Table Of ContentConservadorismo é amor
Conservadorismo é amor
Marcelo Hipólito
Conservadorismo é amor
Conservadorismo é amor
Título Original
Conservadorismo é amor
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD
H667c
Hipólito, Marcelo
Conservadorismo é amor / Marcelo Hipólito. - São Paulo :
Giostri, 2019. 96 p. ; 14cm x 21cm.
Inclui bibliografia e índice.
ISBN: 978-85-516-0378-9
1. Teoria do conhecimento. 2. Conservadorismo. 3. Amor. I. Título.
2019-574
CDD 120
CDU 165
Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410
Índice para catálogo sistemático:
1. Teoria do conhecimento 120
2. Teoria do conhecimento 165
Editor Responsável Alex Giostri
Auxiliar Editorial Isabela Delambert
Arte de capa e diagramação André Ximenes
Revisão final de texto Giostri Editora Ltda.
Marcelo Hipólito
Conservadorismo é amor
1ª Ed. São Paulo: GIOSTRI, 2019
1 - Teoria do conhecimento
2 - Conservadorsimo
1ª Edição
Giostri Editora LTDA.
Aos meus tesouros, Felipe e Gustavo, amores do papai.
Giostri Editora
giostrieditora.com.br
Rua Sud Menucci, 71 - Casa 1
Vila Mariana - SP /giostrieditora
Tel.: (11) 2537-2764 GiostriTV
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SUMÁRIO
SUMÁRIO
Eu e Eles
Eu E ElEs. 9
Eu e Nós
Eu E Nós. 17
A ordem do amor
A ordEm do Amor. 24
A rEsistêNciA do Amor. 40
A resistência do amor
A EssêNciA do Amor. 48
A essência do amor
As obrigAçõEs do Amor. 64
As obrigações do amor
Amor próprio E fEcuNdidAdE. 76
Amor Ao brAsil. 85
Amor próprio e fecundidade
rEfErêNciAs citAdAs. 94
Amor ao Brasil
Marcelo Hipólito
Eu E ElEs
BIBLIOGRAFIA
“Tenho espírito justiceiro e entendo que o amor deve
seguir estes graus de preferência:
Deus, humanidade, pátria, família e indivíduo”.
D. Pedro II, Imperador do Brasil
Quando me perguntam por que sou um conservador, quase
como se esta palavra fosse uma obscenidade, vilipendiada por
décadas de hegemonia esquerdista nas artes, mídia e academia
brasileiras até se tornar sinônimo de opressão, regressão, ou
qualquer outra bobagem do gênero, respiro fundo, ciente de
que esse tipo de questionamento costuma embutir uma insidiosa
acusação.
Como os conservadores ousam desconfiar dos agentes do
progresso e seus projetos destinados a refazer o Brasil numa
versão melhorada de si mesmo? O que haveria a conservar num
país atrasado, violento e corrupto?
Exatamente por ser um conservador, minha resposta tende a
surpreender ao confrontar os anseios utópicos do interlocutor.
Na verdade, minha mais básica preocupação se revela modesta
demais às sensibilidades liberais e socialistas, chocante mesmo
ao seu pós-modernismo.
Afinal, aquilo que, desesperadamente, todo conservador aspira
resguardar é, antes de tudo, a integridade física e moral da sua
família, mantendo-as a salvo da violência inerente aos movimentos
revolucionários (liberais, positivistas, fascistas ou socialistas).
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Essa lógica pueril desafia as mentes incautas, impregnadas pelas desconfia da influência do liberalismo sobre o comportamento
“certezas” cientificistas da contemporaneidade, com suas almas humano, da difusão doentia do seu hedonismo crescente. Fruto
conspurcadas pelo individualismo irresponsável e egoísta dos da prevalência do indivíduo sobre o restante da sociedade, do
liberais ou o coletivismo totalitário e messiânico dos socialistas. Eu sobre o Nós, da liberdade sobre o dever, da paixão sobre a
A atitude aparentemente simplista do conservador abrange, civilização, do conforto sobre o sacrifício, do conveniente sobre
na verdade, uma gama estonteante de desafios, existentes sob a moral, do prazer sobre a dor, do Sim sobre o Não. Esse é o
uma infinidade de interações humanas, fé religiosa e amor cristão mundo liberal, onde o indivíduo ama a si mesmo acima de tudo,
e comunitário, impossíveis de serem abarcadas pelas soluções da sua pátria, cidade, rua, família.
