êste.O que de fato acontece,o bviamenteé, que um gru-
segue:d eixaa tol'renteo scilantete arrastar/ Ao seu encontron o
vale; deixa as águiasb ravias,/ De descarnadac abeça,g ritarem em
solidão. Ente sobrenaturald a mitologia teutónica, a princípio um gi-
A prateada enguia, em bandos cintilantes volteava./ A carpa gante, depois um anão traquinas, que se imaginava habitar montes
amarelada, em escamas pontilhadas de ouro. e cavernas. (N. do T.)
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po de métodose idéias não é de todo suplantadop or outro; bem confusamente" em escrever, e seu interêsse converteu-se em ver
ao contrário, prospera-lheà sombra, de modo que, de um lado. padeirap aixão. Em 1852B, audelairep ublicouu m Volumed e
a prosa flaubertiana'àpíéndeua ouvir, a ver e a sentir com a traduções de contos de Poe, e, a partir de então, a influência
delicada sensibilidade do Romantismo, ao mesmo tempo em de Poe desempenhou papel importante na literatura francesa.
que Flaubert disciplinava e criticava o temperamento român- Os textos críticos de Poe se constituíram nas primeiras escri-
l
tico; e de modo que, de outro lado, certos membros da escola. turas do MovimentoS imbolista,p oisê le havia formuladoo
sem serem afetados por novas influências alienígenas, continua- que equivalia a um Dava programa literário, que corrigia a frou-
rão a praticar os métodose a explorar as possibilidades dela mais xidão romântica e desbastava a extravagância romântica, ao
e mais, quando quaset odos a tiverem abandonado. mesmo tempo em que visava, nãb a efeitos naturalistas, mas
urra-românticosH. avia.d e fato, muito em comume ntre a
Propositadamente,t enho estado a selecionar aqui escritores
poesia de Poe e certa poesia romântica, como KabZaK /zan de
que parecem representar alguma tendência ou escola em sua
Coleridge, assim como entre seus poemas em prosa e certa prosa
forma mais pura ou mais desenvolvida. Devemos,c ontudo, con-
romântica, como a de Quincey. Mas Poe, com insistir em, e cul
siderar agora certos românticos que, em determinadosp ontos
levaram o Romantismo ainda mais adiante do que Chateaubriand tivar especialmente, .determinados aspectos do Romantismo, aju-
dou a transforma-loe m algo diferente. "Eu sei", vemos Poe es-
ou Musset, Wordsworth ou Byron, e que se tornaram os primei-
crever, por exemplo, "que a indefinição é um elemento da ver-
ros precursores do Simbolismo, sendo posteriormente entroni-
dadeira música (da poesia) -- quero dizer, da verdadeira expres-
zados entre os seus santos.
são musical.. . uma indefinição sugestiva de vago e, por isso,
Um dêles foi o escritor francês que se chamava a si mesmo
espiritual efeito." Aproximar-se da indefinição da música ha-
Gérardd e Nerval. Gérardd e Nerval sofria acessosd e insânia
veria de ser um dos principais objetivos do Simbolismo.
e, em parte por causa disso, sem dúvida, confundia habitualmente Tal efeito de indefiniçãoã ão erà produzido tão-sòmentep ela
suas próprias fantasias e sentimentos com a realidade exterior.
confusão,q ue mencionei,e ntre o mundo imaginário e o mundo
Acreditava, mesmo nos períodos de lucidez -- e Whitehead Ihe
real, mas também por ulterior confusão entre as percepções
aprovada indubitàvelmente a metafísica --, que o mundo que
de diferentes sentidos.
