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Civilizações internas
Vol. 3
Enrique barrios
Índice
Capítulo 1 - Encontro e Desencontro___________________________________________________ 7
Capítulo 2 - O Segredo de Krato ______________________________________________________22
Capítulo 3 - Vida Nova _________________________________________________________________41
Capítulo 4 - Avó Cósmica_______________________________________________________________59
Capítulo 5 - Shaya-Salim _______________________________________________________________75
Capítulo 6 - Romance Primaveral ____________________________________________________94
Capítulo 7 - Porões da PP ____________________________________________________________ 108
Capítulo 8 - Hexis _____________________________________________________________________ 119
Capítulo 9 - Shambalá ________________________________________________________________ 135
Capítulo 10 - Ajudinha _______________________________________________________________ 148
Capítulo 1 - ENCONTRO E DESENCONTRo
Não podia acreditar finalmente a nave de Ami surgia sobre as rochas da praia numa
noite iluminada de estrelas. Minha alma estava novamente feliz. A espera havia sido muito
longa, porém agora tudo voltava a estar bem no Universo.
O raio de luz amarela surgiu e eu me deixei içar por ele até que cheguei ao interior do
veículo cósmico, em uma pequena sala de recepção. Em minha mente só estava Vinka,
minha noiva extraterrestre, minha alma gêmea. Voltaríamos a nos encontrar após uma
triste separação. Meu coração ia batendo acelerado de alegria.
– Bem vindo abordo – disse-me sorridente um estranho jovem que apareceu ante
mim para receber-me. Isso me pareceu muito raro, porque eu esperava ver ali a Ami ou
Vinka.
–Ami não pode vir desta vez. Mas, entre Pedro, já falaremos.
Trava-se de um magro e esbelto menino, muito mais alto que eu, que evidentemente,
pertencia a raça de Vinka, os swamas. Como ela, tinha a pele rosada, os olhos cor violeta e
as orelhas pontiagudas na parte superior.
–Vinka está abordo? –perguntei antes de ingressar no salão de comandos.
–Sim, aqui está. Entre para que a veja.
Suspirei aliviado e feliz, e logo entrei. Lá estava aquele olhar mágico, ao fundo do
recinto. Vinka estava esplendida. Meu peito se encheu de ternura e de meu sorriso
brotaram faíscas de luz. Mas... ela não me olhou com simpatia senão com frieza. Não
mostrou a menor intenção de vir para mim, nem manifestou alegria alguma ante o
reencontro, me observava séria desde longe. Nem sequer saudou-me! Comecei a sentir
uma espécie de angustia. O jovem caminhou até ela e Vinka lhe brindou com um sorriso
que era todo mel... Pra ele sim, e pra mim não! Depois, ele parou ao seu lado, tomou minha
companheira pelo ombro e com um olhar cruel de triunfo, disse:
– Houve um erro. Não existem almas gêmeas de mundos diferentes. Nós viemos do
planeta Kía, e você é terrícola, portanto, ela não é tua alma gêmea, senão minha – e
começou a lhe dar um interminável beijo na boca... Enquanto Vinka lhe acariciava a nuca e
lhe arranhava as costas com paixão...
Eu senti que me destroçava por dentro e quis chorar, mas não podia fazer nada,
estava paralisado. Vinka me havia deixado por outro garoto, um grande, um homem já, de
uns dezessete ou dezoito anos, como elas gostam, e não um nanico de menos de doze,
como eu.
Nesse momento escutei umas batidas.
–Pedro.
Com uma forte dor no coração e na alma, abri os olhos. Estava em meu quarto na casa
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de praia.
“Ah... era outra vez esse pesadelo”... eu disse, agradecendo interiormente a minha avó
por haver-me despertado, e comecei a sentir me mais sereno.
– É hora de levantar-se. Eu tenho que ir para minha aula de Yoga e alguém deve ficar
aqui acordado.
–Sim. Já vou, vovó.
– Depois tenho que atender uma cliente ao meio dia, portanto, vou chegar um pouco
tarde para fazer o almoço. Poderia acender o forno às doze? Dentro está o pastel de
batatas. Eu me ocupo do resto quando chegar.
–Sim, vovó, não há problema.
–Então até a volta, Pedrinho. Se cuida.
Sim, esse era o estado de minha alma pessimista e impaciente durante aquele tempo
de espera. A medida que os dias passavam sem novidades de Ami nem de Vinka, com
maior freqüência me assaltava o mesmo espantoso pesadelo. Porém só isso: um mau
sonho, por sorte...
