Table Of ContentUNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE LINGÜÍSTICA
DOMINICANOS E JESUÍTAS NA EMERGÊNCIA DA TRADIÇÃO GRAMATICAL
QUECHUA – SÉCULO XVI
Roberta Henriques Ragi Cordeiro
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Semiótica e Lingüística Geral, do
Departamento de Lingüística da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo, como requisito para a
obtenção do Título de Mestre.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Cristina Fernandes Salles Altman
São Paulo
2008
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE LINGÜÍSTICA
DOMINICANOS E JESUÍTAS NA EMERGÊNCIA DA TRADIÇÃO GRAMATICAL
QUECHUA – SÉCULO XVI
Roberta Henriques Ragi Cordeiro
São Paulo
2008
Este trabalho é dedicado a Aparecido,
companheiro de todas as horas.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à professora Dr.ª Cristina Altman, que possibilitou o desenvolvimento
deste trabalho, inspirando-o com seu exemplo, sua capacidade e grande experiência.
Agradeço aos professores Dr.º Angel Corbera Mori e Dr.º Moacyr Ayres Novaes Filho,
que participaram da minha Banca de Qualificação e contribuíram com críticas e
sugestões pertinentes e esclarecedoras.
Aos colegas do CEDOCH e à professora Dr.ª Olga Coelho, por compartilharem,
comigo, leituras, encontros e discussões, registro, aqui, minha sincera gratidão.
Agradeço, por fim, ao CNPq, por financiar esta pesquisa, concedendo-me uma
bolsa de Mestrado junto ao Departamento de Lingüística da Universidade de São Paulo.
RESUMO
Esta investigação tem o objetivo de comparar as duas primeiras gramáticas
produzidas sobre o quechua no século XVI. A primeira, Grammatica o arte de la
lengua general de los incas de los reynos del Peru, foi escrita pelo dominicano
Domingo de Santo Tomás (1499-1570) e publicada em Valladolid, no ano de 1560. A
segunda, Arte y vocabulario en la lengua general del Peru llamada quichua, y en la
lengua española, de autoria anônima, surgiu das atividades do Terceiro Concílio
Limenho (1582-1583) e foi publicada em Lima, no ano de 1586.
A hipótese inicial deste trabalho é a de que ambos os textos configuram modelos
distintos de descrição gramatical da língua-objeto, se levadas em consideração as
especificidades históricas e políticas que contextualizam a produção e circulação das
duas gramáticas examinadas. Do ponto de vista lingüístico, os textos gramaticais
materializam continuidades e descontinuidades em relação ao repertório gramatical
latino de base e em relação ao quadro universalista renascentista que situa tais
produções.
Procurou-se demonstrar que o tratamento dos metatermos gramaticais e as
opções metodológicas verificadas em cada caso encaminham concepções distintas para
o homem e a língua quechua e diferentes projetos de colonização para o Peru do século
XVI.
PALAVRAS-CHAVE: Historiografia da Lingüística; Lingüística Missionária; Política
Lingüística; História da Gramática; Quechua.
ABSTRACT
This report has the objective to compare the two first grammar books produced
by the quechua in the sixteenth century. The first one Grammatica o arte de la lengua
general de los incas de los reynos del Peru, was written by the Dominican Domingo de
Santo Tomás (1499-1570) and published in Valladolid, in the year of 1560. The second
one, Arte y vocabulario en la lengua general del Peru llamada quichua, y en la lengua
española, whose author is unknown, came up during the activities of the Third Concilio
Limenho (1582-1583) and it was published in Lima, in 1586.
The first hypothesis of this work is that both texts have distinct patterns of
grammatical descriptions of the language-object, if taken into consideration the political
and historical specificities which contextualize the production and the circulation of
both examined grammars. From the linguistic point of view, the grammar texts
materialize the continuity and the lack of continuity related both to the Latin grammar
repertoire basis and in relation to the renaissentist universalistic scenery where such
productions are.