vemos em derredor estava, de modo mais íntimo do que habi-
tualmente se supõe,i mbricado com aquilo que se passa em nos-
Comme de laREs échos :qu{ de loin :se corÚondent
sas mentes, e que mesmo nossos sonhos e alucinações vincula- Les padums, tes couleurs et tes sons se répoKdent,
vam-sed e alguma maneira com a realidade. E num de seuss c»
netos supera Wordsworth, com as suas "Presenças da Natureza escreveu Baudelaire. E vemos Poe, em um de seus poemas,
no céu" e suas" Almas dos lugarese rmos", ao imaginar olhos ouvindo a aproximação das trevas, ou escrevendou ma descrição
cerradose ntreabrindcFsnea s próprias paredese "um puro espí- como a que se segue,a cêrca das sensaçõesq ue acompanhama
rito sob a casca das pedras' morte: "A noite chegou; e com as suas sombras, um profundo
Entretanto, profeta ainda mais importante do Simbolismo foi mal-estar. Oprimia-me os membros com a opressãod e um pêso
obscuroe, era palpável. Havia tatnbému m som lamentoson, ão
Edgar Allan Poe. De moda geral, era verdade que, em meados
do século. os escritores românticos nos Estados Unidos -- Poe, diverso da distante reverberação da quebrança, mais contínuo,
Hawthorne. Melville. Whitmaü e mesmo Emerson -- estavam, porém, e que, tendo começado com o primeiro crepúsculo, âvcF
lumara-sec om as trevas. Sùbitamente,l uzesf oram trazidas para
por razões que seria interessante determinar, progredindo na
direção do Simbolismo; e um dos acontecimentosd e primordial o aposento. . . e, desprendendo-se da chama de cada lâmpada,
aluiu ininterrupta até os meus ouvidos uma ária de melodiosa
importâncian o início da História do MovimentoS imbolista foi a
monotonia.
descoberta de Poe por Baudelaire. Quando Baudelaire, um român-
tico tardio, ]eu pela primeira vez Poe, em 1847," experimentou Esta notação de sensaçõess upra-racionaisc onstituía uma
estranha comoção". Quandos e pâs a procurar escritos de Poe novidaden a décadad e quarenta do século passado,t anto quan-
nos arquivos de periódicos norte-americanose, ncontrou entre to a poesia de sonho, irracional e musical, de "Annabel Lee" e
'Ulalume"; uma e outra ajudaram a levar a cabo uma revolução
êles contos e poemas que êle próprio já havia "pensado vaga e
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lírico de Shelley que começa com "0 Worldl O Life! O Timel" *
em trança. Para o leitor contemporâneo de língua inglêsa, a in- com o poema de Alfred de Musset que começac om "J'ai perda
fluência de Poe pode ser difícil de entender ; mesmo quando tal lei-
ma force et ma vie". Ambos êssesp oemasl íricos são, em alguns
tor se detenha a examinar as produções do Simbolismo francês, pcF aspectos,c uriosamente semelhantes: cada um é o sopro de um
dera surpreendê-lo que tenham causado pasmo. A miscelânea de suspiro romântico pela passagem do esplendor da mocidade. Tcb
imagens ; as metáforas deliberadamente mescladas;. a combinação davia, o poeta francês, mesmo na sua melancolia, faz reparos epi-
de paixão e agudeza, de maneiras prosaicas e solenes: o amál- gramáticos: sua linguagem é sempre lógica e prc:lisa, ao passo
gama audaz do material com o espiritual -- tudo isto pode que o poeta inglês é vago e nos dá imagens sem relação lógica.
parecer-lhe muito respeitável e familiar. Êle .sempre o conhe- Não será senãoc om o advento do Simbolismo que í' ..=íaf ran-
ceu na poesia inglêsa dos séculos XVI e XVll: Shakespeare e cesas e tornará realmente capaz da fantasia e fluir- ,' :!a iPglêsa.
os outros isabelinosp raticaram todas essasc oisas sem teorizar
O Movimento Simbolista violou aquelas regras da métrica
} a respeito delas. Pois não é esta a linguagem natural. da poesia?