Minha avó teve um “ataque de rejuvenescimento”. Fazia Yoga, tomava vitaminas, se
vestia mais juvenilmente e retomou seus antigos ofícios, não sei se cabeleireira,
cosmetóloga, depiladora ou algo assim. Agora passava muito menos tempo em casa, aliás,
aproveitava para trabalhar no balneário fazendo visitas a domicilio. Isso nos permitiu
dispor de mais recursos e podíamos ficar na casa de praia por todo o verão.
Quando chegamos, eu pensava que Ami e sua nave espacial estariam de regresso nos
primeiros dias da temporada, mas fiquei inutilmente quase dois meses esperando nas
rochas onde nos encontramos nas ocasiões anteriores. As férias estavam por terminar,
logo regressaríamos para a cidade e, ainda nada... Essa triste espera converteu meu
descanso em algo deprimente, interminável, eterno.
Todos os dias, ia para as rochas da praia e ficava observando o céu durante horas, até
o começo da noite, com o desejo de ver um objeto voador. Cada luzinha que se movia lá no
alto me fazia saltar de esperança o coração, mas sempre resultava ser um desilusionante
satélite, um estúpido meteorito ou um miserável avião, e não a nave de Ami, único meio
capaz de aproximar-me de Vinka.
Vinka... Como desejava voltar a vê-la... Havia ficado em mim tão profundamente, que
me parecia haver estado eternamente unido a ela, apesar de nos conhecermos apenas uns
meses antes e nos vimos só durante menos de um dia, mas suficiente.
Entre nós aconteceu uma atração irresistível. E poucas horas depois chegamos a
compreender que nossas almas são metades de um mesmo ser; somos almas gêmeas.
Por isso mesmo a separação me afetou muito, e acredito que à ela também, lembrava
dela todos os dias, todos. Desde o momento em que a vi pela primeira vez, dali em diante,
sempre estive pensando nela, com a sensação de sua presença dentro de mim a cada
instante, até que me dei conta de que isso ia acontecer pra sempre, e eu gostava, me fazia
sentir mais vivo, mais completo e mais feliz; ainda que ela não estivesse a meu lado,
porque de alguma outra forma sim, ela estava. Claro, porque nos unia o amor, e graças a
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Ami compreendi que essa é a força maior de todo o Universo. Assim entendi que o amor
não é simplesmente um sentimento belo, não; é muito mais que isso.
Após a visita de Ami, para mim existe um novo Deus. Creio que inclusive muitos ateus
poderiam estar de acordo com minha nova visão do inventor do Cosmos, que é a mesma
que tem aqueles dos lugares mais avançados do Universo; deles a recebi.
Eu sei que Deus sempre tem sido e será o mesmo, porém nossa maneira de vê-lo vai
mudando com o passo do tempo, com nossa própria evolução. No principio, a gente
pensava que o Criador era uma pedra ou o raio do sol. Depois aprendemos que não era
justamente isso. E cada vez que o podemos conceber de uma forma mais elevada é como si
transformasse para nós em um novo Deus, que foi justamente o que me ocorreu.
Antes de Ami, em minha imaginação Deus era um senhor vigilante, vingativo, rígido,
severo, carrasco e iracundo. Bom, essa era a idéia que algumas pessoas me transmitiam
para assustar-me, e na mesma Bíblia o pintam mais ou menos assim em algumas partes.
Devido a tudo isso, quando menino tinha muito medo dele. Mas depois descobri que se não
pensava Nele, eu não entrava em más vibrações, e me pareceu mais conveniente duvidar
de sua existência... Mas agora, para mim és um bondoso e radiante “Ser-Presença-
Inteligência” que dirige o Universo. DELE fiquei sabendo graças ao amigo que veio desde as
estrelas a visitar-me em sua nave: Ami; ele me fez conhecer a Deus Amor.
Agora sei que lhe presto atenção, porque deixou de ser uma idéia imaginaria e se
transformou em algo que eu posso sentir, vivenciar e experimentar. Claro, como o Amor é
Deus, cada vez que eu sinto amor estou experimentando a Deus.
Naturalmente.
Naturalmente para as almas simples, quer dizer, porque se falamos do assunto com
um velho de espírito, irá sair com complicações teológicas e intelectuais que o confunde
todo e que , ao final de contas, nos separam de Deus. O que acontece é que neste planeta
somos meio retorcidos por dentro, por isso nos custa compreender as coisas simples. E o
mesmo acontece no manejo deste mundo.
