Table Of ContentFicha Técnica
Título original: The End
Título: Até ao Fim
Autor: Ian Kershaw
Design de capa: Rui Garrido
Fotografia de capa: © Corbis/VMI Revisão: Rita Bento
ISBN: 9789722050654
Publicações Dom Quixote
uma editora do grupo Leya
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© 2011, Ian Kershaw e Publicações Dom Quixote e Oficina do Livro – Sociedade Editorial, Lda.
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Agradecimentos
Uma das obrigações mais agradáveis quando se termina um livro é agradecer
a todos quantos, de algum modo, contribuíram para a sua elaboração.
Os meus agradecimentos vão, em primeiro lugar, para a British Academy
pela bolsa que me ajudou a encetar a investigação exploratória inicial. Estou
também grato aos arquivistas e demais elementos dos vários repositórios onde
trabalhei: o Bundesarchiv em Berlim/Lichterfelde, o
Bundesarchiv/Militärarchiv em Friburgo, a Bibliothek für Zeitgeschichte em
Estugarda, o Bayerisches Hauptstaatsarchiv e o Staatsarchiv München, o
Staatsarchiv Augsburg, o International Tracing Service, Bad Arolsen, o
National Archives em Londres, o Imperial War Museum em Duxford e o
Liddell Hart Centre for Military Archives no King’s College, em Londres. Na
Bibliothek für Zeitgeschichte em Estugarda, parte da Württembergische
Landesbibliothek, tive todas as razões para me sentir extremamente agradecido
pela ajuda e pelos conselhos do diretor da biblioteca e meu bom amigo pessoal,
o professor Gerhard Hirschfeld, e da chefe das suas coleções de arquivos, a
doutora Irina Renz. A doutora Susanne Urban foi extremamente prestável,
orientando-me nas extensas fontes relacionadas com as marchas de morte – só
recentemente abertas aos investigadores – no Internacional Tracing Service em
Bad Arolsen, onde gostaria também de exprimir os meus agradecimentos ao
seu diretor, M. Jean-Luc Blondel. Em Duxford, beneficiei enormemente da
assistência especializada do doutor Stephen Walton na consulta dos valiosos
repositórios de documentos alemães. Comecei e terminei a investigação para
este livro no incomparável Institut für Zeitgeschichte em Munique, onde tenho
o privilégio de ser um convidado bem-vindo há muitos anos, e gostaria de
exprimir os meus mais calorosos agradecimentos ao seu diretor, o professor
Horst Möller, e aos seus colegas, especialmente aos elementos da biblioteca e
dos arquivos, que, como sempre, lidaram com os meus muitos pedidos com
cortesia e simpatia infatigáveis.
O professor Otto Dov Kulpa (Jerusalém), um colega e amigo por quem tenho
a mais alta estima e com quem tenho trocado uma longa e frutuosa
correspondência ao longo de muitos anos, foi quem primeiro me chamou a
atenção para os registos em Bad Arolsen. Para além disso, como sempre, sinto-
me extremamente grato pelo seu interesse pelo meu trabalho e pelas suas
valiosas sugestões. Laurence Rees, um bom amigo e brilhante produtor de
documentários televisivos, teve a gentileza de me disponibilizar transcrições
relevantes de entrevistas, guardadas nos arquivos da BBC em Londres, de uma
das séries em que colaborámos, deu-me excelentes conselhos e, como sempre,
foi uma companhia estimulante, prestável e extremamente encorajadora.
Muitos outros amigos e colegas também me ajudaram, por vezes, talvez, sem
saberem quanto. Entre eles, devo um agradecimento ao professor Daniel
Blatman (Jerusalém), por responder a uma série de perguntas sobre as marchas
de morte e por gentilmente me enviar material relacionado com o assunto. O
doutor Andreas Kunz, do Bundesarchiv/Militärarchiv em Friburgo, na minha
primeira visita relacionada com este projeto à sua instituição, deu-me algumas
pistas valiosas sobre documentos relevantes nos arquivos. O doutor Heinrich
Schwendemann da Universidade de Friburgo demonstrou grande generosidade,
não se poupando a esforços para me enviar documentos relacionados com a
ocupação francesa do Sudoeste da Alemanha em 1945 e outro material
relevante a que eu não tinha fácil acesso. Entre outros colegas que também me
forneceram documentos, comunicações ou outros materiais, deram resposta às
minhas perguntas ou me levaram a pensar mais claramente sobre o que eu
estava a tentar fazer incluem-se o professor John Breuilly, o doutor Michael
Buddrus, George Burton, a doutora Simone Erpel, o doutor Wolfgang Holl, o
doutor Holger Impekoven, o professor Tim Kirk, o doutor Michael Kloft, o
doutor Alexander Korb, Michael D. Miller, o professor Bob Moore (que não se
poupou a esforços para me enviar uma série de documentos sobre uma questão
específica relacionada com os Países Baixos, a sua principal área de
especialização), o professor Jonathan Steinberg, o doutor Klaus Wiegrefe e o
doutor Benjamin Ziemann. Regozijo-me com esta oportunidade para apresentar
os meus agradecimentos calorosos a todos e para pedir desculpa a quem tenha
sido inadvertidamente omitido.
