Table Of ContentFolha de rosto
BART D. EHRMAN
QUEM JESUS
FOI?
QUEM
JESUS NÃO
FOI?
Mais revelações inéditas sobre as
contradições da Bíblia
Tradução
Alexandre Martins
Ficha catalográfica
Título original: Jesus, interrupted
Copyright© 2009, Bart D. Ehrman
Copyright da tradução© 2010, Ediouro Publicações Ltda.
Projeto gráfico de miolo: Leandro B. Liporage
Editoração: Selênia Serviços
Copidesque: Taís Monteiro
Revisão: Cristiane Pacanowski e Letícia Féres
Revisão técnica: Nataniel Gomes
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
E32q
Ehrman, Bart D., 1955-
Quem Jesus foi? Quem Jesus não foi? : mais revelações inéditas sobre as contradições da Bíblia /
Bart D. Ehrman ; tradução Alexandre Martins. - Rio de Janeiro : Ediouro, 2010.
Tradução de: Jesus, interrupted
ISBN 978-85-00-33076-6
1. Jesus Cristo - Historicidade. 2. Cristianismo - Literatura polêmica. 3. Bíblia. N. T. - Crítica,
interpretação, etc. 2. Bíblia. N.T. - Literatura polêmica. I. Título.
10-2183. CDD: 220.6
CDU: 27-23
Texto estabelecido segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil
desde 2009.
Todos os direitos reservados à Ediouro Publicações Ltda.
Dedicatória
P A ,
ARA IYA NETA EXTRAORDINÁRIA
Sumário
Sumário
Prefácio
UM – Um ataque histórico à fé
DOIS – Um mundo de contradições
TRÊS – Muitas visões divergentes
QUATRO – Quem escreveu a Bíblia
CINCO – Ludibriador, lunático ou Senhor? Descobrindo o Jesus
histórico
SEIS – Como recebemos a Bíblia
SETE – Quem inventou o cristianismo?
OITO – A fé é possível?
Notas
Prefácio
Prefácio
Cheguei ao Seminário Teológico de Princeton em agosto de 1978, saído da
faculdade e recém-casado. Tinha uma edição bem gasta do Novo Testamento
em grego, sede de conhecimento e não muito mais do que isso. Nem sempre
havia sido apaixonado pelo estudo. Ninguém que me conhecesse cinco ou
seis anos antes teria previsto que eu seguiria a carreira acadêmica. Mas eu
tinha sido fisgado pelo espírito acadêmico em algum momento na faculdade.
Imagino que tenha sido originalmente no Moody Bible Institute, em Chicago,
um seminário fundamentalista que começara a frequentar bem jovem, aos 17
anos. Lá meu interesse acadêmico foi alimentado não tanto por curiosidade
intelectual, e mais por um desejo religioso de certeza.
Estudar no Moody foi uma experiência intensa. Fui para lá porque tivera
uma experiência de “renascimento” no ensino médio e decidira que para ser
um cristão “sério” precisaria estudar profundamente a Bíblia. E, de algum
modo, algo aconteceu em meu primeiro semestre na faculdade: eu me tornei
um apaixonado — até mesmo arrebatado — em minha busca de
conhecimento sobre a Bíblia. No Moody eu não apenas fiz todos os cursos
possíveis sobre Bíblia e teologia como também decorei livros inteiros da
Bíblia por conta própria. Estudava em todos os momentos livres. Li livros e
fiz anotações em palestras. Quase toda semana eu virava a noite me
preparando para as aulas.
Três anos assim mudam a vida de uma pessoa. Certamente fortalecem a
mente. Quando me formei no Moody, fui para o Wheaton College com o
objetivo de conseguir um diploma em literatura inglesa, mas continuei a me
concentrar intensamente na Bíblia, fazendo cursos de interpretação e
ensinando a Bíblia toda semana para crianças em meu grupo de jovens na
igreja. Além disso, aprendi grego, para poder estudar o Novo Testamento no
original.