Eu viajei a Ofir, um mundo evolucionado, e também a outros. Assim soube que as
civilizações avançadas do Universo compartem tudo com carinho, como se tratasse de uma
grande família planetária. Naturalmente. E como resultado, isso parecia uma festa
permanente porque todas as pessoas andavam contentes. Mas aqui, saímos na rua e vemos
uma cara alegre e cem caras de vinagre... e quase todos pensam que seus problemas serão
resolvidos com dinheiro, mas embora mais rico é um lugar, mais caras de vinagres e mais
empedradas as caras...
O que acontece é que o material é somente “a parte de fora”, mas a felicidade tem a
ver com “a parte de dentro”, e isso por sua vez tem que ver com o Amor. Esse é justamente
o Principio Guia dos mundos mais adiantados que o nosso, o Amor, devido a isso, lê se olha
a vida desde um “Nós”, enquanto aqui só importa o “Eu”. O egoísmo é nossa conduta mais
natural, e dele deriva nosso estilo de vida, impulsionado pelo velho e cruel “motor” desta
“civilização”, a famosa “competitividade”, que não é mais nem menos que a pré-histórica
“lei da selva”, expressada em palavras elegantes...
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Porém, nos mundos evolucionados já não estão na pré-história. Lá não se compete, lá
se compartilha.
Devido a essa e outras razões, as civilizações cósmicas consideram que nossa
humanidade, ainda não é civilizada ou evolucionada. Para essa gente, nós somos uma
espécie muito primitiva, ainda que nos consideremos “modernos” (pessoas do ano 1200 e
de todas as épocas tem-se considerado igual)... E na podemos compreender por que os
tripulantes dessas silenciosas naves que se vêem cada vez com maior freqüência, que
possuem tecnologia que aqui nem se sonha, ainda em alcançar, não nos consideram dignos
do menor contato a nível oficial.
Bom, tampouco os catedráticos das universidades vão ter contato com os selvagens
das selvas, para que? Mandariam instrutores? Seguramente terminariam crivados por
dardos venenosos... Melhor seria lhes deixar ao alcance alguns livros com ilustrações fáceis
de compreender, como o ABC do que se deseja ensinar.
Outro exemplo: se você vai visitar a um bandido perigoso, ele irá pensar que você o
apóia... E se disser que sua conduta não é correta, melhor ir com colete a prova de balas...
Aliás, seria inútil, porque ele sabe muito bem o que faz. Também nesse caso é melhor que
lhe deixe uns livrinhos por perto (e não se esqueça de adicionar neles tiros e perigos,
muita angustia, ódios e tristezas, porque senão, se aborrece e lança o livro fora)...
Mas apesar de todas as obscuridades e durezas deste incivilizado mundo, que
justamente por viver em sua pré-história, ainda não respeita nem intui o que é realmente o
Amor. Ami disse que tenho que viver com alegria, com boa vibração para todos, inclusive
para com os cientistas, que se dedicam a traficar seus conhecimentos inventando novas
armas, ou para quem faz negócios destruindo a natureza (ele crê que é tão fácil amar a
certos humanóides). Segundo ele, esses “benfeitores da humanidade” (eu os meteria a
todos presos para que não façam mais danos) não é que sejam maus, senão que são
ignorantes. Devido a isso, a solução não é lutar ou combater; o remédio não consiste em
apagar do mapa nem prender ninguém (lamentavelmente), senão em ensinar, ajudar a
mudar a mente e o coração, pelo menos dos mais jovens, que poderiam chegar a ser
diferentes ( agora que dei conta, adult-o adult-erar tem a mesma raiz)... Digo que
poderíamos chegar a ser distintos e conduzir o mundo de uma forma mais humana algum
tempo, mas não é seguro porque na escola não nos ensinam a ser melhores pessoas. Nossa
educação não está orientada a “parte de dentro”, senão a de fora; por esse motivo, a única
coisa que fazemos é memorizar datas, e não justamente datas que nos levem para a
felicidade, ou que nos façam compreender o sentido superior da vida. Acumulando datas
referentes à parte de fora de tudo não muda nada por dentro, não em um sentido
profundo.
E em lugar de estimularmos a ser solidários, nos incitam a ser muito “competitivos”, e
isso quer dizer a tratar de ganhar dos demais em tudo, deixá-los convertidos em purê,
espremê-los, passar por cima. Essa é nossa formação filosófica, moral e ética atual. Nos
vestimos melhor que antes, por fora, e andamos com celular.
Mas por dentro, das cavernas de hoje em dia não há mudado muita coisa...
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