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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORIT
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E £RTES
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APROPRIAÇÕES CONTEMPORÂNEAS DO EGITO ANTIGO:
Antigüidade e tradição 110 discurso maçônico brasileiro -a coleção
Biblioteca doMaçora (1989-2001)
Rodrigo Otávio da Sítva
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Natal-RN, 2004
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RODRIGO OTÁVIO DA SILVA
APROPRIAÇÕES CONTEMPORÂNEAS DO EGITO ANTIGO: Antigüidade e
tradição no discurso maçônico brasileiro - a coleção Biblioteca do Maçom (1989-
2001)
Monografia apresentada à disciplina Pesquisa
Histórica II, que foi orientada pelo Professor
Roberto Airon Silva, do curso de História da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Natal (RN), 2004
Dedicatória
Dedico este modesto trabalho à minha tia-mãe, Margaret Liana da Silva, e à minha
avó, Joana Bezerra da Silva, que doaram parcelas generosas de suas próprias vidas
para a construção da minha.
Agradecimentos
A Deus, pela generosidade da vida;
Ao professor e amigo Roberto Airon Silva, duplamente "mestre", pela paciência
e carinho com que oferta seu privilegiado intelecto aos estudantes ávidos de saber;
Ao professor e amigo Francisco Fernandes Marinho, por insuflar-me a
esperança, ensinando-me a verdadeira alegria do conhecimento;
Ao sempre amigo e companheiro de larga jornada Abrahão Sanderson, pela
simplicidade e devotação sinceras que costuma distribuir entre os amigos;
Ao serelepe Péricles, pelo companheirismo e amizade;
Ao meu primo-irmão Khalil Jobim, pela presença constantemente alegre e
infantil que ilumina os ambientes;
Ao inesquecível Jorge Tavares, o "Don Juan d'Marco" do CCHLA, pela
oportunidade da convivência no Núcleo de Estudos Históricos, experiência que me
proporcionou não somente o aprendizado científico, mas também o aprendizado
"humanístico";
A professora Margaret Bakos, pela prestimosa colaboração bibliográfica e,
acima de tudo, pela confiança depositada em minha capacidade de trabalho;
Ao meu tio Vinícius, por ter-me concedido a leitura de um vasto e rico material
sobre a Maçonaria brasileira;
A Ivanês Lopes, pela compreensão e dedicação com que repetidas vezes me
atendeu em seu local de trabalho, fornecendo-me preciosas informações sobre a
instituição maçônica.
Todo homem que ascende no processo de
evolução transforma as suas aspirações em
trabalho que o dignifica e promove. Lei da
natureza, que o propicia aos seres, a fim de
se desenvolverem, o trabalho é dínamo
gerador de vida.
Joana de Ângelis
Sumário
INTRODUÇÃO 7
1 PERCORRENDO O CAMINHO DO EGITO FARAÔNICO À LITERATURA
MAÇÔNICA BRASILEIRA 11
1.10 nosso marco teórico: a tradição inventada 17
1.2 Um pequeno histórico dos estudos egiptológicos no Brasil 22
1.2.1 Da egiptologia à egiptomania 28
1.3 As origens da instituição maçônica e sua presença no Brasil 32
1.4 Aspectos da estrutura organizacional maçônica: a loja, os ritos e a hierarquia ... 38
2 AS PIRÂMIDES, AS SAGRADAS ESCRITURAS E A MATEMÁTICA
TRANSCENDENTAL: AS FERRAMENTAS DA MONTAGEM DA
AUTORIDADE NO DISCURSO MAÇÔNICO 45
2.1 As correntes de pensamento na Ordem maçônica: o lugar institucional das idéias
46
2.2 As pirâmides e o Livro da Lei: a construção do poder na sacralização do discurso
55
2.2.1 O elo mosaico 57
2.2.2 A personagem de Jesus no complicado quebra-cabeça maçônico 68
2.3 Tradição, ideologia e Maçonaria: na teia das relações 74
2.4 A matemática sagrada e a monumentalização simbólica da Grande Pirâmide.... 77
3 MUTATIS MUDTANDIS: A "TRADIÇÃO INVENTADA" RE-INVENTANDO
O TEMPLO MAÇÔNICO 87
3.1 Modernidadç q identidade no pensamento maçônico 88
3.2 Das idéias do templo rumo ao templo das idéias 112
3.2.1 O caso Castellani: uma falha na hipótese? 121
4 DO LABORATÓRIO DAS EXPERIÊNCIAS DISCURSIVAS DO EGITO
FARAÔNICO ÀS PRÁTICAS DE ENGENHARIA TEMPLÁRIA: O EXEMPLO
DO COMPLEXO ARQUITETÔNICO ELDORADO 128
4.1 A Loja maçônica Amphora Lucis n° 183 e as fissuras nas relações de poder da
Maçonaria brasileira 130
4.2 A "tradição inventada" e a Arte Real no Eldorado 138
4.2.1 Uma pequena arqueologia da esfinge maçônica: desvendando os estratos
simbólicos 140
4.2.2 O canal entre o macrocosmo e o microcosmo: o arquétipo do Templo Kether
147
4.2.3 A geometria sagrada da pirâmide Amphora Lucis 155
CONCLUSÃO 163
BIBLIOGRAFIA 166
ANEXOS 174
7
INTRODUÇÃO
A historiografia brasileira sobre a Antigüidade sofreu nas duas últimas décadas
profundas transformações em seu arcabouço teórico-metodológico, principalmente no
que diz respeito às escolhas temáticas e ao tratamento a elas destinado. Coincidindo
com a abertura política iniciada na década de 1980, e sob influxo da Nouvelle Histoire,
as pesquisas acerca do mundo antigo realizadas no Brasil começaram a tomar novos
rumos, dando início a um processo de renovação de suas práticas investigativas: da
preocupação até então dominante com as estruturas econômico-sociais das sociedades
antigas, com destaque para as atividades bélicas e os acontecimentos políticos, passou-
se a estudar as manifestações culturais mais diversas, que iam desde os grafites
presentes nos muros da cidade de Pompéia (expressões tipicamente populares) até os
estudos sobre as apropriações de motivos antigos no mundo contemporâneo.
