Table Of ContentAO AMOR DO PÚBLICO
JARDINS NO BRASIL
© 1996Livros StudioNobel Ltda.
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infratores serãopunidos pelalei 5.988,de 14 de dezembrode 1973,artigos 122-130.
ImpressonoBrasil /PrintedinBrazil
Hugo Segawa
AO AMOR DO PÚBLICO
JARDINS NO BRASIL
Studio Nobel
CoordenaçãoEditorial
CarlaMilano
Equipede Produção
MarthaAssisdeAlmeidaKuhl
Claudia CantarinDomingues
Fotoda capa
A grutado Bosque Municipalde Belém em 1905
DadosInternacionais deCatalogação naPublicação(CIP)
(Câmara BrasileiradoLivro,SP,Brasil)
Segawa,Hugo,1956-
Aoamordopúblico:jardinsnoBrasil/HugoSegawa.—SãoPaulo:StudioNobel:
FAPESP,1996.—(Cidadeaberta)
Bibliografia
ISBN85-85445-40-8
1.Arquitetura paisagística—Brasil2.Jardinagempaisagística—Brasil
3.Jardins— Brasil I.Título.II.Série.
95-3902 CDD-712.50981
Índiceparacatálogosistemático
1.Brasil:Jardinspúblicos:Paisagismo arquitetônico 712.50981
Osmúsicos doséculo 17e 18nãodeixaramdese sensibilizar com a nova percepção
da Natureza na cultura ocidental. Compositores não tão famosos, como L. C.
D’Aquin (1694-1772), Duphly (1715-89), J. C. Kerl (1627-93), B. Passaquim
(1637-1710), escreveram peças que se inspiravam em animais e plantas. François
Couperin (1668-1733), Jean-Phillippe Rameau (1683-1764), Joseph Haydn (1732-
1809)eAntonioVivaldi(1678-1741)—comseuhojepopularLeQuattroStagioni,
Op.8 —,renderam-seaosencantos da Natureza.
Quem sabe D. Luís de Vasconcelos não gostaria de ter inaugurado seu Passeio
PúblicodoRiodeJaneiroaosomdeWaterMusic,deHändel(1685-1759),comos
barcos velejandona baía daGuanabara?
Se este texto puder ser lido acompanhado por uma trilha musical, recomendaria a
Sinfonia n° 6 em Fá maior, Op. 68, a Pastoral de Ludwig van Beethoven (1770-
1827)—emespecial,oúltimomovimento,“CantodeAgradecimentodosPastores
apósaTempestade”.
Para
Harue,Seiichi,YurieeMasahumi
Duas palavras
É fenômeno relativamente recente,de unsvinteanosparahoje,vermos entre
nósarquitetosrecém-formadossededicandoàpesquisadahistóriadaarquitetura.
Esta atividade — positiva por abrir, gradativamente, uma nova frente seja no
conhecimento de nosso passado como significando uma atitude inovadora entre
osprofissionaisdaarquitetura—nemsempretemsido bemrecebidaentrealguns
arquitetos projetistas, que dentro de um certo purismo, consideram o fazer arqui-
tetônico como a única forma de expressão criativa em sua área. Contudo, é entre
estes jovens profissionais que vemos emergirem os historiadores de arquitetura,
docentes com formação de pesquisa, assim como, finalmente, os primeiros co-
mentadores e críticos da difícil arte de construir. Desse grupo que hoje se situa
entre os 30 e os 45 anos emergirão, por certo, dentro em breve, os teóricos da
estéticadoprojeto.
É no interior desse núcleo, entre os quais se contam os autores das obras
mais recentes sobre a arquitetura brasileira, que localizamos Hugo Segawa, pes-
quisador que demonstrou sua vocação desde os primeiros anos de estudo de
graduação em arquitetura. A partir de então, tornou-se rapidamenteum investiga-
dor quase compulsivo em seu afã de levar a cabo as temáticas a que se dedicou
nestes últimos anos, seja sobre a arquitetura brasileira de hoje, como focalizando
a contemporaneidade da arquitetura latino-americana, seja em particular, como
nos casos dos jardins públicos, a história da arquitetura e do urbanismo em nosso
país.
Assim, de um primeiro interesse demonstrado ao abordar em curso de
iniciaçãoàpesquisaaoníveldegraduaçãooJardimPúblicodoRiodeJaneiro,de
autoriadeMestreValentim,em1976, odesenvolvimentodessetrabalholevou-o a
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uma comunicação sobre o mesmo tema em um congresso sobre o Barroco em
Ouro Preto, em 1981. Sua dissertação de mestrado, contudo, abordaria “Constru-
ção de Ordens: um aspecto de arquitetura no Brasil (1808-1930)”, focalizando
escolas, hospitais, hospícios, hospedarias de imigrantes, prisões, tendo em vista a
transformaçãodascidadesnesseperíodocrucialdapassagemdoséculoXIXpara
oséculoXX.
Neste período de inícios dos anos 80 até os nossos dias Hugo Segawa se
moveu igualmente na área do jornalismo informativo e crítico da arquitetura
colaborandoemrevistasdopaísedo exterior.Essaatividadeparasuasobrevivên-
cia foi fértil e enriquecedora na medida em que o colocou em contato com
profissionais de vários estados do país, conhecendo suas realizações, assim como
comarquitetosdeoutrospaíses,em particulardaAméricaLatina.