Como um convicto cristão confiante na Bíblia, eu tinha certeza de que ela,
em todas as suas palavras, tinha sido inspirada por Deus. Talvez tenha sido
isso o que me levou ao meu estudo intensivo. Aquelas eram as palavras de
Deus, o comunicado do Criador do universo e Senhor de tudo, ditas a nós,
pobres mortais. Certamente a coisa mais importante da vida era conhecê-las
intimamente. Pelo menos para mim. Entender mais profundamente a
literatura me ajudaria a compreender aquela obra literária em especial (daí
minha formação em literatura inglesa); ser capaz de lê-la em grego me ajudou
a conhecer as palavras exatas do Autor do texto.
Já no meu primeiro ano no Moody decidi que queria ensinar sobre a Bíblia.
Depois, em Wheaton, me dei conta de que era muito bom em grego. Assim,
meu passo seguinte já estava praticamente traçado: eu faria um doutorado em
estudos do Novo Testamento, trabalhando especialmente alguns aspectos da
língua grega. Meu adorado professor de grego em Wheaton, Gerald
Hawthorne, me apresentou à obra de Bruce Metzger, o mais reverenciado
estudioso de manuscritos bíblicos gregos do país, que lecionava no Seminário
Teológico de Princeton. Então, me candidatei a Princeton sem saber nada —
absolutamente nada — sobre o lugar, a não ser que Bruce Metzger lecionava
lá e que, se eu quisesse me especializar em manuscritos gregos, era para
Princeton que eu tinha que ir.
Acho que eu sabia uma coisa sobre o Seminário de Princeton: não era uma
instituição evangélica. E, quanto mais ficava sabendo sobre ele nos meses
anteriores à minha mudança para Nova Jersey, mais nervoso ficava. Soube
por amigos que Princeton era um seminário “liberal”, que não defendia a
verdade literal e a inspiração verbal da Bíblia. Meu maior desafio não seria
puramente acadêmico, ter que alcançar um desempenho suficientemente bom
nas turmas de mestrado para conseguir o direito de cursar o doutorado, mas
me agarrar à minha fé na Bíblia como a inspirada e inequívoca Palavra de
Deus.
Assim, eu fui para o Seminário Teológico de Princeton jovem e pobre, mas
apaixonado, preparado para enfrentar todos aqueles liberais com sua visão
aguada da Bíblia. Como bom cristão evangélico, estava pronto para demolir
quaisquer ataques à minha fé bíblica. Eu podia responder a qualquer aparente
contradição e solucionar qualquer potencial discrepância na Palavra de Deus,
fosse no Antigo ou no Novo Testamento. Eu sabia que tinha muito a
aprender, mas não iria aprender que meu texto sagrado tinha algum
equívoco.
Algumas coisas não aconteceram como planejado. O que realmente aprendi
em Princeton me fez mudar de ideia sobre a Bíblia. Não mudei a maneira de
pensar com boa vontade — fui derrotado gritando e esperneando. Orei
(muito) por causa disso e lutei (de forma extenuante) contra isso, resistindo
com todas as minhas forças. Mas ao mesmo tempo pensei que, se tinha um
verdadeiro compromisso com Deus, também precisava ter um compromisso
real com a verdade. E após um bom tempo ficou claro para mim que minha
antiga visão da Bíblia como a revelação inequívoca de Deus era
absolutamente equivocada. Minha escolha era me agarrar a uma visão que eu
tinha descoberto estar errada ou seguir em frente até onde acreditava que a
verdade estava me levando. No fim, não era uma escolha. Se algo era
verdade, era verdade; caso contrário, não.
Ao longo dos anos conheci pessoas que disseram: “Se minhas crenças não
correspondem aos fatos, pior para os fatos.” Nunca fui uma dessas pessoas.
Nos próximos capítulos tentarei explicar por que o estudo da Bíblia me
obrigou a mudar de ponto de vista.
