Table Of ContentJosé Carlos Radin
Companhias colonizadoras em Cruzeiro:
representações sobre a civilização do sertão
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC
2006
José Carlos Radin
Companhias colonizadoras em Cruzeiro:
representações sobre a civilização do sertão
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em História da Universidade Federal de Santa
Catarina – UFSC, como requisito parcial para a
obtenção do título de Doutor em História do
Brasil, sob a orientação da Professora Drª. Eunice
Sueli Nodari.
Florianópolis
2006
R129c Radin, José Carlos
Companhias colonizadoras em Cruzeiro: representações
sobre a civilização do sertão. José Carlos Radin / Florianópolis:
UFSC, 2006.
210 p.
Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Santa Catarina.
Programa de Pós-Graduação em História.
1. História – Santa Catarina 2. História – Colonização
I.Título
CDD – 981.64
Ficha Catalográfica elaborada pelo Bibliotecário Alvarito L. Baratieri – CRB-14º/273
AGRADECIMENTOS
O trabalho de pesquisa é, normalmente, solitário, mas quem o faz deve saber dividir
os méritos com muitos, pela solidariedade, pelo apoio e pelas contribuições recebidas e
assumir sozinho as suas limitações.
Entre os que foram importantes e de alguma forma ajudaram para que esta pesquisa
se tornasse possível, lembro e sou muito grato:
À Professora Eunice Sueli Nodari, minha orientadora, pelo ambiente de respeito e
pela forma como me tratou ao longo do curso, assim como pelas orientações e sugestões em
relação à pesquisa;
Ao Programa de Pós-Graduação em História, da Universidade Federal de Santa
Catarina – UFSC, em especial à coordenação, ao corpo docente e aos funcionários, pela
contribuição de cada um nessa jornada;
Aos professores João Klug e José Roberto Severino, pelas críticas e sugestões feitas
por ocasião da qualificação;
Aos colegas, pela amizade, oportunidade de convivência e aprendizado;
À Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC, Campus de Joaçaba, que
me permitiu a realização desse curso;
A todos os que de alguma forma me atenderam e auxiliaram nas Bibliotecas,
Arquivos, Museus e Centros de Memória ou que me forneceram documentos;
A todas as pessoas entrevistadas, em particular aos Senhores Amantino Lunardi e
Rui Acádio Luchese e àqueles que me prestaram informações em conversas informais, nas
mais diversas ocasiões, pelas suas importantes contribuições para o melhor entendimento
desse tema de pesquisa;
Aos meus amigos e familiares, pelo apoio e pela compreensão da minha ausência no
convívio cotidiano, em especial a minha companheira Neusa e meus filhos Júnior e Marina.
A esses e aos que não foram citados, mas que deram sua contribuição nessa
caminhada, toda a minha gratidão.
ii
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo analisar a atuação das companhias colonizadoras
na reconstrução do espaço no antigo município de Cruzeiro, no período da construção da
ferrovia, no final da primeira década, até meados do século XX. Evidenciou que a Estrada de
Ferro São Paulo-Rio Grande foi um dos fatores que impulsionaram o processo de conquista
da região, atraindo iniciativas privadas, em especial as colonizadoras, que comercializaram
grandes áreas de terra, em lotes destinados à agricultura familiar. Essas empresas
reconstruíram o espaço regional a partir de interesses particulares, onde a terra transformou-se
em mercadoria e foi vendida a milhares de migrantes das antigas áreas coloniais de Santa
Catarina e do Rio Grande do Sul. Por essa prática implantaram um propósito almejado pelo
Estado, pela intelectualidade em geral, bem como por setores intermediários da sociedade,
que era de levar a “ordem”, a “civilização” e o “progresso” a essa região. Esse avanço da
“civilização” significava o aproveitamento do espaço com o propósito de produzir bens para o
mercado interno, a partir de uma nova organização social, reconstruída com o afluxo dos
migrantes. Esses eram identificados como possuidores das qualidades de: trabalhadores,
ordeiros, civilizados e civilizadores, sendo essas, não atribuídas aos grupos locais. Essas
representações deram suporte a apropriação privada da terra e legitimaram o processo de
colonização dirigido pelas companhias colonizadoras.