Como resultado dessas mudanças, temos hoje no Brasil duas grandes tendências
de pesquisa sobre a Antigüidade: a que se volta para a análise das sociedades antigas
"em si", em seu próprio contexto; e aquela que se dedica a compreender as diferentes
"leituras" que são feitas desse mundo antigo no presente, isto é, os novos sentidos que
são dados aos motivos da Antigüidade através do deslocamento desses mesmos motivos
de seu contexto original, realocando-os em uma outra temporalidade.
Esta última tendência tem sua mais significativa expressão no projeto
desenvolvido pela historiadora Margaret Bakos, em 1995, intitulado Egiptomania no
Brasil (Sécs. XIX e XX). Nele, a pesquisadora gaúcha objetiva identificar, compilar e
analisar as variadas referências a motivos egípcios antigos presentes na arquitetura, nas
artes e na publicidade. Os primeiros resultados desse trabalho foram publicados de
8
forma sistemática em uma série de ensaios contidos no livro Egiptomania: o Egito no
Brasil, em 2004.
Acompanhando a perspectiva inaugurada pela historiadora Margaret Bakos, o
nosso trabalho de pesquisa selecionou como objeto de estudo o discurso maçônico
brasileiro sobre o Egito antigo, localizado na coleção Biblioteca do Maçom (1989-
2001), pertencente ao principal órgão de publicação da Maçonaria no Brasil, a revista A
Trolha. Nos textos dessa coleção, o tema do Egito faraônico se apresenta de forma
singular, sendo retomado e discutido exaustivamente pela intelectualidade da Ordem.
Embora essa temática também apareça nas outras coleções de A Trolha, sua incidência e
profundidade, contudo, só atingem uma escala significativa quando tomamos os textos
da coleção Biblioteca do Maçom. Isso decorre do fato de que esta última coleção
compõe-se fundamentalmente de materiais que não se dedicam a discutir, de forma
sistemática, temas ligados à ritualística e liturgia maçônicas, aspectos da instituição
mais cristalizados e que não "admitem" variabilidade: neles, a questão que domina é de
método (como fazer) e não de teoria (o que fazer).
Considerando esse grupo de textos, o problema reside em compreender qual é a
natureza do(s) interesse(s) da intelectualidade maçônica brasileira no tema do Egito
antigo e qual a finalidade para que foram produzidos os textos que tematizam esta
civilização.
Para realizar tal objetivo, adotamos como marco teórico o conceito de "tradição
inventada" formulado pelo historiador inglês Eric Hobsbawm no seu livro A invenção
das tradições, material produzido e organizado em co-autoria com o também historiador
Terence Ranger. A utilização desse referencial mostra-se mais adequado ao objeto de
estudo que escolhemos, na medida que possibilita uma relação equilibrada entre o
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mundo das idéias e o mundo social que as produziu, evitando cair nas armadilhas e
desequilíbrios do determinismo, seja infraestrutural (economia), seja superestrutural
(cultura).
Apoiados nessa base teórica, nossa hipótese é de que o discurso maçônico sobre
o Egito antigo cumpre uma função ideológica, ligada aos interesses de uma corrente de
pensamento maçônico específica no interior da Maçonaria brasileira: a vertente
esotérica ou espiritualista. Os partidários desta corrente foram buscar no simbolismo do
Egito faraônico os elementos para a criação de uma "tradição inventada", e utilizaram-
na para reivindicar mudanças no comportamento da instituição diante da modernidade.
Tal tradição não se fixou apenas no plano do discurso, mas gerou práticas e fomentou
ações concretas no sentido de realizar efetivamente as transformações pretendidas.
Desenvolvendo e articulando todas essas idéias, dividimos este trabalho em
quatro capítulos.
No primeiro, abordamos a historiografia sobre Antigüidade no Brasil; a
constituição e organização da literatura maçônica brasileira; o objeto de estudo e a
opção teórica de seu tratamento; um breve histórico dos estudos egiptológicos no país; e
a história da Maçonaria na Europa e sua instalação e organização no Brasil.
No segundo, estudamos as correntes de pensamento no interior da Ordem
maçônica e analisamos, em seguida, o processo de construção da "tradição inventada"
do Egito antigo, levantando e desenvolvendo a nossa hipótese de trabalho.
No terceiro, discutimos a diferentes visões que a intelectualidade maçônica
apresentou sobre o lugar da Maçonaria no contexto da modernidade. Trabalhamos,
igualmente, a maneira como se deu a aplicação do discurso da "tradição inventada" ao
recinto de reunião ritualística da Ordem, o templo maçônico.
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No quarto e último capítulo, analisamos o caso particular de engenharia
templária realizada no Complexo Arquitetônico Eldorado, pertencente à Loja maçônica
Amphora Lucis n° 183, de São Paulo. Nas construções deste Complexo (esfinge,
templo, pirâmide), concentramos nossa atenção no discurso que fundamentava esses
monumentos, buscando entender como a "tradição inventada" atuou na sua constituição.
Description:Paulo Coelho, Brida. arqueólogo e professor universitário Pedro Paulo Funari abordou a situação do ensino e historicamente as origens da Maçonaria, as dificuldades se multiplicam, pois uma. 43 FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. 10 ed. São Paulo: Edições Loyola, 2004. p. 48.