Table Of ContentNireu Cavalcanti
Histórias de conflitos no Rio de
Janeiro colonial
Da carta de Caminha ao contrabando de camisinha (1500-1807)
1ª edição
Rio de Janeiro
2014
copyright©Nireu Cavalcanti, 2013
Ilustração de capa: Helio Brasil sobre aquarela de T. Ender
Ilustrações de miolo: Helio Brasil
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
Cavalcanti, Nireu, 1944-
C366h Histórias de conflitos no Rio de Janeiro colonial [recurso eletrônico]: da carta de
Caminha ao contrabando de camisinha (1500-1807) / Nireu Cavalcanti. - Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2014.
recurso digital
Formato: ePub
Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-200-1226-0 (recurso eletrônico)
1. Rio de Janeiro (RJ) - História - Crônica. 2. Livros eletrônicos. I. Título.
CDD: 869.98
CDU: 821.134.3(81)-8
13-06149
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, armazenamento ou
transmissão de partes deste livro, através de quaisquer meios, sem prévia
autorização por escrito.
Este livro foi revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Direitos desta edição adquiridos pela
EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA
Um selo da
EDITORA JOSÉ OLYMPIO LTDA
Rua Argentina, 171 – 20921-380 – Rio de Janeiro, RJ – Tel.: 2585-2000
Seja um leitor preferencial Record.
Cadastre-se e receba informações sobre nossos lançamentos e nossas promoções.
Atendimento e venda direta ao leitor:
[email protected] ou (21) 2585-2002
Produzido no Brasil
2014
Sumário
Apresentação e agradecimentos
PARTE 1 Administração pública e religião
CRÔNICA 1 A terra graciosa
CRÔNICA 2 O poderoso óleo de baleia
CRÔNICA 3 Contrabando até de camisinha
CRÔNICA 4 O ouro do rei
CRÔNICA 5 Estrangeiros fora!
CRÔNICA 6 O mameluco valentão
CRÔNICA 7 Hipólito Guido: juiz de fora marcado para morrer
CRÔNICA 8 Os provedores da Fazenda Real: família Cordovil
CRÔNICA 9 A devassa do bacharel Luiz Antônio Rosado da Cunha
CRÔNICA 1 Na sombra da Inconfidência
CRÔNICA 1 João Henrique Böhm, o marechal calvinista (1708-1783)
CRÔNICA 1 Reformas ou perseguição aos carmelitas?
CRÔNICA 1 Reforma e expulsão dos jesuítas no Rio de Janeiro
PARTE 2 Sociedade
CRÔNICA 1 Os enjeitados de agosto
CRÔNICA 2 O herdeiro bastardo
CRÔNICA 3 O diamante bruto
CRÔNICA 4 Casamento do caixeiro: ódio e preconceito
CRÔNICA 5 O assassinato de dona Helena da Silva
CRÔNICA 6 A mulata de Angra dos Reis
CRÔNICA 7 Páscoa Antunes: a Chica da Silva carioca
PARTE 3 Escravidão e luta
CRÔNICA 1 Davi contra Golias em Campos dos Goytacazes
CRÔNICA 2 A bela Maria da Paixão: preta benguela
CRÔNICA 3 A escritura de alforria
CRÔNICA 4 Os caçadores de quilombolas
CRÔNICA 5 O quilombo de Cabo Frio
CRÔNICA 6 Os índios da Aldeia de São Francisco Xavier de Itaguaí, na
Fazenda de Santa Cruz
ANEXO 1
PARTE 1 - CRÔNICA 12 Reforma ou perseguição aos carmelitas?
ANEXO 2
PARTE 1 - CRÔNICA 13 Reforma e expulsão dos jesuítas no Rio de Janeiro
Apresentação e agradecimentos
Vivo imensa emoção ao rever os textos que produzimos, agora na forma
de livro, publicados pela conceituada editora Civilização Brasileira.