francesa que os românticos tinham deixado intactas, e logrou
Poisn ão é a norma contra a qual, na literatura inglêsa,o sécu-
enfim atirar pela borda fora, completamentae , clarezae
lo XVlll constituiu uma heresiae à qual os românticosf izeram
a lógica da tradição clássica francesa, que os românticos ha-
o possível para regressar? viam ainda respeitadoe m grande.p arte. Êle se nutriu de muí:
Devemos,e ntretanto, lembrar que o desenvolvimentod a poe-
tas fontes estrangeiras -- alemãs, flamengas, gregas modernas --
sia francesat em sido muito diverso do da inglêsa. Michelet
e, em particular, precisamentein glêses. Verlainev ivera na In-
diz que no século XVI o futuro da literatura francesa dependerá glaterra e conheciab em Inglês; Mallarmé era professor de In-
do equilíbrio entre Rabelais e Ronsard, e lamenta fosse Ronsard glês; e Baudelaire, conforme já 'disse, fornecera ao movimento
o vencedor. Porque,e m França,R abelaise quivalia de certo mcF
seus primeiros programas traduzindo os ensaios de Poe. Dois
do aos nossosi sabelinos, ao passo que Ronsard, que representava
dos poetas simbolistas, Stuart Merrjll e Francês Vielé-Griffin, eram
para Michelet tudo quanto havia de mais pobre, árido e .con- norte-americanos que viviam em Paras e escreviam em Francês; e
vencional no gênio francês, era um dos pais daquela tradição um norte-americano,le ndo hoje, "Chevauchéed 'Yeldis", do último,
clássica de lucidez, sobriedade e pureza que culminou em Mcb
há de perguntar-se como, quando o Simbolismo era Dava, tal poe-
livre e Racine. Em comparaçãcoo m o Classicismdoo sf ran-
ma podia ter sido jamais considerado um das obras.primas do mcF
ceses, que lhes dominou toda a literatura desde a Renascença, vimento: a nós, parece-nosm eramente agradável, sem nada de
o Classicismo inglês do século XVlll, a época do Dr. Johnson.e revolucionário ou insólito, algo que não seria de todo impossível a
de Pope,r epresentouu m breve desvio ineficaz. E do ponto de Thomas Bailey Aldrich escrevers e êle tivesse sido influenciado
vista dos leitores inglêses,a s mais audaciosasin ovaçõesd a re- por Browning. Ficamos surpresos ao saber que Vielé-Griffin é
\soluçãor omântica de França,a despeitod e todo o alvoroçoq ue ainda consideradou m poeta importante. Mas o fato era que êle
as acompanhava, deve parecer de caráter surpreendentemente havia realizado uma proeza que deixou os franceses atónitos e
moderado. Mas a idade'e o rigor da tradição davam a medida impressionadose de que francês algum seria capaz: lograra pâr a
da dificuldade de romper com ela. Ao fim e ao cabo Colerídge, pique, de uma vez por todas, o alexandrino clássico, até então a
Shelley e Keats -- malgrado Pope e o Dr. Johnson -- tinham
base da poesia francesa; ou melhor; como um leitor inglês FCCCP
apenasd e olhar para trás, para Mílton e Shakespearec,u. jas nhece de pronto, prescindira dêle totalmente e começara a escre-
densasf lorestas haviam estada todo o tempo visíveis além dos
ver metros inglêses em Francês. Os francêses chamavam a isso
jardins formais do séculoX VIII. : Mas para um francêsd o sé-
vens vibre, mas é "livre" apenas no sentido de ser irregular, co-
culo XVIII. como Voltaire, Shakespeare era incompreensível;
mo em muitos poemasd e Matthew Amold e Browning.
e para os franceses da tradição clássíêa dos primórdios do século
XIX. a retóricad e jugo era um escândaloo:s francesensã o O que tomava Poe particularmente aceitável para os fran-
ceses,e ntretanto,e ra aquilo que o havia distinguido da maioria
estavam habituados a cores tão ricas ou a vocabulário tão livre;
ademais.o s românticos violavam regras de métrica mutíssimo dos outros românticos dos países de língua inglêsa: seu iate
mais estritas do que qualquer que jamais tivemos em Inglês.. E,
no entanto, Victor jugo estava ainda muito longe da variedade
'ó Mundo! ó Vida! ó Tempo!
e da liberdade de Shakespeare. É instrutivo comparar o poema
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