prontas, padronizadas, homogeneizadas, oferecidas pelas convic- Na verdade, não é difícil a um liberal se render ao ateísmo,
ções inabaláveis da mentalidade revolucionária. consciente ou não da necessidade de renegar a moral cristã para
A Revolução é propositiva por excelência, representa um abraçar seu niilismo egocêntrico, já que esta atua como uma
projeto de transformação da sociedade, uma ação política de barreira natural à sua gana pelos vícios e paixões da liberdade
substituição disruptiva da realidade, trocando um futuro cons- irrestrita e inconsequente.
truído sob as inúmeras interações espontâneas praticadas pelos Para o liberal, mesmo a vida em comunidade pode se tornar
membros de uma nação em prol de um projeto de poder e um estorvo. Quando muito tolera seus vizinhos, ainda que prefira
reengenharia social promovido por uma elite restrita, militante ignorá-los por completo.
e ambiciosa. Uma pessoa tombada na rua lhe parecerá um incômodo,
Daí o conservadorismo despontar não como uma força trans- indigno da sua atenção ou caridade.
formadora, mas sim, reativa. O liberal reduz as relações humanas aos seus aspectos econô-
Sua essência é, portanto, reacionária por excelência, na melhor micos mais comezinhos, de conveniência e interesse. Sua vida
qualidade do termo, buscando refrear as forças transformadoras pertence somente a si mesmo. A satisfação de seus prazeres e
que ameaçam seu modo de vida; estimado, testado, seguro no ambições vem sempre em primeiro lugar.
curso de décadas ou séculos. Seus filhos são dispendiosos, intempestivos ou inconvenientes?
O conservador reage por aversão a teorias e práticas radicais, Aborte-os.
jamais em nome de um pretenso futuro paradisíaco, incerto Seus pais idosos dão muito trabalho? Meta-os num asilo ou
e violento sustentado por promessas não comprovadas que arrume-lhes um cuidador.
pretendem destroçar um presente estável e familiar.
Seu cônjuge o chateia? Divorcie-se. Que se danem esposa e
Mais do que a defesa da liberdade econômica – um benefício filhos! Para isso existe pensão alimentícia; basta pagá-la... ou não.
comprovado da ideologia liberal, desde que administrado mediante
doses salutares de prudência e moralidade –, o conservador
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Para o liberal, os laços de amor que nos unem como socie- socialismo científico, materialista, marxista. A ideologia do ódio
dade são menos importantes do que a eficiência das relações de e extermínio de classes.
mercado. De fato, são até irrelevantes para o progresso social. O fracasso retumbante do socialismo real, prenunciado pelas
Ao se valorizar, acima de tudo, a própria liberdade, qual falhas gritantes dos seus próprios pressupostos teóricos, revelou-
importância resta para os fatores que criaram a própria civili- se uma tragédia sangrenta de incompetência, irracionalidade e
zação ocidental (justamente aquela que permitiu o surgimento perversão. Sua disfuncionalidade econômica, exemplificada pela
do capitalismo liberal)? sua incapacidade crônica de estabelecer um mecanismo mínimo
A ideologia liberal e sua utopia mercadológica dão pouca de preços comparativos, indispensável ao funcionamento de
ou nenhuma relevância às obras das gerações anteriores; muito qualquer economia moderna, atesta a impossibilidade de reali-
menos ao futuro dos que ainda estão por nascer. Tudo mais zação da utopia socialista.
esvaece diante da prevalência dos próprios prazeres e apetites, Em essência, diante do malogro, ao socialismo restaram
fronteiras últimas da sua visão de mundo. somente os dogmas da guerra de classes: a pregação pela elimi-
Se o mundo fosse liberal, existiríamos numa bolha insana de nação física do inimigo da Revolução no moedor de carne e
interesses individuais atolados em permanente conflito. A guerra ossos da predestinação histórica.