Este livro é o filhote mais novo do projeto que apresentei ao Jornal do
Brasil, em 1999, denominado “Crônicas Históricas do Rio de Janeiro
Colonial”. Foi uma experiência riquíssima escrever semanalmente, em um
jornal diário de prestígio nacional. Aprendi muito com as observações que
os “colegas” jornalistas — no começo, o JB colocou uma simpática e
experiente jornalista nessa tarefa de “professora” — faziam sobre os
textos. Sugeriam eliminar as palavras supérfluas, dúbias e tumultuadoras
da narrativa e do conteúdo da crônica histórica.
Foram publicadas 75 crônicas, no período de 2/8/1999 a 7/2/2000.
Justifiquei a proposta baseado em seis objetivos: a) resgatar a tradição
dos jornais cariocas de terem, cada um, seu cronista da história da cidade:
Vieira Fazenda, Luiz Edmundo, Ernesto da Cunha de Araujo Vianna,
Magalhães Correia, João do Rio, Charles Dunlop, Augusto Maurício,
Noronha Santos, Delso Renault etc.; b) socializar as minhas pesquisas,
divulgando as fontes usadas, para que outras pessoas, em seus trabalhos,
pudessem usufruir daquele documento em sua integralidade; c) levar a
história dos núcleos urbanos e rurais e da sociedade colonial do Rio de
Janeiro ao leitor de qualquer nível intelectual; d) mostrar a importância da
pesquisa documental para a história; e) divulgar os arquivos, bibliotecas e
outros centros documentais, nos quais tive oportunidade de realizar
pesquisas; e f) revelar para os autores das diversas áreas do conhecimento
algum documento que pudesse ajudá-los.
Com muita alegria e humildade constatei que esses objetivos foram
alcançados.
Fui abordado por pessoas simples para comentarem suas análises da
crônica que haviam gostado; assisti ao professor Mario Barata, em
conferência no IHGB, citar uma das crônicas como importante para seus
estudos sobre a formação da engenharia no Brasil; o cineasta Sérgio
Bianchi pediu e usou duas crônicas em seu filme Quanto vale ou é por
quilo?; diversos estudiosos sobre a história da capoeira agradeceram-me
pela revelação de que a capoeira já era praticada, no Rio de Janeiro, em
1789 (crônica “O Capoeira”).
O mais comovente foi ter recebido telefonema de Plínio Doyle
cobrando-me por que tinha parado de publicar as Crônicas. Depois de
informar-lhe que foi decisão da nova diretoria do JB, ele lamentou e
declarou ser colecionador das crônicas!
Em 2004 foram publicadas 69 crônicas, muitas delas inéditas, no livro
financiado pela Faperj em conjunto com a Civilização Brasileira: Crônicas
históricas do Rio colonial.
Este novo livro mantém os mesmos seis objetivos anteriores, mas
diferencia-se do primeiro pelo tamanho de cada crônica e pela temática
exclusiva sobre conflitos coloniais. Sem a limitação do espaço de um
jornal, pude escolher documentos mais volumosos e desenvolver seu
conteúdo com mais detalhe. Por isso, o presente trabalho reúne 26 crônicas
divididas em três partes: “Administração pública e religião”, com 13
histórias; “Sociedade”, com sete histórias e, encerrando o livro,
“Escravidão e luta”, com seis crônicas. Usei, ainda, o recurso histórico de
colocar dois anexos, para melhor ilustrar as crônicas sobre a Ordem dos
Carmelitas e a Companhia de Jesus.
Na primeira parte, abordo para conhecimento e reflexão do leitor:
questões relacionadas ao poder público e à sociedade; aquelas sobre o
desenvolvimento de culturas agrícolas de espécies estrangeiras como o
cânhamo (a popular maconha); técnicas construtivas usando o óleo de
baleia; a corrupção, através das crônicas “Contrabando até de camisinha”,
“A devassa do bacharel Luiz Antônio Rozado da Cunha”; as crônicas “O
mameluco valentão” e “Hipólito Guido: juiz de fora marcado para
morrer”, em cujo crime estavam envolvidas altas autoridades da cidade do
Rio de Janeiro.
Também discorro sobre funções públicas exercidas por famílias
proprietárias, casos do clã dos Cordovil e dos problemas vividos pelos
estrangeiros, sempre ameaçados de expulsão da colônia brasileira.