Esse tipo de informação é relevante não apenas para acadêmicos como eu,
que dedicam a vida a pesquisas sérias, mas a todos que se interessam pela
Bíblia — considerem-se eles crentes ou não. Na minha opinião isso é
realmente importante. Seja você crente — fundamentalista, evangélico,
moderado, liberal — ou descrente, a Bíblia é o livro mais significativo da
história da civilização. Entender o que ela realmente é, e o que não é, é uma
das mais importantes empreitadas intelectuais à qual qualquer um em nossa
sociedade pode se entregar.
Alguns dos leitores deste livro poderão ficar muito desconfortáveis com as
informações que ele apresenta. Só peço que, se esse for o seu caso, faça o que
eu fiz: receba-as com a mente aberta e esteja disposto a mudar caso isso seja
necessário. Se, por outro lado, você não encontrar nada chocante ou
desagradável no livro, só peço que relaxe e aproveite.
Sou muito grato a uma série de leitores atentos e perspicazes que
percorreram meu original e insistiram vigorosamente — não em vão, espero
— para que eu o modificasse em certos pontos a fim de melhorá-lo: Dale
Martin, da Yale University; Jeff Siker, da Loyola Marymount University;
minha filha, Kelly Ehrman Katz; meus alunos de faculdade Jared Anderson e
Benjamin White; um perspicaz leitor da imprensa e meu editor muito preciso
e valioso na HarperOne, Roger Freet.
As traduções da Bíblia Hebraica (Antigo Testamento) para o inglês[1] são
da New Revised Standard Version (NRVS); as do Novo Testamento são da
NRSV ou minhas; as citações dos padres apostólicos são minhas.
Dedico este livro à minha neta Aiya, de dois anos, que é perfeita em todos
os sentidos.
[1] Na edição brasileira, utilizamos a Bíblia de Jerusalém, Nova edição, revista e ampliada, São Paulo:
Paulus, 2002. (N.E.)
UM - Um ataque histórico à fé
UM
Um ataque histórico à fé
A Bíblia é o livro mais comprado, extensivamente lido e profundamente
reverenciado da história da civilização ocidental. É da mesma forma o mais
plenamente malcompreendido, sobretudo pelos leitores comuns.
Nos últimos duzentos anos, os estudiosos conseguiram um progresso
significativo na compreensão da Bíblia, com base em descobertas arqueo-
lógicas, avanços em nosso conhecimento do grego e do hebraico arcaicos,
línguas nas quais os livros das Escrituras foram originalmente escritos, e
profundas e penetrantes análises históricas, literárias e textuais. É uma
enorme empreitada acadêmica. Apenas na América do Norte, milhares de
acadêmicos continuam a fazer pesquisas sérias nesse campo, e os resultados
de seus estudos são regular e rotineiramente ensinados tanto a alunos das
universidades quanto a futuros pastores que frequentam seminários em sua
preparação para o ministério.
Mas essas visões sobre a Bíblia são praticamente desconhecidas da
população em geral. Em grande medida, isso acontece porque aqueles que
passam a vida profissional estudando a Bíblia não conseguiram transmitir
esse conhecimento ao público em geral e porque, por várias razões, muitos
pastores que tiveram contato com esse material no seminário não o
partilharam com os membros de suas igrejas quando assumiram seus cargos.
(As igrejas, claro, são os lugares mais óbvios onde a Bíblia é — ou melhor,
deveria ser — ensinada e debatida.) Consequentemente, a maioria dos norte-
americanos (cada vez mais) não apenas ignora o conteúdo da Bíblia como
também parece estar absolutamente no escuro a respeito do que os
acadêmicos têm falado sobre a Bíblia nos últimos duzentos anos. Este livro
tem o objetivo de ajudar a abordar esse problema. Deve ser visto como minha
tentativa de revelar o segredo.
Os pontos de vista que apresento nos próximos capítulos não são minha
própria visão idiossincrática da Bíblia. São as visões que se consolidaram há