iii
ABSTRACT
This work had the objective of analyzing the performance of settle companies in the
reconstruction of the space in the old city of Cruzeiro, during the railroad construction period,
in the end of the first decade, until the middle of the 20th century. It was evidenced that the
Railroad Sao Paulo-Rio Grande was one of the factors that stimulated the region conquest
process, attracting private enterprises, in special of the settle companies, which acquired large
areas of land in lots which were destined to familiar farming. These companies reconstructed
the regional space from particular interests, where the land became a merchandise and was
sold to thousands of migrants of the old colonial areas of Santa Catarina and Rio Grande do
Sul. With this practice the settle companies introduced a purpose longed by the State, by the
intellectuality in general, as well as by intermediate sectors of the society, which was to take
the "order", the "civilization" and the "progress" to this region. This advance of the
"civilization" meant the exploration of the space with the intention to produce goods for the
domestic market, from a new social organization reconstructed with the flow of the migrants.
These migrants were identified as possessing some special qualities as being workers, orderly,
civilized and civility spreaders, being these qualities not attributed to the local groups. These
representations gave support the private appropriation of the land and legitimized the process
of settling conducted by the settle companies.
iv
ABREVIATURAS
APESC = Arquivo Público do Estado de Santa Catarina – Florianópolis.
BPESC = Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina.
CMALESC = Centro de Memória da Assembléia Legislativa de Santa Catarina.
FARESC – Federação das Associações Rurais de Santa Catarina.
GOVSC-Mens. = Governo do Estado de Santa Catarina, Mensagem apresentada ao
Congresso Representativo.
MEM-SUC. = Memorial Sociedade União dos Colonizadores.
MEM-Lum. = Memorial da Southern Brazil Lumber & Colonization Co.
Of.PGSC = Ofícios Diversos ao Palácio do Governo de Santa Catarina.
SUC = Sociedade União dos Colonizadores.
v
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................8
1 - O CONTEXTO DA COLONIZAÇÃO DE CRUZEIRO E O BRASIL
MODERNO.......................................................................................................................22
1.1 - Entre o Jeca Tatu e o Brasil moderno..............................................................................23
1.2 - O sertão: a conquista da terra e da gente..........................................................................36
1.3 - A questão da terra na República e o contexto regional....................................................48
1.4 - Terras do sertão catarinense: uso, privilégio e mercadoria ..............................................57
1.5 - Cruzeiro e o contexto da colonização...............................................................................65
2 - COMPANHIAS COLONIZADORAS EM CRUZEIRO..............................................70
2.1 - Entre o poder público e o interesse privado.....................................................................71
2.2 - Apropriação privada da terra............................................................................................86
2.3 - Publicidade e representações sobre as novas terras..........................................................98
2.4 - A comercialização das terras..........................................................................................110
3 - AS COMPANHIAS COLONIZADORAS E A RECONSTRUÇÃO
DO ESPAÇO...................................................................................................................130
3.1 - A reconstrução do espaço em Cruzeiro..........................................................................131
3.2 - Pequena propriedade como modelo de desenvolvimento..............................................141
3.3 - Reorganização sociocultural e civilização.....................................................................150
3.3.1 - Um povo dócil, ordeiro e trabalhador.........................................................................150
3.3.2 - Trabalho e progresso...................................................................................................159
3.3.3 - Igreja, escola e civilização...........................................................................................167
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................187
FONTES DE PESQUISA.......................................................................................................195
vi
LISTAS DE TABELAS E FIGURAS
Tabela 1 Registro de títulos do Paraná, referentes aos municípios de Cruzeiro e 52
Chapecó - 1842-1930................................................................................................
Tabela 2 Características das propriedades do Município de Cruzeiro, surgidas a 55
partir da concessão dos títulos pelo Paraná................................................................
Tabela 3 Companhias Colonizadoras que atuaram em Cruzeiro.......................................7..1.. .....