de todos contra todos; do Eu contra Eu. Uma massa materialista A guerra de classes é o grande motor do socialismo.
empenhada somente em satisfazer as próprias ambições. Nada Uma vez deflagrada, leva ao aprisionamento e ao extermínio de
menos do que o fim da civilização e a glória da barbárie. toda uma parcela da sociedade, empregando a tirania e violência
Vislumbres dessa realidade sombria e maligna assombram as necessárias à ascensão máxima do Grande Líder, o general indis-
sociedades modernas, ameaçando destruí-las por dentro. pensável a uma guerra permanente.
Não é à toa que vivemos sob as doentias narrativas de liberação Sem um desfecho comprovado, o socialismo exibe sua verda-
das drogas, do aborto e das perversões sexuais; um tempo em deira e pavorosa face, uma teoria materialista dependente de um
que os males da depressão, isolamento e solidão se tornam cada monumental salto de fé por parte da sua manada de seguidores,
vez mais endêmicos, no qual a psiquiatria se afirma como a única abraçando, loucamente, a falsa promessa de um amanhã efêmero
saída possível a centenas de milhões de pessoas, mergulhadas num e feliz. Pelo menos, essa é a cegueira requerida da militância
caldo sufocante de ateísmo, cultos bizarros e falsas doutrinas. revolucionária.
Esse é o terreno fértil para a metástase da segunda força Da liderança socialista, por sua vez, não se espera ingenuidade
contemporânea de destruição civilizatória, fértil nesses dias ou estupidez, visto que se compõe de canalhas ambiciosos e
tormentosos, uma onda assassina que já colheu as vidas, as espe- amorais, focados no seu real objetivo: a tomada do controle
ranças e os sonhos de milhões de vítimas: o sádico e implacável absoluto da sociedade pelo Partido, agremiação revolucionária
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mantida em estado de guerra constante, portanto, subordinada “Francamente eu não sei se o presidente Lula, depois de tanto serviço
a uma liderança política imbuída da lógica marcial, mesmo que, que ele prestou a este país, um homem que saiu de operário e chegou à
eventualmente, disfarçada em roupas civis. presidência da República, recebesse ao final de sua vida uma sentença dessa
natureza. Quem não erra, ou nunca errou? Acho que o Lula estava a
De caráter centralizador, suas ordens se asseveram inquestio-
merecer da nação um perdão pelos possíveis erros que ele cometeu, porque
náveis como as de um chefe militar, no campo de batalha. Para
eu não vi erros tão graves, diante de tantos bilhões que noticiam toda
tanto, o líder perpetua uma imagem de infalibilidade em prol da
hora, dia e semana. O Lula é porque falam lá de um apartamento. Eu
sustentação do regime e do moral das suas tropas, as quais se
acho que ele estava a merecer uma consideração maior, por tudo o que
encarregam das mais cruéis, insanas e inumanas missões.
ele já fez de positivo para o Brasil, e o que ele já fez de mal, a balança
O socialismo impõe o Eu do Grande Líder, em tudo superior pesa bem positivamente”.2
às vontades, liberdades e desejos da massa anônima e escravizada.
Nenhuma ideia ou instituição escapa à sua autoridade. Ele é o pai
No socialismo, o líder é o Eu fundamental, o único Eu possível,
da nação; severo; onisciente e onipresente (a face “pessoal” do
mito e referência.
Estado), revestido de qualidades sobre-humanas e atemporais.