O tema deste trabalho, Jardins no Brasil 1779-1911 nos chega num mo-
mento peculiar, embora conheçamos sua genealogia, como diz o próprio Hugo
Segawa, no caso, a retomada da pesquisa iniciada com o Passeio Público do Rio
de Janeiro. Fazemos parte de uma tradição predatória, tanto de origem lusitana
quanto indígena, no que respeita à natureza. Esta representa uma ameaça, a ser
domada,dobrada, paraasobrevivência do homema partir do plantio.A queimada
faz parte do processo de apropriação de nosso entorno. Daí porque não parece
pertencer à nossa cultura a apreciação, o amor, a devoção, enfim, às coisas da
natureza. Quando se inicia no Brasil em fins do século XVIII um desejo de
ordenação do espaço físico com elementos vegetais, com o objetivo de preserva-
ção de espécies e seu cultivo, a planificação desse mesmo espaço em forma de
passeio público, sabemos que muito mais que uma atitude autenticamente nossa,
do ponto de vista cultural, essas iniciativas refletem a importação de modelos em
voga no exterior. Ao contrário da problemática européia,da ordenação danature-
za tendo em vista a limitação dos espaços, e por essa mesma razão, sua valoriza-
ção, a nossa circunstância nos impelia a temer a imensidão inexplorada e temível
pelo desconhecimento do que encerrava essa natureza bravia. Assim, há duas
atitudesquepodemosperceberatravésdestalongapesquisa:uma,aatitudecivili-
zatória na planificação de um espaço público que contém a natureza controlada e
ordenada a partir da racionalidade do homem, atraindo visitantes, ao mesmo
tempo, parauma atividade delazereconvíviolaicoantes deconhecido,postoque
a saída das moradias limitava-se, fora as visitas familiares, sobretudo para as
mulheres, à freqüência ao culto religioso. O cientifismo, o desejo de catalogar
espécies, conhecer, enfim, o que nos rodeia, é o outro lado curioso que surge a
partir da implantação desses núcleos de prazer a partir da natureza transformada
pela mão do homem. De fato, do Jardim Botânico ao Jardim Público está toda a
trajetória dessa diferença de atitudes. Mas que se difunde como um modismo
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necessário aos novos tempos e a uma nova mentalidade, desde o final do século
XVIII até os inícios do século XX. Evidentemente, na importância que a cidade
começa a assumir está a chave desses novos cuidados a serem dados ao espaço
urbanoeaseushabitantes,queafluemacadaanomaisnumerosos,emigrantesdo
campo. Atento aos limites de datação, Hugo Segawa se detém nos inícios deste
novo século. Porém, se aborda o Parque da Redenção de Porto Alegre, não pode-
mos deixar de lembrar a urbanização da Várzea do Campo, em São Paulo, onde,
na segunda década se edificaria o Palácio das Indústrias, primeiro centro de
exposições daprodução que projetaria esteestadonumaextensãodosempreendi-
mentos conseqüentes à riqueza agrícola, em particular do café. Símbolo do par-
que “comemorativo” seria também a implantação do Parque Ibirapuera, a surgir
para as festividades do IV Centenário da Cidade de São Paulo, em 1954, e hoje
manchaverde importante na paisagem e vida urbana dacapitalpaulista.
Esta pesquisa surge também como preciosa documentação num tempo em
que em todo o mundo a preocupação com a ecologia assume níveis impensáveis
há cinqüenta anos atrás em plena era da industrialização. Segawa retraça, deste
modo, no Brasil, os primórdios e os modelos que nos guiaram na defesa de um
meio-ambienteem aceleradadegradação, assimcomo a aspiração de unspoucose
raros, previdentes de que a natureza deve ser conhecida e protegida, como dom,
antes de se tornar uma ameaça pelas agressões por ela sofridas por parte do
homem, predador assustado. Ao mesmo tempo, este trabalho enfatiza, a par da
pesquisa devotada, o papel civilizatório desta manipulação racional na criação do
espaçodo jardimpúblico,corretordaurbanização descontrolada, como projetode
conciliaçãoentreohomem e seu espaçoterreno.
AracyAmaral
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Sumário
O SéculodosJardins,porMachado deAssis(Àguisade prefácio).. . .. . .. . .. . .. . .. 11
Dentro dos jardins . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. 13
PARTE1
Jardim comoMetonímia da Natureza . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. 21
Anaturezacomoespetáculo,23(cid:127) Opitoresco,27(cid:127) Embuscadeumapaisagem,28(cid:127)
Umrecanto paradisíaco, 29
Da Praçaao Jardim Público. .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. 31
O espaço popular, 32 (cid:127) O popular disciplinado, 34 (cid:127) Descongestionar a cidade
medieval,35(cid:127) Aformarefinada,36(cid:127) Agradávelarborização,38(cid:127) Osprazeresaoar
livre,39(cid:127) Práticas saudáveis,43(cid:127) Ver eservisto aoarlivre,45(cid:127) Jardim,antídotoda
praça , 48
DoÉdenAmericanoaoSalubrismo. .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. 51
Umjardimholandês,52(cid:127) Osjardinsbotânicosamericanos,56(cid:127) Alamedashispano-
americanas, 59(cid:127) O salubrismo oitocentista, 67(cid:127) Culturaassimilada, 73
PARTE2
O PasseioPúblicodo Riode Janeiro.. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. 77
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