Registro fatos ocorridos em dois momentos marcantes de nossa história.
Primeiro, a invasão francesa comandada por Duguay-Trouin, em 1711,
através da história do provedor da Fazenda Real, desembargador Roberto
Car Ribeiro, que salvou o ouro do rei do saque dos franceses (crônica “O
ouro do rei”). Em seguida, trato da Inconfidência Mineira na crônica “Na
sombra da inconfidência”, trazendo novos dados sobre o denunciante,
coronel Joaquim Silvério dos Reis.
As questões religiosas são abordadas pela história inédita da conversão
ao catolicismo do marechal alemão e calvinista João Henrique Böhm, que
veio para o Rio de Janeiro a fim de organizar o Exército local e pelas
Reformas instituídas pela Santa Sé, impostas aos carmelitas e aos jesuítas,
destacadas em três crônicas.
Na segunda parte — “Sociedade” —, inicio com a questão dos
enjeitados, as pobres crianças abandonadas pelas mães, após o parto.
Narro também a história de dois casamentos entre mulheres da sociedade e
homens mais jovens e de condições sociais inferiores, que terminaram em
mortes violentas. Na crônica “Casamento do caixeiro: ódio e preconceito”,
o marido é morto a mando da família da esposa com sua conivência. Em
outra crônica, “O assassinato de dona Helena da Silva”, ela é vítima do
jovem marido ciumento. Nessa linha de família narro duas histórias de
casais amasiados, cujos filhos bastardos, após a morte do pai, pleiteiam na
justiça herdar parte do espólio. Os advogados desses reivindicantes
aparecem nas crônicas “O herdeiro bastardo” e “A mulata de Angra dos
Reis”. Nesta, a documentação revela que o amante, Pedro Pimenta de
Carvalho, filho de senhor de engenho de Angra dos Reis, tinha ido estudar
no seminário da Lapa do Desterro e abandonou os estudos (sem avisar a
família) e gastava o dinheiro com as “fadistas” da Lapa. Como o fado
nasceu no Brasil, o uso deste termo no processo pode levar à hipótese de
que seu berço foi o bairro da Lapa, na cidade do Rio de Janeiro. Quem
sabe?
Concluo este bloco com a curiosa história da mulata Páscoa Antunes,
filha de escrava da região oeste da cidade, que, por meio de seus amores
com ricaços da região, tornou-se senhora de engenho e muito prestigiada
no subúrbio carioca. É a nossa Chica da Silva.
A terceira parte do livro é dedicada aos excluídos e perseguidos da
sociedade colonial: escravos e índios.
A crônica sobre a aldeia de Itaguaí trata do vasto processo de corrupção
na privatização do patrimônio público. Narro a forma perniciosa como as
autoridades trataram os índios, expulsando-os de suas terras — área que
acolhia o engenho público —, para vendê-las por preço vil a um grupo de
grandes comerciantes do Rio de Janeiro.
Aos escravos e ex-escravos dedico cinco crônicas, das quais duas sobre
quilombolas. A crônica “O quilombo de Cabo Frio” — único que existiu
estruturado com rei e rainha — mostra como os quilombolas se
relacionavam com o comércio local e narra sua destruição pela tropa
comandada por Feliciano José Victorino de Souza.
Já na crônica “Os caçadores de quilombolas” conto a história de dois
caçadores de escravos fugidos que passaram pelo Rio de Janeiro. O
sargento-mor João da Mota, que lutou em Palmares, em Alagoas,
orgulhoso de ter sido quem prendeu a esposa de Zumbi e que fora
convidado para aqui comandar tropa para desbaratar os “índios bravios”
de Campos dos Goytacazes. O segundo caçador de quilombolas era o
sargento-mor de Vila Rica (Ouro Preto) Antônio Martins Leça, que sempre
aparecia na cidade do Rio de Janeiro trazendo quilombolas, que prendera
em Minas Gerais, para encher a cadeia da urbe carioca.
Desejo a você, leitor, boa leitura e análise destas histórias e que
construa, com liberdade, a sua história do Rio de Janeiro colonial.
Agradecido,
Nireu Cavalcanti