Simbolicamente, a Revolução confunde, propositadamente, a
Essa divinização do líder socialista ressoa mesmo no Brasil,
legitimidade do líder com a do Estado e do Partido, fundindo-os
a despeito de, até agora, nenhum regime socialista ter atingido
num só flagelo, a submeter o povo ao poder monolítico e falsa-
plena implantação em terras nativas.
mente impessoal do socialismo. Uma engrenagem que se vende
A maior liderança da extrema esquerda no país, referência
como sólida e perfeita, porém, paranoica em esmagar qualquer
mundial em seu campo político, Luis Inácio Lula da Silva, costuma
sombra ou sussurro de anseio popular contrarrevolucionário.
receber tratamento messiânico por parte dos seus seguidores:
Essa é a Trindade Profana do ateísmo messiânico socialista:
“(...) O Lula é um Deus!”1
Líder, Estado e Partido. Como todo movimento revolucionário,
Mesmo aliados não ideológicos reconhecem o Grande Líder
o socialismo também se alimenta de ódio.
como um ente superior, inatingível e incomparável perante os
A liderança radical define o alvo a ser eliminado, e suas milícias
reles mortais, dos quais se espera gratidão e reconhecimento da
se encarregam do trabalho sujo e sangrento dessa “destruição
grandeza mítica e histórica do comandante inimputável.
criativa”.
Nas palavras do célebre pecuarista e cacique político goiano
O mundo novo da Revolução é, invariavelmente, construído
Iris Rezende:
sobre os cadáveres dos adversários, restos macabros da ação trans-
1 Maria Lima. Marta diz que Lula é um deus e trio vai levantar campanha 2 Johann Germano e Giuliane Alves. Iris defende permanência de Temer
petista em SP. https://extra.globo.com/noticias/brasil/marta-diz-que-lula-um- e diz que Lula merece perdão. http://portal730.com.br/noticias/politica-e-
deus-trio-vai-levantar-campanha-petista-em-sp-6074190.html. Acesso em 23 de cidades/72784-iris-defende-permanencia-de-temer-e-diz-que-lula-merecer-perdao.
Outubro de 2017. Acesso em 23 de Outubro de 2017.
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formadora; são o Eles, o obstáculo artificialmente selecionado a Eu E Nós
sucumbir perante a marcha irrefreável da História, do prometido
Éden socialista. São o Eles que desafiam – pelo mero motivo de
“São os caminhos invisíveis
se pretenderem independentes da vontade do Partido – a sentença
do amor que libertam o homem”.
justa e implacável do Eu revolucionário: o Grande Líder, a perso-
nificação da suposta infalibilidade do Estado. Saint-Exupéry
Depois de consolidada, a Revolução, invariavelmente, –
conforme o registro histórico atesta repetidas vezes, – descamba
nos implacáveis expurgos internos, em que a luta pelo poder no A civilização ocidental se ergueu sobre o pensamento judaico-
submundo do Partido explode em ondas variáveis de matança, cristão.
ora voltadas ao extermínio dos seus elementos mais radicais, ora
Seja você um indivíduo cioso da sua fé, ou um pobre coitado
daqueles menos celerados.
afastado de Deus, quem vive no Ocidente se encontra sob a
Fenômeno verificado, por exemplo, nas decapitações desfe- influência, em alguma medida, dessa estrutura moral, lógica e
chadas pelas guilhotinas revolucionárias francesas, nas persegui- cultural. Mesmo aqueles que se esforçam em negá-la, como os
ções implacáveis de Stalin, nas trocas sangrentas de comando na servos do ódio revolucionário, acham-se também submetidos a
Coréia do Norte, na loucura cruenta do Khmer Vermelho, dentre essa herança civilizatória comum.
tantos crimes macabros.
G. K. Chesterton enxergava no cristianismo o avesso da solidão,
Destarte, o próprio conceito de Eles se altera oportuna e perma- uma congregação de indivíduos que formam uma comunidade
nentemente durante o curso assassino da Revolução, adaptando-se reunida em torno do sacramento do batismo. Uma representação,
segundo as conveniências identificadas pela sua liderança, detentora ao mesmo tempo, divina e cotidiana, de uma tradição interge-
dos meios de ação do Partido e do Estado. racional, materializada na entrega da criança à Fé pela vontade
Em contraposição ao Eu bárbaro e niilista dos liberais e ao Eu dos pais, tornando-a um novo membro da comunidade cristã,
tirânico e carniceiro dos socialistas, existe o Nós cristão, tradi- num gesto de amor comunal dos congregados, acolhida sob a
cional, comunal, fraterno, amoroso dos conservadores. O Nós Santa Igreja, na Graça de Deus.
oriundo da atitude conservadora e cristã, seu anseio em manter Essa é essência da cosmovisão ocidental, aquela que abriga
vivo, saudável e próspero tudo que se ama. com ternura e generosidade, impondo-se pela verdadeira caridade:
Esse Nós, sobre o qual se assentam os fundamentos da civili- “não é bom que o homem esteja só” (Gênesis 2:18).
zação ocidental, destaca-se no capítulo seguinte.