Figura 1 Configuração atual do Antigo Município de Cruzeiro..........................................9.. .....
Figura 2 Diploma de Hermano Zanoni, Capataz Rural.....................................................7..4.. .....
Figura 3 Mapa do Bloco “Lajeado Leãozinho”...............................................................1.14
Figura 4 Área da Sociedade Territorial Mosele, Eberle, Ahrons & Cia..........................1..1..5.. .
Figura 5 Propaganda da Colônia Bom Retiro: Colonizadora H. Hacker & Cia..............1..2..5.. .....
Figura 6 Profissionais de Ponte Serrada..........................................................................1..4..0.. .....
Figura 7 Monumento Attílio Fontana..............................................................................1..6..0.. .....
Figura 8 Barracões da Colonizadora De Carli – Ponte Serrada, 1929.............................1..7.3
Figura 9 Igreja Matriz de Capinzal..................................................................................1..7..7.. .....
Figura 10 Escola da Linha Ressaca, Ponte Serrada...........................................................1..8..5.
vii
INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é o de analisar a atuação das companhias colonizadoras na
reconstrução do espaço no antigo município de Cruzeiro. Essa reconstrução se deu a partir da
divisão das terras em pequenos lotes destinados à agricultura familiar e vendidos pelas
empresas colonizadoras a milhares de migrantes colonos, principalmente descendentes de
italianos, alemães e poloneses. Com essa prática, implantaram um propósito almejado pelo
Estado, de levar a “ordem”, a “civilização” e o “progresso” a essa região.1
O período analisado inicia-se, no começo da segunda década do século XX, com a
construção da estrada de ferro São Paulo-Rio Grande, até meados do século, quando o
processo de colonização conclui-se. Pode ser dividido em três momentos: o primeiro, entre as
décadas de 1910 a 1920, no qual o processo foi incipiente; o segundo situado entre 1930 a
1950, onde atingiu o auge e a década de 1960, quando se deu o fecho do processo.
No transcurso das primeiras décadas do século XX, difundiam-se idéias ligadas à
necessidade de modernizar o Brasil, de efetivamente ocupar o território, de conquistar o sertão
e de civilizar a população. Essa intenção era disseminada pela intelectualidade, pelos
governantes e pelas elites, sejam nacionais ou estaduais. No Estado, falava-se das “terras
inaproveitadas”, da necessidade de “desbravar o sertão”, do “povoamento efetivo”, para criar
as condições ao surgimento de “apreciáveis centros de trabalho e progresso”, especialmente
quando se referiam às terras que passaram a pertencer a Santa Catarina pelo acordo de limites,
de 1916.
Como o poder público estadual, por falta de recursos financeiros, alegava a
impossibilidade de fazer frente a esses intentos, ocorreu a atuação de diversas companhias
colonizadoras no antigo município de Cruzeiro, que se apropriaram de grandes áreas de terra e
comercializaram-nas em pequenos lotes destinados à agricultura familiar. Situado à margem
direita do rio do Peixe e da ferrovia São Paulo-Rio Grande, Cruzeiro foi criado em 25 de
agosto de 1917, com extensão territorial de 7.680 quilômetros quadrados2, e dele se
originaram diversos municípios, como se observa na Figura n. 1.
1 Esses migrantes não formavam um todo homogêneo, pois eram de diferentes etnias, condições sócio-
econômicas, credos entre outros. Não é propósito discutir essa situação neste trabalho.
2 Cruzeiro tornou-se município em 1917 e teve esta designação até 1928, quando a Vila, pela lei estadual n.
1608, passou a chamar-se Cruzeiro do Sul. O município, no entanto, manteve o nome original até 1943, quando,
pelo Decreto-Lei Estadual n. 238, município e cidade passaram a se denominar Joaçaba. Cf. QUEIROZ,
Alexandre Muniz de, et al. Álbum do Cinqüentenário de Joaçaba. Joaçaba, 1967, p. 21.
Description:Radin, José Carlos José Carlos Radin / Florianópolis: às propriedades Rios das Antas (Campos Novos) e Rio Uruguay (Cruzeiro), realizado em.