Quando estava ainda na fase exploratória deste projeto, beneficiei
enormemente, como sempre, com os debates prolongados com amigos alemães
de longa data, o professor Hans Mommsen (Feldafing), o professor Norbert
Frei (Jena), o doutor Hermann Graml e o doutor Elke Fröhlich (Munique), que
muito me ajudaram a dar forma às minhas ideias. Estou extremamente grato a
cada um deles.
A dois estudiosos e amigos quero agradecer especialmente. O doutor Jürgen
Förster, um esplêndido historiador e especialista notável sobre a Wehrmacht no
Bundesarchiv/Militärarchiv em Friburgo, respondeu a numerosas questões,
alertou-me para importantes registos e, especialmente, leu e comentou o texto
completo. O doutor Nick Stargardt, do Magdalen College, Oxford, que está
atualmente a trabalhar no que será um importante estudo da sociedade alemã
durante a guerra, partilhou as suas opiniões penetrantes ao longo de todo o meu
trabalho. Dispensou também o seu tempo e a sua atenção à leitura do texto
completo e fez numerosas e valiosas sugestões. Estou profundamente
agradecido a ambos. Evidentemente, tem de acrescentar-se, como sempre, que
a responsabilidade por quaisquer erros que subsistam é inteiramente minha.
Uma dívida importante de gratidão pelas suas valiosas sugestões sobre o
texto é também devida aos esplêndidos editores da Penguin – Simon Winder
em Londres e Laura Stickney em Nova Iorque – e o meu agente Andrew Wylie
prestou-me, como anteriormente, um apoio maravilhoso. Gostaria também de
agradecer a todos os que na Penguin ajudaram a produzir este livro, Elizabeth
Stratford pelo seu excelente trabalho de revisão e Cecilia Mackay pela
investigação das fotografias.
Finalmente, há as dívidas pessoais de gratidão. Traude e Uli Spät foram,
como em muitas outras ocasiões, extraordinariamente generosos na sua
hospitalidade durante as minhas estadas em Munique, e têm demonstrado um
vivo interesse pelo meu trabalho ao longo de muitos anos. Durante todo este
projeto, Beverley Eaton, a minha secretária de longa data, continuou a
proporcionar-me um excelente apoio, mesmo agora que deixei a Universidade
de Sheffield, e sinto-me particularmente grato a ela por ter empreendido com
tanta eficiência a tarefa laboriosa de compilar a lista de obras citadas. Por
último, a minha família continua a ser o alicerce sobre o qual tudo se constrói.
Os meus agradecimentos e o meu amor para Betty, para David, Katie, Joe e
Ella, e para Stephen, Becky, Sophie, Olivia e agora também Henry – o mais
recente e maravilhoso acrescento à família.
Ian Kershaw
Manchester, novembro de 2010
PREFÁCIO
Quando no início de 1945 se avizinhava uma derrota desastrosa, ouvia-se
dizer aos alemães que preferiam «um fim com horror a um horror sem fim».
Um fim com horror com formas e dimensões sem precedentes na história foi,
sem dúvida, o que tiveram. O fim provocou destruição e perdas de vidas
humanas a uma escala imensa. Muito poderia ter sido evitado se a Alemanha
estivesse disposta a aceitar as condições dos Aliados. Por isso, a recusa de
considerar a hipótese de capitulação antes de maio de 1945 foi, para o Reich e
para o regime nazi, não só destrutiva mas também autodestrutiva.
Um país que é derrotado numa guerra procura quase sempre, a certa altura,
chegar a um acordo. A autodestruição decorrente de continuar a combater até
ao fim, até à devastação quase total e à completa ocupação inimiga, é
extremamente rara. No entanto, foi o que os alemães fizeram em 1945. Porquê?