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Na simplicidade dessa afirmação, reside o Nós conservador Essa é a diferença essencial do “Eu” das teorias revolucionárias
e cristão, herança dos nossos ancestrais, um sentimento de inte- para aquele gestado pelo amor típico das pessoas comuns, nutrido
gração e pertencimento, fundado no amor a Deus e ao próximo. no seio das famílias.
O amor a se quem se deseja estar junto, neste mundo e no Na prancheta dos intelectuais, o indivíduo é moldado segundo
seguinte. Da família que anseia permanecer para sempre unida, as regras e os interesses arbitrários do movimento revolucionário,
na eternidade dos mortos. Da família de sangue e da família sob a égide do relativismo moral, ajustado conforme as circuns-
de espírito. Do amor paternal e filial, do homem pela mulher, tâncias políticas mais favoráveis ao seu projeto político. Não há
entre os membros de uma mesma comunidade. Do amor pela contraste maior em relação ao amor inato e genuíno da família,
Santa Igreja. Um sentimento inerente à alma humana. Um amor que acolhe o filho recém-nascido sob os princípios da respon-
sagrado, inexistente no Estado por conta da sua natureza buro- sabilidade e autoridade comprovados por nossos antepassados,
crática e técnica, bem como ausente na ciência, no direito, no fruto de incontáveis interações, de tentativas, experiências, acertos
materialismo, no hedonismo, no socialismo ou no liberalismo. e fracassos, vivenciados pelas gerações precedentes: aquilo que
Trata-se do amor pelo belo e o verdadeiro, que nos aproxima se firma como tradição.
como seres humanos – mesmo se renegado por muitos, para O amor e a tradição levam à defesa da propriedade privada
sua própria desgraça e infelicidade, numa preferência infrutífera e ao direito de herança, que fornecem os alicerces dessa cons-
pelas coisas mundanas e transitórias – como bem lembra Simone trução humana básica, rara, preciosa e delicada, a família cristã.
Weil: “(...) bem longe de ter qualquer aspecto em comum com
Reno Martins se refere a dois aspectos centrais do conceito
o direito ou com o natural, era simplesmente o amor extremo,
de família “propositalmente suprimidos do debate político pelos
absurdo, que empurrou o Cristo à cruz”.3
esquerdistas: o social-civilizacional e o político”.4 Ambos são funda-
O homem comum se aferra a esse amor numa atitude conser- mentais para se compreender o papel civilizacional singular dessa
vadora por excelência, em tudo contrária ao delírio materialista entidade social nuclear chamada família:
forjado nos círculos intelectuais, nos tribunais, nos laboratórios,
na academia, na imprensa e no desamor ateu. Ele se identifica
“O aspecto social-civilizacional se expressa no aforisma “a
nas tradições, crenças e senso comum herdados das gerações família é a célula da sociedade”. Como “célula”, entende-se a
anteriores. unidade mínima, a menor parcela possível. Em outras palavras,
Temente a Deus, em vez de amaldiçoar o mundo, o homem caso ocorresse um cataclismo – como uma hecatombe nuclear,
uma praga devastadora ou um novo Dilúvio – a sobrevivência
comum vê-se como parte deste todo, preocupado com a segu-
de uma única família, como a de Adão ou Noé, seria suficiente
rança e felicidade da sua família, do seu lar, do seu entorno.
para o restabelecimento de toda a sociedade.
3 Simone Weil. Pela supressão dos partidos políticos. Belo Horizonte: 4 Reno Martins. Família e sociedade. Em: Marcelo Hipólito e Reno Martins.
Editora Âyiné, 2016. Espírito Conservador – Volume II. Brasíllia: Conservadores do Brasil, 2017.
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