Trying to demonstrate that the grammatical metaterms and the methodological
options verified in each case have different conceptions for the man and the language
quechua and different projects of Colonization for Peru in the sixteenth century.
KEYWORDS: Linguistic Historiography; Missionary Linguistics; Linguistic Political;
History of Grammar; Quechua.
RESUMEN
Esta investigación tiene como objetivo comparar las dos primeras gramáticas
producidas sobre el quechua en el siglo XVI. La primera, Grammatica o arte de la
lengua general de los incas de los reynos del Peru, fue escrita por el dominicano
Domingo de San Tomás (1499-1570) y publicada en Valladolid en el año de 1560. La
segunda parte, Arte y vocabulario en la lengua general del Peru llamada quichua, y en
la lengua española, de autoria desconocida, surgió como resultado de las actividades
del Tercer Concilio Limeño (1582-1583) y fue publicada en Lima en el año de 1586.
La hipótesis inicial de este trabajo es la de que ambos textos configuran modelos
distintos de descripción gramatical de la lengua-objeto, llevando en consideración las
especificidades históricas y políticas que contextualizan la producción y circulación de
las dos gramáticas examinadas. Del punto de vista lingüístico, los textos gramaticales
materializan continuidades y descontinuidades en relación al repertorio gramatical
latino de base y en relación al cuadro universalista renascentista que sitúa tales
producciones.
La propuesta de este trabajo es demostrar que el tratamiento de los metatérminos
gramaticales y las opciones metodológicas verificadas en cada caso implican
concepciones distintas sobre el hombre y la lengua quechua así como diferentes
proyectos de colonización para el Perú del siglo XVI.
PALABRAS CLAVE: Historiografia Lingüística; Lingüística Misionera; Política
Lingüística; Historia de la Gramática; Quechua.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 10
CAPÍTULO I
1 HISTORIOGRAFIA LINGÜÍSTICA E LINGÜÍSTICA MISSIONÁRIA
CONTEXTUALIZAÇÃO DOS MÉTODOS DE ANÁLISE ..................................... 16
1.1 Reconstruções historiográficas de trabalhos lingüísticos – em busca de um quadro
metodológico ................................................................................................................... 16
1.2 Continuidades e descontinuidades dos métodos da produção lingüística no eixo
histórico ........................................................................................................................... 19
1.3 A produção gramatical quechua e o Renascimento europeu – construção inicial do
problema .......................................................................................................................... 25
CAPÍTULO II
2 ESTABELECIMENTO DO MÉTODO DE TRABALHO ..................................... 34
2.1 Descrição e contextualização dos materiais sistemáticos de análise ......................... 34
2.1.1 Contexto de produção e circulação ................................................................. 35
2.1.2 Estrutura das fontes primárias selecionadas .................................................... 38
2.1.2.1 A gramática dominicana ........................................................................ 38
2.1.2.2 A gramática jesuítica .............................................................................. 41
2.2 Fontes primárias utilizadas como material assistemático de análise ......................... 44
2.3 Sistematização do corpus e dos parâmetros de análise ............................................. 45
2.3.1 Parâmetros externos de análise do corpus ...................................................... 46
2.3.2 Parâmetros internos de análise do corpus ....................................................... 47
CAPÍTULO III
3 A HERANÇA DOMINICANA E A HERANÇA JESUÍTICA
CONSTRUINDO O PROBLEMA EM PERSPECTIVA HISTÓRICA .................. 51
3.1 A herança dominicana ............................................................................................... 51
3.1.1 Messianismo e milenarismo dominicanos como base para a constituição do
Estado moderno ........................................................................................................ 51
3.1.2 Hispaniola e a etapa insular da conquista castelhana ..................................... 54
3.1.3 A inquietação moral de Antonio de Montesinos ............................................. 57
3.1.4 Os dominicanos e a primeira fase da conquista peruana – a revolta dos
encomenderos e os movimentos de pacificação ...................................................... 60
3.1.5 Bartolomé de Las Casas – defensor dos povos americanos ............................ 63