É tentador dar uma resposta simples: porque o seu líder, Hitler, recusou
persistentemente considerar qualquer hipótese de rendição, a única opção foi
continuar a lutar. Mas esta resposta levanta outras questões. Porque
continuaram a ser obedecidas as ordens autodestrutivas de Hitler? Que
mecanismos de poder lhe permitiram determinar o destino da Alemanha
quando era óbvio para todos os que tinham olhos para ver que a guerra estava
perdida e que o país estava a ser totalmente arrasado? Até que ponto estiveram
os alemães dispostos a apoiar Hitler até ao fim, mesmo sabendo que estava a
conduzir o país para a destruição? Estavam ainda a dar-lhe, de facto, apoio
voluntariamente? Ou estavam a ser compelidos pelo terror? Como e porquê as
forças armadas continuaram a combater e a máquina governamental continuou
a funcionar até ao fim? Que alternativas tinham os alemães, civis e militares, na
última fase da guerra? Estas e outras questões não tardam a colocar-se a partir
do que inicialmente parece ser uma pergunta direta que requer uma resposta
simples. Mas são questões que só podem ser abordadas se examinarmos as
estruturas de poder e as mentalidades vigentes quando a catástrofe se abateu
inexoravelmente sobre a Alemanha em 1944-1945. É o que este livro procura
fazer.
Pensei escrever este livro porque, para minha surpresa, não conseguia
lembrar-me de nenhuma obra que tivesse procurado fazer o que tinha em
mente. Existem bibliotecas inteiras de livros sobre o fim da guerra, com
diferentes pontos de vista e com qualidade muito variável. Existem importantes
estudos sobre os principais líderes nazis e, cada vez mais, sobre os chefes
regionais, os Gauleiter1. Há também biografias de muitas das principais
personalidades militares2. Existem milhares de relatos dos acontecimentos das
últimas semanas de clímax do Terceiro Reich, tanto na frente de batalha como
em praticamente todas as cidades e vilas da Alemanha. Muitos estudos locais
fornecem descrições realistas – frequentemente horríveis – do destino de
centros urbanos específicos, à medida que o avanço imparável das forças
militares aliada e soviética os ia envolvendo3. Não faltam relatos pessoais das
vivências na frente de batalha ou em cidades arrasadas pelos bombardeamentos
dos Aliados, ou das provações decorrentes de ter de fugir e de ficar sem casa.
São também comuns as histórias militares pormenorizadas, frequentemente
localizadas, ou os relatos de unidades específicas da Wehrmacht ou de grandes
batalhas, e a batalha de Berlim, em particular, tem sido objeto de numerosos
estudos4. O sexto volume da história oficial da guerra da República
Democrática Alemã, produzido na década de 1980, apesar da sua tendência
ideológica óbvia, constitui uma valiosa tentativa de produzir uma história
militar exaustiva, não confinada aos acontecimentos na frente de batalha5. E,
mais recentemente, os últimos volumes da notável série da história militar da
República Federal da Alemanha facultam excelentes estudos pormenorizados
da Wehrmacht, que ultrapassam, por vezes, a mera história operacional6.
Mesmo assim, estas e outras excelentes obras sobre história militar7 apenas
afloram alguns aspetos – embora importantes – do que eu considerava
necessário para responder às questões que pretendia tratar.
A minha intenção inicial era abordar o problema explorando as estruturas de
poder na Alemanha nazi na última fase. Parecia-me que as principais histórias
estruturais do Terceiro Reich davam pouca atenção aos acontecimentos a partir
do final de 1944, abordando muito superficialmente os últimos meses do
regime8. Esta crítica aplica-se também aos estudos sobre o Partido Nazi e às
suas organizações filiadas9. Rapidamente se tornou claro para mim, no entanto,
que uma mera análise estrutural não seria suficiente e que o meu estudo teria de
ser também alargado às mentalidades – a diferentes níveis – que sustentavam o
funcionamento continuado do regime. Não foi ainda empreendido um estudo
exaustivo das mentalidades alemãs nos últimos meses da guerra10. Por isso, a
sua reconstituição tem de ser feita a partir de fragmentos.
Tentei tomar em consideração as mentalidades dos governantes e dos
governados, dos líderes nazis e das camadas inferiores da população civil, dos
generais e dos soldados e tanto na frente oriental como na ocidental. É uma tela
enorme e vejo-me obrigado a pintá-la a traços largos. Evidentemente, só me é
possível apresentar exemplos seletivos para ilustrar o espectro das atitudes que
se verificavam. Um dos maiores problemas para fazer generalizações sobre as
mentalidades é o regime nazi, durante os últimos meses e com um ritmo muito
acelerado nas últimas semanas, estar não só a fragmentar-se mas também a
contrair-se. A Alemanha era um país grande e, embora afetassem, obviamente,
todas as regiões, as pressões extremas da guerra não se fizeram sentir ao
mesmo tempo ou exatamente da mesma maneira. As vivências da população
civil nas diferentes partes do país e as dos soldados em diferentes teatros de
guerra variavam naturalmente. Procurei refletir as diferentes mentalidades em
vez de recorrer a generalizações superficiais.
Este livro está relacionado principalmente com o que poderíamos chamar a
maioria da população alemã. Contudo, houve outras pessoas não redutíveis a
generalizações fáceis, com vivências bastante distintas das da maioria dos
alemães, porque não partilhavam e não podiam partilhar a crença dominante na
sociedade alemã. O destino dos grupos párias, horrivelmente perseguidos pelos
nazis, constitui mais uma parte importante da história do funcionamento
continuado do regime nazi entre o colapso inexorável e a tragédia iminente. Por
mais extremamente indesejável que fosse a situação para a maioria dos
alemães, para os inimigos raciais e políticos do regime, cada vez mais expostos
a retaliações brutais à medida que ia implodindo, os últimos meses bárbaros
foram um período de horror quase inimaginável. Mesmo quando estava
periclitante e a soçobrar em todos os outros aspetos, o regime nazi continuou a
implementar o terror, a morte e a destruição até ao fim.
A história dos últimos meses do regime nazi é uma história de desintegração.
Ao tentar abordar as questões que me coloquei, o principal problema de
método com que me deparei foi o problema desencorajador de tentar combinar
as variadas facetas da queda do Terceiro Reich numa só história. Equivalia a
tentar escrever uma história integrada da desintegração.
A única forma convincente de tentar fazê-lo, na minha opinião, era através de
uma abordagem narrativa – embora tematicamente estruturada em cada
capítulo – que abrangesse os últimos meses do regime. Um ponto lógico para o
início seria junho de 1944, quando, no Ocidente, a Alemanha se confrontava
militarmente com a consolidação dos desembarques bem-sucedidos dos
Aliados na Normandia e, no Leste, com a incursão devastadora do Exército
Vermelho. Optei, no entanto, por começar pelos acontecimentos que se
seguiram à tentativa de assassínio de Hitler em julho de 1944, porque este
momento marcou uma cesura interna significativa para o regime nazi. A partir
daí, examinarei em capítulos sucessivos as reações alemãs ao colapso da
Wehrmacht no Ocidente, em setembro, a primeira incursão do Exército
Vermelho em solo alemão no mês seguinte, as esperanças suscitadas e logo
destruídas pela ofensiva das Ardenas em dezembro, a catástrofe nas províncias
orientais quando se renderam aos Soviéticos em janeiro, a escalada acentuada
do terror no país em fevereiro, o desmoronamento do regime em março, as
últimas tentativas desesperadas em abril para resistir – acompanhadas por uma
violência descontrolada contra cidadãos alemães e, especialmente, contra os
alegados inimigos do regime – e os esforços que o regime de Dönitz envidou,
ainda no início de maio, para continuar a lutar até as tropas colocadas no Leste
poderem ser deslocadas para Ocidente. O livro termina com a capitulação
alemã em 8 de maio de 1945 e a subsequente detenção de membros do governo
de Dönitz.
Senti que só através de uma abordagem narrativa poderia ser captada a
dinâmica e o drama da fase moribunda do regime quando inexoravelmente se
desmoronou na sequência da derrota militar iminente. Só também desta forma,
pensei, seria possível testemunhar as tentativas cada vez mais desesperadas,
embora parcialmente eficazes durante meses, de adiar o inevitável, a
improvisação e o recurso às últimas migalhas que permitiram que o sistema
continuasse a funcionar, a escalada da brutalidade, que no fim se descontrolou
totalmente, e o impulso autodestrutivo e implosivo das ações nazis. Alguns
elementos importantes da história reaparecem necessariamente em mais do que
um capítulo. O bombardeamento de cidades, a deserção de soldados, as
marchas de morte de prisioneiros de campos de concentração, a evacuação de
populações civis, o agravamento do desânimo, a escalada da repressão interna,
os truques de propaganda cada vez mais desesperados não estão, por exemplo,
confinados a um só episódio. Mas a estrutura narrativa é importante para
demonstrar como a devastação e o horror, embora presentes ao longo de todo o
período, se intensificaram com o tempo. Por isso, tentei prestar muita atenção à
cronologia e pintar o quadro recorrendo essencialmente a fontes de arquivos,
Description:Quando no início de 1945 se avizinhava uma derrota desastrosa, ouvia-se dizer aos alemães que preferiam «um fim com horror a um horror sem fim». Um fim com horror com formas e dimensões sem precedentes na história foi sem dúvida o que tiveram. O fim provocou destruição e perdas de vidas hum