3.1.6 A Polêmica de Valladolid ............................................................................... 66
3.2 A herança jesuítica..................................................................................................... 67
3.2.1 A política conciliar do Peru colonial ............................................................... 67
3.2.2 Padre José de Acosta e o Terceiro Concílio Limenho .................................... 70
3.2.3 A Polêmica de Auxiliis – a última contenda entre dominicanos e jesuítas no
século XVI ............................................................................................................... 73
CAPÍTULO IV
4 A EMERGÊNCIA DA TRADIÇÃO GRAMATICAL QUECHUA COMO
PROJETO POLÍTICO DE EMPRESA COLONIAL CASTELHANA ................... 77
4.1 O primeiro prólogo da gramática de Santo Tomás – a polêmica entre dominicanos e
encomenderos e as estratégias persuasivas dirigidas a Felipe II ..................................... 78
4.1.1 A imagem da língua e do homem quechua na retórica dominicana ............... 82
4.1.2 Las Casas e Santo Tomás – discurso messiânico e milenarista no contexto dos
dois primeiros concílios provinciais limenhos ......................................................... 90
4.2 O segundo prólogo dominicano – o diálogo com os pares e a interdiscursividade
mostrada .......................................................................................................................... 95
4.3 A imagem da língua e do homem quechua na retórica jesuítica ............................... 99
4.4 O prohemio, a provision real e o prólogo da gramática anônima de 1586 como
produtos de Terceiro Concílio Limenho ........................................................................ 102
4.5 A tipologia de sinais de Acosta em Historia natural y moral de las Indias ........... 107
4.6 Dominicanos e jesuítas – argumentos providencialistas em defesa de modelos
distintos de colonização para o Peru colonial ................................................................ 112
CAPÍTULO V
5 O MODELO GRAMATICAL DOMINICANO E O MODELO GRAMATICAL
JESUITICO – CONTINUIDADES E DESCONTINUIDADES DESCRITIVAS E
METODOLÓGICAS ................................................................................................. 119
5.1 A prática gramatical do Humanismo renascentista – o modelos de Antonio de
Nebrija .......................................................................................................................... 119
5.1.1 Nebrija e a controvérsia entre modistas e nominalistas ................................ 120
5.1.2 O modelo universalista das partes do discurso ............................................. 122
5.1.3 Os métodos gramaticais humanistas do Renascimento ................................. 124
5.1.4 Nebrija, a ortografia e as letras ..................................................................... 125
5.2 A emergência da tradição gramatical quechua no século XVI – modelo dominicano
e o modelo jesuítico ....................................................................................................... 128
5.2.1 O instrumental metodológico greco – latino na constituição das duas
primeiras gramáticas quechuas .............................................................................. 128
5.2.2 Especificidades descritivo – metodológicas dos modelos gramaticais de 1560
e 1586 ..................................................................................................................... 138
5.2.3 Um estudo do termo letra nos textos gramaticais produzidos sobre o quechua
no século XVI ....................................................................................................... 144
5.2.3.1 Exemplos da constituição dos dados de análise ................................... 145
5.2.3.1.1 Exemplos do termo letra designando som .................................. 145
5.2.3.1.2 Exemplos do termo letra designando informação grafemática .. 146
5.2.3.1.3 Exemplos do termo letra designando informação morfemática . 146
5.2.3.2 Análise descritiva dos dados ................................................................ 147
5.2.3.3 O capítulo De la ortographia, de Santo Tomás ................................... 150
5.2.3.4 O tratamento das letras, na descrição das variações alofonéticas ........ 153
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 159
BIBILIOGRAFIA ............................................................................................... 167
ANEXOS .............................................................................................................. 178
9
INTRODUÇÃO